Caminho Verdade e Vida.
Coleção FONTE VIVA
(Interpretação dos Textos Evangélicos)
Ditada pelo Espírito:
EMMANUEL
Psicografada por:
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
1
CAMINHO,
VERDADE
E VIDA
2 –
Fr ancisco Cândido Xavier
CAMINHO, VERDADE E VIDA
1º Volume da Coleção “FONTE VIVA”
—
Interpretação dos Textos Evangélicos
Ditada pelo Espírito:
Emmanuel
Psicografada por:
Francisco Cândido Xavier
Publicado em 1948 pela Editora FEB
—
Federação Espírita Brasileira
www.febnet.org.br
Digitalizada por:
L. Neilmoris
© 2008 Brasil
www.luzespirita.org
3 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
CAMINHO,
VERDADE
E VIDA
1º livr o da coleção “FONTE VIVA”
(Inter pr etação dos Textos Evangélicos)
Ditada pelo Espírito:
EMMANUEL
Psicografada por:
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
4 –
Fr ancisco Cândido Xavier
Coleção:
“FONTE VIVA”
1 – Caminho, Verdade e Vida
2 – Pão Nosso
3 – Vinha de Luz
4 – Fonte Viva
5 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
Índice
Interpretação dos Textos Sagrados
1 – O Tempo
2 – Segueme
Tu
3 – ExaminaTe
4 – Trabalho
5 – Bases
6 – Esforço e Oração
7 – Tudo Novo
8 – Jesus Veio
9 – Reuniões Cristãs
10 – Mediunidade
11 – Conforto
12 – Educação No Lar
13 – Que é a Carne?
14 – Em Ti Mesmo
15 – Conversão
16 – Endireitai os Caminhos
17 – Por Cristo
18 – Purificação Íntima
19 – Na Propaganda
20 – O Companheiro
21 – Caminhos Retos
22 – Que Buscais?
23 – Viver Pela Fé
24 – O Tesouro Enferrujado
25 – Tende Calma
26 – Padecer
27 – Negócios
28 – Escritores
29 – Contentarse
30 – O Mundo e o Mal
31 – Coisas Mínimas
32 – Nuvens
33 – Recapitulações
34 – Comer e Beber
35 – Semeadura
6 –
Fr ancisco Cândido Xavier
36 – Heresias
37 – Honras Vãs
38 – Pregações
39 – Entra e Coopera
40 – Tempo de Confiança
41 – A Regra Áurea
42 – Glória ao Bem
43 – Consultas
44 – O Cego de Jericó
45 – Conversar
46 – Quem És?
47 – A Grande Pergunta
48 – GuardaiVos
49 – Saber e Fazer
50 – Conta de Si
51 – Meninos Espirituais
52 – Dons
53 – Paz
54 – A Videira
55 – As Varas da Videira
56 – Lucros
57 – Dinheiro
58 – Ganhar
59 – Os Amados
60 – Prática Do Bem
61 – Ministérios
62 – Parentela
63 – Quem Sois?
64 – O Tesouro Maior
65 – Pedir
66 – Como Pedes?
67 – Os Vivos do Além
68 – AlémTúmulo
69 – Comunicações
70 –Poderes Ocultos
71 – Para Testemunhar
72 – Transitoriedade
73 –Oportunidade
74 – Mãos Limpas
75 – Na Casa de César
76 – Edificações
7 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
77 – Convém Refletir
78 – Verdades e Fantasias
79 – A Cada Um
80 – Opiniões
81 – Ordenações Humanas
82 – Madeiros Secos
83 – Aflições
84 – LevantemoNos
85 – Testemunho
86 – Jesus e os Amigos
87 – Por Que Dormis?
88 – Velar Com Jesus
89 – O Fracasso de Pedro
90 – Ensejo ao Bem
91 – Campo de Sangue
92 – Madalena
93 – Alegria Cristã
94 – Ao SalvarNos
95 – O Amigo Oculto
96 – A Coroa
97 – Amas o Bastante?
98 – Capas
99 – Prometer
100 – Auxílios do Invisível
101 – Tudo em Deus
102 – O Cristão e o Mundo
103 – Estima do Mundo
104 – A Espada Simbólica
105 – Nem Todos
106 – Dar
107 – Vinda do Reino
108 – Reencarnação
109 – Acharemos Sempre
110 – Vidas Sucessivas
111 – Orientadores do Mundo
112 – Como Lázaro
113 – Não te Esqueças
114 – As Cartas do Cristo
115 – Embaixadores do Cristo
116 – Agir de Acordo
8 –
Fr ancisco Cândido Xavier
117 – Terra Proveitosa
118 – O Paralítico
119 – Glória Cristã
120 – Zelo Próprio
121 – Espinheiros
122 – Frutos
123 – Esperar em Cristo
124 – Firmeza de Fé
125 – Filhos e Servos
126 – Ídolos
127 – Enquanto é Dia
128 – Dádivas Espirituais
129 – Origem das Tentações
130 – Tristeza
131 – Homens e Anjos
132 – Sempre Adiante
133 – Hegemonia de Jesus
134 – Basta Pouco
135 – O Ouro Intransferível
136 – Coisas Terrestres e Celestiais
137 – O Banquete dos Publicanos
138 – Pretensões
139 – Por Amor
140 – Para os Montes
141 – Pior Para Eles
142 – Um Só Senhor
143 – Legião do Mal
144 – Que Temos Com o Cristo?
145 – Doutrinações
146 – No Trato Com o Invisível
147 – Um Desafio
148 – Cuidado de Si
149 – Propriedade
150 – Aguilhões
151 – Mocidade
152 – Ciência e Amor
153 – Passes
154 – Renunciar
155 – Entre os Cristão
156 – Intuição
9 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
157 – Faze Isso e Viverás
158 – Batismo
159 – A Quem Segues?
160 – O Varão da Macedônia
161 – Aproveitemos
162 – Esperemos
163 – Não Crer
164 – Não Perturbeis
165 – Bens Externos
166 – Posses Definitivas
167 – Na Oração
168 – Na Meditação
169 – No Quadro Real
170 – Domínio Espiritual
171 – Palavras de Mãe
172 – Lágrimas
173 – Zelo do Bem
174 – Pão de Cada Dia
175 – Cooperação
176 – Lição Viva
177 – Opiniões Convencionais
178 – A Porta Divina
179 – O Novo Mandamento
180 – Façamos Nossa Luz
10 –
Fr ancisco Cândido Xavier
CAMINHO,
VERDADE
E VIDA
11 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
INTERPRETAÇÃO DOS
TEXTOS SAGRADOS
“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da
Escritura é de particular interpretação.”
(I PEDRO, 1: 20)
Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida. Sua luz imperecível brilha sobre os
milênios terrestres, como o Verbo do princípio, penetrando o mundo, há quase vinte
séculos.
Lutas sanguinárias, guerras de extermínio, calamidades sociais não lhe
modificaram um til nas palavras que se atualizam, cada vez mais, com a evolução
multiforme da Terra. Tempestades de sangue e lágrimas nada mais fizeram que
avivarlhes
a grandeza. Entretanto, sempre tardios no aproveitamento das
oportunidades preciosas, muitas vezes, no curso das existências renovadas, temos
desprezado o Caminho, indiferentes ante os patrimônios da Verdade e da Vida.
O Senhor, contudo, nunca nos deixou desamparados.
Cada dia, reforma os títulos de tolerância para com as nossas dívidas;
todavia, é de nosso próprio interesse levantar o padrão da vontade, estabelecer
disciplinas para uso pessoal e reeducar a nós mesmos, ao contacto do Mestre Divino.
Ele é o Amigo Generoso, mas tantas vezes lhe olvidamos o conselho que somos
suscetíveis de atingir obscuras zonas de adiamento indefinível de nossa iluminação
interior para a vida eterna.
No propósito de valorizar o ensejo de serviço, organizamos este humilde
trabalho interpretativo
1 , sem qualquer pretensão a exegese. Concatenamos apenas
modesto conjunto de páginas soltas destinadas a meditações comuns.
Muitos amigos estranharnosão
talvez a atitude, isolando versículos e
conferindolhes
cor independente do capítulo evangélico a que pertencem. Em certas
passagens, extraímos daí somente frases pequeninas, proporcionandolhes
fisionomia especial e, em determinadas circunstâncias, as nossas considerações
desvaliosas parecem contrariar as disposições do capítulo em que se inspiram.
Assim procedemos, porém, ponderando que, num colar de pérolas, cada
qual tem valor específico e que, no imenso conjunto de ensinamentos da Boa Nova,
cada conceito do Cristo ou de seus colaboradores diretos adaptase
a determinada
situação do Espírito, nas estradas da vida. A lição do Mestre, além disso, não
1
Algumas destas páginas, já publicadas na imprensa espiritista cristã, foram por nós revistas e
simplificadas para maior clareza de interpretação —
Nota de Emmanuel.
12 –
Fr ancisco Cândido Xavier
constitui tão somente um impositivo para os misteres da adoração. O Evangelho não
se reduz a breviário para o genuflexório. É roteiro imprescindível para a legislação e
administração, para o serviço e para a obediência. O Cristo não estabelece linhas
divisórias entre o templo e a oficina. Toda a Terra é seu altar de oração e seu campo
de trabalho, ao mesmo tempo. Por louválo
nas igrejas e menoscabálo
nas ruas é
que temos naufragado mil vezes, por nossa própria culpa. Todos os lugares,
portanto, podem ser consagrados ao serviço divino.
Muitos discípulos, nas várias escolas cristãs, entregaramse
a perquirições
teológicas, transformando os ensinos do Senhor em relíquia morta dos altares de
pedra; no entanto, espera o Cristo venhamos todos a converterlhe
o evangelho de
Amor e Sabedoria em companheiro da prece, em livro escolar no aprendizado de
cada dia, em fonte inspiradora de nossas mais humildes ações no trabalho comum e
em código de boas maneiras no intercâmbio fraternal.
Embora esclareça nossos singelos objetivos, noto, antecipadamente, ampla
perplexidade nesse ou naquele grupo de crentes.
Que fazer? Temos imensas distâncias a vencer no Caminho, para adquirir a
Verdade e a Vida na significação integral.
Compreendemos o respeito devido ao Cristo, mas, pela própria
exemplificação do Mestre, sabemos que o labor do aprendiz fiel constituise
de
adoração e trabalho, de oração e esforço próprio.
Quanto ao mais, consolanos
reconhecer que os Textos Sagrados são
dádivas do Pai a todos os seus filhos e, por isso mesmo, aqui nos reportamos às
palavras sábias de Simão Pedro:
“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma
profecia da Escritura é de particular interpretação.”
Emmanuel
Pedro Leopoldo, 2 de setembro de 1948.
13 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
1
O TEMPO
“Aquele que faz caso do dia, patrão Senhor o faz.”
Paulo. (ROMANOS, 14: 6)
A maioria dos homens não percebe ainda os valores infinitos do tempo.
Existem efetivamente os que abusam dessa concessão divina. Julgam que a
riqueza dos benefícios lhes é devida por Deus.
Seria justo, entretanto, interrogálos
quanto ao motivo de semelhante
presunção.
Constituindo a Criação Universal patrimônio comum, é razoável que todos
gozem as possibilidades da vida; contudo, de modo geral, a criatura não medita na
harmonia das circunstâncias que se ajustam na Terra, em favor de seu
aperfeiçoamento espiritual.
É lógico que todo homem conte com o tempo, mas, se esse tempo estiver
sem luz, sem equilíbrio, sem saúde, sem trabalho?
Não obstante a oportunidade da indagação, importa considerar que muito
raros são aqueles que valorizam o dia, multiplicandose
em toda parte as fileiras dos
que procuram aniquilálo
de qualquer forma.
A velha expressão popular “matar o tempo” reflete a inconsciência vulgar,
nesse sentido.
Nos mais obscuros recantos da Terra, há criaturas exterminando
possibilidades sagradas. No entanto, um dia de paz, harmonia e iluminação, é muito
importante para o concurso humano, na execução das leis divinas.
Os interesses imediatistas do mundo clamam que o “tempo é dinheiro”,
para, em seguida, recomeçarem todas as obras incompletas na esteira das
reencarnações... Os homens, por isso mesmo, fazem e desfazem, constroem e
destroem, aprendem levianamente e recapitulam com dificuldade, na conquista da
experiência.
Em quase todos os setores de evolução terrestre, vemos o abuso da
oportunidade complicando os caminhos da vida; entretanto, desde muitos séculos, o
apóstolo nos afirma que o tempo deve ser do Senhor.
14 –
Fr ancisco Cândido Xavier
2
SEGUEME
TU
“Disselhe
J esus: Se eu quero que ele fique até que eu
venha, que te importa a ti? Segueme
tu.”
(JOÃO, 21: 22)
Nas comunidades de trabalho cristão, muitas vezes observamos
companheiros altamente preocupados com a tarefa conferida a outros irmãos de luta.
É justo examinar, entretanto, como se elevaria o mundo se cada homem cuidasse de
sua parte, nos deveres comuns, com perfeição e sinceridade.
Algum de nossos amigos foi convocado para obrigações diferentes?
Confortemolo
com a legítima compreensão.
Às vezes, surge um deles, modificado ao nosso olhar. Há cooperadores que
o acusam. Muitos o consideram portador de perigosas tentações. Movimentamse
comentários e julgamentos à pressa. Quem penetrará, porém, o campo das causas?
Estaríamos na elevada condição daquele que pode analisar um acontecimento,
através de todos os ângulos? Talvez o que pareça queda ou defecção pode constituir
novas resoluções de Jesus, relativamente à redenção do amigo que parece agora
distante.
O Bom Pastor permanece vigilante. Prometeu que das ovelhas que o Pai lhe
confiou nenhuma se perderá.
Convém, desse modo, atendermos com perfeição aos deveres que nos
foram deferidos. Cada qual necessita conhecer as obrigações que lhe são próprias.
Nesse padrão de conhecimento e atitude, há sempre muito trabalho nobre a
realizar.
Se um irmão parece desviado aos teus olhos mortais, faze o possível por
ouvir as palavras de Jesus ao pescador de Cafarnaum: “Que te importa a ti? Segueme
tu.”
15 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
3
EXAMINATE
“Nada faças por contenda ou por vanglória, mas por
humildade.”
Paulo (FILIPENSES, 2: 3)
O serviço de Jesus é infinito. Na sua órbita, há lugar para todas as criaturas
e para todas as idéias sadias em sua expressão substancial.
Se, na ordem divina, cada árvore produz segundo a sua espécie, no trabalho
cristão, cada discípulo contribuirá conforme sua posição evolutiva.
A experiência humana não é uma estação de prazer. O homem permanece
em função de aprendizado e, nessa tarefa, é razoável que saiba valorizar a
oportunidade de aprender, facilitando o mesmo ensejo aos semelhantes.
O apóstolo Paulo compreendeu essa verdade, afirmando que nada
deveremos fazer por espírito de contenda e vanglória, mas, sim, por ato de
humildade.
Quando praticares alguma ação que ultrapasse o quadro das obrigações
diárias, examina os móveis que a determinaram. Se resultou do desejo injusto de
supremacia, se obedeceu somente à disputa desnecessária, cuida de teu coração para
que o caminho te seja menos ingrato. Mas se atendeste ao dever, ainda que hajas
sido interpretado como rigorista e exigente, incompreensivo e infiel, recebe as
observações indébitas e passa adiante.
Continua trabalhando em teu ministério, recordando que, por servir aos
outros, com humildade, sem contendas e vanglórias, Jesus foi tido por imprudente e
rebelde, traidor da lei e inimigo do povo, recebendo com a cruz a coroa gloriosa.
16 –
Fr ancisco Cândido Xavier
4
TRABALHO
“E J esus lhes respondeu: Meu Pai obra até agora, e eu
trabalho também.”
(João, 5: 17)
Em todos os recantos, observamos criaturas queixosas e insatisfeitas.
Quase todas pedem socorro. Raras amam o esforço que lhes foi conferido.
A maioria revoltase
contra o gênero de seu trabalho.
Os que varrem as ruas querem ser comerciantes; os trabalhadores do campo
prefeririam a existência na cidade.
O problema, contudo, não é de gênero de tarefa, mas o de compreensão da
oportunidade recebida.
De modo geral, as queixas, nesse sentido, são filhas da preguiça
inconsciente. É o desejo ingênito de conservar o que é inútil e ruinoso, das quedas
no pretérito obscuro.
Mas Jesus veio arrancarnos
da “morte no erro”. Trouxenos
a bênção do
trabalho, que é o movimento incessante da vida.
Para que saibamos honrar nosso esforço, referiuse
ao Pai que não cessa de
servir em sua obra eterna de amor e sabedoria e à sua tarefa própria, cheia de
imperecível dedicação à Humanidade.
Quando te sentires cansado, lembrate
de que Jesus está trabalhando.
Começamos ontem nosso humilde labor e o Mestre se esforça por nós, desde
quando?
17 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
5
BASES
“Disselhe
Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeulhe
J esus: Se eu não te lavar, não tens parte comigo.”
(JOÃO, 13: 8)
É natural vejamos, antes de tudo, na resolução do Mestre, ao lavar os pés
dos discípulos, uma demonstração sublime de humildade santificante.
Primeiramente, é justo examinarmos a interpretação intelectual, adiantando,
porém, a análise mais profunda de seus atos divinos. É que, pela mensagem
permanente do Evangelho, o Cristo continua lavando os pés de todos os seguidores
sinceros de sua doutrina de amor e perdão.
O homem costuma viver desinteressado de todas as suas obrigações
superiores, muitas vezes aplaudindo o crime e a inconsciência. Todavia, ao contacto
de Jesus e de seus ensinamentos sublimes, sente que pisará sobre novas bases,
enquanto que suas apreciações fundamentais da existência são muito diversas.
Alguém proporciona leveza aos seus pés espirituais para que marche de
modo diferente nas sendas evolutivas.
Tudo se renova e a criatura compreende que não fora essa intervenção
maravilhosa e não poderia participar do banquete da vida real.
Então, como o apóstolo de Cafarnaum, experimenta novas
responsabilidades no caminho e, desejando corresponder à expectativa divina, roga a
Jesus lhe lave, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça.
18 –
Fr ancisco Cândido Xavier
6
ESFORÇO E ORAÇÃO
“E, despedida a multidão, subiu ao monte a fim de orar,
à parte. E, chegada já a tarde, estava ali só.”
(MATEUS, 14: 23)
De vez em quando, surgem grupos religiosos que preconizam o absoluto
retiro das lutas humanas para os serviços da oração.
Nesse particular, entretanto, o Mestre é sempre a fonte dos ensinamentos
vivos. O trabalho e a prece são duas características de sua atividade divina.
Jesus nunca se encerrou a distância das criaturas, com o fim de permanecer
em contemplação absoluta dos quadros divinos que lhe iluminavam o coração, mas
também cultivou a prece em sua altura celestial.
Despedida a multidão, terminado o esforço diário, estabelecia a pausa
necessária para meditar, à parte, comungando com o Pai, na oração solitária e
sublime.
Se alguém permanece na Terra, é com o objetivo de alcançar um ponto
mais alto, nas expressões evolutivas, pelo trabalho que foi convocado a fazer. E,
pela oração, o homem recebe de Deus o auxílio indispensável à santificação da
tarefa.
Esforço e prece completamse
no todo da atividade espiritual.
A criatura que apenas trabalhasse, sem método e sem descanso, acabaria
desesperada, em horrível secura do coração; aquela que apenas se mantivesse
genuflexa, estaria ameaçada de sucumbir pela paralisia e ociosidade.
A oração ilumina o trabalho, e a ação é como um livro de luz na vida
espiritualizada.
Cuida de teus deveres porque para isso permaneces no mundo, mas nunca
te esqueças desse monte, localizado em teus sentimentos mais nobres, a fim de
orares “à parte”, recordando o Senhor.
19 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
7
TUDO NOVO
“Assim é que, se alguém está. em Cristo, nova criatura
é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.”
Paulo. (I CORÍNTIOS, 5: 17)
É muito comum observarmos crentes inquietos, utilizando recursos
sagrados da oração para que se perpetuem situações injustificáveis tãosó
porque
envolvem certas vantagens imediatas para suas preocupações egoísticas.
Semelhante atitude mental constitui resolução muito grave.
Cristo ensinou a paciência e a tolerância, mas nunca determinou que seus
discípulos estabelecessem acordo com os erros que infelicitam o mundo. Em face
dessa decisão, foi à cruz e legou o último testemunho de nãoviolência,
mas também
de nãoacomodação
com as trevas em que se compraz a maioria das criaturas.
Não se engane o crente acerca do caminho que lhe compete.
Em Cristo tudo deve ser renovado, O passado delituoso estará morto, as
situações de dúvida terão chegado ao fim, as velhas cogitações do homem carnal
darão lugar a vida nova em espírito, onde tudo signifique sadia reconstrução para o
futuro eterno.
É contrasenso
valerse
do nome de Jesus para tentar a continuação de
antigos erros.
Quando notarmos a presença de um crente de boa palavra, mas sem o
íntimo renovado, dirigindose
ao Mestre como um prisioneiro carregado de cadeias,
estejamos certos de que esse irmão pode estar à porta do Cristo, pela sinceridade das
intenções; no entanto, não conseguiu, ainda, a penetração no santuário de seu amor.
20 –
Fr ancisco Cândido Xavier
8
JESUS VEIO
“Mas aniquilouse
a si mesmo, tomando a forma de
servo, fazendose
semelhante aos homens.”
Paulo. (FILIPENSES, 2: 7.)
Muitos discípulos falam de extremas dificuldades por estabelecer boas
obras nos serviços de confraternização evangélica, alegando o estado infeliz de
ignorância em que se compraz imensa percentagem de criaturas da Terra.
Entretanto, tais reclamações não são justas.
Para executar sua divina missão de amor, Jesus não contou com a
colaboração imediata de Espíritos aperfeiçoados e compreensivos e, sim, “aniquilouse
a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendose
semelhante aos homens”.
Não podíamos ir ter com o Salvador, em sua posição sublime; todavia, o
Mestre veio até nós, apagando temporariamente a sua auréola de luz, de maneira a
beneficiarnos
sem traços de sensacionalismo.
O exemplo de Jesus, nesse particular, representa lição demasiado profunda.
Ninguém alegue conquistas intelectuais ou sentimentais como razão para
desentendimento com os irmãos da Terra.
Homem algum dos que passaram pelo orbe alcançou as culminâncias do
Cristo. No entanto, vemolo
à mesa dos pecadores, dirigindose
fraternalmente a
meretrizes, ministrando seu derradeiro testemunho entre ladrões.
Se teu próximo não pode alçarse
ao plano espiritual em que te encontras,
podes ir ao encontro dele, para o bom serviço da fraternidade e da iluminação, sem
aparatos que lhe ofendam a inferioridade.
Recorda a demonstração do Mestre Divino.
Para vir a nós, aniquilou a si próprio, ingressando no mundo como filho
sem berço e ausentandose
do trabalho glorioso, como servo crucificado.
21 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
9
REUNIÕES CRISTÃS
“Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da
semana, e cerradas as portas da casa onde os discípulos, com
medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus e pôsse
no
meio deles e disselhes:
Paz seja convosco.”
(JOÃO, 20: 19)
Desde o dia da ressurreição gloriosa do Cristo, a Humanidade terrena foi
considerada digna das relações com a espiritualidade.
O Deuteronômio proibira terminantemente o intercâmbio com os que
houvessem partido pelas portas da sepultura, em vista da necessidade de afastar a
mente humana de cogitações prematuras. Entretanto, Jesus, assim como suavizara a
antiga lei da justiça inflexível com o perdão de um amor sem limites, aliviou as
determinações de Moisés, vindo ao encontro dos discípulos saudosos.
Cerradas as portas, para que as vibrações tumultuosas dos adversários
gratuitos não perturbassem o coração dos que anelavam o convívio divino, eis que
surge o Mestre muito amado, dilatando as esperanças de todos na vida eterna. Desde
essa hora inolvidável, estava instituído o movimento de troca, entre o mundo visível
e o invisível. A família cristã, em seus vários departamentos, jamais passaria sem o
doce alimento de suas reuniões carinhosas e íntimas. Desde então, os discípulos se
reuniriam, tanto nos cenáculos de Jerusalém, como nas catacumbas de Roma. E, nos
tempos modernos, a essência mais profunda dessas assembléias é sempre a mesma,
seja nas igrejas católicas, nos templos protestantes ou nos centros espíritas.
O objetivo é um só: procurar a influenciação dos planos superiores, com a
diferença de que, nos ambientes espiritistas, a alma pode saciarse,
com mais
abundância, em vôos mais altos, por se conservar afastada de certos prejuízos do
dogmatismo e do sacerdócio organizado.
22 –
Fr ancisco Cândido Xavier
10
MEDIUNIDADE
“E nos últimos dias acontecerá, diz o Senhor, que do
meu Espírito derramarei sobre toda carne; os vossos filhos e as
vossas filhas profetizarão, vossos mancebos terão visões e os
vossos velhos sonharão sonhos.”
(ATOS, 2: 17)
No dia de Pentecostes, Jerusalém estava repleta de forasteiros. Filhos da
Mesopotâmia, da Frígia, da Líbia, do Egito, cretenses, árabes, partos e romanos se
aglomeravam na praça extensa, quando os discípulos humildes do Nazareno
anunciaram a Boa Nova, atendendo a cada grupo da multidão em seu idioma
particular.
Uma onda de surpresa e de alegria invadiu o espírito geral.
Não faltaram os cépticos, no divino concerto, atribuindo à loucura e à
embriaguez a revelação observada.
Simão Pedro destacase
e esclarece que se trata da luz prometida pelos céus
à escuridão da carne.
Desde esse dia, as claridades do Pentecostes jorraram sobre o mundo,
incessantemente. Até aí, os discípulos eram frágeis e indecisos, mas, dessa hora em
diante, quebram as influências do meio, curam os doentes, levantam o espírito dos
infortunados, falam aos reis da Terra em nome do Senhor.
O poder de Jesus se lhes comunicara às energias reduzidas.
Estabelecerase
a era da mediunidade, alicerce de todas as realizações do
Cristianismo, através dos séculos.
Contra o seu influxo, trabalham, até hoje, os prejuízos morais que
avassalam os caminhos do homem, mas é sobre a mediunidade, gloriosa luz dos
céus oferecida às criaturas, no Pentecostes, que se edificam as construções
espirituais de todas as comunidades sinceras da Doutrina do Cristo e é ainda ela que,
dilatada dos apóstolos ao círculo de todos os homens, ressurge no Espiritismo
cristão, como a alma imortal do Cristianismo redivivo.
23 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
11
CONFORTO
“Se alguém me serve, sigame.”
Jesus (JOÃO, 12: 26)
Freqüentemente, as organizações religiosas e mormente as espiritistas, na
atualidade, estão repletas de pessoas ansiosas por um conforto.
De fato, a elevada Doutrina dos Espíritos é a divina expressão do
Consolador Prometido. Em suas atividades resplendem caminhos novos para o
pensamento humano, cheios de profundas consolações para os dias mais duros.
No entanto, é imprescindível ponderar que não será justo querer alguém
confortarse,
sem se dar ao trabalho necessário...
Muitos pedem amparo aos mensageiros do plano invisível; mas como
recebêlo,
se chegaram ao cúmulo de abandonarse
ao sabor da ventania impetuosa
que sopra, de rijo, nos resvaladouros dos caminhos?
Conforto espiritual não é como o pão do mundo, que passa,
mecanicamente, de mão em mão, para saciar a fome do corpo, mas, sim, como o
Sol, que é o mesmo para todos, penetrando, porém, somente nos lugares onde não se
haja feito um reduto fechado para as sombras.
Os discípulos de Jesus podem referirse
às suas necessidades de conforto.
Isso é natural. Todavia, antes disso, necessitam saber se estão servindo ao Mestre e
seguindoo.
O Cristo nunca faltou às suas promessas. Seu reino divino se ergue
sobre consolações imortais; mas, para atingilo,
fazse
necessário seguirlhe
os
passos e ninguém ignora qual foi o caminho de Jesus, nas pedras deste mundo.
24 –
Fr ancisco Cândido Xavier
12
EDUCAÇÃO NO LAR
“Vós fazeis o que também vistes junto de vosso pai.”
Jesus (JOÃO, 8: 38)
Preconizase
na atualidade do mundo uma educação pela liberdade plena
dos instintos do homem, olvidandose,
pouco a pouco, os antigos ensinamentos
quanto à formação do caráter no lar; a coletividade, porém, cedo ou tarde, será
compelida a reajustar seus propósitos.
Os pais humanos têm de ser os primeiros mentores da criatura. De sua
missão amorosa, decorre a organização do ambiente justo. Meios corrompidos
significam maus pais entre os que, a peso de longos sacrifícios, conseguem manter,
na invigilância coletiva, a segurança possível contra a desordem ameaçadora.
A tarefa doméstica nunca será uma válvula para gozos improdutivos,
porque constitui trabalho e cooperação com Deus. O homem ou a mulher que
desejam ao mesmo tempo ser pais e gozadores da vida terrestre, estão cegos e
terminarão seus loucos esforços, espiritualmente falando, na vala comum da
inutilidade.
Debalde se improvisarão sociólogos para substituir a educação no lar por
sucedâneos abstrusos que envenenam a alma. Só um espírito que haja compreendido
a paternidade de Deus, acima de tudo, consegue escapar à lei pela qual os filhos
sempre imitarão os pais, ainda quando estes sejam perversos.
Ouçamos a palavra do Cristo e, se tendes filhos na Terra, guardai a
declaração do Mestre, como advertência.
25 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
13
QUE É A CARNE?
“Se vivemos em Espírito, andemos também em
Espírito.”
Paulo (GÁLATAS, 5: 25)
Quase sempre, quando se fala de espiritualidade, apresentamse
muitas
pessoas que se queixam das exigências da carne.
É verdade que os apóstolos muitas vezes falaram de concupiscências da
carne, de seus criminosos impulsos e nocivos desejos. Nós mesmos, freqüentemente,
nos sentimos na necessidade de aproveitar o símbolo para tornar mais acessíveis as
lições do Evangelho. O próprio Mestre figurou que o espírito, como elemento
divino, é forte, mas que a carne, como expressão humana, é fraca.
Entretanto, que é a carne?
Cada personalidade espiritual tem o seu corpo fluídico e ainda não
percebestes, porventura, que a carne é um composto de fluídos condensados?
Naturalmente, esses fluídos, em se reunindo, obedecerão aos imperativos da
existência terrestre, no que designais por lei de hereditariedade; mas, esse conjunto é
passivo e não determina por si. Podemos figurálo
como casa terrestre, dentro da
qual o espírito é dirigente, habitação essa que tomará as características boas ou más
de seu possuidor.
Quando falamos em pecados da carne, podemos traduzir a expressão por
faltas devidas à condição inferior do homem espiritual sobre o planeta.
Os desejos aviltantes, os impulsos deprimentes, a ingratidão, a máfé,
o
traço do traidor, nunca foram da carne.
É preciso se instale no homem a compreensão de sua necessidade de
autodomínio, acordandolhe
as faculdades de disciplinador e renovador de si
mesmo, em Jesus Cristo.
Um dos maiores absurdos de alguns discípulos é atribuir ao conjunto de
células passivas, que servem ao homem, a paternidade dos crimes e desvios da
Terra, quando sabemos que tudo procede do espírito.
26 –
Fr ancisco Cândido Xavier
14
EM TI MESMO
“Tens fé? Temna
em ti mesmo, diante de Deus.”
Paulo (ROMANOS, 14: 22.)
No mecanismo das realizações diárias, não é possível esquecer a criatura
aquela expressão de confiança em si mesma, e que deve manter na esfera das
obrigações que tem de cumprir à face de Deus.
Os que vivem na certeza das promessas divinas são os que guardam a fé no
poder relativo que lhes foi confiado e, aumentandoo
pelo próprio esforço,
prosseguem nas edificações definitivas, com vistas à eternidade.
Os que, no entanto, permanecem desalentados quanto às suas
possibilidades, esperando em promessas humanas, dão a idéia de fragmentos de
cortiça, sem finalidade própria, ao sabor das águas, sem roteiro e sem ancoradouro.
Naturalmente, ninguém poderá viver na Terra sem confiar em alguém de
seu círculo mais próximo; mas, a afeição, o laço amigo, o calor das dedicações
elevadas não podem excluir a confiança em si mesmo, diante do Criador.
Na esfera de cada criatura, Deus pode tudo; não dispensa, porém, a
cooperação, a vontade e a confiança do filho para realizar. Um pai que fizesse,
mecanicamente, o quadro de felicidades dos seus descendentes, exterminaria, em
cada um, as faculdades mais brilhantes.
Por que te manterás indeciso, se o Senhor te conferiu este ou aquele
trabalho justo? Fazeo
retamente, porque se Deus tem confiança em ti para alguma
coisa, deves confiar em ti mesmo, diante d’Ele.
27 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
15
CONVERSÃO
“E tu, quando te converteres, confirma teus irmãos.”
Jesus (LUCAS, 22: 32)
Não é tão fácil a conversão do homem, quanto afirmam os portadores de
convicções apressadas.
Muitos dizem “eu creio”, mas poucos podem declarar “estou
transformado”.
As palavras do Mestre a Simão Pedro são muito simbólicas. Jesus proferiuas,
na véspera do Calvário, na hora grave da última reunião com os discípulos.
Recomendava ao pescador de Cafarnaum confirmasse os irmãos na fé, quando se
convertesse.
Acresce notar que Pedro sempre foi o seu mais ativo companheiro de
apostolado. O Mestre preferia sempre a sua casa singela para exercer o divino
ministério do amor. Durante três anos sucessivos, Simão presenciou acontecimentos
assombrosos. Viu leprosos limpos, cegos que voltavam a ver, loucos que
recuperavam a razão; deslumbrarase
com a visão do Messias transfigurado no
labor, assistira à saída de Lázaro da escuridão do sepulcro, e, no entanto, ainda não
estava convertido.
Seriam necessários os trabalhos imensos de Jerusalém, os sacrifícios
pessoais, as lutas enormes consigo mesmo, para que pudesse converterse
ao
Evangelho e dar testemunho do Cristo aos seus irmãos.
Não será por se maravilhar tua alma, ante as revelações espirituais, que
estarás convertido e transformado para Jesus. Simão Pedro presenciou essas
revelações com o próprio Messias e custou muito a obter esses títulos. Trabalhemos,
portanto, por nos convertermos. Somente nessas condições, estaremos habilitados
para o testemunho.
28 –
Fr ancisco Cândido Xavier
16
ENDIREITAI OS CAMINHOS
“Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta
Isaías.”
João Batista (JOÃO, 1: 23)
A exortação do Precursor permanece no ar, convocando os homens de boavontade
à regeneração das estradas comuns.
Em todos os tempos, observamos criaturas que se candidatam à fé, que
anseiam pelos benefícios do Cristo. Clamam pela sua paz, pela presença divina e,
por vezes, após transformarem os melhores sentimentos em inquietação injusta,
acabam desanimadas e vencidas.
Onde está Jesus que não lhes veio ao encontro dos rogos sucessivos? Em
que esfera longínqua permanecerá o Senhor, distante de suas amarguras? Não
compreendem que, através de mensageiros generosos do seu amor, o Cristo se
encontra, em cada dia, ao lado de todos os discípulos sinceros. Faltalhes
dedicação
ao bem de si mesmos. Correm ao encalço do Mestre Divino, desatentos ao conselho
de João: “endireitai os caminhos”.
Para que alguém sinta a influência santificadora do Cristo, é preciso
retificar a estrada em que tem vivido. Muitos choram em veredas do crime,
lamentamse
nos resvaladouros do erro sistemático, invocam o céu sem o desapego
às paixões avassaladoras do campo material. Em tais condições, não é justo dirigirse
a alma ao Salvador, que aceitou a humilhação e a cruz sem queixas de qualquer
natureza.
Se queres que Jesus venha santificar as tuas atividades, endireita os
caminhos da existência, regenera os teus impulsos. Desfaze as sombras que te
rodeiam e sentiLoás,
ao teu lado, com a sua bênção.
29 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
17
POR CRISTO
“E se te fez algum dano, ou te deve alguma coisa, põe
isso à minha conta.”
Paulo (FILÊMON, 1: 18)
Enviando Onésimo a Filêmon, Paulo, nas suas expressões inspiradas e
felizes, recomendava ao amigo lançasse ao seu débito quanto lhe era devido pelo
portador.
Afeiçoemos a exortação às nossas necessidades próprias.
Em cada novo dia de luta, passamos a ser maiores devedores do Cristo.
Se tudo nos corre dificilmente, é de Jesus que nos chegam as providências
justas. Se tudo se desenvolve retamente, é por seu amor que utilizamos as dádivas da
vida e é, em seu nome, que distribuímos esperanças e consolações.
Estamos empenhados à sua inesgotável misericórdia.
Somos d’Ele e nessa circunstância reside nosso título mais alto.
Por que, então, o pessimismo e o desespero, quando a calúnia ou a
ingratidão nos ataquem de rijo, trazendonos
a possibilidade de mais vasta ascensão?
Se estamos totalmente empenhados ao amor infinito do Mestre, não será razoável
compreendermos pelo menos alguma particularidade de nossa dívida imensa,
dispondonos
a aceitar pequenina parcela de sofrimento, em memória de seu nome,
junto de nossos irmãos da Terra, que são seus tutelados igualmente?
Devemos refletir que quando falamos em paz, em felicidade, em vida
superior, agimos no campo da confiança, prometendo por conta do Cristo, porquanto
só Ele tem para dar em abundância.
Em vista disso, caso sintas que alguém se converteu em devedor de tua
alma, não te entregues a preocupações inúteis, porque o Cristo é também teu credor
e deves colocar os danos do caminho em sua conta divina, passando adiante.
30 –
Fr ancisco Cândido Xavier
18
PURIFICAÇÃO ÍNTIMA
“Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo,
purificai os corações.”
(TIAGO, 4: 8)
Cada homem tem a vida exterior, conhecida e analisada pelos que o
rodeiam, e a vida íntima da qual somente ele próprio poderá fornecer o testemunho.
O mundo interior é a fonte de todos os princípios bons ou maus e todas as
expressões exteriores guardam aí os seus fundamentos.
Em regra geral, todos somos portadores de graves deficiências íntimas,
necessitadas de retificação.
Mas o trabalho de purificar não é tão simples quanto parece.
Será muito fácil ao homem confessar a aceitação de verdades religiosas,
operar a adesão verbal a ideologias edificantes... Outra coisa, porém, é realizar a
obra da elevação de si mesmo, valendose
da autodisciplina, da compreensão
fraternal e do espírito de sacrifício.
O apóstolo Tiago entendia perfeitamente a gravidade do assunto e
aconselhava aos discípulos alimpassem as mãos, isto é, retificassem as atividades do
plano exterior, renovassem suas ações ao olhar de todos, apelando para que se
efetuasse, igualmente, a purificação do sentimento, no recinto sagrado da
consciência, apenas conhecido pelo aprendiz, na soledade indevassável de seus
pensamentos. O companheiro valoroso do Cristo, contudo, não se esqueceu de
afirmar que isso é trabalho para os de duplo ânimo, porque semelhante renovação
jamais se fará tãosomente
à custa de palavras brilhantes.
31 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
19
NA PROPAGANDA
“E dirvosão:
Eilo
aqui, ou, eilo
ali; não vades, nem
os sigais.”
Jesus (LUCAS, 17: 23)
As exortações do Mestre aos discípulos são muito precisas para provocarem
qualquer incerteza ou indecisão.
Quando tantas expressões sectárias requisitam o Cristo para os seus
desmandos intelectuais, é justo que os aprendizes novos, na luz do Consolador,
meditem a elevada significação deste versículo de Lucas.
Na propaganda genuinamente cristã não basta dizer onde está o Senhor.
Indispensável é mostrálo
na própria exemplificação.
Muitos percorrem templos e altares, procurando Jesus.
Mudar de crença religiosa pode ser modificação de caminho, mas pode ser
também continuidade de perturbação.
Tornase
necessário encontrar o Cristo no santuário interior.
Cristianizar a vida não é imprimirlhe
novas feições exteriores. É reformála
para o bem no âmbito particular.
Os que afirmam apenas na forma verbal que o Mestre se encontra aqui ou
ali, arcam com profundas responsabilidades. A preocupação de proselitismo é
sempre perigosa para os que se seduzem com as belezas sonoras da palavra sem
exemplos edificantes.
O discípulo sincero sabe que dizer é fácil, mas que é difícil revelar os
propósitos do Senhor na existência própria. É imprescindível fazer o bem, antes de
ensinálo
a outrem, porque Jesus recomendou ninguém seguisse os pregoeiros que
somente dissessem onde se poderia encontrar o Filho de Deus.
32 –
Fr ancisco Cândido Xavier
20
O COMPANHEIRO
“Não devias tu igualmente ter compaixão do teu
companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?”
Jesus (MATEUS, 18: 33)
Em qualquer parte, não pode o homem agir, isoladamente, em se tratando
da obra de Deus, que se aperfeiçoa em todos os lugares.
O Pai estabeleceu a cooperação como princípio dos mais nobres, no centro
das leis que regem a vida.
No recanto mais humilde, encontrarás um companheiro de esforço.
Em casa, ele pode chamarse
“pai” ou “filho”; no caminho, pode
denominarse
“amigo” ou “camarada de ideal”.
No fundo, há um só Pai que é Deus e uma grande família que se compõe de
irmãos.
Se o Eterno encaminhou ao teu ambiente um companheiro menos desejável,
tem compaixão e ensina sempre.
Eleva os que te rodeiam.
Santifica os laços que Jesus promoveu a bem de tua alma e de todos os que
te cercam.
Se a tarefa apresenta obstáculos, lembrate
das inúmeras vezes em que o
Cristo já aplicou misericórdia ao teu espírito. Isso atenua as sombras do coração.
Observa em cada companheiro de luta ou do dia uma bênção e uma oportunidade de
atender ao programa divino, acerca de tua existência.
Há dificuldades e percalços, incompreensões e desentendimentos? Usa a
misericórdia que Jesus já usou contigo, dandote
nova ocasião de santificar e de
aprender.
33 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
21
CAMINHOS RETOS
“E ele lhes disse: Lançai a rede para a banda direita do
barco e achareis.”
(JOÃO, 21: 6)
A vida deveria constituir, por parte de todos nós, rigorosa observância dos
sagrados interesses de Deus.
Freqüentemente, porém, a criatura busca sobreporse
aos desígnios divinos.
Estabelecese,
então, o desequilíbrio, porque ninguém enganará a Divina
Lei. E o homem sofre, compulsoriamente, na tarefa de reparação.
Alguns companheiros desesperamse
no bom combate pela perfeição
própria e lançamse
num verdadeiro inferno de sombras interiores. Queixamse
do
destino, acusam a sabedoria criadora, gesticulam nos abismos da maldade,
esquecendo o capricho e a imprevidência que os fizeram cair.
Jesus, no entanto, há quase vinte séculos, exclamou:
“Lançai a rede para a banda direita do barco e achareis.”
Figuradamente, o espírito humano é um “pescador” dos valores evolutivos,
na escola regeneradora da Terra. A posição de cada qual é o “barco”. Em cada novo
dia, o homem se levanta com a sua “rede” de interesses. Estaremos lançando a nossa
“rede” para a “banda direita”?
Fundamse
nossos pensamentos e atos sobre a verdadeira justiça?
Convém consultar a vida interior, em esforço diário, porque o Cristo, nesse
ensinamento, recomendava, de modo geral, aos seus discípulos: “Dedicai vossa
atenção aos caminhos retos e achareis o necessário.”
34 –
Fr ancisco Cândido Xavier
22
QUE BUSCAIS?
“E J esus, voltandose
e vendo que eles o seguiam, disselhes:
Que buscais?”
(JOÃO, 1: 38)
A vida em si é conjunto divino de experiências.
Cada existência isolada oferece ao homem o proveito de novos
conhecimentos. A aquisição de valores religiosos, entretanto, é a mais importante de
todas, em virtude de constituir o movimento de iluminação definitiva da alma para
Deus.
Os homens, contudo, estendem a esse departamento divino a sua viciação
de sentimentos, no jogo inferior dos interesses egoísticos.
Os templos de pedra estão cheios de promessas injustificáveis e de votos
absurdos.
Muitos devotos entendem encontrar na Divina Providência uma força
subornável, eivada de privilégios e preferências. Outros se socorrem do plano
espiritual com o propósito de solucionar problemas mesquinhos.
Esquecemse
de que o Cristo ensinou e exemplificou.
A cruz do Calvário é símbolo vivo.
Quem deseja a liberdade precisa obedecer aos desígnios supremos. Sem a
compreensão de Jesus, no campo íntimo, associada aos atos de cada dia, a alma será
sempre a prisioneira de inferiores preocupações.
Ninguém olvide a verdade de que o Cristo se encontra no umbral de todos
os templos religiosos do mundo, perguntando, com interesse, aos que entram: “Que
buscais?”
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CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
23
VIVER PELA FÉ
“Mas o justo viverá pela fé.”
Paulo (ROMANOS, 1: 17)
Na epístola aos romanos, Paulo afirma que o justo viverá pela fé.
Não poucos aprendizes interpretaram erradamente a assertiva. Supuseram
que viver pela fé seria executar rigorosamente as cerimônias exteriores dos cultos
religiosos.
Freqüentar os templos, harmonizarse
com os sacerdotes, respeitar a
simbologia sectária, indicariam a presença do homem justo. Mas nem sempre vemos
o bom ritualista aliado ao bom homem. E, antes de tudo, é necessário ser criatura de
Deus, em todas as circunstâncias da existência.
Paulo de Tarso queria dizer que o justo será sempre fiel, viverá de modo
invariável, na verdadeira fidelidade ao Pai que está nos céus.
Os dias são ridentes e tranqüilos? Tenhamos boa memória e não
desdenhemos a moderação. São escuros e tristes? Confiemos em Deus, sem cuja
permissão a tempestade não desabaria. Veio o abandono do mundo? O Pai jamais
nos abandona. Chegaram as enfermidades, os desenganos, a ingratidão e a morte?
Eles são todos bons amigos, por trazerem até nós a oportunidade de sermos justos,
de vivermos pela fé, segundo as disposições sagradas do Cristianismo.
36 –
Fr ancisco Cândido Xavier
24
O TESOURO ENFERRUJADO
“O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram.”
(TIAGO, 5: 3)
Os sentimentos do homem, nas suas próprias idéias apaixonadas, se
dirigidos para o bem, produziriam sempre, em conseqüência, os mais substanciosos
frutos para a obra de Deus. Em quase toda parte, porém, desenvolvemse
ao
contrário, impedindo a concretização dos propósitos divinos, com respeito à
redenção das criaturas.
De modo geral, vemos o amor interpretado tãosomente
à conta de emoção
transitória dos sentidos materiais, a beneficência produzindo perturbação entre
dezenas de pessoas para atender a três ou quatro doentes, a fé organizando guerras
sectárias, o zelo sagrado da existência criando egoísmo fulminante.
Aqui, o perdão fala de dificuldades para expressarse;
ali, a humildade pede
a admiração dos outros.
Todos os sentimentos que nos foram conferidos por Deus são sagrados.
Constituem o ouro e a prata de nossa herança, mas como assevera o apóstolo,
deixamos que as dádivas se enferrujassem, no transcurso do tempo.
Fazse
necessário trabalhemos, afanosamente, por eliminar a “ferrugem”
que nos atacou os tesouros do espírito. Para isso, é indispensável compreendamos no
Evangelho a história da renúncia perfeita e do perdão sem obstáculos, a fim de que
estejamos caminhando, verdadeiramente, ao encontro do Cristo.
37 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
25
TENDE CALMA
“E disse Jesus: Mandai assentar os homens.”
(JOÃO, 6: 10)
Esta passagem do Evangelho de João é das mais significativas. Verificase
quando a multidão de quase cinco mil pessoas tem necessidade de pão, no
isolamento da natureza.
Os discípulos estão preocupados.
Filipe afirma que duzentos dinheiros não bastarão para atender à
dificuldade imprevista.
André conduz ao Mestre um jovem que trazia consigo cinco pães de cevada
e dois peixes.
Todos discutem.
Jesus, entretanto, recebe a migalha sem descrer de sua preciosa significação
e manda que todos se assentem, pede que haja ordem, que se faça harmonia. E
distribuí o recurso com todos, maravilhosamente.
A grandeza da lição é profunda.
Os homens esfomeados de paz reclamam a assistência do Cristo. Falam
n’Ele, suplicamlhe
socorro, aguardamlhe
as manifestações. Não conseguem,
todavia, estabelecer a ordem em si mesmos, para a recepção dos recursos celestes.
Misturam Jesus com as suas imprecações, suas ansiedades loucas e seus desejos
criminosos. Naturalmente se desesperam, cada vez mais desorientados, porquanto
não querem ouvir o convite à calma, não se assentam para que se faça a ordem,
persistindo em manter o próprio desequilíbrio.
38 –
Fr ancisco Cândido Xavier
26
PADECER
“Nada temas das coisas que hás de padecer.”
(APOCALIPSE, 2: 10)
Uma das maiores preocupações do Cristo foi alijar os fantasmas do medo
das estradas dos discípulos.
A aquisição da fé não constitui fenômeno comum nas sendas da vida.
Traduz confiança plena.
Afinal, que significará “padecer”?
O sofrimento de muitos homens, na essência, é muito semelhante ao do
menino que perdeu seus brinquedos.
Numerosas criaturas sentemse
eminentemente sofredoras, por não lhes ser
possível a prática do mal; revoltamse
outras porque Deus não lhes atendeu aos
caprichos perniciosos.
A fim de prestar a devida cooperação ao Evangelho, é justo nos
incorporemos à caravana fiel que se pôs a caminho do encontro com Jesus,
compreendendo que o amigo leal é o que não procura contender e está sempre
disposto à execução das boas tarefas.
Participar do espírito de serviço evangélico é partilhar das decisões do
Mestre, cumprindo os desígnios divinos do Pai que está nos Céus.
Não temamos, pois, o que possamos vir a sofrer.
Deus é o Pai magnânimo e justo.
Um pai não distribui padecimentos. Dá corrigendas e toda corrigenda
aperfeiçoa.
39 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
27
NEGÓCIOS
“E ele lhes disse: Por que me procuráveis? Não sabíeis
que me convém tratar dos negócios de meu Pai?”
(LUCAS, 2: 49)
O homem do mundo está sempre preocupado pelos negócios referentes aos
seus interesses efêmeros.
Alguns passam a existência inteira observando a cotação das bolsas.
Absorvemse
outros no estudo dos mercados.
Os países têm negócios internos e externos. Nos serviços que lhes dizem
respeito, utilizamse
maravilhosas atividades da inteligência. Entretanto, apesar de
sua feição respeitável, quando legítimas, todos esses movimentos são precários e
transitórios. As bolsas mais fortes sofrerão crises; o comércio do mundo é versátil e,
por vezes, ingrato.
São muito raros os homens que se consagram aos seus interesses eternos.
Freqüentemente, lembramse
disso, muito tarde, quando o corpo permanece a
morrer. Só então, quebram o esquecimento fatal.
No entanto, a criatura humana deveria entender na iluminação de si mesma
o melhor negócio da Terra, porquanto semelhante operação representa o interesse da
Providência Divina, a nosso respeito.
Deus permitiu as transações no planeta, para que aprendamos a fraternidade
nas expressões da troca, deixou que se processassem os negócios terrenos, de modo
a ensinarnos,
através deles, qual o maior de todos. Eis por que o Mestre nos fala
claramente, nas anotações de Lucas: — “Não sabíeis que me convém tratar dos
negócios de meu Pai?”
40 –
Fr ancisco Cândido Xavier
28
ESCRITORES
“Guardaivos
dos escribas que gostam de andar com
vestes compridas.”
Jesus (MARCOS, 12: 38)
As letras do mundo sempre estiveram cheias de “escribas que gostam de
andar com vestes compridas”.
Jesus referiase
não só aos intelectuais ambiciosos, mas também aos
escritores excêntricos que, a pretexto de novidade, envenenam os espíritos com as
suas concepções doentias, oriundas da excessiva preocupação de originalidade.
É preciso fugir aos que matam a vida simples.
O tóxico intelectual costuma arruinar numerosas existências.
Há livros cuja função útil é a de manter aceso o archote da vigilância nas
almas de caráter solidificado nos ideais mais nobres da vida. Ainda agora, quando
atravessamos tempos perturbados e difíceis para o homem, o mercado de idéias
apresentase
repleto de artigos deteriorados, pedindo a intervenção dos postos de
“higiene espiritual”.
Podereis alimentar o corpo com substâncias apodrecidas?
Vossa alma, igualmente, não poderá nutrirse
de ideais inferiores, na base
da irreligião, do desrespeito, da desordem, da indisciplina.
Observai os modelos de decadência intelectual e refleti com sinceridade na
paz que desejais intimamente.
Isso constituirá um auxílio forte, em favor da extinção dos desvios da
inteligência.
41 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
29
CONTENTARSE
“Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi
a contentarme
com o que tenho.”
Paulo (FILIPENSES, 4, 11)
A vertigem da posse avassala a maioria das criaturas na Terra.
A vida simples, condição da felicidade relativa que o planeta pode oferecer,
foi esquecida pela generalidade dos homens. Esmagadora percentagem das súplicas
terrestres não consegue avançar além do seu acanhado âmbito de origem.
Pedemse
a Deus absurdos estranhos. Raras pessoas se contentam com o
material recebido para a solução de suas necessidades, raríssimas pedem apenas o
“pão de cada dia”, como símbolo das aquisições indispensáveis.
O homem incoerente não procura saber se possui o menos para a vida
eterna, porque está sempre ansioso pelo mais nas possibilidades transitórias.
Geralmente, permanece absorvido pelos interesses perecíveis, insaciado, inquieto,
sob o tormento angustioso da desmedida ambição. Na corrida louca para o
imediatismo, esquece a oportunidade que lhe pertence, abandona o material que lhe
foi concedido para a evolução própria e atirase
a aventuras de conseqüências
imprevisíveis, em face do seu futuro infinito.
Se já compreendes tuas responsabilidades com o Cristo, examina a essência
de teus desejos mais íntimos. Lembrate
de que Paulo de Tarso, o apóstolo chamado
por Jesus para a disseminação da verdade divina, entre os homens, foi obrigado a
aprender a contentarse
com o que possuía, penetrando o caminho de disciplinas
acerbas.
Estarás, acaso, esperando que alguém realize semelhante aprendizado por
ti?
42 –
Fr ancisco Cândido Xavier
30
O MUNDO E O MAL
“Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do
mal.”
Jesus (JOÃO, 17: 15)
Nos centros religiosos, há sempre grande número de pessoas preocupadas
com a idéia da morte. Muitos companheiros não crêem na paz, nem no amor, senão
em planos diferentes da Terra. A maioria aguarda situações imaginárias e
injustificáveis para quem nunca levou em linha de conta o esforço próprio.
O anseio de morrer para ser feliz é enfermidade do espírito.
Orando ao Pai pelos discípulos, Jesus rogou para que não fossem retirados
do mundo, e, sim, libertos do mal.
O mal, portanto, não é essencialmente do mundo, mas das criaturas que o
habitam.
A Terra, em si, sempre foi boa. De sua lama brotam lírios de delicado
aroma, sua natureza maternal é repositório de maravilhosos milagres que se repetem
todos os dias.
De nada vale partirmos do planeta, quando nossos males não foram
exterminados convenientemente.
Em tais circunstâncias, assemelhamonos
aos portadores humanos das
chamadas moléstias incuráveis.
Podemos trocar de residência; todavia, a mudança é quase nada se as
feridas nos acompanham. Fazse
preciso, pois, embelezar o mundo e aprimorálo,
combatendo o mal que está em nós.
43 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
31
COISAS MÍNIMAS
“Pois se nem ainda podeis fazer as coisas mínimas, por
que estais ansiosos pelas outras?”
Jesus (LUCAS, 12: 26)
Pouca gente conhece a importância da boa execução das coisas mínimas.
Há homens que, com falsa superioridade, zombam das tarefas humildes,
como se não fossem imprescindíveis ao êxito dos trabalhos de maior envergadura.
Um sábio não pode esquecerse
de que, um dia, necessitou aprender com as letras
simples do alfabeto.
Além disso, nenhuma obra é perfeita se as particularidades não foram
devidamente consideradas e compreendidas.
De modo geral, o homem está sempre fascinado pelas situações de grande
evidência, pelos destinos dramáticos e empolgantes.
Destacarse,
entretanto, exige muitos cuidados. Os espinhos também se
destacam, as pedras salientamse
na estrada comum.
Convém, desse modo, atender às coisas mínimas da senda que Deus nos
reservou, para que a nossa ação se fixe com real proveito à vida.
A sinfonia estará perturbada se faltou uma nota, o poema é obscuro quando
se omite um verso.
Estejamos zelosos pelas coisas pequeninas. São parte integrante e
inalienável dos grandes feitos.
Compreendendo a importância disso, o Mestre nos interroga no Evangelho
de Lucas: “Pois se nem podeis ainda fazer as coisas mínimas, por que estais ansiosos
pelas outras?”
44 –
Fr ancisco Cândido Xavier
32
NUVENS
“E saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu
amado Filho, a ele ouvi.”
(LUCAS, 9: 35)
O homem, quase sempre, tem a mente absorvida na contemplação das
nuvens que lhe surgem no horizonte.
São nuvens de contrariedades, de projetos frustrados, de esperanças
desfeitas.
Por vezes, desesperase
envenenando as fontes da própria vida. Desejaria,
invariavelmente, um céu azul a distância, um Sol brilhante no dia e luminosas
estrelas que lhe embelezassem a noite. No entanto, aparece a nuvem e a
perplexidade o toma, de súbito.
Contanos
o Evangelho a formosa história de uma nuvem.
Encontravamse
os discípulos deslumbrados com a visão de Jesus
transfigurado, tendo junto de si Moisés e Elias, aureolados de intensa luz.
Eis, porém, que uma grande sombra comparece. Não mais distinguem o
maravilhoso quadro. Todavia, do manto de névoa espessa, clama a voz poderosa da
revelação divina: “Este é o meu amado Filho, a ele ouvi!”
Manifestavase
a palavra do Céu, na sombra temporária.
A existência terrestre, efetivamente, impõe angústias inquietantes e aflições
amargosas. É conveniente, contudo, que as criaturas guardem serenidade e
confiança, nos momentos difíceis.
As penas e os dissabores da luta planetária contêm esclarecimentos
profundos, lições ocultas, apelos grandiosos. A voz sábia e amorosa de Deus fala
sempre através deles.
45 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
33
RECAPITULAÇÕES
“Porque amavam mais a glória dos homens do que a
glória de Deus.”
(JOÃO, 12: 43)
Os séculos parecem reviver com seus resplendores e decadências.
Fornece o mundo a impressão dum campo onde as cenas se repetem
constantemente.
Tudo instável.
A força e o direito caminham com alternativas de domínio. Multidões
esclarecidas regressam a novas alucinações. O espírito humano, a seu turno,
considerado insuladamente, demonstra recapitular as más experiências, após
alcançar o bom conhecimento.
Como esclarecer a anomalia? A situação é estranhável porque, no fundo,
todo homem tem sede de paz e fome de estabilidade. Importa reconhecer, porém,
que, no curso dos milênios, as criaturas humanas, em múltiplas existências, têm
amado mais a glória terrena que a glória de Deus.
Inúmeros homens se presumem redimidos com a meditação criteriosa do
crepúsculo, mas... e o dia que já se foi? Na justiça misericordiosa de suas decisões,
Jesus concede ao trabalhador hesitante uma oportunidade nova, O dia volta.
Refundese
a existência. Todavia, que aproveita ao operário valerse
tãosomente
dos bens eternos, no crepúsculo cheio de sombras?
Alguém lhe perguntará: que fizeste da manhã clara, do Sol ardente, dos
instrumentos que te dei?
Apenas a essa altura reconhece a necessidade de gloriarse
no TodoPoderoso.
E homens e povos continuarão desfazendo a obra falsa para recomeçar o
esforço outra vez.
46 –
Fr ancisco Cândido Xavier
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COMER E BEBER
“Então, começareis a dizer: Temos comido e bebido na
tua presença e tens ensinado nas nossas ruas.”
Jesus (LUCAS, 13: 26)
O versículo de Lucas, aqui anotado, referese
ao pai de família que cerrou a
porta aos filhos ingratos.
O quadro reflete a situação dos religiosos de todos os matizes que apenas
falaram, em demasia, reportandose
ao nome de Jesus. No dia da análise minuciosa,
quando a morte abre, de novo, a porta espiritual, eis que dirão haver “comido e
bebido” na presença do Mestre, cujos ensinamentos conheceram e disseminaram nas
ruas.
Comeram e beberam apenas. Aproveitaramse
dos recursos egoisticamente.
Comeram e acreditaram com a fé intelectual. Beberam e transmitiram o que haviam
aprendido de outrem. Assimilar a lição na existência própria não lhes interessava a
mente inconstante.
Conheceram o Mestre, é verdade, mas não o revelaram em seus corações.
Também Jesus conhecia Deus; no entanto, não se limitou a afirmar a realidade
dessas relações. Viveu o amor ao Pai, junto dos homens.
Ensinando a verdade, entregouse
à redenção humana, sem cogitar de
recompensa. Entendeu as criaturas antes que essas o entendessem, concedeunos
supremo favor com a sua vinda, deuse
em holocausto para que aprendêssemos a
ciência do bem.
Não bastará crer intelectualmente em Jesus. É necessário aplicálo
a nós
próprios.
O homem deve cultivar a meditação no círculo dos problemas que o
preocupam cada dia. Os irracionais também comem e bebem. Contudo, os filhos das
nações nascem na Terra para uma vida mais alta.
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CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
35
SEMEADURA
“Mas, tendo sido semeado, cresce.”
Jesus (MARCOS, 4: 32)
É razoável que todos os homens procurem compreender a substância dos
atos que praticam nas atividades diárias. Ainda que estejam obedecendo a certos
regulamentos do mundo, que os compelem a determinadas atitudes, é imprescindível
examinar a qualidade de sua contribuição pessoal no mecanismo das circunstâncias,
porquanto é da lei de Deus que toda semeadura se desenvolva.
O bem semeia a vida, o mal semeia a morte. O primeiro é o movimento
evolutivo na escala ascensional para a Divindade, o segundo é a estagnação.
Muitos Espíritos, de corpo em corpo, permanecem na Terra com as mesmas
recapitulações durante milênios. A semeadura prejudicial condicionouos
à chamada
“morte no pecado”.
Atravessam os dias, resgatando débitos escabrosos e caindo de novo pela
renovação da sementeira indesejável. A existência deles constitui largo círculo
vicioso, porque o mal os enraíza ao solo ardente e árido das paixões ingratas.
Somente o bem pode conferir o galardão da liberdade suprema,
representando a chave única suscetível de abrir as portas sagradas do Infinito à alma
ansiosa.
Haja, pois, suficiente cuidado em nós, cada dia, porquanto o bem ou o mal,
tendo sido semeados, crescerão junto de nós, de conformidade com as leis que
regem a vida.
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Fr ancisco Cândido Xavier
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HERESIAS
“E até importa que haja entre vós heresias, para que os
que são sinceros se manifestem entre vós.”
Paulo (I CORÍNTIOS, 11: 19)
Recebamos os hereges com simpatia, falem livremente os materialistas,
ninguém se insurja contra os que duvidam, que os descrentes possuam tribunais e
vozes.
Isso é justo.
Paulo de Tarso escreveu este versículo sob profunda inspiração.
Os que condenam os desesperados da sorte não ajuízam sobre o amor
divino, com a necessária compreensão.
Que dizerse
do pai que amaldiçoa o filho por haver regressado a casa
enfermo e sem esperança?
Quem não consegue crer em Deus está doente. Nessa condição, a palavra
dos desesperados é sincera, por partir de almas vazias, em gritos de socorro, por
mais dissimulados que esses gritos pareçam, sob a capa brilhante dos conceitos
filosóficos ou científicos do mundo. Ainda que os infelizes dessa ordem nos
ataquem, seus esforços inúteis redundam a benefício de todos, possibilitando a
seleção dos valores legítimos na obra iniciada.
Quanto à suposta necessidade de ministrarmos fé aos negadores,
esqueçamos a presunção de satisfazêlos,
guardando conosco a certeza de que Deus
tem muito a darlhes.
Recebamolos
como irmãos e estejamos convictos de que o
Pai fará o resto.
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CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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HONRAS VÃS
“Em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que
são mandamentos de homens.”
Jesus (MARCOS, 7: 7)
A atualidade do Cristianismo oferecenos
lições profundas, relativamente à
declaração acima mencionada.
Ninguém duvida do sopro cristão que anima a civilização do Ocidente.
Cumpre notar, contudo, que a essência cristã, em seus institutos, não passou de
sopro, sem renovações substanciais, porque, logo após o ministério divino do
Mestre, vieram os homens e lavraram ordenações e decretos na presunção de honrar
o Cristo, semeando, em verdade, separatismo e destruição.
Os últimos séculos estão cheios de figuras notáveis de reis, de religiosos e
políticos que se afirmaram defensores do Cristianismo e apóstolos de suas luzes.
Todos eles escreveram ou ensinaram em nome de Jesus.
Os príncipes expediram mandamentos famosos, os clérigos publicaram
bulas e compêndios, os administradores organizaram leis célebres. No entanto, em
vão procuraram honrar o Salvador, ensinando doutrinas que são caprichos humanos,
porquanto o mundo de agora ainda é campo de batalha das idéias, qual no tempo em
que o Cristo veio pessoalmente a nós, apenas com a diferença de que o Farisaísmo, o
Templo, o Sinédrio, o Pretório e a Corte de César possuem hoje outros nomes,
Importa reconhecer, desse modo, que, sobre o esforço de tantos anos, é necessário
renovar a compreensão geral e servir ao Senhor, não segundo os homens, mas de
acordo com os seus próprios ensinamentos.
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Fr ancisco Cândido Xavier
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PREGAÇÕES
“E ele lhes disse: Vamos às aldeias vizinhas para que eu
ali também pregue; porque para isso vim.”
(MARCOS, 1: 38)
Neste versículo de Marcos, Jesus declara ter vindo ao mundo para a
pregação. Todavia, como a significação do conceito tem sido erroneamente
interpretada, é razoável recordar que, com semelhante assertiva, o Mestre incluía no
ato de pregar todos os gestos sacrificiais de sua vida.
Geralmente, vemos na Terra a missão de ensinar muito desmoralizada.
A ciência oficial dispõe de cátedras, a política possui tribunas, a religião
fala de púlpitos. Contudo, os que ensinam, com exceções louváveis, quase sempre se
caracterizam por dois modos diferentes de agir.
Exibem certas atitudes quando pregam, e adotam outras quando em
atividade diária. Daí resulta a perturbação geral, porque os ouvintes se sentem à
vontade para mudar a “roupa do caráter”.
Toda dissertação moldada no bem é útil. Jesus veio ao mundo para isso,
pregou a verdade em todos os lugares, fez discursos de renovação, comentou a
necessidade do amor para a solução de nossos problemas.
No entanto, misturou palavras e testemunhos vivos, desde a primeira
manifestação de seu apostolado sublime até a cruz. Por pregação, portanto, o Mestre
entendia igualmente os sacrifícios da vida.
Enviandonos
divino ensinamento, nesse sentido, contanos
o Evangelho
que o Mestre vestia uma túnica sem costura na hora suprema do Calvário.
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CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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ENTRA E COOPERA
“E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres
que eu faça? Respondeulhe
o Senhor: — Levantate
e entra na
cidade e lá te será dito o que te convém fazer.”
(ATOS, 9: 6)
Esta particularidade dos Atos dos Apóstolos revestese
de grande beleza
para os que desejam compreensão do serviço com o Cristo.
Se o Mestre aparecera ao rabino apaixonado de Jerusalém, no esplendor da
luz divina e imortal, se lhe dirigira palavras diretas e inolvidáveis ao coração, por
que não terminou o esclarecimento, recomendandolhe,
ao invés disso, entrar em
Damasco, a fim de ouvir o que lhe convinha saber? É que a lei da cooperação entre
os homens é o grande e generoso princípio, através do qual Jesus segue, de perto, a
Humanidade inteira, pelos canais da inspiração.
O Mestre ensina os discípulos e consolaos
através deles próprios. Quanto
mais o aprendiz lhe alcança a esfera de influenciação, mais habilitado estará para
constituirse
em seu instrumento fiel e justo.
Paulo de Tarso contemplou o Cristo ressuscitado, em sua grandeza
imperecível, mas foi obrigado a socorrerse
de Ananias para iniciar a tarefa
redentora que lhe cabia junto dos homens.
Essa lição deveria ser bem aproveitada pelos companheiros que esperam
ansiosamente a morte do corpo, suplicando transferência para os mundos superiores,
tãosomente
por haverem ouvido maravilhosas descrições dos mensageiros divinos.
Meditando o ensinamento, perguntem a si próprios o que fariam nas esferas mais
altas, se ainda não se apropriaram dos valores educativos que a Terra lhes pode
oferecer.
Mais razoável, pois, se levantem do passado e penetrem a luta edificante de
cada dia, na Terra, porquanto, no trabalho sincero da cooperação fraternal, receberão
de Jesus o esclarecimento acerca do que lhes convém fazer.
52 –
Fr ancisco Cândido Xavier
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TEMPO DE CONFIANÇA
“E disselhes:
Onde está a vossa fé?”
(LUCAS, 8: 25)
A tempestade estabelecera a perturbação no ânimo dos discípulos mais
fortes. Desorientados, ante a fúria dos elementos, socorremse
de Jesus, em altos
brados.
Atendeos
o Mestre, mas pergunta depois:
— Onde está a vossa fé?
O quadro sugere ponderações de vasto alcance. A interrogação de Jesus
indica claramente a necessidade de manutenção da confiança, quando tudo parece
obscuro e perdido. Em tais circunstâncias, surge a ocasião da fé, no tempo que lhe é
próprio.
Se há ensejo para trabalho e descanso, plantio e colheita, revelarseá
igualmente a confiança na hora adequada.
Ninguém exercitará otimismo, quando todas as situações se conjugam para
o bemestar.
É difícil demonstrarse
amizade nos momentos felizes.
Aguardem os discípulos, naturalmente, oportunidades de luta maior, em
que necessitarão aplicar mais extensa e intensivamente os ensinos do Senhor. Sem
isso, seria impossível aferir valores.
Na atualidade dolorosa, inúmeros companheiros invocam a cooperação
direta do Cristo. E o socorro vem sempre, porque é infinita a misericórdia celestial,
mas, vencida a dificuldade, esperem a indagação:
— Onde está a vossa fé?
E outros obstáculos sobrevirão, até que o discípulo aprenda a dominarse,
a
educarse
e a vencer, serenamente, com as lições recebidas.
53 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
41
A REGRA ÁUREA
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo.”
Jesus (MATEUS, 22: 39)
Incontestavelmente, muitos séculos antes da vinda do Cristo já era ensinada
no mundo a Regra Áurea, trazida por embaixadores de sua sabedoria e misericórdia.
Importa esclarecer, todavia, que semelhante princípio era transmitido com maior ou
menor exemplificação de seus expositores.
Diziam os gregos: “Não façais ao próximo o que não desejais receber dele.”
Afirmavam os persas: “Fazei como quereis que se vos faça.” Declaravam os
chineses: “O que não desejais para vós, não façais a outrem.” Recomendavam os
egípcios: “Deixai passar aquele que fez aos outros o que desejava para si.”
Doutrinavam os hebreus: “O que não quiserdes para vós, não desejeis para o
próximo.”
Insistiam os romanos: “A lei gravada nos corações humanos é amar os
membros da sociedade como a si mesmo.”
Na antigüidade, todos os povos receberam a lei de ouro da magnanimidade
do Cristo. Profetas, administradores, juízes e filósofos, porém, procederam como
instrumentos mais ou menos identificados com a inspiração dos planos mais altos da
vida. Suas figuras apagaramse
no recinto dos templos iniciáticos ou confundiramse
na tela do tempo em vista de seus testemunhos fragmentários.
Com o Mestre, todavia, a Regra Áurea é a novidade divina, porque Jesus a
ensinou e exemplificou, não com virtudes parciais, mas em plenitude de trabalho,
abnegação e amor, à claridade das praças públicas, revelandose
aos olhos da
Humanidade inteira.
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Fr ancisco Cândido Xavier
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GLÓRIA AO BEM
“Glória, porém, e honra e paz a qualquer que obra o bem.”
Paulo (ROMANOS, 2: 10)
A malícia costuma conduzir o homem a falsas apreciações do bem, quando
não parta da confissão religiosa a que se dedica, do ambiente de trabalho que lhe é
próprio, da comunidade familiar em que se integra.
O egoísmo fálo
crer que o bem completo só poderia nascer de suas mãos
ou dos seus. Esse é dos característicos mais inferiores da personalidade.
O bem flui incessantemente de Deus e Deus é o Pai de todos os homens. E
é através do homem bom que o Altíssimo trabalha contra o sectarismo que lhe
transformou os filhos terrestres em combatentes contumazes, de ações estéreis e
sanguinolentas.
Por mais que as lições espontâneas do Céu convoquem as criaturas ao
reconhecimento dessa verdade, continuam os homens em atitudes de ofensiva,
ameaça e destruição, uns para com os outros.
O Pai, no entanto, consagrará o bem, onde quer que o bem esteja.
É indispensável não atentarmos para os indivíduos, mas, sim, observar e
compreender o bem que o Supremo Senhor nos envia por intermédio deles.
Que importa o aspecto exterior desse ou daquele homem? Que interessam a
sua nacionalidade, o seu nome, a sua cor? Anotemos a mensagem de que são
portadores. Se permanecem consagrados ao mal, são dignos do bem que lhes
possamos fazer, mas se são bons e sinceros, no setor de serviço em que se
encontram, merecem a paz e a honra de Deus.
55 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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CONSULTAS
“E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam
apedrejadas. Tu, pois, que dizes?”
(JOÃO, 8: 5)
Várias vezes o espírito de má fé cercou o Mestre, com interrogações,
aguardando determinadas respostas pelas quais o ridicularizasse. A palavra d’Ele,
porém, era sempre firme, incontestável, cheia de sabor divino.
Referimonos
ao fato para considerar que semelhantes anotações convidam
o discípulo a consultar sempre a sabedoria, o gesto e o exemplo do Mestre.
Os ensinamentos e atos de Jesus constituem lições espontâneas para todas
as questões da vida.
O homem costuma gastar grandes patrimônios financeiros nos inquéritos da
inteligência. O parecer dos profissionais do direito custa, por vezes, o preço de
angustioso sacrifício.
Jesus, porém, fornece opiniões decisivas e profundas, gratuitamente. Basta
que a alma procure a oração, o equilíbrio e a quietude. O Mestre falarlheá
na Boa
Nova da Redenção.
Freqüentemente, surgem casos inesperados, problemas de solução difícil.
Não ignora o homem o que os costumes e as tradições mandam resolver, de certo
modo; no entanto, é indispensável que o aprendiz do Evangelho pergunte, no
santuário do coração:
— Tu, porém, Mestre, que me dizes a isto?
E a resposta não se fará esperar como divina luz no grande silêncio.
56 –
Fr ancisco Cândido Xavier
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O CEGO DE JERICÓ
“Dizendo: Que queres que te faça? E ele respondeu: —
Senhor, que eu veja.”
(LUCAS, 18: 41)
O cego de Jericó é das grandes figuras dos ensinamentos evangélicos.
Informanos
a narrativa de Lucas que o infeliz andava pelo caminho,
mendigando... Sentindo a aproximação do Mestre, põese
a gritar, implorando
misericórdia.
Irritamse
os populares, em face de tão insistentes rogativas. Tentam
impedilo,
recomendandolhe
calar as solicitações. Jesus, contudo, ouvelhe
a
súplica, aproximase
dele e interroga com amor:
— Que queres que te faça?
Á frente do magnânimo dispensador dos bens divinos, recebendo liberdade
tão ampla, o pedinte sincero responde apenas isto:
— Senhor , que eu veja!
O propósito desse cego honesto e humilde deveria ser o nosso em todas as
circunstâncias da vida.
Mergulhados na carne ou fora dela, somos, às vezes, esse mendigo de
Jericó, esmolando às margens da estrada comum. Chamanos
a vida, o trabalho
apela para nós, abençoanos
a luz do conhecimento, mas permanecemos indecisos,
sem coragem de marchar para a realização elevada que nos compete atingir. E,
quando surge a oportunidade de nosso encontro espiritual com o Cristo, além de
sentirmos que o mundo se volta contra nós, induzindonos
à indiferença, é muito
raro sabermos pedir sensatamente.
Por isso mesmo, é muito valiosa a recordação do pobrezinho mencionado
no versículo de Lucas, porquanto não é preciso compareçamos diante do Mestre
com volumosa bagagem de rogativas. Basta lhe peçamos o dom de ver, com a exata
compreensão das particularidades do caminho evolutivo. Que o Senhor, portanto,
nos faça enxergar todos os fenômenos e situações, pessoas e coisas, com amor e
justiça, e possuiremos o necessário à nossa alegria imortal.
57 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
45
CONVERSAR
“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só
a que for boa para promover a edificação, para que dê graças
aos que a ouvem.”
Paulo (EFÉSIOS, 4: 29)
O gosto de conversar retamente e as palestras edificantes caracterizam as
relações de legítimo amor fraternal.
As almas que se compreendem, nesse ou naquele setor da atividade comum,
estimam as conversações afetuosas e sábias, como escrínios vivos de Deus, que
permutam, entre si, os valores mais preciosos.
A palavra precede todos os movimentos nobres da vida. Tece os ideais do
amor, estimula a parte divina, desdobra a civilização, organiza famílias e povos.
Jesus legou o Evangelho ao mundo, conversando. E quantos atingem mais
elevado plano de manifestação, prezam a palestra amorosa e esclarecedora.
Pela perda do gosto de conversar com alguém, pode o homem avaliar se
está caindo ou se o amigo estaciona em desvios inesperados.
Todavia, além dos que se conservam em posição de superioridade, existem
aqueles que desfiguram o dom sagrado do verbo, compelindoo
às maiores torpezas.
São os amantes do ridículo, da zombaria, dos falsos costumes. A palavra, porém, é
dádiva tão santa que, ainda aí, revela aos ouvintes corretos a qualidade do espírito
que a insulta e desfigura, colocandoo,
imediatamente, no baixo lugar que lhe
compete nos quadros da vida.
Conversar é possibilidade sublime. Não relaxes, pois, essa concessão do
Altíssimo, porque pela tua conversação serás conhecido.
58 –
Fr ancisco Cândido Xavier
46
QUEM ÉS?
“Há só um Legislador e um J uiz que pode salvar e
destruir. Tu, porém, quem és, que julgas a outrem?”
(TIAGO, 4: 12)
Deveria existir, por parte do homem, grande cautela em emitir opiniões
relativamente à incorreção alheia.
Um parecer inconsciente ou leviano pode gerar desastres muito maiores que
o erro dos outros, convertido em objeto de exame.
Naturalmente existem determinadas responsabilidades que exigem
observações acuradas e pacientes daqueles a quem foram conferidas. Um
administrador necessita analisar os elementos de composição humana que lhe
integram a máquina de serviços. Um magistrado, pago pelas economias do povo, é
obrigado a examinar os problemas da paz ou da saúde sociais, deliberando com
serenidade e justiça na defesa do bem coletivo. Entretanto, importa compreender que
homens, como esses, entendendo a extensão e a delicadeza dos seus encargos
espirituais, muito sofrem, quando compelidos ao serviço de regeneração das peças
vivas, desviadas ou enfermiças, encaminhadas à sua responsabilidade.
Na estrada comum, no entanto, verificase
grande excesso de pessoas
viciadas na precipitação e na leviandade.
Cremos seja útil a cada discípulo, quando assediado pelas considerações
insensatas, lembrar o papel exato que está representando no campo da vida presente,
interrogando a si próprio, antes de responder às indagações tentadoras: “Será este
assunto de meu interesse? Quem sou? Estarei, de fato, em condições de julgar
alguém?”
59 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
47
A GRANDE PERGUNTA
“E por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o
que eu digo?”
Jesus (LUCAS, 6: 46)
Em lamentável indiferença, muitas pessoas esperam pela morte do corpo, a
fim de ouvirem as sublimes palavras do Cristo.
Não se compreende, porém, o motivo de semelhante propósito. O Mestre
permanece vivo em seu Evangelho de Amor e Luz.
É desnecessário aguardar ocasiões solenes para que lhe ouçamos os
ensinamentos sublimes e claros.
Muitos aprendizes aproximamse
do trabalho santo, mas desejam
revelações diretas. Teriam mais fé, asseguram displicentes, se ouvissem o Senhor,
de modo pessoal, em suas manifestações divinas. Acreditamse
merecedores de
dádivas celestes e acabam considerando que o serviço do Evangelho é grande em
demasia para o esforço humano e põemse
à espera de milagres imprevistos, sem
perceberem que a preguiça sutilmente se lhes mistura à vaidade, anulandolhes
as
forças.
Tais companheiros não sabem ouvir o Mestre Divino em seu verbo imortal.
Ignoram que o serviço deles é aquele a que foram chamados, por mais humildes lhes
pareçam as atividades a que se ajustam.
Na qualidade de político ou de varredor, num palácio ou numa choupana, o
homem da Terra pode fazer o que lhe ensinou Jesus.
É por isso que a oportuna pergunta do Senhor deveria gravarse
de maneira
indelével em todos os templos, para que os discípulos, em lhe pronunciando o nome,
nunca se esqueçam de atender, sinceramente, às recomendações do seu verbo
sublime.
60 –
Fr ancisco Cândido Xavier
48
GUARDAIVOS
“Estes, porém, dizem mal do que ignoram; e, naquilo
que naturalmente conhecem, como animais irracionais se
corrompem.”
(JUDAS, 1: 10)
Em todos os lugares, encontramos pessoas sempre dispostas ao comentário
desairoso e ingrato relativamente ao que não sabem. Almas levianas e inconstantes,
não dominam os movimentos da vida, permanecendo subjugadas pela própria
inconsciência.
E são essas justamente aquelas que, em suas manifestações instintivas, se
portam, no que sabem, como irracionais. Sua ação particular costuma corromper os
assuntos mais sagrados, insultar as intenções mais generosas e ridiculizar os feitos
mais nobres.
Guardaivos
das atitudes dos murmuradores irresponsáveis.
Concedeunos
o Cristo a luz do Evangelho, para que nossa análise não
esteja fria e obscura.
O conhecimento com Jesus é a claridade transformadora da vida,
conferindonos
o dom de entender a mensagem viva de cada ser e a significação de
cada coisa, no caminho infinito.
Somente os que ajuízam, acerca da ignorância própria, respeitando o
domínio das circunstâncias que desconhecem, são capazes de produzir frutos de
perfeição com as dádivas de Deus que já possuem.
61 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
49
SABER E FAZER
“Se sabeis estas coisas, bemaventurados
sois se as
fizerdes.”
Jesus (JOÃO, 13: 17)
Entre saber e fazer existe singular diferença.
Quase todos sabem, poucos fazem.
Todas as seitas religiosas, de modo geral, somente ensinam o que constitui
o bem. Todas possuem serventuários, crentes e propagandistas, mas os apóstolos de
cada uma escasseiam cada vez mais.
Há sempre vozes habilitadas a indicar os caminhos. É a palavra dos que
sabem.
Raras criaturas penetram valorosamente a vereda, muita vez em silêncio,
abandonadas e incompreendidas.
É o esforço supremo dos que fazem.
Jesus compreendeu a indecisão dos filhos da Terra e, transmitindolhes
a
palavra da verdade e da vida, fez a exemplificação máxima, através de sacrifícios
culminantes.
A existência de uma teoria elevada envolve a necessidade de experiência e
trabalho. Se a ação edificante fosse desnecessária, a mais humilde tese do bem
deixaria de existir por inútil.
João assinalou a lição do Mestre com sabedoria. Demonstra o versículo que
somente os que concretizam os ensinamentos do Senhor podem ser bemaventurados.
Aí reside, no campo do serviço cristão, a diferença entre a cultura e a
prática, entre saber e fazer.
62 –
Fr ancisco Cândido Xavier
50
CONTA DE SI
“De maneira que cada um de nós dará conta de si
mesmo a Deus.”
Paulo (ROMANOS, 14: 12)
É razoável que o homem se consagre à solução de todos os problemas
alusivos à esfera que o rodeia no mundo; entretanto, é necessário saiba a espécie de
contas que prestará ao Supremo Senhor, ao termo das obrigações que lhe foram
cometidas.
Inquietase
a maioria das criaturas com o destino dos outros, descuidadas
de si mesmas. Homens existem que se desesperam pela impossibilidade de operar a
melhoria de companheiros ou de determinadas instituições.
Todavia, a quem pertencerão, de fato, os acervos patrimoniais do mundo?
A resposta é clara, porque os senhores mais poderosos desprenderseão
da
economia planetária, entregandoa
a novos operários de Deus para o serviço da
evolução infinita.
O argumento, contudo, suscitará certas perguntas dos cérebros menos
avisados. Se a conta reclamada referese
ao círculo pessoal, que tem o homem a ver
pelas contas de sua família, de sua casa, de sua oficina? Cumprenos,
então,
esclarecer que os companheiros da intimidade doméstica, a posse do lar, as
finalidades do agrupamento em que se trabalha, pertencem ao Supremo Senhor, mas
o homem, na conta que lhe é própria, é obrigado a revelar sua linha de conduta para
com a família, com a casa em que se asila, com a fonte de suas atividades comuns.
Naturalmente, ninguém responderá pelos outros; todavia, cada espírito, em
relacionando o esforço que lhe compete, será compelido a esclarecer a sua qualidade
de ação nos menores departamentos da realização terrestre, onde foi chamado a
viver.
63 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
51
MENINOS ESPIRITUAIS
“Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não
está experimentado na palavra da justiça, pois é menino.”
Paulo. (HEBREUS, 5: 13)
Na apreciação dos companheiros de luta, que nos integram o quadro de
trabalho diário, é útil não haja choques, quando, inesperadamente, surgirem falhas e
fraquezas. Antes da emissão de qualquer juízo, é conveniente conhecer o quilate dos
valores espirituais em exame.
Jamais prescindamos da compreensão ante os que se desviam do caminho
reto. A estrada percorrida pelo homem experiente está cheia de crianças dessa
natureza. Deus cerca os passos do sábio, com as expressões da ignorância, a fim de
que a sombra receba luz e para que essa mesma luz seja glorificada.
Nesse intercâmbio substancialmente divino, o ignorante aprende e o sábio
cresce.
Os discípulos de boavontade
necessitam da sincera atitude de observação e
tolerância. É natural que se regozijem com o alimento rico e substancioso com que
lhes é dado nutrir a alma; no entanto, não desprezem outros irmãos, cujo organismo
espiritual ainda não tolera senão o leite simples dos primeiros conhecimentos.
Toda criança é frágil e ninguém deve condenála
por isso.
Se tua mente pode librar no vôo mais alto, não te esqueças dos que ficaram
no ninho onde nasceste e onde estiveste longo tempo, completando a plumagem.
Diante dos teus olhos deslumbrados, alongase
o infinito. Eles estarão contigo, um
dia, e, porque a união integral esteja tardando, não os abandones ao acaso, nem lhes
recuses o leite que amam e de que ainda necessitam.
64 –
Fr ancisco Cândido Xavier
52
DONS
“Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do Alto.”
(TIAGO, 1: 17)
Certificandose
o homem de que coisa alguma possui de bom, sem que
Deus lho conceda, a vida na Terra ganhará novos rumos.
Diz a sabedoria, desde a antigüidade:
— Faze de tua parte e o Senhor te ajudará.
Reconhecendo o elevado teor da exortação, somos compelidos a reconhecer
que, na própria aquisição de títulos profissionais, o homem é o filho que se esforça,
durante alguns anos, para que o Pai lhe confira um certificado de competência,
através dos professores humanos.
Qual ocorre no patrimônio das realizações materiais, acontece no círculo
das edificações do espírito.
Indiscutivelmente, toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm de Deus.
Entretanto, para recebermos o benefício, fazse
preciso “bater” à porta para que ela
se nos abra, segundo a recomendação evangélica.
Queres o dom de curar? Começa amando os doentes, interessandote
pela
solução de suas necessidades.
Queres o dom de ensinar? Fazete
amigo dos que ministram o
conhecimento em nome do Senhor, através das obras e das palavras edificantes.
Esperas o dom da virtude? Disciplinate.
Pretendes falar com acerto? Aprende a calar no momento oportuno.
Desejas acesso aos círculos sagrados do Cristo? Aproximate
d’Ele, não só
pela conversação elevada, mas também por atitudes de sacrifício, como foram as de
sua vida.
As qualidades excelentes são dons que procedem de Deus; entretanto, cada
qual tem a porta respectiva e pede uma chave diferente.
65 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
53
PAZ
“Disselhes,
pois, Jesus, outra vez: Paz seja convosco.”
(JOÃO, 20: 21)
Muita gente inquieta, examinando o intercâmbio entre os novos discípulos
do Evangelho e os desencarnados, interroga, ansiosamente, pelas possibilidades da
colaboração espiritual, junto às atividades humanas.
Por que razão os emissários do invisível não proporcionam descobertas
sensacionais ao mundo?
Por que não revelam os processos de cura das moléstias que desafiam a
Ciência?
Como não evitam o doloroso choque entre as nações?
Tais investigadores, distanciados das noções de justiça, não compreendem
que seria terrível furtar ao homem os elementos de trabalho, resgate e elevação.
Aborrecemse,
comumente, com as reiteradas e afetuosas recomendações de paz das
comunicações do AlémTúmulo,
porque ainda não se harmonizaram com o Cristo.
Vejamos o Mestre com os discípulos, quando voltava a confortálos,
do
plano espiritual. Não lhe observamos na palavra qualquer recado torturante, não
estabelece a menor expressão de sensacionalismo, não se adianta em conceitos de
revelação supernatural.
Jesus demonstralhes
a sobrevivência e desejalhes
paz.
Será isso insuficiente para a alma sincera que procura a integração com a
vida mais alta? Não envolverá, em si, grande responsabilidade o fato de
reconhecerdes a continuação da existência, além da morte, na certeza de que haverá
exame dos compromissos individuais?
Trabalhar e sofrer constituem processos lógicos do aperfeiçoamento e da
ascensão. E que atendamos a esses imperativos da Lei, com bastante paz, é o desejo
amoroso e puro de Jesus Cristo.
Esforcemonos
por entender semelhantes verdades, pois existem numerosos
aprendizes aguardando os grandes sinais, como os preguiçosos que respiram à
sombra, à espera do fogofátuo
do menor esforço.
66 –
Fr ancisco Cândido Xavier
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A VIDEIRA
“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador.”
Jesus (JOÃO, 15: 1)
Deus é o Criador Eterno cujos desígnios permanecem insondáveis a nós
outros. Pelo seu amor desvelado criamse
todos os seres, por sua sabedoria movemse
os mundos no Ilimitado.
Pequena e obscura, a Terra não pode perscrutar a grandeza divina, O Pai,
entretanto, envolvenos
a todos nas vibrações de sua bondade gloriosa.
Ele é a alma de tudo, a essência do Universo.
Permanecemos no campo terrestre, de que Ele é dono e supremo
dispensador.
No entanto, para que lhe sintamos a presença em nossa compreensão
limitada, concedeunos
Jesus como sua personificação máxima.
Útil seria que o homem observasse no Planeta a sua imensa escola de
trabalho; e todos nós, perante a grandeza universal, devemos reconhecer a nossa
condição de seres humildes, necessitados de aprimoramento e iluminação.
Dentro de nossa pequenez, sucumbiríamos de fome espiritual, estacionados
na sombra da ignorância, não fosse essa videira da verdade e do amor que o
Supremo Senhor nos concedeu em Jesus Cristo. De sua seiva divina procedem todas
as nossas realizações elevadas, nos serviços da Terra. Alimentados por essa fonte
sublime, competenos
reconhecer que sem o Cristo as organizações do mundo se
perderiam por falta de base. N’Ele encontramos o pão vivo das almas e, desde o
princípio, o seu amor infinito no orbe terrestre é o fundamento divino de todas as
verdades da vida.
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CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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AS VARAS DA VIDEIRA
“Eu sou a videira, vós as varas.”
Jesus (JOÃO, 15: 5)
Jesus é o bem e o amor do princípio.
Todas as noções generosas da Humanidade nasceram de sua divina
influenciação. Com justiça, asseverou aos discípulos, nesta passagem do Evangelho
de João, que seu espírito sublime representa a árvore da vida e seus seguidores
sinceros as frondes promissoras, acrescentando que, fora do tronco, os galhos se
secariam, caminhando para o fogo da purificação.
Sem o Cristo, sem a essência de sua grandeza, todas as obras humanas estão
destinadas a perecer.
A ciência será frágil e pobre sem os valores da consciência, as escolas
religiosas estarão condenadas, tão logo se afastem da verdade e do bem.
Infinita é a misericórdia de Jesus nos movimentos da vida planetária. No
centro de toda expressão nobre da existência pulsa seu coração amoroso, repleto da
seiva do perdão e da bondade.
Os homens são varas verdes da árvore gloriosa. Quando traem seus deveres,
secamse
porque se afastam da seiva, rolam ao chão dos desenganos, para que se
purifiquem no fogo dos sofrimentos reparadores, a fim de serem novamente tomados
por Jesus, à conta de sua misericórdia, para a renovação.
É razoável, portanto, positivemos nossa fidelidade ao Divino Mestre,
refletindo no elevado número de vezes em que nos ressecamos, no passado, apesar
do imenso amor que nos sustenta em toda a vida.
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Fr ancisco Cândido Xavier
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LUCROS
“E o que tens ajuntado para quem será?”
Jesus (LUCAS, 12: 20)
Em todos os agrupamentos humanos, palpita a preocupação de ganhar. O
espírito de lucro alcança os setores mais singelos. Meninos, mal saídos da primeira
infância, mostramse
interessados em amontoar egoisticamente alguma coisa. A
atualidade conta com mães numerosas que abandonam seu lar a desconhecidos,
durante muitas horas do dia, a fim de experimentarem a mina lucrativa. Nesse
sentido, a maioria das criaturas converte a marcha evolutiva em corrida inquietante.
Por trás do sepulcro, ponto de chegada de todos os que saíram do berço, a verdade
aguarda o homem e interroga:
— Que tr ouxeste?
O infeliz responderá que reuniu vantagens materiais, que se esforçou por
assegurar a posição tranqüila de si mesmo e dos seus.
Examinada, porém, a bagagem, verificase,
quase sempre, que as vitórias
são derrotas fragorosas.
Não constituem valores da alma, nem trazem o selo dos bens eternos.
Atingida semelhante equação, o viajor olha para trás e sente frio. Prendese,
de maneira inexplicável, aos resultados de tudo o que amontoou na Crosta da Terra.
A consciência inquieta enchese
de nuvens e a voz do Evangelho soalhe
aos
ouvidos: Pobre de ti, porque teus lucros foram perdas desastrosas! “E o que tens
ajuntado para quem será?”
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CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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DINHEIRO
“Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de
males; e, nessa cobiça, alguns se desviaram da fé e se
traspassaram a si mesmos com muitas dores.”
Paulo (I TIMÓTEO, 6: 10)
Paulo não nos diz que o dinheiro, em si mesmo, seja flagelo para a
Humanidade.
Várias vezes, vemos o Mestre em contacto com o assunto, contribuindo
para que a nossa compreensão se dilate. Recebendo certos alvitres do povo que lhe
apresenta determinada moeda da época, com a efígie do imperador romano,
recomenda que o homem dê a César o que é de César, exemplificando o respeito às
convenções construtivas. Numa de suas mais lindas parábolas, emprega o símbolo
de uma dracma perdida. Nos movimentos do Templo, aprecia o óbolo pequenino da
viúva.
O dinheiro não significa um mal. Todavia, o apóstolo dos gentios nos
esclarece que o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males. O homem não
pode ser condenado pelas suas expressões financeiras, mas, sim, pelo mau uso de
semelhantes recursos materiais, porquanto é pela obsessão da posse que o orgulho e
a ociosidade, dois fantasmas do infortúnio humano, se instalam nas almas,
compelindoas
a desvios da luz eterna.
O dinheiro que te vem às mãos, pelos caminhos retos, que só a tua
consciência pode analisar à claridade divina, é um amigo que te busca a orientação
sadia e o conselho humanitário. Responderás a Deus pelas diretrizes que lhe deres e
ai de ti se materializares essa força benéfica no sombrio edifício da iniqüidade!
70 –
Fr ancisco Cândido Xavier
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GANHAR
“Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo
e perder a sua alma?”
Jesus (MARCOS, 8: 36)
As criaturas terrestres, de modo geral, ainda não aprenderam a ganhar.
Entretanto, o espírito humano permanece no Planeta em busca de alguma coisa. É
indispensável alcançar valores de aperfeiçoamento para a vida eterna.
Recomendou Jesus aos seus tutelados procurassem, insistissem...
Significa isso que o homem se demora na Terra para ganhar na luta
enobrecedora.
Toda perturbação, nesse sentido, provém da mente viciada das almas em
desvio.
O homem está sempre decidido a conquistar o mundo, mas nunca disposto
a conquistarse
para uma esfera mais elevada. Nesse falso conceito, subverte a
ordem, nas oportunidades de cada dia. Se Deus lhe concede bastante saúde física,
costuma usála
na aquisição da doença destruidora; se consegue amealhar
possibilidades financeiras, tenta açambarcar os interesses alheios.
O Mestre Divino não recomendou que a alma humana deva movimentarse
despida de objetivos e aspirações de ganho; salientou apenas que o homem necessita
conhecer o que procura, que espécie de lucros almeja, a que fins se propõe em suas
atividades terrestres.
Se teus desejos repousam nas aquisições factícias, relativamente a situações
passageiras ou a patrimônios fadados ao apodrecimento, renova, enquanto é tempo,
a visão espiritual, porque de nada vale ganhar o mundo que te não pertence e
perderes a ti mesmo, indefinidamente, para a vida imortal.
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CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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OS AMADOS
“Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores.”
Paulo (HEBREUS, 6: 9)
Comentase
com amargura o progresso aparente dos ímpios.
Admirase
o crente da boa posição dos homens que desconhecem o
escrúpulo, muita vez altamente colocados na esfera financeira.
Muitos perguntam: “Onde está o Senhor que lhes não viu os processos
escusos?”
A interrogação, no entanto, evidencia mais ignorância que sensatez. Onde a
finalidade do tesouro amoedado do homem perverso? Ainda que experimentasse na
Terra inalterável saúde de cem anos, seria compelido a abandonar o patrimônio para
recomeçar o aprendizado.
A eternidade confere reduzida importância aos bens exteriores. Aqueles que
exclusivamente acumulam vantagens transitórias, fora de sua alma, plenamente
esquecidos da esfera interior, são dignos de piedade. Deixarão tudo, quase sempre,
ao sabor da irresponsabilidade.
Isso não acontece, porém, com os donos da riqueza espiritual. Constituindo
os amados de Deus, sentemse
identificados com o Pai, em qualquer parte a que
sejam conduzidos. Na dificuldade e na tormenta guardam a alegria da herança divina
que se lhes entesoura no coração.
Do ímpio, é razoável esperarmos a indiferença, a ambição, a avareza, a
preocupação de amontoar irrefletidamente; do ignorante, é natural recebermos
perguntas loucas. Entretanto, o apóstolo da gentilidade exclama com razão: “Mas de
vós, ó amados, esperamos coisas melhores.”
72 –
Fr ancisco Cândido Xavier
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PRÁTICA DO BEM
“Porque assim é a vontade de Deus que, fazendo o bem,
tapeis a boca à ignorância dos homens loucos.”
(I PEDRO, 2: 15)
À medida que o espírito avulta em conhecimento, mais compreende o valor
do tempo e das oportunidades que a vida maior lhe proporciona, reconhecendo, por
fim, a imprudência de gastar recursos preciosos em discussões estéreis e
caprichosas.
O apóstolo Pedro recomenda seja lembrado que é da vontade de Deus se
faça o bem, impondo silêncio à ignorância e à loucura dos homens.
Uma contenda pode perdurar por muitos anos, com graves desastres para as
forças em litígio; todavia, basta uma expressão de renúncia para que a concórdia se
estabeleça num dia.
No serviço divino, é aconselhável não disputar, a não ser quando o
esclarecimento e a energia traduzem caridade. Nesse caminho, a prática do bem é a
bússola do ensino.
Antecedendo qualquer disputa, convém dar algo de nós mesmos. Isso é útil
e convincente.
O bem mais humilde, é semente sagrada.
Convocado a discutir, Jesus imolouse.
Por se haver transformado ele próprio em divina luz, dominounos
a treva
da ignorância humana.
Não parlamentou conosco. Ao invés disso, converteunos.
Não reclamou compreensão. Entendeu a nossa loucura, localizounos
a
cegueira e amparounos
ainda mais.
73 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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MINISTÉRIOS
“Cada um administre aos outros o dom como o recebeu,
como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.”
(I PEDRO, 4: 10)
Toda criatura recebe do Supremo Senhor o dom de servir como um
ministério essencialmente divino.
Se o homem levanta tantos problemas de solução difícil, em suas lutas
sociais, é que não se capacitou, ainda, de tão elevado ensinamento.
O quadro da evolução terrestre apresenta divisão entre os que denominais
“magnatas” e “proletários”, porquanto, de modo geral, não se entendeu até agora no
mundo a dignidade do trabalho honesto, por mais humilde que seja.
É imprescindível haja sempre profissionais de limpeza pública,
desbravadores de terras insalubres, chefes de fábricas, trabalhadores de imprensa. Os
homens não compreenderam, ainda, que a oportunidade de cooperar nos trabalhos
da Terra transformaos
em despenseiros da graça de Deus. Chegará, contudo, a
época em que todos se sentirão ricos. A noção de “capitalista” e “operário” estará
renovada. Entenderseão
ambos como eficiente servidores do Altíssimo.
O jardineiro sentirá que o seu ministério é irmão da tarefa confiada ao
gerente da usina.
Cada qual ministrará os bens recebidos do Pai, na sua própria esfera de
ação, sem a idéia egoística de ganhar para enriquecer na Terra, mas de servir com
proveito para enriquecer em Deus.
74 –
Fr ancisco Cândido Xavier
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PARENTELA
“E disselhe:
Sai de tua terra e dentre a tua parentela e
dirigete
à terra que eu te mostrar.”
(ATOS, 7: 3)
Nos círculos da fé, vários candidatos à posição de discípulos de Jesus
queixamse
da sistemática oposição dos parentes, com respeito aos princípios que
esposaram para as aquisições de ordem religiosa.
Nem sempre os laços de sangue reúnem as almas essencialmente afins.
Freqüentemente, pelas imposições da consangüinidade, grandes inimigos são
obrigados ao abraço diuturno, sob o mesmo teto.
É razoável sugerirse
uma divisão entre os conceitos de “família” e
“parentela”. O primeiro constituiria o símbolo dos laços eternos do amor, o segundo
significaria o cadinho de lutas, por vezes acerbas, em que devemos diluir as
imperfeições dos sentimentos, fundindoos
na liga divina do amor para a eternidade.
A família não seria a parentela, mas a parentela converterseia,
mais tarde, nas
santas expressões da família.
Recordamos tais conceitos, a fim de acordar a vigilância dos companheiros
menos avisados.
A caminho de Jesus, será útil abandonar a esfera de maledicências e
incompreensões da parentela e pautar os atos na execução do dever mais sublime,
sem esmorecer na exemplificação, porquanto, assim, o aprendiz fiel estará
exortandoa,
sem palavras, a participar dos direitos da família maior, que é a de
Jesus Cristo.
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CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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QUEM SOIS?
“Mas o espírito maligno lhes respondeu: Conheço a
J esus e bem sei quem é Paulo; mas vós, quem sois?”
(ATOS, 19: 15)
Qualquer expressão de comércio tem sua base no poder aquisitivo. Para
obter, é preciso possuir.
No intercâmbio dos dois mundos, terrestre e espiritual, o fenômeno obedece
ao mesmo princípio.
Nas operações comerciais de César, requeremse
moedas ou expressões
fiduciárias com efígies e identificações que lhes digam respeito. Nas operações de
permuta espiritual requisitamse
valores individualíssimos, com os sinais do Cristo.
O dinheiro de Jesus é o amor. Sem ele, não é lícito aventurarse
alguém ao sagrado
comércio das almas.
O versículo aqui nomeado constitui benéfica advertência a quantos, para o
esclarecimento dos outros, invocam o Mestre, sem títulos vivos de sua escola
sacrificial.
Mormente no que se refere às relações com o plano invisível, mantendo
cuidado por evitar afirmativas a esmo.
Não vos aventureis ao movimento, sem o poder aquisitivo do amor de
Jesus.
O Mestre é igualmente conhecido de seus infelizes adversários. Os
discípulos sinceros do Senhor são observados por eles também. Os inimigos da luz
reconhecemlhes
o sublime valor.
Quando vos dispuserdes, portanto, a esse gênero de trabalho, não olvideis
vossa própria identificação, porque, provavelmente, sereis interpelados pelos
representantes do mal, que vos perguntarão quem sois.
76 –
Fr ancisco Cândido Xavier
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O TESOURO MAIOR
“Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também
o vosso coração.”
Jesus (LUCAS, 12: 34)
No mundo, os templos da fé religiosa, desde que consagrados à Divindade
do Pai, são departamentos da casa infinita de Deus, onde Jesus ministra os seus bens
aos corações da Terra, independentemente da escola de crença a que se filiam.
A essas subdivisões do eterno santuário comparecem os tutelados do Cristo,
em seus diferentes graus de compreensão. Cada qual, instintivamente, revela ao
Senhor onde coloca seu tesouro.
Muitas vezes, por isso mesmo, nos recintos diversos de sua casa, Jesus
recebe, sem resposta, as súplicas de inúmeros crentes de mentalidade infantil,
contraditórias ou contraproducentes.
O egoísta fala de seu tesouro, exaltando as posses precárias; o avarento
referese
a mesquinhas preocupações; o gozador demonstra apetites insaciáveis; o
fanático repete pedidos loucos.
Cada qual apresenta seu capricho ferido como sendo a dor maior.
Cristo ouvelhes
as solicitações e espera a oportunidade de darlhes
a
conhecer o tesouro imperecível.
Ouve em silêncio, porque a erva tenra pede tempo destinado ao processo
evolutivo, e espera, confiante, porquanto não prescinde da colaboração dos
discípulos resolutos e sinceros para a extensão do divino apostolado. No momento
adequado, surgem esses, ao seu influxo sublime, e a paisagem dos templos se
modifica. Não são apenas crentes que comparecem para a rogativa, são
trabalhadores decididos que chegam para o trabalho. Cheios de coragem, dispostos a
morrer para que outros alcancem a vida, exemplificam a renúncia e o desinteresse,
revelam a Vontade do Pai em si próprios e, com isso, ampliam no mundo a
compreensão do tesouro maior, sintetizado na conquista da luz eterna e do amor
universal, que já lhes enriquece o espírito engrandecido.
77 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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PEDIR
“J esus, porém, respondendo, disse: Não sabeis o que
pedis.”
(MATEUS, 20: 22)
A maioria dos crentes dirigese
às casas de oração, no propósito de pedir
alguma coisa.
Raros os que aí comparecem, na verdadeira atitude dos filhos de Deus,
interessados nos sublimes desejos do Senhor, quanto à melhoria de conhecimentos, à
renovação de valores íntimos, ao aproveitamento espiritual das oportunidades
recebidas de Mais Alto.
A rigor, os homens deviam reconhecer nos templos o lugar sagrado do
Altíssimo, onde deveriam aprender a fraternidade, o amor, a cooperação no seu
programa divino. Quase todos, porém, preferem o ato de insistir, de teimar, de se
imporem ao paternal carinho de Deus, no sentido de lhe subornarem o Poder
Infinito. Pedinchões inveterados, abandonam, na maior parte das vezes, o traçado
reto de suas vidas, em virtude da rebeldia suprema nas relações com o Pai. Tanto
reclamam, que lhes é concedida a experiência desejada.
Sobrevêm desastres. Surgem as dores. Em seguida, aparece o tédio, que é
sempre filho da incompreensão dos nossos deveres.
Provocamos certas dádivas no caminho, adiantamonos
na solicitação da
herança que nos cabe, exigindo prematuras concessões do Pai, à maneira do filho
pródigo, mas o desencanto constituise
em veneno da imprevidência e da
irresponsabilidade.
O tédio representará sempre o fruto amargo da precipitação de quantos se
atiram a patrimônios que lhes não competem.
Tenhamos, pois, cuidado em pedir, porque, acima de tudo, devemos
solicitar a compreensão da vontade de Jesus a nosso respeito.
78 –
Fr ancisco Cândido Xavier
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COMO PEDES?
“Até agora, nada pedistes em meu nome; pedi, e
recebereis, para que o vosso gozo se cumpra.”
Jesus (JOÃO, 16: 24)
Em muitos recantos, encontramos criaturas desencantadas da oração.
Não prometeu Jesus a resposta do Céu aos que pedissem no seu nome?
Muitos corações permanecem desalentados porque a morte lhes roubou um ente
amigo, porque desastres imprevistos lhes surgiram na estrada comum.
Entretanto, repitamos, o Mestre Divino ensinou que o homem deveria
solicitar em seu nome.
Por isso mesmo, a alma crente, convicta da própria fragilidade, deveria
interrogar a consciência sobre o conteúdo de suas rogativas ao Supremo Senhor, no
mecanismo das manifestações espirituais.
Estará suplicando em nome do Cristo ou das vaidades do mundo?
Reclamar, em virtude dos caprichos que obscurecem os caminhos do coração, é
atirar ao Divino Sol a poeira das inquietações terrenas; mas pedir, em nome de
Jesus, é aceitarlhe
a vontade sábia e amorosa, é entregarselhe
de coração para que
nos seja concedido o necessário.
Somente nesse ato de compreensão perfeita do seu amor sublime
encontraremos o gozo completo, a infinita alegria.
Observa a substância de tuas preces. Como pedes? Em nome do mundo ou
em nome do Cristo? Os que se revelam desanimados com a oração confessam a
infantilidade de suas rogativas.
79 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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OS VIVOS DO ALÉM
“E eis que estavam falando com ele dois varões, que
eram Moisés e Elias.”
(LUCAS, 9: 30)
Várias escolas religiosas, defendendo talvez determinados interesses do
sacerdócio, asseguram que o Evangelho não apresenta bases ao movimento de
intercâmbio entre os homens e os espíritos desencarnados que os precederam na
jornada do Mais Além...
Entretanto, nesta passagem de Lucas, vemos o Mestre dos Mestres
confabulando com duas entidades egressas da esfera invisível de que o sepulcro é a
porta de acesso.
Aliás, em diversas circunstâncias encontramos o Cristo em contacto com
almas perturbadas ou perversas, aliviando os padecimentos de infortunados
perseguidos. Todavia, a mentalidade dogmática encontrou aí a manifestação de
Satanás, inimigo eterno e insaciável.
Aqui, porém, tratase
de sublime acontecimento no labor. Não vemos
qualquer demonstração diabólica e, sim, dois espíritos gloriosos em conversação
íntima com o Salvador. E não podemos situar o fenômeno em associação de
generalidades, porquanto os “amigos do outro mundo”, que falaram com Jesus sobre
o monte, foram devidamente identificados. Não se registrou o fato, declarandose,
por exemplo, que se tratava da visita de um anjo, mas de Moisés e do companheiro,
dandose
a entender claramente que os “mortos” voltam de sua nova vida.
80 –
Fr ancisco Cândido Xavier
68
ALÉMTÚMULO
“E, se não há ressurreição de mortos, também o Cristo
não ressuscitou.”
Paulo. (I CORÍNTIOS, 15: 13)
Teólogos eminentes, tentando harmonizar interesses temporais e espirituais,
obscureceram o problema da morte, impondo sombrias perspectivas à simples
solução que lhe é própria.
Muitos deles situaram as almas em determinadas zonas de punição ou de
expurgo, como se fossem absolutos senhores dos elementos indispensáveis à análise
definitiva. Declararam outros que, no instante da grande transição, submergese
o
homem num sono indefinível até o dia derradeiro consagrado ao Juízo Final.
Hoje, no entanto, reconhece a inteligência humana que a lógica evolveu
com todas as possibilidades de observação e raciocínio.
Ressurreição é vida infinita. Vida é trabalho, júbilo e criação na eternidade.
Como qualificar a pretensão daqueles que designam vizinhos e conhecidos para o
inferno ilimitado no tempo? Como acreditar permaneçam adormecidos milhões de
criaturas, aguardando o minuto decisivo de julgamento, quando o próprio Jesus se
afirma em atividade incessante?
Os argumentos teológicos são respeitáveis; no entanto, não deveremos
desprezar a simplicidade da lógica humana.
Comentando o assunto, portas a dentro do esforço cristão, somos
compelidos a reconhecer que os negadores do processo evolutivo do homem
espiritual, depois do sepulcro, definemse
contra o próprio Evangelho. O Mestre dos
Mestres ressuscitou em trabalho edificante. Quem, desse modo, atravessará o portal
da morte para cair em ociosidade incompreensível? Somos almas, em função de
aperfeiçoamento, e, além do túmulo, encontramos a continuação do esforço e da
vida.
81 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
69
COMUNICAÇÕES
“Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os
espíritos são de Deus.”
(I JOÃO, 4: 1)
Os novos discípulos do Evangelho, em seus agrupamentos de intercâmbio
com o mundo espiritual, quase sempre manifestam ansiedade em estabelecer claras e
perfeitas comunicações com o Além.
Se muitas vezes aparecem fracassos, nesse particular, se as
experimentações são falhas de êxito, é que, na maioria dos casos, o indagador
obedece muito mais ao egoísmo próprio que ao imperativo edificante.
O propósito de exclusividade, nesse sentido, abre larga porta ao engano.
Através dela, malfeitores com instrumentos nocivos podem penetrar o templo, de
vez que o aprendiz cerrou os olhos ao horizonte das verdades eternas.
Bela e humana a dilatação dos laços de amor que unem o homem encarnado
aos familiares que o precederam na jornada de AlémTúmulo,
mas é inaceitável que
o estudante obrigue quem lhe serviu de pai ou de irmão a interferir nas situações
particulares que lhe dizem respeito.
Haverá sempre quem dispense luz nas assembléias de homens sinceros, O
programa de semelhante assistência, contudo, não pode ser substancialmente
organizado pelas criaturas, muita vez inscientes das necessidades próprias. Em
virtude disso, recomendou o apóstolo que o discípulo atente, não para quem fale,
mas para a essência das palavras, a fim de certificarse
se o visitante vem de Deus.
82 –
Fr ancisco Cândido Xavier
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PODERES OCULTOS
“E onde quer que ele entrava, fosse nas cidades, nas
aldeias ou nos campos, depunham os enfermos nas praças e lhe
rogavam que os deixasse tocar ao menos na orla de seu vestido; e
todos os que nele tocavam, saravam.”
(MARCOS, 6: 56)
Não raro, surgem nas fileiras espiritualistas estudiosos afoitos a
procurarem, de qualquer modo, a aquisição de poderes ocultos que lhes confira
posição de evidência. Comumente, em tais circunstâncias, enchemse
das
afirmativas de grande alcance.
O anseio de melhorarse,
o desejo de equilíbrio, a intenção de manter a paz,
constituem belos propósitos; no entanto, é recomendável que o aprendiz não se
entregue a preocupações de notoriedade, devendo palmilhar o terreno dessas
cogitações com a cautela possível.
Ainda aqui, o Mestre Divino oferece a melhor exemplificação.
Ninguém reuniu sobre a Terra tão elevadas expressões de recursos
desconhecidos quanto Jesus. Aos doentes, bastava tocarlhe
as vestiduras para que
se curassem de enfermidades dolorosas; suas mãos devolviam o movimento aos
paralíticos, a visão aos cegos. Entretanto, no dia do Calvário, vemos o Mestre ferido
e ultrajado, sem recorrer aos poderes que lhe constituíam apanágio divino, em
benefício da própria situação. Havendo cumprido a lei sublime do amor, no serviço
do Pai, entregouse
à sua vontade, em se tratando dos interesses de si mesmo. A
lição do Senhor é bastante significativa.
É compreensível que o discípulo estude e se enriqueça de energias
espirituais, recordandose,
porém, de que, antes do nosso, permanece o bem dos
outros e que esse bem, distribuído no caminho da vida, é a voz que falará por nós a
Deus e aos homens, hoje ou amanhã.
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CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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PARA TESTEMUNHAR
“E vos acontecerá isto para testemunho.”
Jesus (LUCAS, 21: 13)
Naturalmente que o Mestre não folgará de ver seus discípulos mergulhados
no sofrimento. Considerando, porém, as necessidades extensas dos homens da Terra,
compreende o caráter indispensável das provações e dos obstáculos.
A pedagogia moderna está repleta de esforços seletivos, de concursos de
capacidade, de testes da inteligência.
O Evangelho oferece situações semelhantes.
O amigo do Cristo não deve ser uma criatura sombria, à espera de
padecimentos; entretanto, conhecendo a sua posição de trabalho, num plano como a
Terra, deve contar com dificuldades de toda sorte.
Para os gozos falsificados do mundo, o Planeta está cheio de condutores
enganados.
Como invocar o Salvador para a continuidade de fantasias? Quando
chamados para o Cristo, é para que aprendamos a executar o trabalho em favor da
esfera maior, sem olvidarmos que o serviço começa em nós mesmos.
Existem muitos homens de valor cultural que se constituíram em mentores
dos que desejam mentirosos regalos no plano físico.
No Evangelho, porém, não acontece assim. Quando o Mestre convida
alguém ao seu trabalho, não é para que chore em desalento ou repouse em satisfação
ociosa.
Se o Senhor te chamou, não te esqueças de que já te considera digno de
testemunhar.
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Fr ancisco Cândido Xavier
72
TRANSITORIEDADE
“Eles perecerão, mas tu permanecerás; e todos eles,
como roupa, envelhecerão.”
Paulo (HEBREUS, 1: 11)
Falanos
o Eclesiastes das vaidades e da aflição dos homens, no torvelinho
das ambições desvairadas da Terra.
Desde os primeiros tempos da família humana, existem criaturas
confundidas nos falsos valores do mundo. Entretanto, bastaria meditar alguns
minutos na transitoriedade de tudo o que palpita no campo das formas para
compreenderse
a soberania do espírito.
Consultai a pompa dos museus e a ruína das civilizações mortas. Com que
fim se levantaram tantos monumentos e arcos de triunfo? Tudo funcionou como
roupagem do pensamento. A idéia evoluiu, enriqueceuse
o espírito e os envoltórios
antigos permanecem a distância.
As mãos calejadas na edificação das colunas brilhantes aprenderam com o
trabalho os luminosos segredos da vida. Todavia, quantas amarguras
experimentaram os loucos que disputaram, até a morte para possuílas?
Valeivos
de todas as ocasiões de serviço, como sagradas oportunidades na
marcha divina para Deus.
Valiosa é a escassez, porque traz a disciplina. Preciosa é a abundância,
porque multiplica as formas do bem. Uma e outra, contudo, perecerão algum dia. Na
esfera carnal, a glória e a miséria constituem molduras de temporária apresentação.
Ambas passam. Somente Jesus e a Lei Divina perseveram para nós outros, como
portas de vida e redenção.
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CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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OPORTUNIDADE
“Disselhes,
pois, J esus: Ainda não é chegado o meu
tempo, mas o vosso tempo está pronto.”
(JOÃO, 7: 6)
O mau trabalhador está sempre queixoso. Quando não atribui sua falta aos
instrumentos em mão, lamenta a chuva, não tolera o calor, amaldiçoa a geada e o
vento.
Esse é um cego de aproveitamento difícil, porquanto somente enxerga o
lado arestoso das situações.
O bom trabalhador, no entanto, compreende, antes de tudo, o sentido
profundo da oportunidade que recebeu. Valoriza todos os elementos colocados em
seus caminhos, como respeita as possibilidades alheias. Não depende das estações.
Planta com o mesmo entusiasmo as frutas do frio e do calor. É amigo da Natureza,
aproveitalhe
as lições, tem bom ânimo, encontra na aspereza da semeadura e no
júbilo da colheita igual contentamento.
Nesse sentido, a lição do Mestre revestese
de maravilhosa significação. No
torvelinho das incompreensões do mundo, não devemos aguardar o reino do Cristo
como realização imediata, mas a oportunidade dos homens é permanente para a
colaboração perfeita no Evangelho, a fim de edificálo.
Os cegos de espírito continuarão queixosos; no entanto, os que acordaram
para Jesus sabem que sua época de trabalho redentor está pronta, não passou, nem
está por vir. É o dia de hoje, é o ensejo bendito de servir, em nome do Senhor, aqui e
agora...
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Fr ancisco Cândido Xavier
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MÃOS LIMPAS
“E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas
extraordinárias.”
(ATOS, 19: 11)
O Evangelho não nos diz que Paulo de Tarso fazia maravilhas, mas que
Deus operava maravilhas extraordinárias por intermédio das mãos dele.
O Pai fará sempre o mesmo, utilizando todos os filhos que lhe apresentarem
mãos limpas.
Muitos espíritos, mais convencionalistas que propriamente religiosos,
encontraram nessa notícia dos Atos uma informação sobre determinados privilégios
que teriam sido concedidos ao Apóstolo.
Antes de tudo, porém, é preciso saber que semelhante concessão não é
exclusiva. A maioria dos crentes prefere fixar o Paulo santificado sem apreciar o
trabalhador militante.
Quanto custou ao Apóstolo a limpeza das mãos?
Raros indagam relativamente a isso.
Recordemos que o amigo da gentilidade fora rabino famoso em Jerusalém,
movimentarase
entre elevados encargos públicos, detivera dominadoras situações;
no entanto, para que o TodoPoderoso
lhe utilizasse as mãos, sofreu todas as
humilhações e dispôsse
a todos os sacrifícios pelo bem dos semelhantes.
Ensinou o Evangelho sob zombarias e açoites, aflições e pedradas. Apesar
de escrever luminosas epístolas, jamais abandonou o tear humilde até à,velhice do
corpo.
Considera as particularidades do assunto e observa que Deus é sempre o
mesmo Pai, que a misericórdia divina não se modificou, mas pede mãos limpas para
os serviços edificantes, junto à Humanidade.
Tal exigência é lógica e necessária, pois o trabalho do Altíssimo deve
resplandecer sobre os caminhos humanos.
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CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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NA CASA DE CÉSAR
“Todos os santos vos saúdam, mas principalmente os
que são da casa de César.”
Paulo (FILIPENSES, 4: 22)
Muito comum ouvirmos observações descabidas de determinados irmãos na
crença, relativamente aos companheiros chamados a tarefas mais difíceis, entre as
possibilidades do dinheiro ou do poder.
A piedade falsa está sempre disposta a criticar o amigo que, aceitando
laborioso encargo público, vai encontrar nele muito mais aborrecimentos que notas
de harmonia. A análise desvirtuada tudo repara maliciosamente. Se o irmão é
compelido a participar de grandes representações sociais, costumase
estigmatizálo
como traidor do Cristo.
É necessário despender muita vigilância nesses julgamentos.
Nos tempos apostólicos, os cristãos de vida pura eram chamados “santos”.
Paulo de Tarso, humilhado e perseguido em Roma, teve ocasião de conhecer
numerosas almas nessas condições, e o que é mais de admirar — conviveu com
diversos discípulos de semelhante posição, relacionados com a habitação palaciana
de César. Deles recebeu atenções e favores, assistência e carinho.
Escrevendo aos filipenses, faz menção especial desses amigos do Cristo.
Não julgues, pois, a teu irmão pela sua fortuna aparente ou pelos seus
privilégios políticos. Antes de tudo, lembrate
de que havia santos na casa de Nero e
nunca olvides tão grandiosa lição.
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Fr ancisco Cândido Xavier
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EDIFICAÇÕES
“Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma
cidade edificada sobre um monte.”
Jesus (MATEUS, 5: 14)
O Evangelho está repleto de amorosos convites para que os homens se
edifiquem no exemplo do Senhor.
Nem sempre os seguidores do Cristo compreendem esse grande imperativo
da iluminação própria, em favor da harmonia na obra a realizar. Esmagadora
percentagem de aprendizes, antes de tudo, permanece atenta à edificação dos outros,
menosprezando o ensejo de alcançar os bens supremos para si.
Naturalmente, é muito difícil encontrar a oportunidade entre gratificações
da existência humana, porquanto o recurso bendito de iluminação se esconde, muitas
vezes, nos obstáculos, perplexidades e sombras do caminho.
O Mestre foi muito claro em sua exposição. Para que os discípulos sejam a
luz do mundo, simbolizarão cidades edificadas sobre a montanha, onde nunca se
ocultem. A fim de que o operário de Jesus funcione como expressão de claridade na
vida, é indispensável que se eleve ao monte da exemplificação, apesar das
dificuldades da subida angustiosa, apresentandose
a todos na categoria de
construção cristã. Tal cometimento é imperecível.
O vaivém das paixões não derruba a edificação dessa natureza, as pedradas
deixamna
intacta e, se alguém a dilacera, seus fragmentos constituem a
continuidade da luz, em sublime rastilho, por toda parte, porque foi assim que os
primeiros mártires do Cristianismo semearam a fé.
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CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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CONVÉM REFLETIR
“Mas todo homem seja pronto para ouvir, tardio para
falar, tardio para se irar.”
(TIAGO, 1: 19)
Analisar, refletir, ponderar são modalidades do ato de ouvir. É
indispensável que a criatura esteja sempre disposta a identificar o sentido das vozes,
sugestões e situações que a rodeiam.
Sem observação, é impossível executar a mais simples tarefa no ministério
do bem. Somente após ouvir, com atenção, pode o homem falar de modo edificante
na estrada evolutiva.
Quem ouve, aprende. Quem fala, doutrina.
Um guarda, outro espalha.
Só aquele que guarda, na boa experiência, espalha com êxito.
O conselho do apóstolo é, portanto, de imorredoura oportunidade.
E forçoso é convir que, se o homem deve ser pronto nas observações e
comedido nas palavras, deve ser tardio em irarse.
Certo, o caminho humano oferece, diariamente, variados motivos à ação
enérgica; entretanto, sempre que possível, é útil adiar a expressão colérica para o dia
seguinte, porquanto, por vezes, surge a ocasião de exame mais sensato e a razão da
ira desaparece.
Tenhamos em mente que todo homem nasce para exercer uma função
definida. Ouvindo sempre, pode estar certo de que atingirá serenamente os fins a que
se destina, mas, falando, é possível que abandone o esforço ao meio, e, irandose,
provavelmente não realizará coisa alguma.
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Fr ancisco Cândido Xavier
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VERDADES E FANTASIAS
“Mas, porque vos digo a verdade, não me credes.”
Jesus (JOÃO, 8: 45)
O mundo sempre distingue ruidosamente os expositores de fantasias.
É comum observarse,
quase em toda parte, a vitória dos homens
palavrosos, que prometem milagres e maravilhas. Esses merecem das criaturas
grande crédito. Basta encobrirem a enfermidade, a fraqueza, a ignorância ou o
defeito dos homens, para receberem acatamento. Não acontece o mesmo aos
cultivadores da verdade, por mais simples que esta seja. Através de todos os tempos,
para esses últimos, a sociedade reservou a fogueira, o veneno, a cruz, a punição
implacável.
Tentando fugir à angustiosa situação espiritual que lhe é própria, inventou o
homem a “buenadicha”,
impondo, contudo, aos adivinhadores o disfarce dourado
das realidades negras e duras. O charlatão mais hábil na fabricação de mentiras
brilhantes será o senhor da clientela mais numerosa e luzida.
No intercâmbio com a esfera invisível, urge que os novos discípulos se
precatem contra os perigos desse jaez.
A técnica do elogio, a disposição de parecer melhor, o prurido de caminhar
à frente dos outros, a presunção de converter consciências alheias, são grandes
fantasias. É necessário não crer nisso. Mais razoável é compreender que o serviço de
iluminação é difícil, a principiar do esforço de regeneração de nós mesmos. Nem
sempre os amigos da verdade são aceitos. Geralmente são considerados fanáticos ou
mistificadores, mas... apesar de tudo, para a nossa felicidade, fazse
preciso atender
à verdade enquanto é tempo.
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CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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A CADA UM
“Levantate
direito sobre os teus pés.”
Paulo (ATOS, 14: 10)
De modo geral, quando encarnados no mundo físico, apenas enxergamos os
aleijados do corpo, os que perderam o equilíbrio corporal, os que se arrastam
penosamente no solo, suportando escabrosos defeitos. Não possuímos suficiente
visão para identificar os doentes do espírito, os coxos do pensamento, os aniquilados
de coração.
Onde existissem somente cegos, acabaria a criatura perdendo o interesse e a
lembrança do aparelho visual; pela mesma razão, na Crosta da Terra, onde
esmagadora maioria de pessoas se constituem de almas paralíticas, no que se refere à
virtude, raros homens conhecem a desarmonia de saúde espiritual que lhes diz
respeito, conscientes de suas necessidades incontestes.
Inferese,
pois, que a missão do Evangelho é muito mais bela e mais
extensa que possamos imaginar.
Jesus continua derramando bênçãos todos os dias. E os prodígios ocultos,
operados no silêncio de seu amor infinito, são maiores que os verificados em
Jerusalém e na Galiléia, porquanto os cegos e leprosos curados, segundo as
narrativas apostólicas, voltaram mais tarde a enfermar e morrer. A cura de nossos
espíritos doentes e paralíticos é mais importante, porquanto se efetua com vistas à
eternidade.
É indispensável que não nos percamos em conclusões ilusórias. Agucemos
os ouvidos, guardando a palavra do apóstolo aos gentios. Imprescindível é que nos
levantemos, individualmente, sobre os próprios pés, pois há muita gente esperando
as asas de anjo que lhe não pertencem.
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Fr ancisco Cândido Xavier
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OPINIÕES
“Ai de vós, quando todos os homens de vós disserem
bem, porque assim faziam seus pais aos falsos profetas.”
Jesus (LUCAS, 6: 26)
Indubitavelmente, muitas pessoas existem de parecer estimável, às quais
podemos recorrer nos momentos oportunos, mas que ninguém despreze a opinião da
própria consciência, porquanto a voz de Deus, comumente, nos esclarecerá nesse
santuário divino.
Rematada loucura é o propósito de contar com a aprovação geral ao nosso
esforço.
Quando Jesus pronunciou a sublime exortação desta passagem de Lucas,
agiu com absoluto conhecimento das criaturas. Sabia o Mestre que, num plano de
contrastes chocantes como a Terra, não será possível agradar a todos
simultaneamente.
O homem da verdade será compreendido apenas, em tempo adequado,
pelos espíritos que se fizerem verdadeiros. O prudente não receberá aplauso dos
imprudentes.
O Mestre, em sua época, não reuniu as simpatias comuns. Se foi amado por
criaturas sinceras e simples, sofreu impiedoso ataque dos convencionalistas. Para
Maria de Magdala era Ele o Salvador; para Caifás, todavia, era o revolucionário
perigoso.
O tempo foi a única força de esclarecimento geral.
Se te encontras em serviço edificante, se tua consciência te aprova, que te
importam as opiniões levianas ou insinceras?
Cumpre o teu dever e caminha.
Examina o material dos ignorantes e caluniadores como proveitosa
advertência e recordate
de que não é possível conciliar o dever com a leviandade,
nem a verdade com a mentira.
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CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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ORDENAÇÕES HUMANAS
“Sujeitaivos,
pois, a toda ordenação humana, por amor
do Senhor.”
(I PEDRO, 2: 13)
Certos temperamentos impulsivos, aproximandose
das lições do Cristo,
presumem no Evangelho um tratado de princípios destruidores da ordem existente
no mundo. Há quem figure no Mestre um anarquista vigoroso, inflamado de cóleras
sublimes.
Jesus, porém, nunca será patrono da desordem.
A novidade que transborda do Evangelho não aconselha ao espírito mais
humilhado da Terra a adoção de armas contra irmãos, mas, sim, que se humilhe
ainda mais, tomando a cruz, a exemplo do Salvador.
Claro está que a Boa Nova não ensina a genuflexão ante a tirania insolente;
entretanto, pede respeito às ordenações humanas, por amor ao Mestre Divino.
Se o detentor da autoridade exige mais do que lhe compete, transformase
num déspota que o Senhor corrigirá, através das circunstâncias que lhe expressam os
desígnios, no momento oportuno. Essa certeza é mais um fator de tranqüilidade para
o servo cristão que, em hipótese alguma, deve quebrar o ritmo da harmonia.
Não te faças, pois, indiferente às ordenações da máquina de trabalho em
que te encontras. É possível que, muita vez, não te correspondam aos desejos, mas
lembrate
de que Jesus é o Supremo Ordenador na Terra e não te situaria o esforço
pessoal onde o teu concurso fosse desnecessário.
Tens algo de sagrado a fazer onde respiras no dia de hoje. Com expressões
de revolta, tua atividade será negativa. Recordate
de semelhante verdade e submetete
às ordenações humanas por amor ao Senhor Divino.
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Fr ancisco Cândido Xavier
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MADEIROS SECOS
“Porque, se ao madeiro verde fazem isto, que se fará ao
seco?”
Jesus (LUCAS, 23: 31)
Jesus é a videira eterna, cheia de seiva divina, espalhando ramos fartos,
perfumes consoladores e frutos substanciosos entre os homens, e o mundo não lhe
ofereceu senão a cruz da flagelação e da morte infamante.
Desde milênios remotos é o Salvador, o puro por excelência.
Que não devemos esperar, por nossa vez, criaturas endividadas que somos,
representando galhos ainda secos na árvore da vida?
Em cada experiência, necessitamos de processos novos no serviço de
reparação e corrigenda.
Somos madeiros sem vida própria, que as paixões humanas inutilizaram,
em sua fúria destruidora.
Os homens do campo metem a vara punitiva nos pessegueiros, quando suas
frondes raquíticas não produzem. O efeito é benéfico e compensador.
O martírio do Cristo ultrapassou os limites de nossa imaginação. Como
tronco sublime da vida, sofreu por desejar transmitirnos
sua seiva fecundante.
Como lenhos ressequidos, ao calor do mal, sofremos por necessidade, em
favor de nós mesmos.
O mundo organizou a tragédia da cruz para o Mestre, por espírito de
maldade e ingratidão; mas, nós outros, se temos cruzes na senda redentora, não é
porque Deus seja rigoroso na execução de suas leis, mas por ser Amoroso Pai de
nossas almas, cheio de sabedoria e compaixão nos processos educativos.
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CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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AFLIÇÕES
“Mas alegraivos
no fato de serdes participantes das
aflições do Cristo.”
(I PEDRO, 4: 13)
É inegável que em vosso aprendizado terrestre atravessareis dias de inverno
ríspido, em que será indispensável recorrer às provisões armazenadas no íntimo, nas
colheitas dos dias de equilíbrio e abundância.
Contemplareis o mundo, na desilusão de amigos muito amados, como
templo em ruínas, sob os embates de tormenta cruel.
As esperanças feneceram distantes, os sonhos permanecem pisados pelos
ingratos. Os afeiçoados desapareceram, uns pela indiferença, outros porque
preferiram a integração no quadro dos interesses fugitivos do plano material.
Quando surgir um dia assim em vossos horizontes, compelindovos
à
inquietação e à amargura, certo não vos será proibido chorar. Entretanto, é
necessário não esquecerdes a divina companhia do Senhor Jesus.
Supondes, acaso, que o Mestre dos Mestres habita uma esfera inacessível
ao pensamento dos homens? julgais, porventura, não receba o Salvador ingratidões e
apodos, por parte das criaturas humanas, diariamente? Antes de conhecermos o
alheio mal que nos aflige, Ele conhecia o nosso e sofria pelos nossos erros.
Não olvidemos, portanto, que, nas aflições, é imprescindível tomarlhe
a
sublime companhia e prosseguir avante com a sua serenidade e seu bom ânimo.
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Fr ancisco Cândido Xavier
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LEVANTEMONOS
“Levantaivos,
vamonos
daqui.”
Jesus (JOÃO, 14: 31)
Antes de retirarse
para as orações supremas no Horto, falou Jesus aos
discípulos longamente, esclarecendo o sentido profundo de sua exemplifícação.
Relacionando seus pensamentos sublimes, fez o formoso convite inserto no
Evangelho de João:
— “Levantaivos,
vamonos
daqui.”
O apelo é altamente significativo.
Ao toque de erguerse,
o homem do mundo costuma procurar o movimento
das vitórias fáceis, atirandose
à luta sequioso de supremacia ou trocando de
domicilio, na expectativa de melhoria efêmera.
Com Jesus, entretanto, ocorreu o contrário.
Levantouse
para ser dilacerado, logo após, pelo gesto de Judas.
Distanciouse
do local em que se achava a fim de alcançar, pouco depois, a
flagelação e a morte.
Naturalmente partiu para o glorioso destino de reencontro com o Pai, mas
precisamos destacar as escalas da viagem...
Ergueuse
e saiu, em busca da glória suprema. As estações de marcha são
eminentemente educativas:
— Getsêmani, o Cárcere, o Pretório, a Via Dolorosa, o Calvário, a Cruz
constituem pontos de observação muito interessantes, mormente na atualidade, que
apresenta inúmeros cristãos aguardando a possibilidade da viagem sobre as
almofadas de luxo do menor esforço.
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CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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TESTEMUNHO
“Respondeulhe
Jesus: — Dizes isso de ti mesmo ou
foram outros que to disseram de mim?”
(JOÃO, 18: 34)
A pergunta do Cristo a Pilatos tem significação mais extensiva.
Compreendemola,
aplicada às nossas experiências religiosas.
Quando encaramos no Mestre a personalidade do Salvador, por que o
afirmamos? Estaremos agindo como discos fonográficos, na repetição pura e
simples de palavras ouvidas?
É necessário conhecer o motivo pelo qual atribuímos títulos amoráveis e
respeitosos ao Senhor. Não basta redizer encantadoras lições dos outros, mas viver
substancialmente a experiência íntima na fidelidade ao programa divino.
Quando alguém se refere nominalmente a um homem, esse homem pode
indagar quanto às origens da referência.
Jesus não é símbolo legendário; é um Mestre Vivo.
As preocupações superficiais do mundo chegam, educam o espírito e
passam, mas a experiência religiosa permanece.
Nesse capítulo, portanto, é ilógico recorrermos, sistematicamente, aos
patrimônios alheios.
É útil a todo aprendiz testificar de si mesmo, iluminar o coração com os
ensinos do Cristo, observarlhe
a influência excelsa nos dias tranqüilos e nos
tormentosos.
Reconheçamos, pois, atitude louvável no esforço do homem que se inspira
na exemplificação dos discípulos fiéis; contudo, não nos esqueçamos de que é
contraproducente repousarmos em edificações que não nos pertencem, olvidando o
serviço que nos é próprio.
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Fr ancisco Cândido Xavier
86
JESUS E OS AMIGOS
“Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a
vida pelos seus amigos.”
Jesus (JOÃO, 15: 13)
Na localização histórica do Cristo, impressionanos
a realidade de sua
imensa afeição pela Humanidade.
Pelos homens, fez tudo o que era possível em renúncia e dedicação.
Seus atos foram celebrados em assembléias de confraternização e de amor.
A primeira manifestação de seu apostolado verificouse
na festa jubilosa de um lar.
Fez companhia aos publicanos, sentiu sede da perfeita compreensão de seus
discípulos. Era amigo fiel dos necessitados que se socorriam de suas virtudes
imortais. Através das lições evangélicas, notaselhe
o esforço para ser entendido em
sua infinita capacidade de amar. A última ceia representa uma paisagem completa de
afetividade integral. Lava os pés aos discípulos, ora pela felicidade de cada um...
Entretanto, ao primeiro embate com as forças destruidoras, experimenta o
Mestre o supremo abandono.
Em vão, seus olhos procuram a multidão dos afeiçoados, beneficiados e
seguidores.
Os leprosos e cegos, curados por suas mãos, haviam desaparecido.
Judas entregouo
com um beijo.
Simão, que lhe gozara a convivência doméstica, negouo
três vezes.
João e Tiago dormiram no Horto.
Os demais preferiram estacionar em acordos apressados com as acusações
injustas. Mesmo depois da Ressurreição, Tomé exigiulhe
sinais.
Quando estiveres na “porta estreita”, dilatando as conquistas da vida eterna,
irás também só. Não aguardes teus amigos. Não te compreenderiam; no entanto, não
deixes de amálos.
São crianças. E toda criança teme e exige muito.
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CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
87
POR QUE DORMIS?
“E disselhes:
Por que estais dormindo? Levantaivos
e
orai, para que não entreis em tentação.”
(LUCAS, 22: 46)
Nos ensinos fundamentais de Jesus, é imperioso evitar as situações
acomodatícias, em detrimento das atividades do bem.
O Evangelho de Lucas, nesta passagem, conta que os discípulos “dormiam
de tristeza”, enquanto o Mestre orava fervorosamente no Horto. Vêse,
pois, que o
Senhor não justificou nem mesmo a inatividade oriunda do choque ante as grandes
dores.
O aprendiz figurará o mundo como sendo o campo de trabalho do Reino,
onde se esforçará, operoso e vigilante, compreendendo que o Cristo prossegue em
serviço redentor para o resgate total das criaturas.
Recordando a prece em Getsêmani, somos obrigados a lembrar que
inúmeras comunidades de alicerces cristãos permanecem dormindo nas convivências
pessoais, nos mesquinhos interesses, nas vaidades efêmeras. Falam do Cristo,
referemse
à sua imperecível exemplificação, como se fossem sonâmbulos,
inconscientes do que dizem e do que fazem, para despertarem tãosó
no instante da
morte corporal, em soluços tardios.
Ouçamos a interrogação do Salvador e busquemos a edificação e o
trabalho, onde não existem lugares vagos para o que seja inútil e ruinoso à
consciência.
Quanto a ti, que ainda te encontras na carne, não durmas em espírito,
desatendendo aos interesses do Redentor. Levantate
e esforçate,
porque é no sono
da alma que se encontram as mais perigosas tentações, através de pesadelos ou
fantasias.
100 –
Fr ancisco Cândido Xavier
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VELAR COM JESUS
“E voltando para os seus discípulos, achouos
adormecidos e disse a Pedro: Então, nem uma hora pudeste velar
comigo?”
(MATEUS, 26: 40)
Jesus veio à Terra acordar os homens para a vida maior.
É interessante lembrar, todavia, que, em sentindo a necessidade de alguém
para acompanhálo
no supremo testemunho, não convidou seguidores tímidos ou
beneficiados da véspera e, sim, os discípulos conscientes das próprias obrigações.
Entretanto, esses mesmos dormiram, intensificando a solidão do Divino Enviado.
É indispensável rememoremos o texto evangélico para considerar que o
Mestre continua em esforço incessante e prossegue convocando cooperadores
devotados à colaboração necessária. Claro que não confia tarefas de importância
fundamental a Espíritos inexperientes ou ignorantes; mas, é imperioso reconhecer o
reduzido número daqueles que não adormecem no mundo, enquanto Jesus aguarda
resultados da incumbência que lhes foi cometida.
Olvidando o mandato de que são portadores, inquietamse
pela execução
dos próprios desejos, a observarem em grande conta os dias rápidos que o corpo
físico lhes oferece. Esquecemse
de que a vida é a eternidade e que a existência
terrestre não passa simbolicamente de “uma hora”. Em vista disso, ao despertarem
na realidade espiritual, os obreiros distraídos choram sob o látego da consciência e
anseiam pelo reencontro da paz do Salvador, mas ecoamlhes
ao ouvido as palavras
endereçadas a Pedro: Então, nem por uma hor a pudeste velar comigo?
E, em verdade, se ainda não podemos permanecer com o Cristo, ao menos
uma hora, como pretendermos a divina união para a eternidade?
101 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
89
O FRACASSO DE PEDRO
“E Pedro o seguiu, de longe, até ao pátio do sumosacerdote
e, entrando, assentouse
entre os criados para ver o
fim.”
(MATEUS, 26: 58)
O fracasso, como qualquer êxito, tem suas causas positivas.
A negação de Pedro sempre constitui assunto de palpitante interesse nas
comunidades do Cristianismo.
Enquadrarseia
a queda moral do generoso amigo do Mestre num plano de
fatalidade? Por que se negaria Simão a cooperar com o Senhor em minutos tão
difíceis?
Útil, nesse particular, é o exame de sua invigilância.
O fracasso do amoroso pescador reside aí dentro, na desatenção para com
as advertências recebidas.
Grande número de discípulos modernos participam das mesmas negações,
em razão de continuarem desatendendo.
Informa o Evangelho que, naquela hora de trabalhos supremos, Simão
Pedro seguia o Mestre “de longe”, ficou no “pátio do sumosacerdote”,
e “assentouse
entre os criados” deste, para “ver o fim”.
Leitura cuidadosa do texto esclarecenos
o entendimento e reconhecemos
que, ainda hoje, muitos amigos do Evangelho prosseguem caindo em suas
aspirações e esperanças, por acompanharem o Cristo a distância, receosos de
perderem gratificações imediatistas; quando chamados a testemunho importante,
demoramse
nas vizinhanças da arena de lutas redentoras, entre os servos das
convenções utilitaristas, assestando binóculos de exame, a fim de observarem como
será o fim dos serviços alheios.
Todos os aprendizes, nessas condições, naturalmente fracassarão e chorarão
amargamente.
102 –
Fr ancisco Cândido Xavier
90
ENSEJO AO BEM
“J esus, porém, lhe disse: Amigo, a que vieste? — Então,
aproximandose,
lançaram mão de J esus e o prenderam.”
(MATEUS, 26: 50)
É significativo observar o otimismo do Mestre, prodigalizando
oportunidades ao bem, até ao fim de sua gloriosa missão de verdade e amor, junto
dos homens.
Cientificarase
o Cristo, com respeito ao desvio de Judas, comentara
amorosamente o assunto, na derradeira reunião mais íntima com os discípulos, não
guardava qualquer dúvida relativamente aos suplícios que o esperavam; no entanto,
em se aproximando, o cooperador transviado beijao
na face, identificandoo
perante
os verdugos, e o Mestre, com sublime serenidade, recebelhe
a saudação
carinhosamente e indaga: Amigo, a que vieste?
Seu coração misericordioso proporcionava ao discípulo inquieto o ensejo ao
bem, até ao derradeiro instante.
Embora notasse Judas em companhia dos guardas que lhe efetuariam a
prisão, dálhe
o título de amigo. Não lhe retira a confiança do minuto primeiro, não
o maldiz, não se entrega a queixas inúteis, não o recomenda à posteridade com
acusações ou conceitos menos dignos.
Nesse gesto de inolvidável beleza espiritual, ensinounos
Jesus que é
preciso oferecer portas ao bem, até à última hora das experiências terrestres, ainda
que, ao término da derradeira oportunidade, nada mais reste além do caminho para o
martírio ou para a cruz dos supremos testemunhos.
103 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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CAMPO DE SANGUE
“por isso foi chamado aquele campo, até ao dia de hoje,
Campo de Sangue.”
(MATEUS, 27: 8)
Desorientado, em vista das terríveis conseqüências de sua irreflexão, Judas
procurou os sacerdotes e restituiulhes
as trinta moedas, atirandoas,
a esmo, no
recinto do Templo.
Os mentores do Judaísmo concluíram, então, que o dinheiro constituía
preço de sangue e, buscando desfazerse
rapidamente de sua posse, adquiriram um
campo destinado ao sepulcro dos estrangeiros, denominado, desde então, Campo de
Sangue.
Profunda a expressão simbólica dessa recordação e, com a sua luz, cabenos
reconhecer que a maioria dos homens continua a irrefletida ação de Judas,
permutando o Mestre, inconscientemente, por esperanças injustas, por vantagens
materiais, por privilégios passageiros. Quando podem examinar a extensão dos
enganos a que se acolheram, procuram, desesperados, os comparsas de suas ilusões,
tentando devolverlhes
quanto lhes coube nos criminosos movimentos em que se
comprometeram na luta humana; todavia, com esses frutos amargos apenas
conseguem adquirir o campo de sangue das expiações dolorosas e ásperas, para
sepulcro dos cadáveres de seus pesadelos delituosos, estranhos ao ideal divino da
perfeição em Jesus Cristo.
Irmão em humanidade, que ainda não pudeste sair do campo milenário das
reencarnações, em luta por enterrar os pretéritos crimes que não se coadunam com a
Lei Eterna, não troques o Cristo Imperecível por um punhado de cinzas misérrimas,
porque, do contrário, continuarás circunscrito à região escura da carne sangrenta.
104 –
Fr ancisco Cândido Xavier
92
MADALENA
“Disselhe
Jesus: Maria! — Ela, voltandose,
disselhe:
Mestre!”
(JOÃO, 20: 16)
Dos fatos mais significativos do Evangelho, a primeira visita de Jesus, na
ressurreição, é daqueles que convidam à meditação substanciosa e acurada.
Por que razões profundas deixaria o Divino Mestre tantas figuras mais
próximas de sua vida para surgir aos olhos de Madalena, em primeiro lugar?
Somos naturalmente compelidos a indagar por que não teria aparecido,
antes, ao coração abnegado e amoroso que lhe servira de Mãe ou aos discípulos
amados...
Entretanto, o gesto de Jesus é profundamente simbólico em sua essência
divina.
Dentre os vultos da Boa Nova, ninguém fez tanta violência a si mesmo,
para seguir o Salvador, como a inesquecível obsidiada de Magdala. Nem mesmo
“morta” nas sensações que operam a paralisia da alma; entretanto, bastou o encontro
com o Cristo para abandonar tudo e seguirlhe
os passos, fiel até ao fim, nos atos de
negação de si própria e na firme resolução de tomar a cruz que lhe competia no
calvário redentor de sua existência angustiosa.
É compreensível que muitos estudantes investiguem a razão pela qual não
apareceu o Mestre, primeiramente, a Pedro ou a João, à sua Mãe ou aos amigos.
Todavia, é igualmente razoável reconhecermos que, com o seu gesto inesquecível,
Jesus ratificou a lição de que a sua doutrina será, para todos os aprendizes e
seguidores, o código de ouro das vidas transformadas para a glória do bem. E
ninguém, como Maria de Magdala, houvera transformado a sua, à luz do Evangelho
redentor.
105 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
93
ALEGRIA CRISTÃ
“Mas a vossa tristeza se converterá em alegria.”
Jesus (JOÃO, 16: 20)
Nas horas que precederam a agonia da cruz, os discípulos não conseguiam
disfarçar a dor, o desapontamento.
Estavam tristes. Como pessoas humanas, não entendiam outras vitórias que
não fossem as da Terra. Mas Jesus, com vigorosa serenidade, exortavaos:
“Na
ver dade, na ver dade, vos digo que vós chor ar eis e vos lamentar eis; o mundo se
alegr ará e vós estareis tr istes, mas a vossa tr isteza se conver ter á em alegria.”
Através de séculos, viuse
no Evangelho um conjunto de notícias dolorosas
— um Salvador abnegado e puro conduzido ao madeiro destinado aos infames,
discípulos debandados, perseguições sem conta, martírios e lágrimas para todos os
seguidores...
No entanto, essa pesada bagagem de sofrimentos constitui os alicerces de
uma vida superior, repleta de paz e alegria. Essas dores representam auxílio de Deus
à terra estéril dos corações humanos. Chegam como adubo divino aos sentimentos
das criaturas terrestres, para que de pântanos desprezados nasçam lírios de
esperança.
Os inquietos salvadores da política e da ciência, na Crosta Planetária,
receitam repouso e prazer a fim de que o espírito chore depois, por tempo
indeterminado, atirado aos desvãos sombrios da consciência ferida pelas atitudes
criminosas. Cristo, porém, evidenciando suprema sabedoria, ensinou a ordem
natural para a aquisição das alegrias eternas, demonstrando que fornecer caprichos
satisfeitos, sem advertência e medida, às criaturas do mundo, no presente estado
evolutivo, é depor substâncias perigosas em mãos infantis. Por esse motivo, reservou
trabalhos e sacrifícios aos companheiros amados, para que se não perdessem na
ilusão e chegassem à vida real com valioso patrimônio de estáveis edificações.
Eis por que a alegria cristã não consta de prazeres da inconsciência, mas da
sublime certeza de que todas as dores são caminhos para júbilos imortais.
106 –
Fr ancisco Cândido Xavier
94
AO SALVARNOS
“Salvate
a ti mesmo e desce da cruz.”
(MARCOS, 15: 30)
Esse grito de ironia dos homens maliciosos continua vibrando através dos
séculos.
A criatura humana não podia compreender o sacrifício do Salvador. A
Terra apenas conhecia vencedores que chegavam brandindo armas, cobertos de
glórias sanguinolentas, heróis da destruição e da morte, a caminho de altares e
monumentos de pedra.
Aquele Messias, porém, distanciarase
do padrão habitual. Para conquistar,
dava de si mesmo; a fim de possuir, nada pretendia dos homens para si próprio; no
propósito de enriquecer a vida, entregavase
à morte.
Em vista disso, não faltaram os escarnecedores no momento extremo,
interpelando o Divino Triunfador, com mordaz expressão.
Nesse testemunho, ensinounos
o Mestre que, ao nos salvarmos, no campo
da maldade e da ignorância ouviremos o grito da malícia geral, nas mesmas
circunstâncias.
Se nos demoramos colados à ilusão do destaque, se somos trabalhadores
exclusivamente interessados em nosso engrandecimento temporário na esfera carnal,
com esquecimento das necessidades alheias, há sempre muita gente que nos
considera privilegiados e vitoriosos; se ponderamos, no entanto, as nossas
responsabilidades graves no mundo, chamanos
loucos e, quando nos surpreende em
experiências culminantes, revestidas da dor sagrada que nos arrebata a esferas
sublimes, passa junto de nós exibindo gestos irônicos e, recordando os altos
princípios esposados por nossa vida, exclama, desdenhosa: — “Salvate
a ti mesmo
e desce da cruz.”
107 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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O AMIGO OCULTO
“Mas os olhos deles estavam como que fechados, para
que o não conhecessem.”
(LUCAS, 24: 16)
Os discípulos, a caminho de Emaús, comentavam, amargurados, os
acontecimentos terríveis do Calvário.
Permaneciam sob a tormenta da angústia. A dúvida penetravalhes
a alma,
levandoos
ao abatimento, à negação.
Um homem desconhecido, porém, alcançouos
na estrada. Oferecia o
aspecto de mísero peregrino.
Sem identificarse,
esclareceu as verdades da Escritura, exaltou a cruz e o
sofrimento.
Ambos os companheiros, que se haviam emaranhado no cipoal de
contradições ingratas, experimentaram agradável bemestar,
ouvindo a
argumentação confortadora.
Somente ao termo da viagem, em se sentindo fortalecidos no tépido
ambiente da hospedaria, perceberam que o desconhecido era o Mestre.
Ainda existem aprendizes na “estrada simbólica de Emaús”, todos os dias.
Atingem o Evangelho e espantamse
em face dos sacrifícios necessários à eterna
iluminação espiritual. Não entendem o ambiente divino da cruz e procuram
“paisagens mentais” distantes... Entretanto, chega sempre um desconhecido que
caminha ao lado dos que vacilam e fogem. Tem a forma de um viandante
incompreendido, de um companheiro inesperado, de um velho generoso, de uma
criança tímida. Sua voz é diferente das outras, seus esclarecimentos mais firmes,
seus apelos mais doces.
Quem partilha, por um momento, do banquete da cruz, jamais poderá
olvidála.
Muitas vezes, partirá mundo a fora, demorandose
nos trilhos escuros; no
entanto, minuto virá em que Jesus, de maneira imprevista, busca esses viajores
transviados e não os desampara enquanto não os contempla, seguros e livres, na
hospedaria da confiança.
108 –
Fr ancisco Cândido Xavier
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A COROA
“E vestiramno
de púrpura, e tecendo uma coroa de
espinhos, lha puseram na cabeça.”
(MARCOS, 15: 17)
Quase incrível o grau de invigilância da maioria dos discípulos do
Evangelho, na atualidade, ansiosos pela coroa dos triunfos mundanos. Desde longo
tempo, as Igrejas do Cristianismo deturpado se comprazem nos grandes espetáculos,
através de enormes demonstrações de força política. E forçoso é reconhecer que
grande número das agremiações espiritistas cristãs, ainda tão recentes no mundo,
tendem às mesmas inclinações.
Individualmente, os prosélitos pretendem o bemestar,
o caminho sem
obstáculos, as considerações honrosas do mundo, o respeito de todos, o fiel
reconhecimento dos elevados princípios que esposaram na vida, por parte dos
estranhos. Quando essa bagagem de facilidades não os bafeja no serviço edificante,
sentemse
perseguidos, contrariados, desditosos.
Mas... e o Cristo? Não bastaria o quadro da coroa de espinhos para atenuarnos
a inquietação?
Naturalmente que o Mestre trazia consigo a Coroa da Vida; entretanto, não
quis perder a oportunidade de revelar que a coroa da Terra ainda é de espinhos, de
sofrimento e trabalho incessante para os que desejem escalar a montanha da
Ressurreição Divina. Ao tempo em que o Senhor inaugurou a Boa Nova entre os
homens, os romanos coroavamse
de rosas; mas, legandonos
a sublime lição, Jesus
davanos
a entender que seus discípulos fiéis deveriam contar com distintivos de
outra natureza.
109 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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AMAS O BASTANTE?
“Perguntoulhe
terceira vez: Simão, filho de J onas,
amasme?”
(JOÃO, 21: 17)
Aos aprendizes menos avisados é estranhável que Jesus houvesse indagado
do apóstolo, por três vezes, quanto à segurança de seu amor. O próprio Simão Pedro,
ouvindo a interrogação repetida, entristecerase,
supondo que o Mestre suspeitasse
de seus sentimentos mais íntimos.
Contudo, o ensinamento é mais profundo.
Naquele instante, confiavalhe
Jesus o ministério da cooperação nos
serviços redentores. O pescador de Cafarnaum ia contribuir na elevação de seus
tutelados do mundo, ia apostolizar, alcançando valores novos para a vida eterna.
Muito significativa, portanto, a pergunta do Senhor nesse particular. Jesus
não pede informação ao discípulo, com respeito aos raciocínios que lhe eram
peculiares, não deseja inteirarse
dos conhecimentos do colaborador, relativamente a
Ele, não reclama compromisso formal. Pretende saber apenas se Pedro o ama,
deixando perceber que, com o amor, as demais dificuldades se resolvem. Se o
discípulo possui suficiente provisão dessa essência divina, a tarefa mais dura
convertese
em apostolado de bênçãos promissoras.
É imperioso, desse modo, reconhecer que as tuas conquistas intelectuais
valem muito, que tuas indagações são louváveis, mas em verdade somente serás
efetivo e eficiente cooperador do Cristo se tiveres amor.
110 –
Fr ancisco Cândido Xavier
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CAPAS
“E ele, lançando de si a sua capa, levantouse
e foi ter
com Jesus.”
(MARCOS, 10: 50)
O Evangelho de Marcos apresenta interessante notícia sobre a cura de
Bartimeu, o cego de Jericó.
Para receber a bênção da divina aproximação, lança fora de si a capa,
correndo ao encontro do Mestre, alcançando novamente a visão para os olhos
apagados e tristes.
Não residirá nesse ato precioso símbolo?
As pessoas humanas exibem no mundo as capas mais diversas. Existem
mantos de reis e de mendigos. Há muitos amigos do crime que dão preferência a
“capas de santos”. Raros os que não colam ao rosto a máscara da própria
conveniência. Alegase
que a luta humana permanece repleta de requisições
variadas, que é imprescindível atender à movimentação do século; entretanto, se
alguém deseja sinceramente a aproximação de Jesus, para a recepção de benefícios
duradouros, lance fora de si a capa do mundo transitório e apresentese
ao Senhor,
tal qual é, sem a ruinosa preocupação de manter a pretensa intangibilidade dos
títulos efêmeros, sejam os da fortuna material ou os da exagerada noção de
sofrimento. A manutenção de falsas aparências, diante do Cristo ou de seus
mensageiros, complica a situação de quem necessita. Nada peças ao Senhor com
exigências ou alegações descabidas. Despe a tua capa mundana e apresentate
a Ele,
sem mais nem menos.
111 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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PROMETER
“Prometendolhes
liberdade, sendo eles mesmos servos
da corrupção.”
(I PEDRO, 2: 19)
É indispensável desconfiar de todas as promessas de facilidades sobre o
mundo.
Jesus, que podia abrir os mais vastos horizontes aos olhos assombrados da
criatura, prometeulhe
a cruz sem a qual não poderia afastarse
da Terra para
colocarse
ao seu encontro.
Em toda parte, existem discípulos descuidados que aceitam o logro de
aventureiros inconscientes. É que ainda não aprenderam a lição viva do trabalho
próprio a que foram chamados para desenvolver atividade particular.
Os fazedores de revoluções e os donos de projetos absurdos prometem
maravilhas. Mas, se são vítimas da ambição, servos de propósitos inferiores,
escravos de terríveis enganos, como poderão realizar para os outros a liberdade ou a
elevação de que se conservam distantes?
Não creias em salvadores que não demonstrem ações que confirmem a
salvação de si mesmos.
Deves saber que foste criado para gloriosa ascensão, mas que só é fácil
descer. Subir exige trabalho, paciência, perseverança, condições essenciais para o
encontro do amor e da sabedoria.
Se alguém te fala em valor das facilidades, não acredites; é possível que o
aventureiro esteja descendo.
Mas quando te façam ver perspectivas consoladoras, através do suor e do
esforço pessoal, aceita os alvitres com alegria. Aquele que compreende o tesouro
oculto nos obstáculos, e dele se vale para enriquecer a vida, está subindo e é digno
de ser seguido.
112 –
Fr ancisco Cândido Xavier
100
AUXÍLIOS DO INVISÍVEL
“E, depois de passarem a primeira e segunda guarda,
chegaram à porta de ferro, que dá para a cidade, a qual se lhes
abriu por si mesma; e, tendo saído, percorreram uma rua e logo
o anjo se apartou dele.”
(ATOS, 12: 10)
Os homens esperam sempre ansiosamente o auxílio do plano espiritual. Não
importa o nome pelo qual se designe esse amparo. Na essência é invariavelmente o
mesmo, embora seja conhecido entre os espiritistas por “proteção dos guias” e nos
círculos protestantes por “manifestações do Espírito Santo”.
As denominações apresentam interesse secundário. Essencial é
considerarmos que semelhante colaboração constitui elemento vital nas atividades
do crente sincero.
No entanto, a contribuição recebida por Pedro, no cárcere, representa lição
para todos.
Sob cadeias pesadíssimas, o pescador de Cafarnaum vê aproximarse
o anjo
do Senhor, que o liberta, atravessa em sua companhia os primeiros perigos na prisão,
caminha ao lado do mensageiro, ao longo de uma rua; contudo, o emissário afastase,
deixandoo
novamente entregue à própria liberdade, de maneira a não
desvalorizarlhe
as iniciativas.
Essa exemplificação é típica.
Os auxílios do invisível são incontestáveis e jamais falham em suas
multiformes expressões, no momento oportuno; mas é imprescindível não se vicie o
crente com essa espécie de cooperação, aprendendo a caminhar sozinho, usando a
independência e a vontade no que é justo e útil, convicto de que se encontra no
mundo para aprender, não lhe sendo permitido reclamar dos instrutores a solução de
problemas necessários à sua condição de aluno.
113 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
101
TUDO EM DEUS
“Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma.”
Jesus (JOÃO, 5: 30)
Constitui ótimo exercício contra a vaidade pessoal a meditação nos fatores
transcendentes que regem os mínimos fenômenos da vida.
O homem nada pode sem Deus.
Todos temos visto personalidades que surgem dominadoras no palco
terrestre, afirmandose
poderosas sem o amparo do Altíssimo; entretanto, a única
realização que conseguem efetivamente é a dilatação ilusória pelo sopro do mundo,
esvaziandose
aos primeiros contactos com as verdades divinas.
Quando aparecem, temíveis, esses gigantes de vento espalham ruínas
materiais e aflições de espírito; todavia, o mesmo mundo que lhes confere pedestal
projetaos
no abismo do desprezo comum; a mesma multidão que os assopra
incumbese
de repôlos
no lugar que lhes compete.
Os discípulos sinceros não ignoram que todas as suas possibilidades
procedem do Pai amigo e sábio, que as oportunidades de edificação na Terra, com a
excelência das paisagens, recursos de cada dia e bênçãos dos seres amados, vieram
de Deus que os convida, pelo espírito de serviço, a ministérios mais santos; agirão,
desse modo, amando sempre, aproveitando para o bem e esclarecendo para a
verdade, retificando caminhos e acendendo novas luzes, porque seus corações
reconhecem que nada poderão fazer de si próprios e honrarão o Pai, entrando em
santa cooperação nas suas obras.
114 –
Fr ancisco Cândido Xavier
102
O CRISTÃO E O MUNDO
“Primeiro a erva, depois a espiga e, por último, o grão
cheio na espiga.”
Jesus (MARCOS, 4: 28)
Ninguém julgue fácil a aquisição de um título referente à elevação
espiritual. O Mestre recorreu sabiamente aos símbolos vivos da Natureza,
favorecendonos
a compreensão.
A erva está longe da espiga, como a espiga permanece distanciada dos
grãos maduros.
Nesse capítulo, o mais forte adversário da alma que deseja seguir o
Salvador, é o próprio mundo.
Quando o homem comum descansa nas vulgaridades e inutilidades da
existência terrestre, ninguém lhe examina os passos. Suas atitudes não interessam a
quem quer que seja. Todavia, em lhe surgindo no coração a erva tenra da fé
retificadora, sua vida passa a constituir objeto de curiosidade para a multidão.
Milhares de olhos, que o não viram quando desviado na ignorância e na
indiferença, seguemlhe,
agora, os gestos mínimos com acentuada vigilância. O
pobre aspirante ao título de discípulo do Senhor ainda não passa de folhagem
promissora e já lhe reclamam espigas das obras celestes; conservase
ainda longe da
primeira penugem das asas espirituais e já se lhe exigem vôos supremos sobre as
misérias humanas.
Muitos aprendizes desanimam e voltam para o lodo, onde os companheiros
não os vejam.
Esquecese
o mundo de que essas almas ansiosas ainda se acham nas
primeiras esperanças e, por isso mesmo, em disputas mais ásperas por rebentar o
casulo das paixões inferiores na aspiração de subir; dentro da velha ignorância, que
lhe é característica, a multidão só entende o homem na animalidade em que se
compraz ou, então, se o companheiro pretende elevarse,
lhe exige, de pronto,
credenciais positivas do céu, olvidando que ninguém pode trair o tempo ou enganar
o espírito de seqüência da Natureza.
Resta ao cristão cultivar seus propósitos sublimes e ouvir o Mestre:
Primeiro a erva, depois a espiga e, por último, o grão cheio na espiga.
115 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
103
ESTIMA DO MUNDO
“Se chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais
aos seus domésticos?”
Jesus (MATEUS, 10: 25)
Muitos discípulos do Evangelho existem, ciosos de suas predileções e
pontos de vista, no campo individual.
Falsas concepções ensombramlhes
o olhar.
Quase sempre se inquietam pelo reconhecimento público das virtudes que
lhes exornam o caráter, guardam o secreto propósito de obter a admiração de todos e
sentemse
prejudicados se as autoridades transitórias do mundo não lhes conferem
apreço.
Agem esquecidos de que o Reino de Deus não vem com aparência exterior;
não percebem que, por enquanto, somente os vultos destacados, nas vanguardas
financeiras ou políticas, arvoramse
em detentores de prerrogativas terrestres,
senhores quase absolutos das homenagens pessoais e dos necrológios brilhantes.
Os filhos do Reino Divino sobressaem raramente e, de modo geral, enchem
o mundo de benefícios sem que o homem os veja, à feição do que ocorre com o
próprio Pai.
Se Jesus foi chamado feiticeiro, crucificado como malfeitor e arrebatado de
sua amorosa missão para o madeiro afrontoso, que não devem esperar seus
aprendizes sinceros, quando verdadeiramente devotados à sua causa?
O discípulo não pode ignorar que a permanência na Terra decorre da
necessidade de trabalho proveitoso e não do uso de vantagens efêmeras que, em
muitos casos, lhe anulariam a capacidade de servir.
Se a força humana torturou o Cristo, não deixará de torturálo
também. É
ilógico disputar a estima de um mundo que, mais tarde, será compelido a regenerarse
para obter a redenção.
116 –
Fr ancisco Cândido Xavier
104
A ESPADA SIMBÓLICA
“Não cuideis que vim trazer a paz à Terra; não vim
trazer a paz, mas a espada.”
Jesus (MATEUS, 10: 34)
Inúmeros leitores do Evangelho perturbamse
ante essas afirmativas do
Mestre Divino, porquanto o conceito de paz, entre os homens, desde muitos séculos
foi visceralmente viciado. Na expressão comum, ter paz significa haver atingido
garantias exteriores, dentro das quais possa o corpo vegetar sem cuidados, rodeandose
o homem de servidores, apodrecendo na ociosidade e ausentandose
dos
movimentos da vida.
Jesus não poderia endossar tranqüilidade desse jaez, e, em contraposição ao
falso princípio estabelecido no mundo, trouxe consigo a luta regeneradora, a espada
simbólica do conhecimento interior pela revelação divina, a fim de que o homem
inicie a batalha do aperfeiçoamento em si mesmo. O Mestre veio instalar o combate
da redenção sobre a Terra. Desde o seu ensinamento primeiro, foi formada a frente
da batalha sem sangue, destinada à iluminação do caminho humano. E Ele mesmo
foi o primeiro a inaugurar o testemunho pelos sacrifícios supremos.
Há quase vinte séculos vive a Terra sob esses impulsos renovadores, e ai
daqueles que dormem, estranhos ao processo santificante!
Buscar a mentirosa paz da ociosidade é desviarse
da luz, fugindo à vida e
precipitando a morte.
No entanto, Jesus é também chamado o Príncipe da Paz.
Sim, na verdade o Cristo trouxe ao mundo a espada renovadora da guerra
contra o mal, constituindo em si mesmo a divina fonte de repouso aos corações que
se unem ao seu amor; esses, nas mais perigosas situações da Terra, encontram,
n’Ele, a serenidade inalterável. É que Jesus começou o combate de salvação para a
Humanidade, representando, ao mesmo tempo, o sustentáculo da paz sublime para
todos os homens bons e sinceros.
117 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
105
NEM TODOS
“E aconteceu que, quase oito dias depois destas
palavras, tomou consigo a Pedro, a J oão e a Tiago, e subiu ao
monte a orar.”
(LUCAS, 9: 28)
Digna de notarse
a atitude do Mestre, convidando apenas Simão e os filhos
de Zebedeu para presenciarem a sublime manifestação do monte, quando Moisés e
outro emissário divino estariam em contacto direto com Jesus, aos olhos dos
discípulos.
Por que não convocou os demais companheiros?
Acaso Filipe ou André não teriam prazer na sublime revelação? Não era
Tomé um companheiro indagador, ansioso por equações espirituais? No entanto, o
Mestre sabia a causa de suas decisões e somente Ele poderia dosar,
convenientemente, as dádivas do conhecimento superior.
O fato deve ser lembrado por quantos desejem forçar a porta do plano
espiritual.
Certo, o intercâmbio com esse ou aquele núcleo de entidades do Além é
possível, mas nem todos estão preparados, a um só tempo, para a recepção de
responsabilidades ou benefícios.
Não se confia, imprudentemente, um aparelho de produção preciosa, cujo
manejo dependa de competência prévia, ao primeiro homem que surja, tomado de
bons desejos. Não se atraiçoa impunemente a ordem natural. Nem todos os
aprendizes e estudiosos receberão do Além, num pronto, as grandes revelações.
Cada núcleo de atividade espiritualizante deve ser presidido pelo melhor
senso de harmonia, esforço e afinidade. Nesse mister, além das boas intenções é
indispensável a apresentação da ficha de bons trabalhos pessoais. E, no mundo, toda
gente permanece disposta a querer isso ou aquilo, mas raríssimas criaturas se
prontificam a servir e a educarse.
118 –
Fr ancisco Cândido Xavier
106
DAR
“E dá a qualquer que te pedir; e, ao que tomar o que é
teu, não lho tornes a pedir.”
Jesus (LUCAS, 6: 30)
O ato de dar é dos mais sublimes nas operações da vida; entretanto, muitos
homens são displicentes e incompreensíveis na execução dele.
Alguns distribuem esmolas levianamente, outros se esquecem da vigilância,
entregando seu trabalho a malfeitores.
Jesus é nosso Mestre nas ocorrências mínimas. E se ouvimolo
recomendando estejamos prontos a dar “a qualquer” que pedir, vemolo
atendendo a
todas as criaturas do seu caminho, não de acordo com os caprichos, mas segundo as
necessidades.
Concedeu bemaventuranças
aos aflitos e advertências aos vendilhões.
Certo, os mercadores de máfé,
no íntimo, rogavamlhe
a manutenção do “
statu
quo
”, mas sua resposta foi eloqüente. Deu alegrias nas bodas de Caná e repreensões
em assembléias dos discípulos. Proporcionou a cada situação e a cada personalidade
o que necessitavam e, quando os ingratos lhe tomaram o direito da própria vida, aos
olhos da Humanidade, não voltou o Cristo a pedirlhes
que o deixassem na obra
começada.
Deu tudo o que se coadunava com o bem. E deu com abundância,
salientandose
que, sob o peso da cruz, conferiu sublime compreensão à ignorância
geral, sem reclamação de qualquer natureza, porque sabia que o ato de dar vem de
Deus e nada mais sagrado que colaborar com o Pai que está nos céus.
119 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
107
VINDA DO REINO
“O reino de Deus não vem com aparência exterior.”
Jesus (LUCAS, 17: 20)
Os agrupamentos religiosos no mundo permanecem, quase sempre,
preocupados pelas conversões alheias. Os crentes mais entusiastas anseiam por
transformar as concepções dos amigos. Em vista disso, em toda parte somos
defrontados por irmãos aflitos pela dilatação do proselitismo em seus círculos de
estudo.
Semelhante atividade nem sempre é útil, porquanto, em muitas ocasiões,
pode perturbar elevados projetos em realização.
Afirma Jesus que o Reino de Deus não vem com aparência exterior. É
sempre ruinosa a preocupação por demonstrar pompas e números vaidosamente, nos
grupos da fé. Expressões transitórias de poder humano não atestam o Reino de Deus.
A realização divina começará do íntimo das criaturas, constituindo gloriosa luz do
templo interno. Não surge à comum apreciação, porque a maioria dos homens
transitam semicegos,
através do túnel da carne, sepultando os erros do passado
culposo.
A carne é digna e venerável, pois é vaso de purificação, recebendonos
para
o resgate preciso; entretanto, para os espíritos redimidos significa “morte” ou
“transformação permanente”. O homem carnal, em vista das circunstâncias que lhe
governam o esforço, pode ver somente o que está “morto” ou aquilo que “vai
morrer”. O Reino de Deus, porém, divino e imortal, escapa naturalmente à visão dos
humanos.
120 –
Fr ancisco Cândido Xavier
108
REENCARNAÇÃO
“Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar,
cortao
e atirao
para longe de ti; melhor te é entrar na vida,
coxo ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres
lançado no fogo eterno.”
Jesus (MATEUS, 18: 8)
Unicamente a reencarnação esclarece as questões do ser, do sofrimento e do
destino. Em muitas ocasiões, falounos
Jesus de seus belos e sábios princípios.
Esta passagem de Mateus é sumamente expressiva.
É indispensável considerar que o Mestre se dirigia a uma sociedade
estagnada, quase morta.
No concerto das lições divinas que recebe, o cristão, a rigor, apenas
conhece, de fato, um gênero de morte, a que sobrevém à consciência culpada pelo
desvio da Lei; e os contemporâneos do Cristo, na maioria, eram criaturas sem
atividade espiritual edificante, de alma endurecida e coração paralítico. A expressão
“melhor te é entrar na vida” representa solução fundamental. Acaso, não eram os
ouvintes pessoas humanas? Referiase,
porém, o Senhor à existência contínua, à vida
de sempre, dentro da qual todo espírito despertará para a sua gloriosa destinação de
eternidade.
Na elevada simbologia de suas palavras, apresentanos
Jesus o motivo
determinante dos renascimentos dolorosos, em que observamos aleijados, cegos e
paralíticos de berço, que pedem semelhantes provas como períodos de refazimento e
regeneração indispensáveis à felicidade porvindoura.
Quanto à imagem do “fogo eterno”, inserta nas letras evangélicas, é recurso
muito adequado à lição, porque, enquanto não se dispuser a criatura a viver com o
Cristo, será impelida a fazêlo,
através de mil meios diferentes; se a rebeldia
perdurar por infinidade de séculos, os processos purificadores permanecerão
igualmente como o fogo material, que existirá na Terra enquanto seu concurso
perdurar no tempo, como utilidade indispensável à vida física.
121 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
109
ACHAREMOS SEMPRE
“Porque qualquer que pede, recebe; e quem busca, acha.”
Jesus (LUCAS, 11: 10)
Ao experimentar o crente a necessidade de alguma coisa, recorda
maquinalmente a promessa do Mestre, quando assegurou resposta adequada a
qualquer que pedir.
Importa, contudo, saber o que procuramos. Naturalmente, receberemos
sempre, mas é imprescindível conhecer o objeto de nossa solicitação.
Asseverou Jesus: “Quem busca, acha.”
Quem procura o mal encontrase
com o mal igualmente.
Existe perfeita correspondência entre nossa alma e a alma das coisas. Não
expendemos uma hipótese, examinamos uma lei.
Para os que procuram ladrões, escutando os falsos apelos do mundo interior
que lhes é próprio, todos os homens serão desonestos. Assim ocorre aos que
possuem aspirações de crença, acercandose,
desconfiados, dos agrupamentos
religiosos. Nunca surpreendem a fé, porque tudo analisam pela máfé
a que se
acolhem. Tanto experimentam e insistem, manejando os propósitos inferiores de que
se nutrem, que nada encontram, efetivamente, além das desilusões que esperavam.
A fim de encontrarmos o bem, é preciso buscálo
todos os dias.
Inegavelmente, num campo de lutas chocantes como a esfera terrestre, a
caçada ao mal é imediatamente coroada de êxito, pela preponderância do mal entre
as criaturas. A pesca do bem não é tão fácil; no entanto, o bem será encontrado
como valor divino e eterno.
É indispensável, pois, muita vigilância na decisão de buscarmos alguma
coisa, porquanto o Mestre afirmou: “Quem busca, acha”; e acharemos sempre o que
procuramos.
122 –
Fr ancisco Cândido Xavier
110
VIDAS SUCESSIVAS
“Não te maravilhes de te haver dito: Necessário vos é
nascer de novo.”
Jesus. (JOÃO, 3: 7)
A palavra de Jesus a Nicodemos foi suficientemente clara.
Desviála
para interpretações descabidas pode ser compreensível no
sacerdócio organizado, atento às injunções da luta humana, mas nunca nos espíritos
amantes da verdade legítima.
A reencarnação é lei universal.
Sem ela, a existência terrena representaria turbilhão de desordem e
injustiça; à luz de seus esclarecimentos, entendemos todos os fenômenos dolorosos
do caminho.
O homem ainda não percebeu toda a extensão da misericórdia divina, nos
processos de resgate e reajustamento.
Entre os homens, o criminoso é enviado a penas cruéis, seja pela
condenação à morte ou aos sofrimentos prolongados.
A Providência, todavia, corrige, amando... Não encaminha os réus a prisões
infectas e úmidas. Determina somente que os comparsas de dramas nefastos troquem
a vestimenta carnal e voltem ao palco da atividade humana, de modo a se redimirem,
uns à frente dos outros.
Para a Sabedoria Magnânima nem sempre o que errou é um celerado, como
nem sempre a vítima é pura e sincera. Deus não vê apenas a maldade que surge à
superfície do escândalo; conhece o mecanismo sombrio de todas as circunstâncias
que provocaram um crime.
O algoz integral como a vítima integral são desconhecidos do homem; o
Pai, contudo, identifica as necessidades de seus filhos e reúneos,
periodicamente,
pelos laços de sangue ou na rede dos compromissos edificantes, a fim de que
aprendam a lei do amor, entre as dificuldades e as dores do destino, com a bênção de
temporário esquecimento.
123 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
111
ORIENTADORES DO MUNDO
“Respondeulhe
Jesus: És mestre em Israel e não sabes Isto?”
(JOÃO, 3: 10)
É muito comum nos círculos religiosos, notadamente nos arraiais
espiritistas, o aparecimento de orientadores do mundo, reclamando provas da
existência da alma.
Tempo virá em que semelhantes inquirições serão consideradas pueris,
porque, afinal, esses mentores da política, da educação, da ciência, estão
perguntando, no fundo, se eles próprios existem.
A resposta de Jesus a Nicodemos, embora se refira ao problema da
reencarnação, enquadrase
perfeitamente ao assunto, de vez que os condutores da
atualidade prosseguem indagando sobre realidades essenciais da vida.
Peçamos a Deus auxilie o homem para que não continue tentando penetrar
a casa do progresso pelo telhado.
O médico leviano, até que verifique a verdade espiritual, será defrontado
por experiências dolorosas no campo das realizações que lhe dizem respeito. O
professor, apenas teórico, precipitarseá
muitas vezes nas ilusões. O administrador
improvisado permanecerá exposto a erros tremendos, até que se ajuste A
responsabilidade que lhe é própria.
Por esse motivo, a resposta de Jesus aplicase,
com acerto, às interrogações
dos instrutores modernos.
Transformados em investigadores, dirigemse
a nós outros, muita vez com
ironia, reclamando a certeza sobre a existência do espírito; entretanto, eles orientam
os outros e se introduzem na vida dos nossos Irmãos em humanidade. Considerando
essa circunstância e em se tratando de problema tão essencial para si próprios, é
razoável que não perguntem, porque devem saber.
124 –
Fr ancisco Cândido Xavier
112
COMO LÁZARO
“E o defunto saiu, tendo as mãos e os pés ligados com
faixas e o seu rosto envolto num lenço. Disselhes
J esus:
Desligaio
e deixaio
ir.”
(JOÃO, 11: 44)
O regresso de Lázaro à vida ativa representa grandioso símbolo para todos
os trabalhadores da Terra.
Os criminosos arrependidos, os pecadores que se voltam para o bem, os que
“trincaram” o cristal da consciência, entendem a maravilhosa característica do verbo
recomeçar.
Lázaro não podia ser feliz tãosó
por revestirse
novamente da carne
perecível, mas, sim, pela possibilidade de reiniciar a experiência humana com
valores novos. E, na faina evolutiva, cada vez que o espírito alcança do Mestre
Divino a oportunidade de regressar à Terra, eilo
desenfaixado dos laços vigorosos...
exonerado da angústia, do remorso, do medo... A sensação do túmulo de impressões
em que se encontrava, era venda forte a cobrirlhe
o rosto...
Jesus, compadecido, exclamou para o mundo:
— Desligaio,
deixaio
ir .
Essa passagem evangélica é assinalada de profunda beleza.
Preciosa é a existência de um homem, porque o Cristo lhe permitiu o
desligamento dos laços criminosos com o pretérito, deixandoo
encaminharse,
de
novo, às fontes da vida humana, de maneira a reconstituir e santificar os elos de seu
destino espiritual, na dádiva suprema de começar outra vez.
125 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
113
NÃO TE ESQUEÇAS
“Porque muitos dos judeus, por causa dele, iam
e criam em Jesus.”
(JOÃO, 12: 11)
Narra o Evangelho de João que muita gente, encaminhandose
para
Betânia, buscava acercarse
do Mestre, não somente para vêlo,
mas para contemplar
também a figura de Lázaro, retirado do sepulcro.
Nessa movimentação, muitos iam e voltavam transformados, irritando os
círculos farisaicos.
Essa lembrança do Apóstolo é preciosa.
A situação, todavia, é idêntica nos dias atuais.
A alma voltada para o Cristo quase sempre foi ressuscitada por seu amor,
escapando à sombra dos pesadelos intelectuais que operam a morte do sentimento...
Muitos homens estão mortos, soterrados nos sepulcros da indiferença, do
egoísmo, da negação.
Quando um companheiro, como Lázaro, tem a felicidade de ser tocado pelo
Cristo, eis que se estabelece a curiosidade geral em torno de suas atitudes. Todos
desejam conhecerlhe
as modificações.
Se és, portanto, um beneficiado de Jesus; se o Senhor já te levantou do pó
terrestre para o conhecimento da vida infinita, recordate
de que teus amigos, na
maioria, têm noticias do Mestre; todavia, ainda não estão preparados a compreendêlo
integralmente. Serás, como Lázaro, o ponto de observação direta para todos eles.
Somente começarão a receber a claridade da crença sincera por ti, reconhecendo o
poder de Jesus pela transformação que estejas demonstrando. Se já foste, pois,
chamado pelo Senhor da Vida, está em tuas mãos continuares nos recintos da morte
ou levantares para a edificação dos que te rodeiam.
126 –
Fr ancisco Cândido Xavier
114
AS CARTAS DO CRISTO
“Porque já é manifesto que sois a carta do Cristo,
ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito
de Deus Vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne
do coração.”
Paulo (I CORÍNTIOS, 3: 3)
É singular que o Mestre não haja legado ao mundo um compêndio de
princípios escritos pelas próprias mãos.
As figuras notáveis da Terra sempre assinalam sua passagem no planeta,
endereçando à posteridade a sua mensagem de sabedoria e amor, seja em tábuas de
pedra, seja em documentos envelhecidos.
Com Jesus, porém, o processo não foi o mesmo.
O Mestre como que fez questão de escrever sua doutrina aos homens,
gravandoa
no coração dos companheiros sinceros. Seu testamento espiritual
constituise
de ensinos aos discípulos e não foram grafados por ele mesmo.
Recursos humanos seriam insuficientes para revelar a riqueza eterna de sua
Mensagem. As letras e raciocínios, propriamente humanos, na maioria das vezes
costumam dar margem a controvérsias. Em vista disso, Jesus gravou seus
ensinamentos nos corações que o rodeavam e até hoje os aprendizes que se lhe
conservam fiéis são as suas cartas divinas dirigidas à Humanidade.
Esses documentos vivos do santificante amor do Cristo palpitam em todas
as religiões e em todos os climas. São os vanguardeiros que conhecem a vida
superior, experimentam o sublime contacto do Mestre e transformamse
em sua
mensagem para os homens.
Podem surgir muitas contendas em torno das páginas mais célebres e
formosas; todavia, perante a alma que se converteu em carta viva do Senhor, quando
não haja vibrações superiores da compreensão, haverá sempre o divino silêncio.
127 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
115
EMBAIXADORES DO CRISTO
“De sorte que somos embaixadores da parte do Cristo.”
Paulo (I CORÍNTIOS, 5: 20)
Na catalogação dos valores sociais, todo homem de trabalho honesto é
portador de determinada delegação.
Se os políticos e administradores guardam responsabilidades do Estado, os
operários recebem encargos naturais das oficinas a que emprestam seus esforços.
Cada homem de bem é mensageiro do centro de realizações onde atende ao
movimento da vida, em atividade enobrecedora.
As ruas estão cheias de emissários das repartições, das fábricas, dos
institutos, dos órgãos de fiscalização, produção, amparo e ensino, cujos interesses
conjugados operam a composição da harmonia social.
É necessário, contudo, não esquecermos que os valores da vida eterna não
permaneceriam no mundo sem representantes.
Cristo possui embaixadores permanentes em seus discípulos sinceros.
Importa considerar que na presente afirmativa de Paulo de Tarso não vemos
alusão ao sacerdócio presunçoso.
Todos os colaboradores leais de Jesus, em qualquer situação da vida e no
lugar mais longínquo da Terra, são conhecidos na sede espiritual dos serviços
divinos. É com eles, cooperadores devotados e muita vez desconhecidos dos
beneficiários do mundo, que se movimenta o Mestre, cada dia, estendendo o
Evangelho aplicado entre as criaturas terrestres, até a vitória final.
Entendendo esta verdade, consulta as próprias tendências, atos e
pensamentos. Repara a quem serves, porque, se já recebeste a Boa Nova da
Redenção, é tempo de te tornares embaixador de sua luz.
128 –
Fr ancisco Cândido Xavier
116
AGIR DE ACORDO
“Confessam que conhecem a Deus, mas negamno
com
as obras, sendo abomináveis e desobedientes, e reprovados para
toda boa obra.”
Paulo. (TITO, 1: 16)
O Espiritismo, em sua feição de Cristianismo redivivo, tem papel muito
mais alto que o de simples campo para novas observações técnicas da ciência
instável do mundo.
A Terra, até agora, no que se refere às organizações religiosas, tem vivido
repleta dos que confessam a existência de Deus, negandoO,
porém, através das
obras individuais.
O intercâmbio dos dois mundos, visível e invisível, de maneira direta
objetiva esse reajustamento sentimental, para que a luz divina se manifeste nas
relações comuns dos homens.
Como conciliar o conhecimento de Deus com o menosprezo aos
semelhantes?
As antigas escolas religiosas, à força de se arregimentarem como
agrupamentos políticos do mundo, sob o controle do sacerdócio, acabaram por
estagnar os impulsos da fé, em exterioridades que aviltam as forças vivas do
espírito.
A doutrina consoladora da sobrevivência e da comunicação entre os
habitantes da Terra e do Infinito, com bases profundas e amplas no Evangelho,
floresce entre as criaturas com características de nova revelação, para que o homem
seja, nas atividades vulgares, real afirmação do bem que nasce da fé viva.
129 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
117
TERRA PROVEITOSA
“Porque a terra que embebe a chuva, que cai muitas
vezes sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem
é lavrada, recebe a bênção de Deus.”
Paulo (HEBREUS, 6: 7)
Os discípulos do Cristo encontrarão sempre grandes lições, em contacto
com o livro da Natureza.
O convertido de Damasco referese
aqui à terra proveitosa que produz
abundantemente, embebendose
da chuva que cai, incessante, na sua superfície,
representando o vaso predileto de recepção das bênçãos de Deus.
Transportemos o símbolo ao país dos corações. Somente aqueles espíritos,
atentos aos benefícios espirituais, que chovem diariamente do céu, são suscetíveis de
produzir as utilidades do serviço divino, guardando as bênçãos do Senhor.
Não que o Pai estabeleça prerrogativas injustificáveis. Sua proteção
misericordiosa estendese
a todos, indistintamente, mas nem todos a recebem, isto é,
inúmeras criaturas se fecham no egoísmo e na vaidade, envolvendo o coração em
sombras densas.
Deus dá em todo tempo, mas nem sempre os filhos recebem, de pronto, as
dádivas paternais. Apenas os corações que se abrem à luz espiritual, que se deixam
embeber pelo orvalho divino, correspondem ao ideal do Lavrador Celeste.
O Altíssimo é o Senhor do Universo, sumo dispensador de bênçãos a todas
as criaturas. No planeta terreno, Jesus é o Sublime Cultivador. O coração humano é
a terra.
Cumprenos,
portanto, compreender que não se lavra o solo sem retificálo
ou sem ferilo
e que somente a terra tratada produzirá erva proveitosa, alimentando e
beneficiando na Casa de Deus, atendendo, destarte, a esperança do horticultor.
130 –
Fr ancisco Cândido Xavier
118
O PARALÍTICO
“E não podendo aproximarse
dele, por causa da
multidão, destelharam a casa onde Jesus estava e, feita uma
abertura, baixaram o leito em que jazia o paralitico.”
(MARCOS, 2: 4)
Muitas pessoas confessam sua necessidade do Cristo, mas freqüentemente
alegam obstáculos que lhes impedem a sublime aproximação.
Uns não conseguem tempo para a meditação, outros experimentam certas
inquietudes que lhes parecem intermináveis.
Todavia, para que nos sintamos na vizinhança do Mestre, como legítimos
interessados em seus benefícios imortais, fazse
imprescindível estender a
capacidade, dilatar os recursos próprios e marchar ao encontro d’Ele, sob a luz da fé
viva.
Relatanos
o Evangelho de Marcos a curiosa decisão do paralítico que,
localizando a casa em que se achava o Senhor, plenamente sitiada pela multidão,
longe de perder a oportunidade, amparouse
no auxílio dos amigos, deixandose
resvalar por um buraco, levado a efeito no telhado, de maneira a beneficiarse
no
contacto do Salvador, aproveitando fervorosamente o ensejo divino.
Recorda o paralítico de Cafarnaum e, na hipótese de encontrares grandes
dificuldades para gozar a presença do Cristo, pelos teus impedimentos de ordem
material, dirigete
para o Alto, com o amparo de teus amigos espirituais, e deixate
cair aos seus pés divinos, recebendo forças novas que te restabeleçam a paz e o bom
ânimo.
131 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
119
GLÓRIA CRISTÃ
“Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa
consciência.”
Paulo (I CORÍNTIOS, 1: 12)
Desde as tribos selvagens, que precederam a organização das famílias
humanas, tem sido a Terra grande palco utilizado na exibição das glórias
passageiras.
A concorrência intensificou a procura de títulos honoríficos transitórios.
O mundo desde muito conhece glórias sangrentas da luta homicida, glórias
da avareza nos cofres da fortuna morta, do orgulho nos pergaminhos brasanados e
inúteis, da vaidade nos prazeres mentirosos que precedem o sepulcro; a ciência
cristaliza as que lhe dizem respeito nas academias isoladas; as religiões sectaristas
nas pompas externas e nas expressões do proselitismo.
Num plano onde campeiam tantas glórias fáceis, a do cristão é mais
profunda, mais difícil. A vitória do seguidor de Jesus é quase sempre no lado inverso
dos triunfos mundanos. É o lado oculto. Raros conseguem vêlo
com olhos mortais.
Entretanto, essa glória é tão grande que o mundo não a proporciona, nem
pode subtraíla.
É o testemunho da consciência própria, transformada em
tabernáculo do Cristo vivo.
No instante divino dessa glorificação, deslumbrase
a alma ante as
perspectivas do Infinito. É que algo de estranho aconteceu aí dentro, na cripta
misteriosa do coração: o filho achou seu Pai em plena eternidade.
132 –
Fr ancisco Cândido Xavier
120
ZELO PRÓPRIO
“Olhai por vós mesmos, para que não percais o vosso
trabalho, mas antes recebais o inteiro galardão.”
(II JOÃO, 1: 8)
A natureza física, não obstante a deficiência de suas expressões em face da
grandeza espiritual da vida, fornece vasto repositório de lições, alusivas ao zelo
próprio.
A fim de que o Espírito receba o sagrado ensejo de aprender na Terra,
receberá um corpo equivalente a verdadeiro santuário, Os órgãos e os sentidos são as
suas potências; mas, semelhante tabernáculo não se ergueria sem as dedicações
maternas e, quando a criatura toma conta de si, gastará grande percentagem de
tempo na limpeza, conservação e defesa do templo de carne em que se manifesta.
Precisará cuidar da epiderme, da boca, dos olhos, das mãos, dos ouvidos.
Que acontecerá se algum departamento do corpo for esquecido?
Excrescências e sujidades trarão veneno à vida.
Se o quadro fisiológico, passageiro e mortal, exige tudo isso, que não
requer de nossa dedicação o Espírito com os seus valores eternos?
Se já recebeste alguma luz, desvelate
em não perdêla.
Intensificaa
em ti.
Lava os teus pensamentos em esforço diário, nas fontes do Cristo; corrige
os teus sentimentos, renova as aspirações colocandoas
na direção de Mais Alto.
Não te cristalizes.
Movimentate
no trabalho do zelo próprio, pois há “micróbios intangíveis”
que podem atacar a alma e paralisála
durante séculos.
133 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
121
ESPINHEIROS
“Nem se vindimam uvas dos abrolhos.”
Jesus (LUCAS, 6: 44)
O cristão é um combatente ativo.
Despertando no campo do Senhor, aturdeselhe
a visão com a amplitude e
complexidade do trabalho.
Dificuldades, tropeços, cipoais, ervas daninhas...
E o Evangelho, com propriedade de conceituação, elucida que não se pode
vindimar nos espinheiros.
Entretanto, teria Jesus assumido a paternidade de semelhante afirmativa
para que cruzemos os braços em falsa beatitude?
Se o terreno permanece absorvido pelos abrolhos, o discípulo recebeu
inúmeras ferramentas do Mestre dos mestres.
Indispensável, pois, enfrentar o serviço.
O Cristo encarou, face a face, o sacrifício pela Humanidade inteira.
Será a existência de alguns espinheiros a causa de nossos obstáculos
insuperáveis?
Não. Se hoje é impossível a vindima, ataquemos o chão duro. Lavremos o
solo árido. Adubemos com suor e lágrimas.
Haverá sempre chuvas fecundantes do Céu ou generosos mananciais da
Terra, abençoandonos
o esforço.
A Divina Providência reside em toda parte. Não olvidemos o imperativo do
trabalho e, depois, em lugar dos abrolhos, colheremos o fruto suave e doce da
videira.
134 –
Fr ancisco Cândido Xavier
122
FRUTOS
“Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.”
Jesus (MATEUS. 7: 20)
O mundo atual, em suas elevadas características de inteligência, reclama
frutos para examinar as sementes dos princípios.
O cristão, em razão disso, necessita aprender com a boa árvore que recebe
os elementos da Providência Divina, através da seiva, e converteos
em utilidades
para as criaturas.
Convém o esforço de autoanálise,
a fim de identificarmos a qualidade das
próprias ações.
Muitas palavras sonoras proporcionam simplesmente a impressão daquela
figueira condenada.
É indispensável conhecermos os frutos de nossa vida, de modo a saber se
beneficiam os nossos irmãos.
A vida terrestre representa oportunidade vastíssima, cheia de portas e
horizontes para a eterna luz.
Em seus círculos, pode o homem receber diariamente a seiva do Alto,
transformandoa
em frutos de natureza divina.
Indiscutivelmente, a atualidade reclama ensinos edificantes, mas nada
compreenderá sem demonstrações práticas, mesmo porque, desde a antigüidade,
considera a sabedoria que a realização mais difícil do homem, na esfera carnal, é
viver e morrer fiel ao supremo bem.
135 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
123
ESPERAR EM CRISTO
“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais
miseráveis de todos os homens.”
(I CORÍNTIOS, 15: 19)
O exame do versículo fornece ao estudioso explicações muito claras.
É natural confiar em Cristo e aguardar n’Ele, mas que dizer da angústia da
alma atormentada no círculo de cuidados terrestres, esperando egoisticamente que
Jesus lhe venha satisfazer os caprichos imediatos?
Seria razoável contar com o Senhor tãosó
nas expressões passageiras da
vida fragmentária?
É indispensável descobrir a grandeza do conceito de “vida”, sem confundilo
com “uma vida”.
Existir não é viajar da zona de infância, com escalas pela juventude,
madureza e velhice, até ao porto da morte; é participar da Criação pelo sentimento e
pelo raciocínio, é ser alguém e alguma coisa no concerto do Universo.
Na condição de encarnados, raros assuntos confundem tanto como os da
morte, interpretada erroneamente como sendo o fim daquilo que não pode
desaparecer.
É imprescindível, portanto, esperar em Cristo com a noção real da
eternidade. A filosofia do imediatísmo, na Terra, transforma os homens em crianças.
Não vos prendais à idade do corpo físico, às circunstâncias e condições
transitórias. Indagai da própria consciência se permaneceis com Jesus. E aguardai o
futuro, amando e realizando com o bem, convicto de que a esperança legítima não é
repouso e, sim, confiança no trabalho incessante
136 –
Fr ancisco Cândido Xavier
124
FIRMEZA DE FÉ
“E os que estão sobre a pedra, estes são os que, ouvindo
a palavra, recebemna
com alegria; mas, como não têm raiz,
apenas crêem por algum tempo, e, na época da tentação, se
desviam.”
Jesus (LUCAS, 8: 13)
A palavra “pedra”, entre nós, costuma simbolizar rigidez e impedimento;
no entanto, convém não esquecer que Jesus, de vez em quando, a ela recorria para
significar a firmeza. Pedro foi chamado pelo Mestre, certa vez, a “rocha viva da fé”.
O Evangelho de Lucas falanos
daqueles que estão sobre pedra, os quais
receberão a palavra com alegria, mas que, por ausência de raiz, caem, fatalmente, na
época das tentações.
Não são poucos os que estranham essa promessa de tentações, que, aliás,
devem ser consideradas como experiências imprescindíveis.
Na organização doméstica, os pais cuidarão excessivamente dos filhos, em
pequeninos, mas a demasia de ternura é imprópria no tempo em que necessitam
demonstrar o esforço de si mesmos.
O chefe de serviço ensinará os auxiliares novos com paciência e, depois,
exigirá, com justiça, expressões de trabalho próprio.
Reconhecemos, assim, pelo apontamento de Lucas, que nas experiências
religiosas não é aconselhável repousar alguém sobre a firmeza espiritual dos outros;
enquanto o imprevidente descansa em bases estranhas, provavelmente estará
tranqüilo, mas, se não possui raízes de segurança em si mesmo, desviarseá
nas
épocas difíceis, com a finalidade de procurar alicerces alheios.
Tudo convida o homem ao trabalho de seu aperfeiçoamento e iluminação.
Respeitemos a firmeza de fé, onde ela existir, mas não olvidemos a
edificação da nossa, para a vitória estável.
137 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
125
FILHOS E SERVOS
“Ora, o servo não fica para sempre na casa; o filho fica
para sempre.”
Jesus (JOÃO, 8: 35)
Na sua exemplificação, ensinounos
Jesus como alcançar o título de filiação
a Deus.
O trabalho ativo e incessante, o desprendimento dos interesses inferiores do
mundo, a perfeita submissão aos desígnios divinos, constituíram traços
fundamentais de suas lições na Terra.
Muitos homens, notáveis pela bondade, pelo caráter adamantino, sacerdotes
dignos e crentes sinceros, poderão ser dedicados servos do Altíssimo. Mas o Cristo
induziunos
a ser mais alguma coisa. Convidounos
a ser filhos, esclarecendo que
esses ficam “para sempre na casa”.
E os servos? Esses, muita vez, experimentam modificações. Nem sempre
permanecerão, ao lado do Pai.
Mas, não é a Terra igualmente uma dependência, ainda que humilde, da
casa de Deus? Aí palpita a essência da lição.
O Mestre aludiu aos servos como pessoas suscetíveis de vários interesses
próprios. Os filhos, todavia, possuem interesses em comum com o Pai. Os primeiros,
servindo a Deus e a si mesmos, porque como servidores aguardam remuneração,
podem sofrer ansiedades, aflições, delírios e dores ásperas. Os filhos, porém, estão
sempre “na casa”, isto é, permanecerão em paz, superiores às circunstâncias mais
duras, porquanto reconhecem, acima de tudo, que pertencem a Deus.
138 –
Fr ancisco Cândido Xavier
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ÍDOLOS
“Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos Ídolos.”
(ATOS, 15: 29)
Os ambientes religiosos não perceberam ainda toda a extensão do conceito
de idolatria.
Quando nos referimos a ídolos, tudo parece indicar exclusivamente as
imagens materializadas nos altares de pedra. Essa é, porém, a face mais singela do
problema.
Necessitam os homens exterminar, antes de tudo, outros ídolos mais
perigosos, que lhes perturbam a visão e o sentimento.
Demorase
a alma, muitas vezes, em adoração mentirosa.
Referese
o versículo às “coisas sacrificadas aos ídolos”, e o homem está
rodeado de coisas da vida.
Movimentandoas,
a criatura enriquece o patrimônio evolutivo. Ë
necessário, no entanto, diferenciar as que se encontram consagradas a Deus das
sacrificadas aos ídolos.
A ambição de alcançar os valores espirituais, de acordo com Jesus, chamase
virtude; o propósito de atingir vantagens transitórias no campo carnal, no plano da
inquietação injusta, chamase
insensatez.
Os “primeiros lugares”, que o Mestre nos recomendou evitemos,
representam Ídolos igualmente. Não consagrar, portanto, as coisas da vida e da alma
ao culto do imediatismo terrestre, é escapar de grosseira posição adorativa.
Quando te encontres, pois, preocupado com os insucessos e desgostos, no
círculo individual, não olvides que o Cristo, aceitando a cruz, ensinounos
o recurso
de eliminar a idolatria mantida em nosso caminho por nós mesmos.
139 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
127
ENQUANTO É DIA
“Convém que eu faça as obras d’Aquele que me enviou,
enquanto é dia.”
Jesus (JOÃO, 9: 4)
Sabemos que o labor divino do Mestre é incessante e efetuase
num dia
perene e resplandecente de oportunidades; no entanto, para gravarnos
no
entendimento o valor real da passagem na Terra, falanos
Jesus de sua conveniência
em aproveitar o ensejo do contacto direto com as criaturas.
Se semelhante atitude constitui motivo de preocupação para o Mestre, que
não dizer de nós mesmos, nos círculos carnais ou nas esferas que lhes são imediatas,
dentro das obrigações que nos competem na sagrada realização do bem eterno?
Cristo não se refere à necessidade de falar das obras de Deus, mas, sim, de
construílas
a seu tempo.
Não ignoramos que, sendo Ele o Enviado do Altíssimo no mundo, os
discípulos da Boa Nova são, a seu turno, os mensageiros do seu amor, nos mais
recônditos lugares do orbe terrestre. Os que vibram de coração voltado para o
Evangelho são, efetivamente, emissários da Divina Lição entre os companheiros da
vida material, onde quer que estejam, e bemaventurados
serão todos aqueles que
aproveitarem o dia generoso, realizando em si próprios e em derredor de seus passos
as obras santificadas d’Aquele que os enviou.
Jamais desdenhes, desse modo, a posição em que te encontrares. Busca
valorizála,
através de todos os meios ao teu alcance, a fim de que teu esforço seja
uma fonte de bênçãos para os outros e para teu próprio círculo. Nunca te esqueças de
aproveitar o tempo na aquisição de luz, enquanto é dia.
140 –
Fr ancisco Cândido Xavier
128
DÁDIVAS ESPIRITUAIS
“E, descendo eles do monte, J esus lhes ordenou,
dizendo: A ninguém conteis a visão, até que o Filho do homem
ressuscite dentre os mortos.”
(MATEUS, 17: 9)
Se o homem necessita de grande prudência nos atos da vida comum, maior
vigilância se exige da criatura, no trato com a esfera espiritual.
É o próprio Mestre Divino quem nolo
exemplifica.
Tendo conduzido Tiago, Pedro e João às maravilhosas revelações do Tabor,
onde se transfigurou ao olhar dos companheiros, junto de gloriosos emissários do
plano superior, recomenda solícito: “A ninguém conteis a visão, até que o Filho do
homem seja ressuscitado dos mortos.”
O Mestre não determinou a mentira, entretanto, aconselhou se guardasse a
verdade para ocasião oportuna.
Cada situação reclama certa cota de conhecimento.
Sabia Jesus que a narrativa prematura da sublime visão poderia despertar
incompreensões e sarcasmos nas conversações vulgares e ociosas.
Não esqueçamos que todos nós estamos marchando para Deus, salientandose,
porém, que os caminhos não são os mesmos para todos.
Se guardas contigo preciosa experiência espiritual, indubitavelmente
poderás usála,
todos os dias, utilizandoa
em doses apropriadas, a fim de auxiliares
a cada um dos que te cercam, na posição particularizada em que se encontram; mas
não barateies o que a esfera mais alta te concedeu, entregando a dádiva às
incompreensões criminosas, porque tudo o que se conquista do Céu é realização
intransferível.
141 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
129
ORIGEM DAS TENTAÇÕES
“Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado
pela sua própria concupiscência.”
(TIAGO, 1: 14)
Geralmente, ao surgirem grandes males, os participantes da queda imputam
a Deus a causa que lhes determinou o desastre. Lembramse,
tardiamente de que o
Pai é TodoPoderoso
e alegam que a tentação somente poderia ter vindo do Divino
Desígnio.
Sim, Deus é o Absoluto Amor e tanto é assim que os decaídos se
conservam de pé, contando com os eternos valores do tempo, amparados por suas
mãos compassivas As tentações, todavia, não procedem da Paternidade Celestial.
Seria, porventura, o estadista humano responsável pelos atos desrespeitosos
de quantos inquinam a lei por ele criada?
As referências do Apóstolo estão profundamente tocadas pela luz do céu.
“Cada um é tentado, quando atraído pela própria concupiscência.”
Examinemos particularmente ambos os substantivos “tentação” e
“concupiscência”. O primeiro exterioriza o segundo, que constitui o fundo viciado e
perverso da natureza humana primitivista. Ser tentado é ouvir a malícia própria, é
abrigar os inferiores alvitres de si mesmo, porquanto, ainda que o mal venha do
exterior, somente se concretiza e persevera se com ele afinamos, na intimidade do
coração.
Finalmente, destaquemos o verbo “atrair”. Verificaremos a extensão de
nossa inferioridade pela natureza das coisas e situações que nos atraem.
A observação de Tiago é roteiro certo para analisarmos a origem das
tentações.
Recordate
de que cada dia tem situações magnéticas específicas. Considera
a essência de tudo o que te atraiu no curso das horas e eliminarás os males próprios,
atendendo ao bem que Jesus deseja.
142 –
Fr ancisco Cândido Xavier
130
TRISTEZA
“Porque a tristeza, segundo Deus, opera arrependimento
para a salvação, o qual não traz pesar; mas a tristeza do mundo
gera a morte.”
Paulo (II CORÍNTIOS, 7: 10)
Conforme observamos na advertência de Paulo, há “uma tristeza segundo
Deus” e outra “segundo a Terra”. A primeira soluciona problemas atinentes à vida
verdadeira, a segunda é caminho para a morte, como símbolo de estagnação, no
desvio dos sentimentos.
Muita gente considera virtudes a lamentação incessante e o tédio
continuado. Encontramos os tristes pela ausência de dinheiro adequado aos
excessos; vemos os torturados que se lastimam pela impossibilidade de praticar o
mal; ouvimos os viciados na queixa doentia, incapazes do prazer de servir sem
aguilhões. Essa é a tristeza do mundo que prende o Espírito à teia de reencarnações
corretivas e perigosas.
Raros homens se tocam da “tristeza segundo Deus”. Muito poucos
contemplam a si próprios, considerando a extensão das falhas que lhes dizem
respeito, em marcha para a restauração da vida, no presente e no porvir. Quem
avança por esse caminho redentor, se chora jamais atinge o plano do soluço
enfermiço e da inutilidade, porque sabe reajustarse,
valendose
do tempo, a golpes
benditos de esforço para as novas edificações do destino.
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CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
131
HOMENS E ANJOS
“Enquanto os anjos, sendo maiores em força e poder,
não pronunciam contra eles juízo blasfemo diante do Senhor.”
(II PEDRO, 2: 11)
É lastimável observar o grande número de pessoas que estão sempre
dispostas a proferir sentenças blasfematórias, umas para com as outras. A leviandade
dominalhes
as conversações, a mesquinhez corrompelhes
as atividades nos mais
diversos setores da vida.
Exceção feita aos sinceros cultivadores da luz religiosa, quase todos os
homens se conservam à porta de situações ásperas em que o esforço difamatório lhes
envenena a vida. Alimentam antipatias injustas para com os irmãos de atividade
profissional, pelo próximo que lhes não aceita as idéias, pelos companheiros que se
não afinam com os seus princípios. E como a lei é de compensação e troca,
receberão dos colegas e dos vizinhos as mesmas vibrações destruidoras.
Guerras silenciosas, nesse sentido, têm, por vezes, secular duração.
Entretanto, o homem jactancioso está sempre rodeado pela ação benéfica de
Espíritos iluminados e generosos, que, quanto mais revestidos de poder divino, mais
se compadecem das fragilidades humanas, estendendolhes
mãos acolhedoras para o
caminho e jamais pronunciando juízos condenatórios diante do Senhor.
Toda vez que fores compelido a analisar os esforços alheios, recorda a
palavra de Pedro. Não te esqueças de que as entidades angélicas, mananciais vivos e
sublimes de força e poder, nunca enunciam sentenças acusatórias contra ti, diante de
Deus.
144 –
Fr ancisco Cândido Xavier
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SEMPRE ADIANTE
“Porque de quem alguém é vencido, do tal fazse
também escravo.”
(II PEDRO, 2: 19)
O Espírito encarnado, a fim de alcançar os altos objetivos da vida, precisa
reconhecer sua condição de aprendiz, extraindo o proveito de cada experiência, sem
escravizarse.
O dinheiro ou a necessidade material, a doença e a saúde do corpo são
condições educativas de imenso valor para os que saibam aproveitar o ensejo de
elevação em sua essência legitima.
Infelizmente, porém, de maneira geral, a criatura apenas reconhece
semelhantes verdades quando se abeira da transformação pela morte do corpo
terrestre.
Raras pessoas transitam de uma situação para outra com a dignidade
devida. Comumente, se um rico é transferido a lugar de escassez, dáse
a tão
extremas lamentações que acaba vencido, como servo miserável da mendicância; se
o pobre é conduzido a elevada posição financeira, não raro se transforma em
ordenador insensato, escravizandose
à extravagância e à tirania.
É imprescindível muito cuidado para que as posições transitórias não
paralisem os vôos da alma.
Guarda a retidão de consciência e atirate
ao trabalho edificante; então, a
teus olhos, toda situação representará oportunidade de atingir o “mais alto” e o
“mais além”.
145 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
133
HEGEMONIA DE JESUS
“Disselhes
Jesus: Em verdade, em verdade vos digo
que, antes que Abraão existisse, eu sou.”
(JOÃO, 8: 58)
É impossível localizar o Cristo na História, à maneira de qualquer
personalidade humana.
A divina revelação de que foi Emissário Excelso e o harmonioso conjunto
de seus exemplos e ensinos falam mais alto que a mensagem instável dos mais
elevados filósofos que visitaram o mundo.
Antes de Abraão, ou precedendo os grandes vultos da sabedoria e do amor
na História mundial, o Cristo já era o luminoso centro das realizações humanas. De
sua misericórdia partiram os missionários da luz que, lançados ao movimento da
evolução terrestre, cumpriram, mais ou menos bem, a tarefa redentora que lhes
competia entre as criaturas, antecedendo as eternas edificações do Evangelho.
A localização histórica de Jesus recorda a presença pessoal do Senhor da
Vinha. O Enviado de Deus, o Tutor Amoroso e Sábio, veio abrir caminhos novos e
estabelecer a luta Salvadora para que os homens reconheçam a condição de
eternidade que lhes é própria.
Os filósofos e amigos ilustres da Humanidade falaram às criaturas,
revelando em si uma luz refratada, como a do satélite que ilumina as noites terrenas;
os apelos desses embaixadores dignos e esclarecidos são formosos e edificantes;
todavia, nunca se furtam à mescla de sombras.
A vinda do Cristo, porém, é diversa. Em sua Presença Divina temos a fonte
da verdade positiva, o sol que resplandece.
146 –
Fr ancisco Cândido Xavier
134
BASTA POUCO
“Disselhe
J udas: Senhor, donde vem que te hás de
manifestar a nós e não ao mundo?”
(JOÃO, 14: 22)
Um dos fatos mais surpreendentes do Cristianismo é a posição escolhida
pelo Salvador, a fim de anunciar as verdades eternas.
Não aparece Jesus em decretos sensacionais, em troféus revolucionários ou
em situações de domínio.
Chega em paz à manjedoura simples, exemplifica o trabalho, conversa com
alguns homens obscuros de uma aldeola singela e, só com isso, prepara a
transformação da Humanidade inteira.
Para o mundo inferior, todavia, a pergunta de Tadeu ainda é de plena
atualidade.
As criaturas vulgares só entendem os que se impõem aos demais, ainda que,
para isso, sejam compelidas a ouvir sentenças tirânicas, proferidas em tribunas
sanguinolentas; apenas compreendem espetáculos que ferem a visão e gestos teatrais
dos que dominam por um dia para sofrerem amanhã o mesmo processo
transformador imposto ao mundo transitório ao qual se dirigem.
Jesus, todavia, falou à alma imortal. Por esse motivo, suas revelações nunca
morrem. Além disso provou não ser necessária a evidência social ou econômica para
o serviço de utilidade a Deus, demonstrando, ainda, não ser para isso indispensável a
cidade com as arregimentações e recursos faustosos. Bastarão os princípios
edificantes e simples, uma aldeota sem nome e alguns poucos amigos.
O portador da boavontade
sabe que foi esse o material com que o Cristo
iniciou a remodelação da vida terrestre.
147 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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O OURO INTRANSFERÍVEL
“Aconselhote
que de mim compres ouro provado no
fogo, para que te enriqueças.”
(APOCALIPSE, 8: 18)
Sempre vulgares as aquisições de custo fácil.
Nada difícil ao homem comum perseguir as possibilidades financeiras
aliciar interesses mesquinhos, inventar mil recursos para atingir os fins inferiores;
entretanto, os que adotam semelhante norma desconhecem o caráter sagrado do mais
humilde patrimônio que lhes vai às mãos, abusando da posse para sentiremse,
depois, mais empobrecidos que nunca.
A recomendação divina é suficientemente clara.
Para que um homem se enriqueça, deve adquirir o Ouro provado no fogo,
fortuna essa que procede das mãos generosas do Altíssimo.
Somente essa riqueza espiritual, adquirida nas situações de trabalho árduo,
de profunda compreensão, de vitória sobre si mesmo, de esforço incessante,
conferirá ao Espírito a posição de ascendência legítima, de bemestar
permanente,
além das transformações impostas pelo sepulcro, e apenas levará a efeito tão elevada
conquista após entregarse
totalmente ao Pai para a grandeza do Divino Serviço.
O homem mobilizado pelo homem poderá, sem dúvida, receber volumosos
salários.
Convenhamos, porém, que esses bens se transformam sempre ou algum dia
serão transferidos a outrem pelo detentor provisório. No entanto, quando o
trabalhador gasta suas possibilidades nos trabalhos do bem, com esquecimento do
egoísmo, desinteressado de si próprio, colocando acima dos caprichos da
personalidade os objetivos da Obra de Deus, lutando, amando, sofrendo e
entregandose
a Ele, adquire, indiscutivelmente, o ouro eterno e intransferível.
148 –
Fr ancisco Cândido Xavier
136
COISAS TERRESTRES E CELESTIAIS
“Se vos tenho falado de coisas terrestres, e não me
credes, como crereis se vos falar das celestiais?
Jesus (JOÃO, 3: 12)
No intercâmbio com o mundo espiritual, é freqüente a reclamação de certos
estudiosos, relativamente à ausência de informações das entidades comunicantes, no
que se refere às particularidades alusivas às atividades em que se movimentam.
Por que não se fazem mais explícitos os desencarnados quanto ao novo
gênero de vida a que foram chamados? Como serão suas cidades, suas casas, seus
processos de relações comuns? Através de que meios se organizam
hierarquicamente? Terão governos nos moldes terrestres?
Indagam outros, relativamente às razões pelas quais os cientistas libertos do
plano físico não voltam aos antigos centros de pesquisas e realizações, vulgarizando
métodos de cura para as chamadas moléstias incuráveis ou revelando invenções
novas que acelerem o progresso mundial.
São esses os argumentos apressados da preguiça humana.
Se os Espíritos comunicantes têm tratado quase que somente do material
existente em torno das próprias criaturas terrenas, num curso metódico de introdução
a tarefas mais altas e ainda não puderam ser integralmente ouvidos, que viria a
acontecer se olvidassem compromissos graves, dandose
ao gosto de comentários
prematuros?
É necessário compreenda o homem que Deus concede os auxílios;
entretanto, cada Espírito é obrigado a talhar a própria glória.
A grande tarefa do mundo espiritual, em seu mecanismo de relações com os
homens encarnados, não é a de trazer conhecimentos sensacionais e extemporâneos,
mas a de ensinar os homens a ler os sinais divinos que a vida terrestre contém em si
mesma, iluminandolhes
a marcha para a espiritualidade superior.
149 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
137
O BANQUETE DOS PUBLICANOS
“E os fariseus, vendo isto, disseram aos seus discípulos:
Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?”
(MATEUS, 9: 11)
De maneira geral, a comunidade cristã, em seus diversos setores, ainda não
percebeu toda a significação do banquete do Mestre, entre publicanos e pecadores.
Não só a última ceia com os discípulos mais íntimos se revestiu de singular
importância. Nessa reunião de Jerusalém, ocorrida na Páscoa, revelanos
Jesus o
caráter sublime de suas relações com os amigos de apostolado. Tratase
de ágape
íntimo e familiar, solenizando despedida afetuosa e divina lição ao mesmo tempo.
No entanto, é necessário recordar que o Mestre atendia a esse círculo em
derradeiro lugar, porquanto já se havia banqueteado carinhosamente com os
publicanos e pecadores. Partilhava a ceia com os discípulos, num dia de alta
vibração religiosa, mas comungara o júbilo daqueles que viviam a distância da fé,
reunindoos,
generoso, e conferindolhes
os mesmos bens nascidos de seu amor.
O banquete dos publicanos tem especial significado na história do
Cristianismo. Demonstra que o Senhor abraça a todos os que desejem a excelência
de sua alimentação espiritual nos trabalhos de sua vinha, e que não só nas ocasiões
de fé permanece presente entre os que o amam; em qualquer tempo e situação, está
pronto a atender as almas que o buscam.
O banquete dos pecadores foi oferecido antes da ceia aos discípulos. E não
nos esqueçamos de que a mesa divina prossegue em sublime serviço. Resta aos
comensais o aproveitamento da concessão.
150 –
Fr ancisco Cândido Xavier
138
PRETENSÕES
“Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o
crescimento.”
Paulo (I CORÍNTIOS, 3: 6)
A igreja de Corinto estava cheia de alegações dos discípulos inquietos.
Certos componentes da instituição imprimiam maior valor aos esforços de
Paulo, enquanto outros conferiam privilégios de edificação a Apolo.
O advogado dos gentios foi divinamente inspirado, comentando o assunto
em sua carta.
Por que pretensões individuais numa obra da qual somos todos
beneficiários do mesmo Senhor?
Na atualidade, é louvável o exame da recomendação de Paulo aos
Coríntios, porquanto já não são os usufrutuários da organização cristã que se
rejubilam pela recepção das bênçãos do Evangelho através desse ou daquele dos
trabalhadores do Cristo, mas os operários da causa que, por vezes, chegam ao campo
de serviço exibindose
por vultos destacados dessa ou daquela obra do bem.
A certeza de que “toda boa dádiva vem de Deus” constitui excelente
exercício para os trabalhos comuns.
É interessante observar como está sempre disposto o homem a se apropriar
de circunstâncias que o elevem no alheio conceito com facilidade. Sempre inclinado
a destacarse
nos círculos do bem que ainda lhe não pertence de modo substancial,
raramente assume a paternidade dos erros que comete. Essa é uma das singulares
contradições da criatura.
Não te esqueças. O serviço é de todos. Uns plantam, outros adubam. Vive
contente no setor de trabalho confiado às tuas mãos ou à tua inteligência e serve sem
pretensões, porque o homem prepara a terra e organiza a semeadura, por
misericórdia da Providência, mas é Deus quem põe as flores nas frondes e concede
os frutos, segundo o merecimento.
151 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
139
POR AMOR
“Cegoulhes
os olhos e endureceulhes
o coração, a fim
de que não vejam com os olhos e compreendam no coração e se
convertam e eu os cure.”
(JOÃO, 12: 40)
Os planos mais humildes da Natureza revelam a Providência Divina, em
soberana expressão de desvelo e amor.
Os lírios não tecem, as aves não guardam provisões e misteriosa força
fornecelhes
o necessário.
A observação sobre a vida dos animais demonstra os extremos de ternura
com que o Pai vela pela Criação desde o princípio: aqui, uma asa; acolá, um dente a
mais; ali, desconhecido poder de defesa.
Afirmase
a grande revelação de amor em tudo.
No entanto, quando o Pai convoca os filhos à cooperação nas suas obras, eis
que muita vez se salientam os ingratos, que convertem os favores recebidos, não em
deveres nobres e construtivos, mas em novas exigências; então, fazse
preciso que o
coração se lhes endureça cada vez mais, porque, fora do equilíbrio, encontrarão o
sofrimento na restauração indispensável das leis externas desse mesmo amor divino.
Quando nada enxergam além dos aspectos materiais da paisagem transitória,
sobrevém, inopinadamente, a luta depuradora.
É quando Jesus chega e opera a cura.
Só então torna o ingrato à compreensão da Magnanimidade Divina.
O amor equilibra, a dor restaura. É por isso que ouvimos muitas vezes:
“Nunca teria acreditado em Deus se não houvesse sofrido.”
152 –
Fr ancisco Cândido Xavier
140
PARA OS MONTES
“Então, os que estiverem na J udéia, fujam para os
montes.”
Jesus (MATEUS, 24: 16)
Referindose
aos instantes dolorosos que assinalariam a renovação
planetária, aconselhou o Mestre aos que estivessem na Judéia procurar os montes. A
advertência é profunda, porque, pelo termo “Judéia”, devemos tomar a “região
espiritual” de quantos, pelas aspirações íntimas, se aproximem do Mestre para a
suprema iluminação.
E a atualidade da Terra é dos mais fortes quadros nesse gênero. Em todos
os recantos, estabelecemse
lutas e ruínas. Venenos mortíferos são inoculados pela
política inconsciente nas massas populares. A baixada está repleta de nevoeiros
tremendos. Os lugares santos permanecem cheios de trevas abomináveis. Alguns
homens caminham ao sinistro clarão de incêndios. Adubase
o chão com sangue e
lágrimas, para a semeadura do porvir.
É chegado o instante de se retirarem os que permanecem na Judéia para os
“montes” das idéias superiores. É indispensável manterse
o discípulo do bem nas
alturas espirituais, sem abandonar a cooperação elevada que o Senhor exemplificou
na Terra; que aí consolide a sua posição de colaborador fiel, invencível na paz e na
esperança, convicto de que, após a passagem dos homens da perturbação, portadores
de destroços e lágrimas, são os filhos do trabalho que semeiam a alegria, de novo, e
reconstroem o edifício da vida.
153 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
141
PIOR PARA ELES
“Então começou a dizerlhes:
Hoje se cumpriu esta
Escritura em vossos ouvidos.”
(LUCAS, 4: 21)
Tomando lugar junto dos habitantes de Nazaré, exclamou Jesus, após ler
algumas promessas de Isaias: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos.”
Os agrupamentos religiosos são procurados, quase sempre, por
investigadores curiosos que, à primeira vista, parecem vagabundos itinerantes;
todavia, é forçoso reconhecer que há sempre ascendentes espirituais compelindolhes
o espírito ao exame e à consulta; eles próprios não saberiam definir essa
convocação sutil e silenciosa que os obriga a ouvir, por vezes, grandes preleções,
longas palestras, exposições e elucidações que, aparentemente, não os interessam.
Em várias circunstâncias, afirmam tolerar o assunto, em vista do código de
gentileza e do respeito mútuo; entretanto, não é assim. Existe algo mais forte, além
das boas maneiras que os compelem a ouvir.
É que soou o momento da revelação espiritual para eles.
Muitos continuam indiferentes, irônicos, recalcitrantes, mas a
responsabilidade do conhecimento já lhes pesa nos ombros e, se pudessem sentir a
verdade com mais clareza, albergariam a carinhosa admoestação do Mestre no
íntimo da alma: “Hoje se cumpre esta Escritura em vossos ouvidos.”
A misericórdia foi dispensada. Deu Jesus alguma coisa de sua bondade
infinita. Cumpriuse
a divina palavra. Se os interessados não se beneficiarem com
ela, pior para eles.
154 –
Fr ancisco Cândido Xavier
142
UM SÓ SENHOR
“Nenhum servo pode servir a dois senhores.”
Jesus (LUCAS, 16: 13)
Se os cristãos de todos os tempos encontraram dolorosas situações de
perplexidade nas estradas do mundo, é que, depois dos apóstolos e dos mártires, a
maioria tem cooperado na divulgação de falsos sentimentos, com respeito ao Senhor
a que devem servir.
Como o Reino do Cristo ainda não é da Terra, não se pode satisfazer a
Jesus e ao mundo, a um só tempo. O vício e o dever não se aliam na marcha diária.
Que dizer de um homem que pretenda dirigir dois centros de atividade antagônica,
em simultâneo esforço?
Cristo é a linha central de nossas cogitações.
Ele é o Senhor único, depois de Deus, para os filhos da Terra, com direitos
inalienáveis, porquanto é a nossa luz do primeiro dia evolutivo e adquiriunos
para a
redenção com os sacrifícios de seu amor.
Somos servos d’Ele. Precisamos atenderlhe
aos interesses sublimes, com
humildade. E, para isso, é necessário não fugir do mundo, nem das
responsabilidades que nos cercam, mas, sim, transformar a parte de serviço confiada
ao nosso esforço, nos círculos de luta, em célula de trabalho do Cristo.
A tarefa primordial do discípulo é, portanto, compreender o caráter
transitório da existência carnal, consagrarse
ao Mestre como centro da vida e
oferecer aos semelhantes os seus divinos benefícios.
155 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
143
LEGIÃO DO MAL
“E perguntoulhe:
Qual é o teu nome? — Ao que ele
respondeu: Legião é o meu nome, porque somos muitos.”
(MARCOS, 5: 9)
O Mestre legou inolvidável lição aos discípulos nesta passagem dos
Evangelhos.
Dispensador do bem e da paz, aproximase
Jesus do Espírito perverso que o
recebe em desesperação.
O Cristo não se impacienta e indaga carinhosamente de seu nome,
respondendolhe
o interpelado: “Chamome
Legião, porque somos muitos.”
Os aprendizes que o seguiam não souberam interpretar a cena, em toda a
sua expressão simbólica.
E até hoje perguntase
pelo conteúdo da ocorrência com justificável
estranheza.
É que o Senhor desejava transmitir imortal ensinamento aos companheiros
de tarefa redentora.
A frente do Espírito delinqüente e perturbado, Ele era apenas um; o
interlocutor, entretanto, denominavase
“Legião”, representava maioria esmagadora,
personificava a massa vastíssima das intenções inferiores e criminosas. Revelava o
Mestre que, por indeterminado tempo, o bem estaria em proporção diminuta
comparado ao mal em aludes arrasadores.
Se te encontras, pois, a serviço do Cristo na Terra, não te esqueças de
perseverar no bem, dentro de todas as horas da vida, convicto de que o mal se faz
sentir em derredor, à maneira de legião ameaçadora, exigindo funda serenidade e
grande confiança no Cristo, com trabalho e vigilância, até à vitória final.
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Fr ancisco Cândido Xavier
144
QUE TEMOS COM O CRISTO?
“Ah! Que temos contigo, J esus Nazareno? Vieste
destruirnos?
Bem sei quem és: o Santo de Deus.”
(MARCOS, 1: 24)
Grande erro supor que o Divino Mestre houvesse terminado o serviço ativo,
no Calvário.
Jesus continua caminhando em todas as direções do mundo; seu Evangelho
redentor vai triunfando, palmo a palmo, no terreno dos corações.
Semelhante circunstância deve ser lembrada porque também os Espíritos
maléficos tentam repelir o Senhor diariamente.
Referese
o evangelista a entidades perversas que se assenhoreavam do
corpo da criatura.
Entretanto, essas inteligências infernais prosseguem dominando vastos
organismos do mundo.
Na edificação da política, erguida para manter os princípios da ordem
divina, surgem sob os nomes de discórdia e tirania; no comércio, formado para
estabelecer a fraternidade, aparecem com os apelidos de ambição e egoísmo; nas
religiões e nas ciências, organizações sagradas do progresso universal, acodem pelas
denominações de orgulho, vaidade, dogmatismo e intolerância sectária.
Não somente o corpo da criatura humana padece a obsessão de Espíritos
perversos. Os agrupamentos e instituições dos homens sofrem muito mais.
E quando Jesus se aproxima, através do Evangelho, pessoas e organizações
indagam com pressa: “Que temos com o Cristo? Que temos a ver com a vida
espiritual?”
É preciso permanecer vigilante à frente de tais sutilezas, porquanto o
adversário vai penetrando também os círculos do Espiritismo evangélico, vestido
nas túnicas brilhantes da falsa ciência.
157 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
145
DOUTRINAÇÕES
“Mas não vos alegreis porque se vos sujeitem os
espíritos; alegraivos,
antes, por estarem os vossos nomes escritos
nos céus.”
Jesus (LUCAS, 10: 20)
Freqüentemente encontramos novos discípulos do Evangelho exultando de
contentamento, porque os Espíritos perturbados se lhes sujeitam.
Narram, com alegria, os resultados de sessões empolgantes, nas quais
doutrinaram, com êxito, entidades muita vez ignorantes e perversas.
Perdemse
muitos no emaranhado desses deslumbramentos e tocam a
multiplicar os chamados “trabalhos práticos”, sequiosos por orientar, em contactos
mais diretos, os amigos inconscientes ou infelizes dos planos imediatos à esfera
carnal.
Recomendou Jesus o remédio adequado a situações semelhantes, em que os
aprendizes, quase sempre interessados em ensinar os outros, esquecem, pouco a
pouco, de aprender em proveito próprio.
Que os doutrinadores sinceros se rejubilem, não por submeterem criaturas
desencarnadas, em desespero, convictos de que em tais circunstâncias o bem é
ministrado, não propriamente por eles, em sua feição humana, mas por emissários de
Jesus, caridosos e solícitos, que os utilizam à maneira de canais para a Misericórdia
Divina; que esse regozijo nasça da oportunidade de servir ao bem, de consciência
sintonizada com o Mestre Divino, entre as certezas doces da fé, solidamente
guardada no coração.
A palavra do Mestre aos companheiros é muito expressiva e pode
beneficiar amplamente os discípulos inquietos de hoje.
158 –
Fr ancisco Cândido Xavier
146
NO TRATO COM O INVISÍVEL
“E, chamandoos
a si, disselhes
por parábolas: Como
pode Satanás expulsar Satanás?”
(MARCOS, 3: 23)
Esta passagem do Evangelho é sumamente esclarecedora para os
companheiros da atualidade que, nas tarefas do Espiritismo cristão, se esforçam por
auxiliar desencarnados infelizes a se equilibrarem no caminho redentor.
Ninguém aguarde êxito imediato, ao procurar amparar os que se perderam
na desorientação.
É impossível dispensar a colaboração do tempo para que se esclareçam as
personagens das tragédias humanas e, segundo sabemos, nem mesmo os apóstolos
conseguiram, de pronto, convencer as entidades perturbadas, quanto ao realismo de
sua perigosa situação. Todavia, sem atitudes esterilizantes, muito pode fazer o
discípulo no setor dessas atividades iluminativas. Na atualidade, companheiros
devotados ao serviço ainda sofrem a perseguição dos adversários da luz, que lhes
atribuem sombrio pacto com poderes perversos. O sectarismo religioso cognominaos
sequazes de Satanás, impondolhes
torturas e humilhações.
No entanto, as mesmas objurgatórias e recriminações descabidas foram
atiradas ao Mestre Divino pelo sacerdócio organizado de seu tempo. Atendendo aos
enfermos e obsidiados, entregues a destrutivas forças da sombra, recebeu Jesus o
título de feiticeiro, filho de Belzebu. Isso constitui significativa recordação que,
naturalmente, infundirá muito conforto aos discípulos novos.
159 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
147
UM DESAFIO
“E agora por que te deténs?”
(ATOS, 22: 16)
Relatando à multidão sua inesquecível experiência às portas de Damasco, o
Apóstolo dos gentios conta que, em face da perplexidade que o defrontara,
perguntoulhe
Ananias, em advertência fraterna:
“E agora por que te deténs?”
A interrogação merece meditada por todos os que já receberam convites,
apelos, dádivas ou socorros do plano espiritual.
Inumeráveis beneficiários do Evangelho prendemse
a obstáculos de toda
sorte na província nebulosa da queixa.
Se felicitados pela luz da fé, lastimam não haver conhecido a verdade na
juventude ou nos dias de abastança; contudo, na idade madura ou na dificuldade
material, sustentam as mesmas tendências inferiores Nas palavras, exteriorizam
sempre grande boavontade;
entretanto, quando chamados ao serviço ativo,
queixamse
imediatamente da falta de dinheiro, de saúde, de tempo, de forças.
São operários contraditórios que, ao tempo do equilíbrio orgânico, exigem
repouso e, na época de enfermidade corporal, alegam saudades do serviço.
É indispensável combater essas expressões destrutivas da personalidade.
Em qualquer posição e em qualquer tempo, estamos cercados pelas
possibilidades de serviço com o Salvador. E, para todos nós, que recebemos as
dádivas divinas, de mil modos diversos, foi pronunciado o sublime desafio: “E agora
por que te deténs?”
160 –
Fr ancisco Cândido Xavier
148
CUIDADO DE SI
“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina: persevera
nestas coisas; porque, fazendo Isto, te salvarás, tanto a ti mesmo
como aos que te ouvem.”
Paulo (I TIMÓTEO, 4: 16)
Em toda parte há pelotões do exército dos pessimistas, de braços cruzados,
em desalento.
Não compreendem o trabalho e a confiança, a serenidade e a fé viva, e
costumam adotar frases de grande efeito, condenando situações e criaturas.
Às vezes, esses soldados negativos são pessoas que assumiram a
responsabilidade de orientar.
Todavia, embora a importância de suas atribuições, permanecem
enganados.
As dificuldades terrestres efetivamente são enormes e os seus obstáculos
reclamam grande esforço das almas nobres em trânsito no planeta, mas é
imprescindível não perder cada discípulo o cuidado consigo próprio. É indispensável
vigiar o campo interno, valorizar as disciplinas e aceitálas,
bem como examinar as
necessidades do coração. Esse procedimento conduz o espírito a horizontes mais
vastos, efetuando imensa amplitude de compreensão, dentro da qual abrigamos, no
íntimo, santo respeito por todos os círculos evolutivos, dilatando, assim, o
patrimônio da esperança construtiva e do otimismo renovador.
Ter cuidado consigo mesmo é trabalhar na salvação própria e na redenção
alheia. Esse o caminho lógico para a aquisição de valores eternos.
Circunscreverse
o aprendiz aos excessos teóricos, furtandose
às
edificações do serviço, é descansar nas margens do trabalho, situandose,
pouco a
pouco, no terreno ingrato da critica satânica sobre o que não foi objeto de sua
atenção e de sua experiência.
161 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
149
PROPRIEDADE
“E o mancebo, ouvindo esta palavra, retirouse
triste,
porque possuía muitas propriedades
.”
(MATEUS, 19: 22)
O instinto de propriedade tem provocado grandes revoluções,
ensangüentando os povos. Nas mais diversas regiões do planeta respiram homens
inquietos pela posse material, ciosos de suas expressões temporárias e dispostos a
morrer em sua defesa.
Isso demonstra que o homem ainda não aprendeu a possuir.
Com esta argumentação, não desejamos induzir a criatura a esquecer a
formiga previdente, adotando por modelo a cigarra descuidosa. Apenas convidamos,
a quem nos lê, a examinar a precariedade das posses efêmeras.
Cada conquista terrestre deveria ser aproveitada pela alma, como força de
elevação.
O homem ganhará impulso santificante, compreendendo que só possui
verdadeiramente aquilo que se encontra dentro dele, no conteúdo espiritual de sua
vida. Tudo o que se relaciona com o exterior — como sejam: criaturas, paisagens e
bens transitórios — pertence a Deus, que lhos concederá de acordo com os seus
méritos.
Essa realidade sentida e vivida constitui brilhante luz no caminho,
ensinando ao discípulo a sublime lei do uso, para que a propriedade não represente
fonte de inquietações e tristeza, como aconteceu ao jovem dos ensinamentos de
Jesus.
162 –
Fr ancisco Cândido Xavier
150
AGUILHÕES
“Duro é para ti recalcitrar contra o aguilhão.”
Jesus (ATOS, 9: 5)
O caminho evolutivo está sempre repleto de aguilhões.
De outro modo, não enxergaríamos a porta redentora.
Entregase
Deus aos filhos da Criação inteira, reparte com todos os tesouros
de seu amor infinito, estimulaos
a se elevarem, através de mil modos diferentes;
entretanto, existem círculos numerosos como a Terra, em que as criaturas não se
apercebem dessas realidades gloriosas e paralisam a marcha, dormindo no leito da
ilusão.
Perante tal inércia, os mensageiros da Providência, aos quais se confiou a
tarefa de iluminação dos que estacionam na sombra, promovem recursos para que se
verifique o despertar.
Cientes de que Deus dá tudo — a vida, os caminhos, os bens infinitos, os
gênios inspiradores e só pede às criaturas se lhe dirijam aos braços paternais —
esses divinos emissários organizam os aguilhões, por amor aos seus tutelados.
Nesse programa, criou Jesus os mais nobres incitamentos, para a esfera
terrestre. A riqueza e a pobreza, a fealdade e a formosura, o sofrimento e a luta são
aguilhões ou oportunidades instituídos pelo Cristo, a benefício dos homens.
Cada existência e cada pessoa tem a sua dificuldade particular,
simbolizando ensejo bendito.
Analisa a tua vida, situa teus aguilhões e não te voltes contra eles.
Se um espírito da grandeza de Paulo de Tarso não podia recalcitrar, imagina
o que se pedirá do nosso esforço.
163 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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MOCIDADE
“Foge também dos desejos da mocidade; e segue a
justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro,
invocam o Senhor.”
Paulo (II TIMÓTEO, 2: 22)
Quase sempre os que se dirigem à mocidade lhe atribuem tamanhos poderes
que os jovens terminam em franca desorientação, enganados e distraídos. Costumase
esperar deles a salvaguarda de tudo.
Concordamos com as suas vastas possibilidades, mas não podemos
esquecer que essa fase da existência terrestre é a que apresenta maior número de
necessidades no capítulo da direção.
O moço poderá e fará muito se o espírito envelhecido na experiência não o
desamparar no trabalho.
Nada de novo conseguirá erigir, caso não se valha dos esforços que lhe
precederam as atividades. Em tudo, dependerá de seus antecessores.
A juventude pode ser comparada a esperançosa saída de um barco para
viagem importante. A infância foi a preparação, a velhice será a chegada ao porto.
Todas as fases requisitam as lições dos marinheiros experientes, aprendendose
a
organizar e a terminar a viagem com o êxito desejável.
É indispensável amparar convenientemente a mentalidade juvenil e que
ninguém lhe ofereça perspectivas de domínio ilusório.
Nem sempre os desejos dos mais moços constituem o índice da segurança
no futuro.
A mocidade poderá fazer muito, mas que siga, em tudo, “a justiça, a fé, o
amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor”.
164 –
Fr ancisco Cândido Xavier
152
CIÊNCIA E AMOR
“A ciência incha, mas o amor edifica.”
Paulo. (I CORÍNTIOS, 8: 1)
A ciência pode estar cheia de poder, mas só o amor beneficia. A ciência, em
todas as épocas, conseguiu inúmeras expressões evolutivas. Vemola
no mundo,
exibindo realizações que pareciam quase inatingíveis. Máquinas enormes cruzam os
ares e o fundo dos oceanos. A palavra é transmitida, sem fios, a longas distâncias. A
imprensa difunde raciocínios mundiais. Mas, para essa mesma ciência pouco
importa que o homem lhe use os frutos para o bem ou para o mal. Não compreende
o desinteresse, nem as finalidades santas.
O amor, porém, aproximase
de seus labores e retificaos,
conferindolhe
a
consciência do bem. Ensina que cada máquina deve servir como utilidade divina, no
caminho dos homens para Deus, que somente se deveria transmitir a palavra
edificante como dádiva do Altíssimo, que apenas seria justa a publicação dos
raciocínios elevados para o esforço redentor das criaturas.
Se a ciência descobre explosivos, esclarece o amor quanto à utilização deles
na abertura de estradas que liguem os povos; se a primeira confecciona um livro,
ensina o segundo como gravar a verdade consoladora. A ciência pode concretizar
muitas obras úteis, mas só o amor institui as obras mais altas. Não duvidamos de que
a primeira, bem interpretada, possa dotar o homem de um coração corajoso;
entretanto, somente o segundo pode dar um coração iluminado.
O mundo permanece em obscuridade e sofrimento, porque a ciência foi
assalariada pelo ódio, que aniquila e perverte, e só alcançará o porto de segurança
quando se render plenamente ao amor de Jesus Cristo.
165 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
153
PASSES
“E rogavalhe
muito, dizendo: Minha filha está
moribunda; rogote
que venhas e lhe imponhas as mãos para
que sare, e viva.”
(MARCOS, 5: 23)
Jesus impunha as mãos nos enfermos e transmitialhes
os bens da saúde.
Seu amoroso poder conhecia os menores desequilíbrios da Natureza e os recursos
para restaurar a harmonia indispensável.
Nenhum ato do Divino Mestre é destituído de significação. Reconhecendo
essa verdade, os apóstolos passaram a impor as mãos fraternas em nome do Senhor e
tornavamse
instrumentos da Divina Misericórdia.
Atualmente, no Cristianismo redivivo, temos, de novo, o movimento
socorrista do plano invisível, através da imposição das mãos. Os passes, como
transfusões de forças psíquicas, em que preciosas energias espirituais fluem dos
mensageiros do Cristo para os doadores e beneficiários, representam a continuidade
do esforço do Mestre para atenuar os sofrimentos do mundo.
Seria audácia por parte dos discípulos novos a expectativa de resultados tão
sublimes quanto os obtidos por Jesus junto aos paralíticos, perturbados e
agonizantes.
O Mestre sabe, enquanto nós outros estamos aprendendo a conhecer. É
necessário, contudo, não desprezarlhe
a lição, continuando, por nossa vez, a obra de
amor, através das mãos fraternas.
Onde exista sincera atitude mental do bem, pode estenderse
o serviço
providencial de Jesus.
Não importa a fórmula exterior. Cumprenos
reconhecer que o bem pode e
deve ser ministrado em seu nome.
166 –
Fr ancisco Cândido Xavier
154
RENUNCIAR
“E todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs,
pai, mãe, mulher, filhos ou terras, por amor do meu nome,
receberá cem vezes tanto e herdará a vida eterna.”
Jesus (MATEUS, 19: 29)
Neste versículo do Evangelho de Mateus, o Mestre Divino nos induz ao
dever de renunciar aos bens do mundo para alcançar a vida eterna. Há necessidade,
proclama o Messias, de abandonar pai e mãe, mulher e irmãos do mundo. No
entanto, é necessário esclarecer como renunciar.
Jesus explica que o êxito pertencerá aos que assim procederem por amor de
seu nome.
A primeira vista, o alvitre divino parece contrasenso.
Como olvidar os sagrados deveres da existência, se o Cristo veio até nós
para santificálos?
Os discípulos precipitados não souberam atingir o sentido do texto, nos
tempos mais antigos.
Numerosos irmãos de ideal recolheramse
à sombra do claustro,
esquecendo obrigações superiores e inadiáveis.
Fácil, porém, reconhecer como o Cristo renunciou.
Aos companheiros que o abandonaram aparece, glorioso, na ressurreição.
Não obstante as hesitações dos amigos, divide com eles, no cenáculo, os júbilos
eternos. Aos homens ingratos que o crucificaram oferece sublime roteiro de salvação
com o Evangelho e nunca se descuidou um minuto das criaturas.
Observemos, portanto, o que representa renunciar por amor ao Cristo. É
perder as esperanças da Terra, conquistando as do Céu.
Se os pais são incompreensíveis, se a companheira é ingrata, se os irmãos
parecem cruéis, é preciso renunciar à alegria de têlos
melhores ou perfeitos, unindonos,
ainda mais, a eles todos, a fim de trabalhar no aperfeiçoamento com Jesus.
Acaso, não encontras compreensão no lar? Os amigos e irmãos são
indiferentes e rudes?
Permanece ao lado deles, mesmo assim, esperando para mais tarde o júbilo
de encontrar os que se afinam perfeitamente contigo. Somente desse modo
renunciarás aos teus, fazendolhes
todo o bem por dedicação ao Mestre, e, somente
com semelhante renúncia, alcançarás a vida eterna.
167 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
155
ENTRE OS CRISTÃOS
“Mas entre vós não será assim.”
Jesus (MARCOS, 10: 43)
Desde as eras mais remotas, trabalham os agrupamentos religiosos pela
obtenção dos favores celestes.
Nos tempos mais antigos, recordavase
da Providência tãosó
nas ocasiões
dolorosas e graves. Os crentes ofereciam sacrifícios pela felicidade doméstica,
quando a enfermidade lhes invadia a casa; as multidões edificavam templos, em
surgindo calamidades públicas.
Deus era compreendido apenas através dos dias felizes.
A tempestade purificadora pertencia aos gênios perversos.
Cristo, porém, inaugurou uma nova época. A humildade foi o seu caminho,
o amor e o trabalho o seu exemplo, o martírio a sua palma de vitória. Deixou a
compreensão de que, entre os seus discípulos, o princípio de fé jamais será o da
conquista fácil de favores do céu, mas o de esforço ativo pela iluminação própria e
pela execução dos desígnios de Deus, através das horas calmas ou tempestuosas da
vida.
A maior lição do Mestre dos Mestres é a de que ao invés de formularmos
votos e sacrifícios convencionais, promessas e ações mecânicas, como a escapar dos
deveres que nos competem, constituinos
obrigação primária entregarmonos,
humildes, aos sábios imperativos da Providência, submetendonos
à vontade justa e
misericordiosa de Deus, para que sejamos aprimorados em suas mãos.
168 –
Fr ancisco Cândido Xavier
156
INTUIÇÃO
“Porque a profecia jamais foi produzida por vontade de
homem algum, mas os homens santos de Deus falaram
inspirados pelo Espírito Santo.”
(II PEDRO, 1: 21)
Todos os homens participam dos poderes da intuição, no divino tabernáculo
da consciência, e todos podem desenvolver suas possibilidades nesse sentido, no
domínio da elevação espiritual.
Não são fundamentalmente necessárias as grandes manifestações
fenomênicas da mediunidade para que se estabeleçam movimentos de intercâmbio
entre os planos visível e invisível.
Todas as noções que dignificam a vida humana vieram da esfera superior. E
essas idéias nobilitantes não se produziram por vontade de homem algum, porque os
raciocínios propriamente terrestres sempre se inclinam para a materialidade em seu
arraigado egoísmo.
A revelação divina, significando o que a Humanidade possui de melhor, é
cooperação da espiritualidade sublime, trazida às criaturas pelos colaboradores de
Jesus, através da exemplificação, dos atos e das palavras dos homens retos que, a
golpes de esforço próprio, quebram o círculo de vulgaridades que os rodeia,
tornandose
instrumentos de renovação necessária.
A faculdade intuitiva é instituição universal. Através de seus recursos,
recebe o homem terrestre as vibrações da vida mais alta, em contribuições religiosas,
filosóficas, artísticas e científicas, ampliando conquistas sentimentais e culturais,
colaboração essa que se verifica sempre, não pela vontade da criatura, mas pela
concessão de Deus.
169 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
157
FAZE ISSO E VIVERÁS
“E disselhe:
Respondeste bem; faze isso, e viverás.”
(LUCAS, 10: 28)
O caso daquele doutor da Lei que interpelou o Mestre a respeito do que lhe
competia fazer para herdar a vida eterna, revestese
de grande interesse para quantos
procuram a bênção do Cristo.
A palavra de Lucas é altamente elucidativa.
Não se surpreende Jesus com a pergunta, e, conhecendo a elevada condição
intelectual do consulente, indaga acerca da sua concepção da Lei e fálo
sentir que a
resposta à interrogação já se achava nele mesmo, insculpida na tábua mental de seus
conhecimentos.
Respondeste bem, diz o Mestre. E acrescenta: Faze isso, e viverás.
Semelhante afirmação destacase
singularmente, porque o Cristo se dirigia
a um homem em plena força de ação vital, declarando entretanto: Faze isso, e
viverás.
É que o viver não se circunscreve ao movimento do corpo, nem à exibição
de certos títulos convencionais.
Estendese
a vida a esferas mais altas, a Outros campos de realização
superior com a espiritualidade sublime.
A mesma cena evangélica diariamente se repete em muitos setores. Grande
número de aprendizes, plenamente integrados no conhecimento do dever que lhes
compete, tocam a pedir orientação dos Mensageiros Divinos, quanto à melhor
maneira de agir na Terra... a resposta, porém, está neles mesmos, em seus corações
que temem a responsabilidade, a decisão e o serviço áspero...
Se já foste banhado pela claridade da fé viva, se foste beneficiado pelos
princípios da salvação, executa o que aprendeste do nosso Divino Mestre: Faze isso,
e viverás.
170 –
Fr ancisco Cândido Xavier
158
BATISMO
“E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus.”
ATOS, 19: 5)
Nos vários departamentos da atividade cristã, em todos os tempos, surgem
controvérsias relativamente aos problemas do batismo na fé.
O sacerdócio criou, para isso, cerimoniais e sacramentos. Há batismos de
recémnatos,
na Igreja Romana; em outros centros evangélicos, há batismo de
pessoas adultas. No entanto, o crente poderia analisar devidamente o assunto,
extraindo melhores ilações com a ascendência da lógica. A renovação espiritual não
se verificará tãosó
com o fato de se aplicar mais água ou menos água ou com a
circunstância de processarse
a solenidade exterior nessa ou naquela idade física do
candidato.
Determinadas cerimônias materiais, nesse sentido, eram compreensíveis nas
épocas recuadas em que foram empregadas.
Sabemos que o curso primário, na instrução infantil, necessita de
colaboração de figuras para que a memória da criança atravesse os umbrais do
conhecimento.
O Evangelho, porém, nas suas luzes ocultas, faz imensa claridade sobre a
questão do batismo.
“E os que ouviram foram batizados em nome de Jesus.”
Aí reside a sublime verdade. A bendita renovação da alma pertence àqueles
que ouviram os ensinamentos do Mestre Divino, exercitandolhes
a prática. Muitos
recebem notícias do Evangelho, todos os dias, mas somente os que ouvem estarão
transformados.
171 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
159
A QUEM SEGUES?
“Mas vós não aprendestes assim a Cristo.”
Paulo (EFÉSIOS, 4: 20)
O homem, como é natural, encontrará diversas sugestões no caminho. Não
somente do plano material receberá certos alvitres tendentes a desviálo
das
realizações mais nobres. A esfera invisível, imediata ao circulo de suas cogitações,
igualmente pode oferecerlhe
determinadas perspectivas que se não coadunam com
os deveres elevados que a existência implica em si mesma.
Na consideração desse problema, os discípulos sinceros compreendem a
necessidade de sua centralização em Jesus Cristo.
Quando esse imperativo é esquecido, as maiores perturbações podem
ocorrer.
O aprendiz menos centralizado nos ensinos do Mestre acredita que pode
servir a dois senhores e, por vezes, chega a admitir que é possível atender a todos os
desvairamentos dos sentidos, sem prejudicar a paz de sua alma. Justificamse,
para
isso, em doutrinas novas, filhas das novidades científicas do século; valemse
de
certos filósofos improvisados que conferem demasiado valor aos instintos; mas,
chegados a esse ponto, preparemse
para os grandes fracassos porque a necessidade
de edificação espiritual permanece viva e cada vez mais imperiosa. Poderão recorrer
aos conceitos dos pretensos sábios do mundo, entretanto, Jesus não ensinou assim.
172 –
Fr ancisco Cândido Xavier
160
O VARÃO DA MACEDÔNIA
“E Paulo teve de noite uma visão em que se apresentou,
em pé, um varão da Macedônia e lhe rogou: Passa à Macedônia
e ajudanos!”
(ATOS, 16: 9)
Além das atividades diárias na vida de relação, participam os homens de
vasto movimento espiritual, cujas fases de intercâmbio nem sempre podem ser
registradas pela memória vulgar.
Não só os que demandam o sepulcro se comunicam pelo processo das
vibrações psíquicas.
Os espíritos encarnados fazem o mesmo, em identidade de circunstâncias,
desde que se achem aptos a semelhantes realizações.
Mais tarde, a generalidade das criaturas terrestres ampliará essas
possibilidades, percebendolhes
o admirável valor.
Isso, aliás, não constitui novidade, pois, segundo vemos, Paulo de Tarso,
em Tróade, recebe a visita espiritual de um varão da Macedônia, que lhe pede
auxílio.
A narração apostólica é muito clara. O amigo dos gentios tem uma visão
em que lhe não surge uma figura angélica ou um mensageiro divino. Tratase
de um
homem da Macedônia que o exdoutor
de Tarso identifica pelo vestuário e pelas
palavras.
É útil recordar semelhante ocorrência para que se consolide nos discípulos
sinceros a certeza de que o Evangelho é portador de todos os ensinamentos
essenciais e necessários, sem nos impor a necessidade de recorrer a nomenclaturas
difíceis, distantes da simplicidade com que o Mestre nos legou a carta de redenção,
na qual nos pede atenção amorosa e não teorias complicadas.
173 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
161
APROVEITEMOS
“E destas coisas sois vós testemunhas.”
(LUCAS, 24: 48)
Jesus sempre aproveitou o mínimo para produzir o máximo.
Com três anos de apostolado acendeu luzes para milênios.
Congregando pequena assembléia de doze companheiros, renovou o
mundo.
Com uma pregação na montanha inspirou milhões de almas para a vida
eterna.
Converte a esmola de uma viúva em lição imperecível de solidariedade.
Corrigindo alguns espíritos perturbados, transforma o sistema judiciário da
Terra, erigindo o “amaivos
uns aos outros” para a felicidade humana.
De cinco pães e dois peixes, retira o alimento para milhares de famintos.
Da ação de um Zaqueu bemintencionado,
traça programa edificante para
os mordomos da fortuna material.
Da atitude de um fariseu orgulhoso, extrai a verdade que confunde os
crentes menos sinceros.
Curando alguns doentes, institui a medicina espiritual para todos os centros
da Terra.
Faz dum grão de mostarda maravilhoso símbolo do Reino de Deus.
De uma dracma perdida, forma ensinamento inesquecível sobre o amor
espiritual.
De uma cruz grosseira, grava a maior lição de Divindade na História.
De tudo isso somos testemunhas em nossa condição de beneficiários. Em
razão de nosso conhecimento, convém ouvirmos a própria consciência. Que fazemos
das bagatelas de nosso caminho? Estaremos aproveitando nossas oportunidades para
fazer algo de bom?
174 –
Fr ancisco Cândido Xavier
162
ESPEREMOS
“Não esmagará a cana quebrada e não apagará o
morrão que fumega, até que faça triunfar o juízo.”
(MATEUS, 12: 20)
Evita as sentenças definitivas, em face dos quadros formados pelo mal.
Da lama do pântano, o Supremo Senhor aproveita a fertilidade.
Da pedra áspera, valese
da solidez.
Da areia seca, retira utilidades valiosas. Da substância amarga, extrai
remédio salutar. O criminoso de hoje pode ser prestimoso companheiro amanhã.
O malfeitor, em certas circunstâncias, apresenta qualidades nobres, até
então ignoradas, de que a vida se aproveita para gravar poemas de amor e luz.
Deus não é autor de esmagamento.
É Pai de misericórdia.
Não destrói a cana quebrada, nem apaga o morrão que fumega.
Suas mãos reparam estragos, seu hálito divino recompõe e renova sempre.
Não desprezes, pois, as luzes vacilantes e as virtudes imprecisas. Não
abandones a terra pantanosa, nem desampares o arvoredo sufocado pela erva
daninha.
Trabalha pelo bem e ajuda incessantemente.
Se Deus, Senhor Absoluto da Eternidade, espera com paciência, por que
motivo, nós outros, servos imperfeitos do trabalho relativo, não poderemos esperar?
175 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
163
NÃO CRER
“Mas quem não crer será condenado.”
Jesus (MARCOS, 16: 16)
Os que não crêem são os que ficam. Para eles, todas as expressões da vida
se reduzem a sensações finitas, destinadas à escura voragem da morte.
Os que alçam o coração para a vida mais alta estão salvos. Seus dias de
trabalho são degraus de infinita escada de luz. A custa de valoroso esforço e pesada
luta, distanciamse
dos semelhantes e, apesar de reconhecerem a própria
imperfeição, classificam a paisagem em torno e identificam os caminhos evolutivos.
Tomados de bom ânimo, sentemse
na tarefa laboriosa de ascensão à montanha do
amor e da sabedoria.
No entanto, os que não crêem, limitam os próprios horizontes e nada
enxergam senão com os olhos destinados ao sepulcro, adormecidos quanto à
reflexão e ao discernimento.
Afirmou Jesus que eles se encontram condenados.
A primeira vista, semelhante declaração parece em desacordo com a
magnanimidade do Mestre.
Condenados a que e por quem?
A justiça de Deus conjugase
à misericórdia e o inferno semfim
é imagem
dogmática.
Todavia, é imperioso reconhecer que quantos não crêem, na grandeza do
próprio destino, sentenciam a si mesmos às mais baixas esferas da vida. Pelo hábito
de apenas admitirem o visível, permanecerão beijando o pó, em razão da voluntária
incapacidade de acesso aos planos superiores, enquanto os outros caminham para a
certeza da vida imortal.
A crença é lâmpada amiga, cujo clarão é mantido pelo infinito sol da fé. O
vento da negação e da dúvida jamais consegue apagála.
A descrença, contudo, só conhece a vida pelas sombras que os seus
movimentos projetam e nada entende além da noite e do pântano a que se condena
por deliberação própria.
176 –
Fr ancisco Cândido Xavier
164
NÃO PERTURBEIS
“Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.”
Jesus (MATEUS, 19: 6)
A palavra divina não se refere apenas aos casos do coração. Os laços
afetivos caracterizamse
por alicerces sagrados e os compromissos conjugais ou
domésticos sempre atendem a superiores desígnios. O homem não ludibriará os
impositivos da lei, abusando de facilidades materiais para lisonjear os sentidos.
Quebrando a ordem que lhe rege os caminhos, desorganizará a própria
existência. Os princípios equilibrantes da vida surgirão sempre, corrigindo e
restaurando...
A advertência de Jesus, porém, apresenta para nós significação mais vasta.
“Não separeis o que Deus ajuntou” corresponde também ao “não perturbeis
o que Deus harmonizou”.
Ninguém alegue desconhecimento do propósito divino, O dever, por mais
duro, constitui sempre a Vontade do Senhor. E a consciência, sentinela vigilante do
Eterno, a menos que esteja o homem dormindo no nível do bruto, permanece apta a
discernir o que constitui “obrigação” e o que representa “fuga”.
O Pai criou seres e reuniuos.
Criou igualmente situações e coisas,
ajustandoas
para o bem comum.
Quem desarmoniza as obras divinas, preparese
para a recomposição. Quem
lesa o Pai, algema o próprio “eu” aos resultados de sua ação infeliz e, por vezes,
gasta séculos, desatando grilhões...
Na atualidade terrestre, esmagadora percentagem dos homens constituise
de milhões em serviço reparador, depois de haverem separado o que Deus ajuntou,
perturbando, com o mal, o que a Providência estabelecera para o bem.
Prestigiemos as organizações do Justo Juiz que a noção do dever identifica
para nós em todos os quadros do mundo. Ás vezes, é possível perturbarlhe
as obras
com sorrisos, mas seremos invariavelmente forçados a reparálas
com suor e
lágrimas.
177 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
165
BENS EXTERNOS
“A vida de um homem não consiste na abundância das
coisas que possui.”
Jesus (LUCAS, 12: 15)
“A vida de um homem não consiste na abundância das coisas que possui.”
A palavra do Mestre está cheia de oportunidade para quaisquer círculos de
atividade humana, em todos os tempos.
Um homem poderá reter vasta porção de dinheiro. Porém, que fará dele?
Poderá exercer extensa autoridade. Entretanto, como se comportará dentro dela?
Poderá dispor de muitas propriedades. Todavia, de que modo utiliza os
patrimônios provisórios?
Terá muitos projetos elevados. Quantos edificou?
Poderá guardar inúmeros ideais de perfeição. Mas estará atendendo aos
nobres princípios de que é portador?
Terá escrito milhares de páginas. Qual a substância de sua obra?
Contará muitos anos de existência no corpo. No entanto, que fez do tempo?
Poderá contar com numerosos amigos. Como se conduz perante as afeições que o
cercam?
Nossa vida não consiste da riqueza numérica de coisas e graças, aquisições
nominais e títulos exteriores.
Nossa paz e felicidade dependem do uso que fizermos, onde nos
encontramos hoje, aqui e agora, das oportunidades e dons, situações e favores,
recebidos do Altíssimo.
Não procures amontoar levianamente o que deténs por empréstimo.
Mobiliza, com critério, os recursos depositados em tuas mãos.
O Senhor não te identificará pelos tesouros que ajuntaste, pelas bênçãos que
retiveste, pelos anos que viveste no corpo físico. Reconhecerteá
pelo emprego dos
teus dons, pelo valor de tuas realizações e pelas obras que deixaste, em torno dos
próprios pés.
178 –
Fr ancisco Cândido Xavier
166
POSSES DEFINITIVAS
“Eu vim para que tenham vida, e a tenham em
abundância.”
Jesus (JOÃO, 10: 10)
Se a paz da criatura não consiste na abundância do que possui na Terra,
depende da abundância de valores definitivos de que a alma é possuída.
Em razão disso, o Divino Mestre veio até nós para que sejamos portadores
de vida transbordante, repleta de luz, amor e eternidade.
Em favor de nós mesmos, jamais deveríamos esquecer os dons substanciais
a serem amealhados em nosso próprio espírito.
No jogo de forças exteriores jamais encontraremos a iluminação necessária.
Maravilhosa é a primavera terrena, mas o inverno virá depois dela.
A mocidade do corpo é fase de embriagantes prazeres; no entanto, a velhice
não tardará.
O vaso físico mais íntegro e harmonioso experimentará, um dia, a
enfermidade ou a morte.
Toda a manifestação de existência na Terra é processo de transformação
permanente.
É imprescindível construir o castelo interior, de onde possamos erguer
sentimentos aos campos mais altos da vida.
Encheunos
Jesus de sua presença sublime, não para que possuamos
facilidades efêmeras, mas para sermos possuídos pelas riquezas imperecíveis; não
para que nos cerquemos de favores externos e, sim, para concentrarmos em nós as
aquisições definitivas.
Sejamos portadores da vida imortal.
Não nos visitou o Cristo, como doador de benefícios vulgares. Veio ligarnos
a lâmpada do coração à usina do Amor de Deus, convertendonos
em luzes
inextinguíveis.
179 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
167
NA ORAÇÃO
“Senhor, ensinanos
a orar...”
(LUCAS, 11: 1)
A prece, nos círculos do Cristianismo, caracterizase
por gradação infinita
em suas manifestações, porque existem crentes de todos os matizes nos vários
cursos da fé.
Os seguidores inquietos reclamam a realização de propósitos inconstantes.
Os egoístas exigem a solução de caprichos inferiores.
Os ignorantes do bem chegam a rogar o mal para o próximo.
Os tristes pedem a solidão com ociosidade.
Os desesperados suplicam a morte.
Inúmeros beneficiários do Evangelho imploram isso ou aquilo, com alusão
à boa marcha dos negócios que lhes interessam a vida física. Em suma, buscam a
fuga. Anelam somente a distância da dificuldade, do trabalho, da luta digna.
Jesus suporta, paciente, todas as fileiras de candidatos do seu serviço, de
sua iluminação, estendendolhes
mãos benignas, tolerandolhes
as queixas
descabidas e as lágrimas inaceitáveis.
Todavia, quando aceita alguém no discipulado definitivo, algo acontece no
íntimo da alma contemplada pelo Senhor.
Cessam as rogativas ruidosas. Acalmamse
os desejos tumultuários.
Convertese
a oração em trabalho edificante. O discípulo nada reclama. E o Mestre,
respondendolhe
às orações, modificalhe
a vontade, todos os dias, alijandolhe
do
pensamento os objetivos inferiores.
O coração unido a Jesus é um servo alegre e silencioso.
Disselhe
o Mestre: Levantate
e segueme.
E ele ergueuse
e seguiu.
180 –
Fr ancisco Cândido Xavier
168
NA MEDITAÇÃO
“E foram sós num barco para um lugar deserto.”
(MARCOS, 6: 32)
Tuas mãos permanecem extenuadas por fazer e desfazer.
Teus olhos, naturalmente, estão cheios da angústia recolhida nas
perturbações ambientes.
Doemte
os pés nas recapitulações dolorosas.
Teus sentimentos vão e vêm, através de impulsos tumultuáríos,
influenciados por mil pessoas diversas.
Tens o coração atormentado.
É natural. Nossa mente sofre sede de paz, como a terra seca tem
necessidade de água fria.
Vem a um lugar à parte, no país de ti mesmo, a fim de repousar um pouco.
Esquece as fronteiras sociais, os controles domésticos, as incompreensões dos
parentes, os assuntos difíceis, os problemas inquietantes, as idéias inferiores.
Retirate
dos lugares comuns a que ainda te prendes.
Concentrate,
por alguns minutos, em companhia do Cristo, no barco de
teus pensamentos mais puros, sobre o mar das preocupações cotidianas...
Ele te lavará a mente eivada de aflições.
Balsamizará tuas úlceras.
Darteá
salutares alvitres.
Basta que te cales e sua voz falará no sublime silêncio.
Oferecelhe
um coração valoroso na fé e na realização, e seus braços
divinos farão o resto.
Regressarás, então, aos círculos de luta, revigorado, forte e feliz.
Teu coração com Ele, a fim de agires, com êxito, no vale do serviço.
Ele contigo, para escalares, sem cansaço, a montanha da luz.
181 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
169
NO QUADRO REAL
“Deilhes
a tua palavra, e o mundo os aborreceu,
porque não são do mundo, assim como eu do mundo não sou.”
Jesus (JOÃO, 17: 14)
Aprendizes do Evangelho, à espera de facilidades humanas, constituirão
sempre assembléias do engano voluntário.
O Senhor não prometeu aos companheiros senão continuado esforço contra
as sombras até a vitória final do bem.
O cristão não é flor de ornamento para igrejas isoladas. É “sal da Terra”,
força de preservação dos princípios divinos no santuário do mundo inteiro.
A palavra de Jesus, nesse particular, não padece qualquer dúvida: “Se
alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e sigame.
Amai
vossos inimigos. Orai pelos que vos perseguem e caluniam. Bendizei os que vos
maldizem. Emprestai sem nada esperardes. Não julgueis para não serdes julgados.
Entre vós, o maior seja servo de todos. Buscai a porta estreita. Eis que vos envio
como ovelhas ao meio dos lobos. No mundo, tereis tribulações.”
Mediante afirmativas tão claras, é impossível aguardar em Cristo um
doador de vida fácil. Ninguém se aproxime d’Ele sem o desejo sincero de aprender a
melhorarse.
Se Cristianismo é esperança sublime, amor celeste e fé restauradora, é
também trabalho, sacrifício, aperfeiçoamento incessante. Comprovando suas lições
divinas, o Mestre Supremo viveu servindo e morreu na cruz.
182 –
Fr ancisco Cândido Xavier
170
DOMÍNIO ESPIRITUAL
“Não estou só, porque o Pai está comigo.”
Jesus (JOÃO, 16: 32)
Nos transes aflitivos a criatura demonstra sempre onde se localizam as
forças exteriores que lhe subjugam a alma.
Nas grandes horas de testemunho, no sofrimento ou na morte, os avarentos
clamam pelas posses efêmeras, os arbitrários exigem a obediência de que se julgam
credores, os supersentimentalistas reclamam o objeto de suas afeições.
Jesus, todavia, no campo supremo das últimas horas terrestres, mostrase
absoluto senhor de si mesmo, ensinandonos
a sublime identificação com os
propósitos do Pai, como o mais avançado recurso de domínio próprio.
Ligado naturalmente às mais diversas forças, no dia do Calvário não se
prendeu a nenhuma delas.
Atendia ao governo humano lealmente, mas Pilatos não o atemoriza.
Respeitava a lei de Moisés; entretanto, Caifás não o impressiona.
Amava enternecidamente os discípulos; contudo, as razões afetivas não lhe
dominam o coração.
Cultivava com admirável devotamento o seu trabalho de instruir e socorrer,
curar e consolar; no entanto, a possibilidade de permanecer não lhe seduz o espírito.
O ato de Judas não lhe arranca maldições.
A ingratidão dos beneficiados não lhe provoca desespero.
O pranto das mulheres de Jerusalém não lhe entibia o ânimo firme.
O sarcasmo da multidão não lhe quebra o silêncio.
A cruz não lhe altera a serenidade.
Suspenso no madeiro, roga desculpas para a ignorância do povo.
Sua lição de domínio espiritual é profunda e imperecível. Revela a
necessidade de sermos “nós mesmos”, nos transes mais escabrosos da vida, de
consciência tranqüila elevada à Divina Justiça e de coração fiel dirigido pela Divina
Vontade.
183 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
171
PALAVRAS DE MÃE
“Sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser.”
(JOÃO, 2: 5)
O Evangelho é roteiro iluminado do qual Jesus é o centro divino. Nessa
Carta da Redenção, rodeandolhe
a figura celeste, existem palavras, lembranças,
dádivas e indicações muito amadas dos que lhe foram legítimos colaboradores no
mundo.
Recebemos aí recordações amigas de Paulo, de João, de Pedro, de
companheiros outros do Senhor, e que não poderemos esquecer.
Temos igualmente, no Documento Sagrado, reminiscências de Maria.
Examinemos suas preciosas palavras em Caná, cheias de sabedoria e amor materno.
Geralmente, quando os filhos procuram a carinhosa intervenção de mãe é
que se sentem órfãos de ânimo ou necessitados de alegria. Por isso mesmo, em todos
os lugares do mundo, é comum observarmos filhos discutindo com os pais e
chorando ante corações maternos.
Interpretada com justiça por anjo tutelar do Cristianismo, às vezes é com
imensas aflições que recorremos a Maria.
Em verdade, o versículo do apóstolo João não se refere a paisagens
dolorosas. O episódio ocorre numa festa de bodas, mas podemos aproveitarlhe
a
sublime expressão simbólica.
Também nós estamos na festa de noivado do Evangelho com a Terra.
Apesar dos quase vinte séculos decorridos, o júbilo ainda é de noivado, porquanto
não se verificou até agora a perfeita união... Nesse grande concerto da idéia
renovadora, somos serventes humildes. Em muitas ocasiões, esgotase
o vinho da
esperança. Sentimonos
extenuados, desiludidos... Imploramos ternura maternal e
eis que Maria nos responde: Fazei tudo quanto ele vos disser.
O conselho é sábio e profundo e foi colocado no princípio dos trabalhos de
salvação.
Escutando semelhante advertência de Mãe, meditemos se realmente
estaremos fazendo tudo quanto o Mestre nos disse.
184 –
Fr ancisco Cândido Xavier
172
LÁGRIMAS
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos,
e eu vos aliviarei.”
Jesus (MATEUS, 11: 28)
Ninguém como Cristo espalhou na Terra tanta alegria e fortaleza de ânimo.
Reconhecendo isso, muitos discípulos amontoam argumentos contra a lágrima e
abominam as expressões de sofrimento.
O Paraíso já estaria na Terra se ninguém tivesse razões para chorar.
Considerando assim, Jesus, que era o Mestre da confiança e do otimismo, chamava
ao seu coração todos os que estivessem cansados e oprimidos sob o peso de
desenganos terrestres.
Não amaldiçoou os tristes: convocouos
à consolação.
Muita gente acredita na lágrima sintoma de fraqueza espiritual. No entanto,
Maria soluçou no Calvário; Pedro lastimouse,
depois da negação; Paulo mergulhouse
em pranto às portas de Damasco; os primeiros cristãos choraram nos circos de
martírio... mas, nenhum deles derramou lágrimas sem esperança. Prantearam e
seguiram o caminho do Senhor, sofreram e anunciaram a Boa Nova da Redenção,
padeceram e morreram leais na confiança suprema.
O cansaço experimentado por amor ao Cristo convertese
em fortaleza, as
cadeias levadas ao seu olhar magnânimo transformamse
em laços divinos de
salvação.
Caracterizamse
as lágrimas através de origens específicas. Quando nascem
da dor sincera e construtiva, são filtros de redenção e vida; no entanto, se procedem
do desespero, são venenos mortais.
185 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
173
ZELO DO BEM
“E qual é aquele que vos fará mal, se fordes zelosos do bem?”
(I PEDRO, 3: 13)
Temer os que praticam o mal é demonstrar que o bem ainda não se nos
radicou na alma convenientemente.
A interrogação de Pedro revestese
de enorme sentido.
Se existe sólido propósito do bem nos teus caminhos, se és cuidadoso em
sua prática, quem mobilizará tamanho poder para anular as edificações de Deus?
O problema reside, entretanto, na necessidade de entendimento. Somos
ainda incapazes de examinar todos os aspectos de uma questão, todos os contornos
de uma paisagem. O que hoje nos parece a felicidade real pode ser amanhã cruel
desengano. Nossos desejos humanos modificamse
aos jorros purificadores da fonte
evolutiva. Urge, pois, afeiçoarmonos
à Lei Divina, refletirlhe
os princípios
sagrados e submeternos
aos Superiores Desígnios, trabalhando incessantemente
para o bem, onde estivermos.
Os melindres pessoais, as falsas necessidades, os preconceitos cristalizados,
operam muita vez a cegueira do espírito. Procedem daí imensos desastres para todos
os que guardam a intenção de bem fazer, dando ouvidos, porém, ao personalismo
inferior.
Quem cultiva a obediência ao Pai, no coração, sabe encontrar as
oportunidades de construir com o seu amor.
Os que alcançam, portanto, a compreensão legítima não podem temer o
mal. Nunca se perdem na secura da exigência nem nos desvios do sentimentalismo.
Para essas almas, que encontraram no íntimo de si próprias o prazer de servir sem
indagar, os insucessos, as provas, as enfermidades e os obstáculos são simplesmente
novas decisões das Forças Divinas, relativamente à tarefa que lhes dizem respeito,
destinadas a conduzilas
para a vida maior.
186 –
Fr ancisco Cândido Xavier
174
PÃO DE CADA DIA
“Dános
cada dia o nosso pão.”
Jesus (LUCAS, 11: 3)
Já pensaste no pão de cada dia?
A força de possuílo,
em abundância, o homem costuma desvalorizálo,
à
maneira da criatura irrefletida que somente medita na saúde, ao sobrevir a
enfermidade.
Se a maioria dos filhos da Terra estivessem à altura de atender à gratidão
nos seus aspectos reais, bastaria o pão cotidiano para que não faltassem às
coletividades terrestres perfeitas noções da existência de Deus. Tão magnânima é a
bondade celestial que, promovendo recursos para a manutenção dos homens, escapa
à admiração das criaturas, a fim de que compreendam melhor a vida, integrandose
nas responsabilidades que lhes dizem respeito, nas Organizações de trabalho a que
foram chamadas, com a finalidade de realizarem o aprimoramento próprio.
O Altíssimo deixa aos homens a crença de que o pão terrestre é conquista
deles, para que se aperfeiçoem convenientemente no dom de servir. Em verdade, no
entanto, o pão de cada dia, para todas as refeições do mundo, procede da
Providência Divina.
O homem cavará o solo, espalhará as sementes, defenderá o serviço e
cooperará com a Natureza, mas a germinação, o crescimento, a florescência e a
frutificação pertencem ao TodoMisericordioso.
No alimento de cada dia prevalece sublime ensinamento de colaboração
entre o Criador e a criatura, que raras pessoas se dispõem a observar. Esforçase
o
homem e o Senhor lhe concede as utilidades.
O servo trabalha e o Altíssimo lhe abençoa o suor.
É nesse processo de íntima cooperação e natural entendimento que o Pai
espera colher, um dia, os doces frutos da perfeição no espírito dos filhos.
187 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
175
COOPERAÇÃO
“E ele respondeu: Como poderei entender se alguém me
não ensinar?”
(ATOS, 8: 31)
Desde a vinda de Jesus, o movimento de educação renovadora para o bem é
dos mais impressionantes no seio da Humanidade.
Em toda parte, ergueramse
templos, divulgaramse
livros portadores de
princípios sagrados.
Percebese
em toda essa atividade a atuação sutil e magnânima do Mestre
que não perde ocasião de atrair as criaturas de Deus para o Infinito Amor. Desse
quadro bendito de trabalho destacase,
porém, a cooperação fraternal que o Cristo
nos deixou, como norma imprescindível ao desdobramento da iluminação eterna do
mundo.
Ninguém guarde a presunção de elevarse
sem o auxílio dos outros, embora
não deva buscar a condição parasitária para a ascensão. Referimonos
à
solidariedade, ao amparo proveitoso, ao concurso edificante. Os que aprendem
alguma coisa sempre se valem dos homens que já passaram, e não seguem além se
lhes falta o interesse dos contemporâneos, ainda que esse interesse seja mínimo.
Os apóstolos necessitaram do Cristo que, por sua vez, fez questão de
prender os ensinamentos, de que era o divino emissário, às antigas leis.
Paulo de Tarso precisou de Ananias para entender a própria situação.
Observemos o versículo acima, extraído dos Atos dos Apóstolos. Filipe
achavase
despreocupado, quando um anjo do Senhor o mandou para o caminho que
descia de Jerusalém para Gaza. O discípulo atende e aí encontra um homem que lia a
Lei sem compreendêla.
E entram ambos em santificado esforço de cooperação.
Ninguém permanece abandonado. Os mensageiros do Cristo socorrem
sempre nas estradas mais desertas. É necessário, porém, que a alma aceite a sua
condição de necessidade e não despreze o ato de aprender com humildade, pois não
devemos esquecer, através do texto evangélico, que o mendigo de entendimento era
o mordomomor
da rainha dos etíopes, superintendente de todos os seus tesouros.
Além disso, ele ia de carro e Filipe, a pé.
188 –
Fr ancisco Cândido Xavier
176
LIÇÃO VIVA
“Duro é este discurso; quem o pode ouvir?”
(JOÃO, 6: 60)
O Cristianismo é a suprema religião da verdade e do amor, convocando
corações para a vida mais alta.
Em vista de religião traduzir religamento, é primordial voltarmonos
para
Deus, tornarmos ao campo da Divindade.
Jesus apresentou a sua plataforma de princípios imortais. Rasgou os
caminhos. Não enganou a ninguém, relativamente às dificuldades e obstáculos.
É necessário, esclareceu o Senhor, negarmos a vaidade própria,
arrependermonos
de nossos erros e convertermonos
ao bem.
O evangelista assinalou a observação de muitos dos discípulos: “Duro é
este discurso; quem o pode ouvir?”
Sim, efetivamente é indispensável romper com as alianças da queda e
assinar o pacto da redenção.
É imprescindível seguir nos caminhos d’Aquele que é a luz de nossa vida.
Para isso, as palavras brilhantes e os artifícios intelectuais não bastam. O
problema é de “quem pode ouvir” a Divina Mensagem, compreendendoa
com o
Cristo e seguindolhe
os passos.
189 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
177
OPINIÕES CONVENCIONAIS
“A multidão respondeu: Tens demônio; quem procura
matarte?”
(JOÃO, 7: 20)
Não te prendas excessivamente aos juízos da multidão. O
convencionalismo e o hábito possuem sobre ela forças vigorosas.
Se toleras ofensas com amor, chamate
covarde.
Se perdoas com desinteresse, considerate
tolo.
Se sofres com paciência, negate
valor.
Se espalhas o bem com abnegação, acusate
de louco.
Se adquires característicos do amor sublime e santificante, julgate
doente.
Se desestimas os gozos vulgares, classificate
de anormal.
Se te mostras piedoso, assevera que te envelheceste e cansaste antes do
tempo.
Se adotas a simplicidade por norma, ironizate
às ocultas.
Se respeitas a ordem e a hierarquia, qualificate
de bajulador.
Se reverencias a Lei, apontate
como medroso.
Se és prudente e digno, chamate
fanático e perturbado.
No entanto, essa mesma multidão, pela voz de seus maiorais, ensina o amor
aos semelhantes, o culto da legalidade e a religião do dever. Em seus círculos,
porém, o excesso de palavras não permite, por enquanto, o reinado da compreensão.
É indispensável suportarlhe
a inconsciência para atendermos com proveito
às nossas obrigações perante Deus.
Não te irrites, nem desanimes.
O próprio Jesus foi alvo, sem razão de ser, dos sarcasmos da opinião
pública.
190 –
Fr ancisco Cândido Xavier
178
A PORTA DIVINA
“Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvarseá.”
Jesus (JOÃO, 10: 9)
Nos caminhos da vida, cada companheiro portador de expressão intelectual
um pouco mais alta convertese
naturalmente em voz imperiosa para os nossos
ouvidos. E cada pessoa que segue à frente de nós abre portas ao nosso espírito.
Os inconformados abrem estradas à rebelião e à indisciplina.
Os velhacos oferecem passagem para o cativeiro em que exerçam
dominação.
Os escritores de futilidades fornecem passaporte para a província do tempo
perdido.
Os maledicentes encaminham quem os ouve a fontes envenenadas.
Os viciosos quebram as barreiras benéficas do respeito fraternal,
desvendando despenhadeiros onde o perigo é incessante.
Os preguiçosos conduzem à guerra contra o trabalho construtivo.
Os perversos escancaram os precipícios do crime.
Ainda que não percebas, várias pessoas te abrem portas, cada dia, através
da palavra falada ou escrita, da ação ou do exemplo.
Examina onde entras com o sagrado depósito da confiança. Muita vez,
perderás longo tempo para retomar o caminho que te é próprio.
Não nos esqueçamos de que Jesus é a única porta de verdadeira libertação.
Através de muitas estações no campo da Humanidade, é provável
recebamos proveitosas experiências, amealhandoas
à custa de desenganos terríveis,
mas só em Cristo, no clima sagrado de aplicação dos seus princípios, é possível
encontrar a passagem abençoada de definitiva salvação.
191 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
179
O NOVO MANDAMENTO
“Um novo mandamento vos dou: que vos ameia uns aos
outros, como eu vos amei.”
Jesus (JOÃO, 13: 34)
A leitura despercebida do texto induziria o leitor a sentir nessas palavras do
Mestre absoluta identidade com o seu ensinamento relativo à regra áurea Entretanto,
é preciso salientar a diferença.
O “ama a teu próximo como a ti mesmo” é diverso do “que vos ameis uns
aos outros como eu vos amei”.
O primeiro institui um dever, em cuja execução não é razoável que o
homem cogite da compreensão alheia. O aprendiz amará o próximo como a si
mesmo.
Jesus, porém, engrandeceu a fórmula, criando o novo mandamento na
comunidade cristã. O Mestre referese
a isso na derradeira reunião com os amigos
queridos, na intimidade dos corações.
A recomendação “que vos ameis uns aos outros como eu vos amei”
assegura o regime da verdadeira solidariedade entre os discípulos, garante a
confiança fraternal e a certeza do entendimento recíproco.
Em todas as relações comuns, o cristão amará o próximo como a si mesmo,
reconhecendo, contudo, que no lar de sua fé conta com irmãos que se amparam
efetivamente uns aos outros.
Esse é o novo mandamento que estabeleceu a intimidade legítima entre os
que se entregaram ao Cristo, significando que, em seus ambientes de trabalho, há
quem se sacrifique e quem compreenda o sacrifício, quem ame e se sinta amado,
quem faz o bem e quem saiba agradecer.
Em qualquer círculo do Evangelho, onde essa característica não assinala as
manifestações dos companheiros entre si, os argumentos da Boa Nova podem haver
atingido os cérebros indagadores, mas ainda não penetraram o santuário dos
corações.
192 –
Fr ancisco Cândido Xavier
180
FAÇAMOS NOSSA LUZ
“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens.”
Jesus (MATEUS, 5: 16)
Ante a glória dos mundos evolvidos, das esferas sublimes que povoam o
Universo, o estreito campo em que nos agitamos, na Crosta Planetária, é limitado
círculo de ação. Se o problema, no entanto, fosse apenas o de espaço, nada teríamos
a lamentar.
A casa pequena e humilde, iluminada de Sol e alegria, é paraíso de
felicidade. A angústia de nosso plano procede da sombra.
A escuridão invade os caminhos em todas as direções. Trevas que nascem
da ignorância, da maldade, da insensatez, envolvendo povos, instituições e pessoas.
Nevoeiros que assaltam consciências, raciocínios e sentimentos.
Em meio da grande noite, é necessário acendamos nossa luz. Sem isso é
impossível encontrar o caminho da libertação. Sem a irradiação brilhante de nosso
próprio ser, não poderemos ser vistos com facilidade pelos Mensageiros Divinos,
que ajudam em nome do Altíssimo, e nem auxiliaremos efetivamente a quem quer
que seja.
É indispensável organizar o santuário interior e iluminálo,
a fim de que as
trevas não nos dominem.
É possível marchar, valendonos
de luzes alheias. Todavia, sem claridade
que nos seja própria, padeceremos constante ameaça de queda. Os proprietários das
lâmpadas acesas podem afastarse
de nós, convocados pelos montes de elevação que
ainda não merecemos.
Valete,
pois, dos luzeiros do caminho, aplica o pavio da boavontade
ao
óleo do serviço e da humildade e acende o teu archote para a jornada. Agradece ao
que te ilumina por uma hora, por alguns dias ou por muitos anos, mas não olvides
tua candeia, se não desejas resvalar nos precipícios da estrada longa!...
O problema fundamental da redenção, meu amigo, não se resume a palavras
faladas ou escritas. É muito fácil pronunciar belos discursos e prestar excelentes
informações, guardando, embora, a cegueira nos próprios olhos.
Nossa necessidade básica é de luz própria, de esclarecimento íntimo, de
autoeducação,
de conversão substancial do “eu” ao Reino de Deus.
Podes falar maravilhosamente acerca da vida, argumentar com brilho sobre
a fé, ensinar os valores da crença, comer o pão da consolação, exaltar a paz, recolher
as flores do bem, aproveitar os frutos da generosidade alheia, conquistar a coroa
efêmera do louvor fácil, amontoar títulos diversos que te exornem a personalidade
em trânsito pelos vales do mundo...
Tudo isso, em verdade, pode fazer o espírito que se demora,
indefinidamente, em certos ângulos da estrada.
Todavia, avançar sem luz é impossível.
193 –
CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)