extra-img

Caminho Verdade e Vida.

Caminho Verdade e Vida.

Coleção FONTE VIVA

(Interpretação dos Textos Evangélicos)

Ditada pelo Espírito:

EMMANUEL

Psicografada por:

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

1

CAMINHO,

VERDADE

E VIDA

2 –

 

Fr ancisco Cândido Xavier

CAMINHO, VERDADE E VIDA

1º Volume da Coleção “FONTE VIVA”

 

 

Interpretação dos Textos Evangélicos

Ditada pelo Espírito:

Emmanuel

Psicografada por:

Francisco Cândido Xavier

Publicado em 1948 pela Editora FEB

 

Federação Espírita Brasileira

www.febnet.org.br

Digitalizada por:

L. Neilmoris

© 2008 Brasil

www.luzespirita.org

3 –

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

CAMINHO,

VERDADE

E VIDA

1º livr o da coleção “FONTE VIVA”

(Inter pr etação dos Textos Evangélicos)

Ditada pelo Espírito:

EMMANUEL

Psicografada por:

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

4 –

 

Fr ancisco Cândido Xavier

Coleção:

“FONTE VIVA”

1 – Caminho, Verdade e Vida

2 – Pão Nosso

3 – Vinha de Luz

4 – Fonte Viva

5 –

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

Índice

Interpretação dos Textos Sagrados

1 – O Tempo

2 – Segueme

Tu

3 – ExaminaTe

4 – Trabalho

5 – Bases

6 – Esforço e Oração

7 – Tudo Novo

8 – Jesus Veio

9 – Reuniões Cristãs

10 – Mediunidade

11 – Conforto

12 – Educação No Lar

13 – Que é a Carne?

14 – Em Ti Mesmo

15 – Conversão

16 – Endireitai os Caminhos

17 – Por Cristo

18 – Purificação Íntima

19 – Na Propaganda

20 – O Companheiro

21 – Caminhos Retos

22 – Que Buscais?

23 – Viver Pela Fé

24 – O Tesouro Enferrujado

25 – Tende Calma

26 – Padecer

27 – Negócios

28 – Escritores

29 – Contentarse

30 – O Mundo e o Mal

31 – Coisas Mínimas

32 – Nuvens

33 – Recapitulações

34 – Comer e Beber

35 – Semeadura

6 –

 

Fr ancisco Cândido Xavier

36 – Heresias

37 – Honras Vãs

38 – Pregações

39 – Entra e Coopera

40 – Tempo de Confiança

41 – A Regra Áurea

42 – Glória ao Bem

43 – Consultas

44 – O Cego de Jericó

45 – Conversar

46 – Quem És?

47 – A Grande Pergunta

48 – GuardaiVos

49 – Saber e Fazer

50 – Conta de Si

51 – Meninos Espirituais

52 – Dons

53 – Paz

54 – A Videira

55 – As Varas da Videira

56 – Lucros

57 – Dinheiro

58 – Ganhar

59 – Os Amados

60 – Prática Do Bem

61 – Ministérios

62 – Parentela

63 – Quem Sois?

64 – O Tesouro Maior

65 – Pedir

66 – Como Pedes?

67 – Os Vivos do Além

68 – AlémTúmulo

69 – Comunicações

70 –Poderes Ocultos

71 – Para Testemunhar

72 – Transitoriedade

73 –Oportunidade

74 – Mãos Limpas

75 – Na Casa de César

76 – Edificações

7 –

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

77 – Convém Refletir

78 – Verdades e Fantasias

79 – A Cada Um

80 – Opiniões

81 – Ordenações Humanas

82 – Madeiros Secos

83 – Aflições

84 – LevantemoNos

85 – Testemunho

86 – Jesus e os Amigos

87 – Por Que Dormis?

88 – Velar Com Jesus

89 – O Fracasso de Pedro

90 – Ensejo ao Bem

91 – Campo de Sangue

92 – Madalena

93 – Alegria Cristã

94 – Ao SalvarNos

95 – O Amigo Oculto

96 – A Coroa

97 – Amas o Bastante?

98 – Capas

99 – Prometer

100 – Auxílios do Invisível

101 – Tudo em Deus

102 – O Cristão e o Mundo

103 – Estima do Mundo

104 – A Espada Simbólica

105 – Nem Todos

106 – Dar

107 – Vinda do Reino

108 – Reencarnação

109 – Acharemos Sempre

110 – Vidas Sucessivas

111 – Orientadores do Mundo

112 – Como Lázaro

113 – Não te Esqueças

114 – As Cartas do Cristo

115 – Embaixadores do Cristo

116 – Agir de Acordo

8 –

 

Fr ancisco Cândido Xavier

117 – Terra Proveitosa

118 – O Paralítico

119 – Glória Cristã

120 – Zelo Próprio

121 – Espinheiros

122 – Frutos

123 – Esperar em Cristo

124 – Firmeza de Fé

125 – Filhos e Servos

126 – Ídolos

127 – Enquanto é Dia

128 – Dádivas Espirituais

129 – Origem das Tentações

130 – Tristeza

131 – Homens e Anjos

132 – Sempre Adiante

133 – Hegemonia de Jesus

134 – Basta Pouco

135 – O Ouro Intransferível

136 – Coisas Terrestres e Celestiais

137 – O Banquete dos Publicanos

138 – Pretensões

139 – Por Amor

140 – Para os Montes

141 – Pior Para Eles

142 – Um Só Senhor

143 – Legião do Mal

144 – Que Temos Com o Cristo?

145 – Doutrinações

146 – No Trato Com o Invisível

147 – Um Desafio

148 – Cuidado de Si

149 – Propriedade

150 – Aguilhões

151 – Mocidade

152 – Ciência e Amor

153 – Passes

154 – Renunciar

155 – Entre os Cristão

156 – Intuição

9 –

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

157 – Faze Isso e Viverás

158 – Batismo

159 – A Quem Segues?

160 – O Varão da Macedônia

161 – Aproveitemos

162 – Esperemos

163 – Não Crer

164 – Não Perturbeis

165 – Bens Externos

166 – Posses Definitivas

167 – Na Oração

168 – Na Meditação

169 – No Quadro Real

170 – Domínio Espiritual

171 – Palavras de Mãe

172 – Lágrimas

173 – Zelo do Bem

174 – Pão de Cada Dia

175 – Cooperação

176 – Lição Viva

177 – Opiniões Convencionais

178 – A Porta Divina

179 – O Novo Mandamento

180 – Façamos Nossa Luz

10 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

CAMINHO,

VERDADE

E VIDA

11 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

INTERPRETAÇÃO DOS

TEXTOS SAGRADOS

“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da

Escritura é de particular interpretação.”

(I PEDRO, 1: 20)

Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida. Sua luz imperecível brilha sobre os

milênios terrestres, como o Verbo do princípio, penetrando o mundo, há quase vinte

séculos.

Lutas sanguinárias, guerras de extermínio, calamidades sociais não lhe

modificaram um til nas palavras que se atualizam, cada vez mais, com a evolução

multiforme da Terra. Tempestades de sangue e lágrimas nada mais fizeram que

avivarlhes

a grandeza. Entretanto, sempre tardios no aproveitamento das

oportunidades preciosas, muitas vezes, no curso das existências renovadas, temos

desprezado o Caminho, indiferentes ante os patrimônios da Verdade e da Vida.

O Senhor, contudo, nunca nos deixou desamparados.

Cada dia, reforma os títulos de tolerância para com as nossas dívidas;

todavia, é de nosso próprio interesse levantar o padrão da vontade, estabelecer

disciplinas para uso pessoal e reeducar a nós mesmos, ao contacto do Mestre Divino.

Ele é o Amigo Generoso, mas tantas vezes lhe olvidamos o conselho que somos

suscetíveis de atingir obscuras zonas de adiamento indefinível de nossa iluminação

interior para a vida eterna.

No propósito de valorizar o ensejo de serviço, organizamos este humilde

trabalho interpretativo

 

 

1 , sem qualquer pretensão a exegese. Concatenamos apenas

modesto conjunto de páginas soltas destinadas a meditações comuns.

Muitos amigos estranharnosão

talvez a atitude, isolando versículos e

conferindolhes

cor independente do capítulo evangélico a que pertencem. Em certas

passagens, extraímos daí somente frases pequeninas, proporcionandolhes

fisionomia especial e, em determinadas circunstâncias, as nossas considerações

desvaliosas parecem contrariar as disposições do capítulo em que se inspiram.

Assim procedemos, porém, ponderando que, num colar de pérolas, cada

qual tem valor específico e que, no imenso conjunto de ensinamentos da Boa Nova,

cada conceito do Cristo ou de seus colaboradores diretos adaptase

a determinada

situação do Espírito, nas estradas da vida. A lição do Mestre, além disso, não

1

 

 

Algumas destas páginas, já publicadas na imprensa espiritista cristã, foram por nós revistas e

simplificadas para maior clareza de interpretação —

 

 

Nota de Emmanuel.

12 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

constitui tão somente um impositivo para os misteres da adoração. O Evangelho não

se reduz a breviário para o genuflexório. É roteiro imprescindível para a legislação e

administração, para o serviço e para a obediência. O Cristo não estabelece linhas

divisórias entre o templo e a oficina. Toda a Terra é seu altar de oração e seu campo

de trabalho, ao mesmo tempo. Por louválo

nas igrejas e menoscabálo

nas ruas é

que temos naufragado mil vezes, por nossa própria culpa. Todos os lugares,

portanto, podem ser consagrados ao serviço divino.

Muitos discípulos, nas várias escolas cristãs, entregaramse

a perquirições

teológicas, transformando os ensinos do Senhor em relíquia morta dos altares de

pedra; no entanto, espera o Cristo venhamos todos a converterlhe

o evangelho de

Amor e Sabedoria em companheiro da prece, em livro escolar no aprendizado de

cada dia, em fonte inspiradora de nossas mais humildes ações no trabalho comum e

em código de boas maneiras no intercâmbio fraternal.

Embora esclareça nossos singelos objetivos, noto, antecipadamente, ampla

perplexidade nesse ou naquele grupo de crentes.

Que fazer? Temos imensas distâncias a vencer no Caminho, para adquirir a

Verdade e a Vida na significação integral.

Compreendemos o respeito devido ao Cristo, mas, pela própria

exemplificação do Mestre, sabemos que o labor do aprendiz fiel constituise

de

adoração e trabalho, de oração e esforço próprio.

Quanto ao mais, consolanos

reconhecer que os Textos Sagrados são

dádivas do Pai a todos os seus filhos e, por isso mesmo, aqui nos reportamos às

palavras sábias de Simão Pedro:

 

 

“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma

profecia da Escritura é de particular interpretação.”

Emmanuel

Pedro Leopoldo, 2 de setembro de 1948.

13 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

1

O TEMPO

“Aquele que faz caso do dia, patrão Senhor o faz.”

Paulo. (ROMANOS, 14: 6)

A maioria dos homens não percebe ainda os valores infinitos do tempo.

Existem efetivamente os que abusam dessa concessão divina. Julgam que a

riqueza dos benefícios lhes é devida por Deus.

Seria justo, entretanto, interrogálos

quanto ao motivo de semelhante

presunção.

Constituindo a Criação Universal patrimônio comum, é razoável que todos

gozem as possibilidades da vida; contudo, de modo geral, a criatura não medita na

harmonia das circunstâncias que se ajustam na Terra, em favor de seu

aperfeiçoamento espiritual.

É lógico que todo homem conte com o tempo, mas, se esse tempo estiver

sem luz, sem equilíbrio, sem saúde, sem trabalho?

Não obstante a oportunidade da indagação, importa considerar que muito

raros são aqueles que valorizam o dia, multiplicandose

em toda parte as fileiras dos

que procuram aniquilálo

de qualquer forma.

A velha expressão popular “matar o tempo” reflete a inconsciência vulgar,

nesse sentido.

Nos mais obscuros recantos da Terra, há criaturas exterminando

possibilidades sagradas. No entanto, um dia de paz, harmonia e iluminação, é muito

importante para o concurso humano, na execução das leis divinas.

Os interesses imediatistas do mundo clamam que o “tempo é dinheiro”,

para, em seguida, recomeçarem todas as obras incompletas na esteira das

reencarnações... Os homens, por isso mesmo, fazem e desfazem, constroem e

destroem, aprendem levianamente e recapitulam com dificuldade, na conquista da

experiência.

Em quase todos os setores de evolução terrestre, vemos o abuso da

oportunidade complicando os caminhos da vida; entretanto, desde muitos séculos, o

apóstolo nos afirma que o tempo deve ser do Senhor.

14 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

2

SEGUEME

TU

“Disselhe

J esus: Se eu quero que ele fique até que eu

venha, que te importa a ti? Segueme

tu.”

(JOÃO, 21: 22)

Nas comunidades de trabalho cristão, muitas vezes observamos

companheiros altamente preocupados com a tarefa conferida a outros irmãos de luta.

É justo examinar, entretanto, como se elevaria o mundo se cada homem cuidasse de

sua parte, nos deveres comuns, com perfeição e sinceridade.

Algum de nossos amigos foi convocado para obrigações diferentes?

Confortemolo

com a legítima compreensão.

Às vezes, surge um deles, modificado ao nosso olhar. Há cooperadores que

o acusam. Muitos o consideram portador de perigosas tentações. Movimentamse

comentários e julgamentos à pressa. Quem penetrará, porém, o campo das causas?

Estaríamos na elevada condição daquele que pode analisar um acontecimento,

através de todos os ângulos? Talvez o que pareça queda ou defecção pode constituir

novas resoluções de Jesus, relativamente à redenção do amigo que parece agora

distante.

O Bom Pastor permanece vigilante. Prometeu que das ovelhas que o Pai lhe

confiou nenhuma se perderá.

Convém, desse modo, atendermos com perfeição aos deveres que nos

foram deferidos. Cada qual necessita conhecer as obrigações que lhe são próprias.

Nesse padrão de conhecimento e atitude, há sempre muito trabalho nobre a

realizar.

Se um irmão parece desviado aos teus olhos mortais, faze o possível por

ouvir as palavras de Jesus ao pescador de Cafarnaum: “Que te importa a ti? Segueme

tu.”

15 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

3

EXAMINATE

“Nada faças por contenda ou por vanglória, mas por

humildade.”

Paulo (FILIPENSES, 2: 3)

O serviço de Jesus é infinito. Na sua órbita, há lugar para todas as criaturas

e para todas as idéias sadias em sua expressão substancial.

Se, na ordem divina, cada árvore produz segundo a sua espécie, no trabalho

cristão, cada discípulo contribuirá conforme sua posição evolutiva.

A experiência humana não é uma estação de prazer. O homem permanece

em função de aprendizado e, nessa tarefa, é razoável que saiba valorizar a

oportunidade de aprender, facilitando o mesmo ensejo aos semelhantes.

O apóstolo Paulo compreendeu essa verdade, afirmando que nada

deveremos fazer por espírito de contenda e vanglória, mas, sim, por ato de

humildade.

Quando praticares alguma ação que ultrapasse o quadro das obrigações

diárias, examina os móveis que a determinaram. Se resultou do desejo injusto de

supremacia, se obedeceu somente à disputa desnecessária, cuida de teu coração para

que o caminho te seja menos ingrato. Mas se atendeste ao dever, ainda que hajas

sido interpretado como rigorista e exigente, incompreensivo e infiel, recebe as

observações indébitas e passa adiante.

Continua trabalhando em teu ministério, recordando que, por servir aos

outros, com humildade, sem contendas e vanglórias, Jesus foi tido por imprudente e

rebelde, traidor da lei e inimigo do povo, recebendo com a cruz a coroa gloriosa.

16 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

4

TRABALHO

“E J esus lhes respondeu: Meu Pai obra até agora, e eu

trabalho também.”

(João, 5: 17)

Em todos os recantos, observamos criaturas queixosas e insatisfeitas.

Quase todas pedem socorro. Raras amam o esforço que lhes foi conferido.

A maioria revoltase

contra o gênero de seu trabalho.

Os que varrem as ruas querem ser comerciantes; os trabalhadores do campo

prefeririam a existência na cidade.

O problema, contudo, não é de gênero de tarefa, mas o de compreensão da

oportunidade recebida.

De modo geral, as queixas, nesse sentido, são filhas da preguiça

inconsciente. É o desejo ingênito de conservar o que é inútil e ruinoso, das quedas

no pretérito obscuro.

Mas Jesus veio arrancarnos

da “morte no erro”. Trouxenos

a bênção do

trabalho, que é o movimento incessante da vida.

Para que saibamos honrar nosso esforço, referiuse

ao Pai que não cessa de

servir em sua obra eterna de amor e sabedoria e à sua tarefa própria, cheia de

imperecível dedicação à Humanidade.

Quando te sentires cansado, lembrate

de que Jesus está trabalhando.

Começamos ontem nosso humilde labor e o Mestre se esforça por nós, desde

quando?

17 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

5

BASES

“Disselhe

Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeulhe

J esus: Se eu não te lavar, não tens parte comigo.”

(JOÃO, 13: 8)

É natural vejamos, antes de tudo, na resolução do Mestre, ao lavar os pés

dos discípulos, uma demonstração sublime de humildade santificante.

Primeiramente, é justo examinarmos a interpretação intelectual, adiantando,

porém, a análise mais profunda de seus atos divinos. É que, pela mensagem

permanente do Evangelho, o Cristo continua lavando os pés de todos os seguidores

sinceros de sua doutrina de amor e perdão.

O homem costuma viver desinteressado de todas as suas obrigações

superiores, muitas vezes aplaudindo o crime e a inconsciência. Todavia, ao contacto

de Jesus e de seus ensinamentos sublimes, sente que pisará sobre novas bases,

enquanto que suas apreciações fundamentais da existência são muito diversas.

Alguém proporciona leveza aos seus pés espirituais para que marche de

modo diferente nas sendas evolutivas.

Tudo se renova e a criatura compreende que não fora essa intervenção

maravilhosa e não poderia participar do banquete da vida real.

Então, como o apóstolo de Cafarnaum, experimenta novas

responsabilidades no caminho e, desejando corresponder à expectativa divina, roga a

Jesus lhe lave, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça.

18 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

6

ESFORÇO E ORAÇÃO

“E, despedida a multidão, subiu ao monte a fim de orar,

à parte. E, chegada já a tarde, estava ali só.”

(MATEUS, 14: 23)

De vez em quando, surgem grupos religiosos que preconizam o absoluto

retiro das lutas humanas para os serviços da oração.

Nesse particular, entretanto, o Mestre é sempre a fonte dos ensinamentos

vivos. O trabalho e a prece são duas características de sua atividade divina.

Jesus nunca se encerrou a distância das criaturas, com o fim de permanecer

em contemplação absoluta dos quadros divinos que lhe iluminavam o coração, mas

também cultivou a prece em sua altura celestial.

Despedida a multidão, terminado o esforço diário, estabelecia a pausa

necessária para meditar, à parte, comungando com o Pai, na oração solitária e

sublime.

Se alguém permanece na Terra, é com o objetivo de alcançar um ponto

mais alto, nas expressões evolutivas, pelo trabalho que foi convocado a fazer. E,

pela oração, o homem recebe de Deus o auxílio indispensável à santificação da

tarefa.

Esforço e prece completamse

no todo da atividade espiritual.

A criatura que apenas trabalhasse, sem método e sem descanso, acabaria

desesperada, em horrível secura do coração; aquela que apenas se mantivesse

genuflexa, estaria ameaçada de sucumbir pela paralisia e ociosidade.

A oração ilumina o trabalho, e a ação é como um livro de luz na vida

espiritualizada.

Cuida de teus deveres porque para isso permaneces no mundo, mas nunca

te esqueças desse monte, localizado em teus sentimentos mais nobres, a fim de

orares “à parte”, recordando o Senhor.

19 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

7

TUDO NOVO

“Assim é que, se alguém está. em Cristo, nova criatura

é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.”

Paulo. (I CORÍNTIOS, 5: 17)

É muito comum observarmos crentes inquietos, utilizando recursos

sagrados da oração para que se perpetuem situações injustificáveis tãosó

porque

envolvem certas vantagens imediatas para suas preocupações egoísticas.

Semelhante atitude mental constitui resolução muito grave.

Cristo ensinou a paciência e a tolerância, mas nunca determinou que seus

discípulos estabelecessem acordo com os erros que infelicitam o mundo. Em face

dessa decisão, foi à cruz e legou o último testemunho de nãoviolência,

mas também

de nãoacomodação

com as trevas em que se compraz a maioria das criaturas.

Não se engane o crente acerca do caminho que lhe compete.

Em Cristo tudo deve ser renovado, O passado delituoso estará morto, as

situações de dúvida terão chegado ao fim, as velhas cogitações do homem carnal

darão lugar a vida nova em espírito, onde tudo signifique sadia reconstrução para o

futuro eterno.

É contrasenso

valerse

do nome de Jesus para tentar a continuação de

antigos erros.

Quando notarmos a presença de um crente de boa palavra, mas sem o

íntimo renovado, dirigindose

ao Mestre como um prisioneiro carregado de cadeias,

estejamos certos de que esse irmão pode estar à porta do Cristo, pela sinceridade das

intenções; no entanto, não conseguiu, ainda, a penetração no santuário de seu amor.

20 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

8

JESUS VEIO

“Mas aniquilouse

a si mesmo, tomando a forma de

servo, fazendose

semelhante aos homens.”

Paulo. (FILIPENSES, 2: 7.)

Muitos discípulos falam de extremas dificuldades por estabelecer boas

obras nos serviços de confraternização evangélica, alegando o estado infeliz de

ignorância em que se compraz imensa percentagem de criaturas da Terra.

Entretanto, tais reclamações não são justas.

Para executar sua divina missão de amor, Jesus não contou com a

colaboração imediata de Espíritos aperfeiçoados e compreensivos e, sim, “aniquilouse

a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendose

semelhante aos homens”.

Não podíamos ir ter com o Salvador, em sua posição sublime; todavia, o

Mestre veio até nós, apagando temporariamente a sua auréola de luz, de maneira a

beneficiarnos

sem traços de sensacionalismo.

O exemplo de Jesus, nesse particular, representa lição demasiado profunda.

Ninguém alegue conquistas intelectuais ou sentimentais como razão para

desentendimento com os irmãos da Terra.

Homem algum dos que passaram pelo orbe alcançou as culminâncias do

Cristo. No entanto, vemolo

à mesa dos pecadores, dirigindose

fraternalmente a

meretrizes, ministrando seu derradeiro testemunho entre ladrões.

Se teu próximo não pode alçarse

ao plano espiritual em que te encontras,

podes ir ao encontro dele, para o bom serviço da fraternidade e da iluminação, sem

aparatos que lhe ofendam a inferioridade.

Recorda a demonstração do Mestre Divino.

Para vir a nós, aniquilou a si próprio, ingressando no mundo como filho

sem berço e ausentandose

do trabalho glorioso, como servo crucificado.

21 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

9

REUNIÕES CRISTÃS

“Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da

semana, e cerradas as portas da casa onde os discípulos, com

medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus e pôsse

no

meio deles e disselhes:

Paz seja convosco.”

(JOÃO, 20: 19)

Desde o dia da ressurreição gloriosa do Cristo, a Humanidade terrena foi

considerada digna das relações com a espiritualidade.

O Deuteronômio proibira terminantemente o intercâmbio com os que

houvessem partido pelas portas da sepultura, em vista da necessidade de afastar a

mente humana de cogitações prematuras. Entretanto, Jesus, assim como suavizara a

antiga lei da justiça inflexível com o perdão de um amor sem limites, aliviou as

determinações de Moisés, vindo ao encontro dos discípulos saudosos.

Cerradas as portas, para que as vibrações tumultuosas dos adversários

gratuitos não perturbassem o coração dos que anelavam o convívio divino, eis que

surge o Mestre muito amado, dilatando as esperanças de todos na vida eterna. Desde

essa hora inolvidável, estava instituído o movimento de troca, entre o mundo visível

e o invisível. A família cristã, em seus vários departamentos, jamais passaria sem o

doce alimento de suas reuniões carinhosas e íntimas. Desde então, os discípulos se

reuniriam, tanto nos cenáculos de Jerusalém, como nas catacumbas de Roma. E, nos

tempos modernos, a essência mais profunda dessas assembléias é sempre a mesma,

seja nas igrejas católicas, nos templos protestantes ou nos centros espíritas.

O objetivo é um só: procurar a influenciação dos planos superiores, com a

diferença de que, nos ambientes espiritistas, a alma pode saciarse,

com mais

abundância, em vôos mais altos, por se conservar afastada de certos prejuízos do

dogmatismo e do sacerdócio organizado.

22 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

10

MEDIUNIDADE

“E nos últimos dias acontecerá, diz o Senhor, que do

meu Espírito derramarei sobre toda carne; os vossos filhos e as

vossas filhas profetizarão, vossos mancebos terão visões e os

vossos velhos sonharão sonhos.”

(ATOS, 2: 17)

No dia de Pentecostes, Jerusalém estava repleta de forasteiros. Filhos da

Mesopotâmia, da Frígia, da Líbia, do Egito, cretenses, árabes, partos e romanos se

aglomeravam na praça extensa, quando os discípulos humildes do Nazareno

anunciaram a Boa Nova, atendendo a cada grupo da multidão em seu idioma

particular.

Uma onda de surpresa e de alegria invadiu o espírito geral.

Não faltaram os cépticos, no divino concerto, atribuindo à loucura e à

embriaguez a revelação observada.

Simão Pedro destacase

e esclarece que se trata da luz prometida pelos céus

à escuridão da carne.

Desde esse dia, as claridades do Pentecostes jorraram sobre o mundo,

incessantemente. Até aí, os discípulos eram frágeis e indecisos, mas, dessa hora em

diante, quebram as influências do meio, curam os doentes, levantam o espírito dos

infortunados, falam aos reis da Terra em nome do Senhor.

O poder de Jesus se lhes comunicara às energias reduzidas.

Estabelecerase

a era da mediunidade, alicerce de todas as realizações do

Cristianismo, através dos séculos.

Contra o seu influxo, trabalham, até hoje, os prejuízos morais que

avassalam os caminhos do homem, mas é sobre a mediunidade, gloriosa luz dos

céus oferecida às criaturas, no Pentecostes, que se edificam as construções

espirituais de todas as comunidades sinceras da Doutrina do Cristo e é ainda ela que,

dilatada dos apóstolos ao círculo de todos os homens, ressurge no Espiritismo

cristão, como a alma imortal do Cristianismo redivivo.

23 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

11

CONFORTO

“Se alguém me serve, sigame.”

Jesus (JOÃO, 12: 26)

Freqüentemente, as organizações religiosas e mormente as espiritistas, na

atualidade, estão repletas de pessoas ansiosas por um conforto.

De fato, a elevada Doutrina dos Espíritos é a divina expressão do

Consolador Prometido. Em suas atividades resplendem caminhos novos para o

pensamento humano, cheios de profundas consolações para os dias mais duros.

No entanto, é imprescindível ponderar que não será justo querer alguém

confortarse,

sem se dar ao trabalho necessário...

Muitos pedem amparo aos mensageiros do plano invisível; mas como

recebêlo,

se chegaram ao cúmulo de abandonarse

ao sabor da ventania impetuosa

que sopra, de rijo, nos resvaladouros dos caminhos?

Conforto espiritual não é como o pão do mundo, que passa,

mecanicamente, de mão em mão, para saciar a fome do corpo, mas, sim, como o

Sol, que é o mesmo para todos, penetrando, porém, somente nos lugares onde não se

haja feito um reduto fechado para as sombras.

Os discípulos de Jesus podem referirse

às suas necessidades de conforto.

Isso é natural. Todavia, antes disso, necessitam saber se estão servindo ao Mestre e

seguindoo.

O Cristo nunca faltou às suas promessas. Seu reino divino se ergue

sobre consolações imortais; mas, para atingilo,

fazse

necessário seguirlhe

os

passos e ninguém ignora qual foi o caminho de Jesus, nas pedras deste mundo.

24 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

12

EDUCAÇÃO NO LAR

“Vós fazeis o que também vistes junto de vosso pai.”

Jesus (JOÃO, 8: 38)

Preconizase

na atualidade do mundo uma educação pela liberdade plena

dos instintos do homem, olvidandose,

pouco a pouco, os antigos ensinamentos

quanto à formação do caráter no lar; a coletividade, porém, cedo ou tarde, será

compelida a reajustar seus propósitos.

Os pais humanos têm de ser os primeiros mentores da criatura. De sua

missão amorosa, decorre a organização do ambiente justo. Meios corrompidos

significam maus pais entre os que, a peso de longos sacrifícios, conseguem manter,

na invigilância coletiva, a segurança possível contra a desordem ameaçadora.

A tarefa doméstica nunca será uma válvula para gozos improdutivos,

porque constitui trabalho e cooperação com Deus. O homem ou a mulher que

desejam ao mesmo tempo ser pais e gozadores da vida terrestre, estão cegos e

terminarão seus loucos esforços, espiritualmente falando, na vala comum da

inutilidade.

Debalde se improvisarão sociólogos para substituir a educação no lar por

sucedâneos abstrusos que envenenam a alma. Só um espírito que haja compreendido

a paternidade de Deus, acima de tudo, consegue escapar à lei pela qual os filhos

sempre imitarão os pais, ainda quando estes sejam perversos.

Ouçamos a palavra do Cristo e, se tendes filhos na Terra, guardai a

declaração do Mestre, como advertência.

25 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

13

QUE É A CARNE?

“Se vivemos em Espírito, andemos também em

Espírito.”

Paulo (GÁLATAS, 5: 25)

Quase sempre, quando se fala de espiritualidade, apresentamse

muitas

pessoas que se queixam das exigências da carne.

É verdade que os apóstolos muitas vezes falaram de concupiscências da

carne, de seus criminosos impulsos e nocivos desejos. Nós mesmos, freqüentemente,

nos sentimos na necessidade de aproveitar o símbolo para tornar mais acessíveis as

lições do Evangelho. O próprio Mestre figurou que o espírito, como elemento

divino, é forte, mas que a carne, como expressão humana, é fraca.

Entretanto, que é a carne?

Cada personalidade espiritual tem o seu corpo fluídico e ainda não

percebestes, porventura, que a carne é um composto de fluídos condensados?

Naturalmente, esses fluídos, em se reunindo, obedecerão aos imperativos da

existência terrestre, no que designais por lei de hereditariedade; mas, esse conjunto é

passivo e não determina por si. Podemos figurálo

como casa terrestre, dentro da

qual o espírito é dirigente, habitação essa que tomará as características boas ou más

de seu possuidor.

Quando falamos em pecados da carne, podemos traduzir a expressão por

faltas devidas à condição inferior do homem espiritual sobre o planeta.

Os desejos aviltantes, os impulsos deprimentes, a ingratidão, a máfé,

o

traço do traidor, nunca foram da carne.

É preciso se instale no homem a compreensão de sua necessidade de

autodomínio, acordandolhe

as faculdades de disciplinador e renovador de si

mesmo, em Jesus Cristo.

Um dos maiores absurdos de alguns discípulos é atribuir ao conjunto de

células passivas, que servem ao homem, a paternidade dos crimes e desvios da

Terra, quando sabemos que tudo procede do espírito.

26 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

14

EM TI MESMO

“Tens fé? Temna

em ti mesmo, diante de Deus.”

Paulo (ROMANOS, 14: 22.)

No mecanismo das realizações diárias, não é possível esquecer a criatura

aquela expressão de confiança em si mesma, e que deve manter na esfera das

obrigações que tem de cumprir à face de Deus.

Os que vivem na certeza das promessas divinas são os que guardam a fé no

poder relativo que lhes foi confiado e, aumentandoo

pelo próprio esforço,

prosseguem nas edificações definitivas, com vistas à eternidade.

Os que, no entanto, permanecem desalentados quanto às suas

possibilidades, esperando em promessas humanas, dão a idéia de fragmentos de

cortiça, sem finalidade própria, ao sabor das águas, sem roteiro e sem ancoradouro.

Naturalmente, ninguém poderá viver na Terra sem confiar em alguém de

seu círculo mais próximo; mas, a afeição, o laço amigo, o calor das dedicações

elevadas não podem excluir a confiança em si mesmo, diante do Criador.

Na esfera de cada criatura, Deus pode tudo; não dispensa, porém, a

cooperação, a vontade e a confiança do filho para realizar. Um pai que fizesse,

mecanicamente, o quadro de felicidades dos seus descendentes, exterminaria, em

cada um, as faculdades mais brilhantes.

Por que te manterás indeciso, se o Senhor te conferiu este ou aquele

trabalho justo? Fazeo

retamente, porque se Deus tem confiança em ti para alguma

coisa, deves confiar em ti mesmo, diante d’Ele.

27 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

15

CONVERSÃO

“E tu, quando te converteres, confirma teus irmãos.”

Jesus (LUCAS, 22: 32)

Não é tão fácil a conversão do homem, quanto afirmam os portadores de

convicções apressadas.

Muitos dizem “eu creio”, mas poucos podem declarar “estou

transformado”.

As palavras do Mestre a Simão Pedro são muito simbólicas. Jesus proferiuas,

na véspera do Calvário, na hora grave da última reunião com os discípulos.

Recomendava ao pescador de Cafarnaum confirmasse os irmãos na fé, quando se

convertesse.

Acresce notar que Pedro sempre foi o seu mais ativo companheiro de

apostolado. O Mestre preferia sempre a sua casa singela para exercer o divino

ministério do amor. Durante três anos sucessivos, Simão presenciou acontecimentos

assombrosos. Viu leprosos limpos, cegos que voltavam a ver, loucos que

recuperavam a razão; deslumbrarase

com a visão do Messias transfigurado no

labor, assistira à saída de Lázaro da escuridão do sepulcro, e, no entanto, ainda não

estava convertido.

Seriam necessários os trabalhos imensos de Jerusalém, os sacrifícios

pessoais, as lutas enormes consigo mesmo, para que pudesse converterse

ao

Evangelho e dar testemunho do Cristo aos seus irmãos.

Não será por se maravilhar tua alma, ante as revelações espirituais, que

estarás convertido e transformado para Jesus. Simão Pedro presenciou essas

revelações com o próprio Messias e custou muito a obter esses títulos. Trabalhemos,

portanto, por nos convertermos. Somente nessas condições, estaremos habilitados

para o testemunho.

28 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

16

ENDIREITAI OS CAMINHOS

“Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta

Isaías.”

João Batista (JOÃO, 1: 23)

A exortação do Precursor permanece no ar, convocando os homens de boavontade

à regeneração das estradas comuns.

Em todos os tempos, observamos criaturas que se candidatam à fé, que

anseiam pelos benefícios do Cristo. Clamam pela sua paz, pela presença divina e,

por vezes, após transformarem os melhores sentimentos em inquietação injusta,

acabam desanimadas e vencidas.

Onde está Jesus que não lhes veio ao encontro dos rogos sucessivos? Em

que esfera longínqua permanecerá o Senhor, distante de suas amarguras? Não

compreendem que, através de mensageiros generosos do seu amor, o Cristo se

encontra, em cada dia, ao lado de todos os discípulos sinceros. Faltalhes

dedicação

ao bem de si mesmos. Correm ao encalço do Mestre Divino, desatentos ao conselho

de João: “endireitai os caminhos”.

Para que alguém sinta a influência santificadora do Cristo, é preciso

retificar a estrada em que tem vivido. Muitos choram em veredas do crime,

lamentamse

nos resvaladouros do erro sistemático, invocam o céu sem o desapego

às paixões avassaladoras do campo material. Em tais condições, não é justo dirigirse

a alma ao Salvador, que aceitou a humilhação e a cruz sem queixas de qualquer

natureza.

Se queres que Jesus venha santificar as tuas atividades, endireita os

caminhos da existência, regenera os teus impulsos. Desfaze as sombras que te

rodeiam e sentiLoás,

ao teu lado, com a sua bênção.

29 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

17

POR CRISTO

“E se te fez algum dano, ou te deve alguma coisa, põe

isso à minha conta.”

Paulo (FILÊMON, 1: 18)

Enviando Onésimo a Filêmon, Paulo, nas suas expressões inspiradas e

felizes, recomendava ao amigo lançasse ao seu débito quanto lhe era devido pelo

portador.

Afeiçoemos a exortação às nossas necessidades próprias.

Em cada novo dia de luta, passamos a ser maiores devedores do Cristo.

Se tudo nos corre dificilmente, é de Jesus que nos chegam as providências

justas. Se tudo se desenvolve retamente, é por seu amor que utilizamos as dádivas da

vida e é, em seu nome, que distribuímos esperanças e consolações.

Estamos empenhados à sua inesgotável misericórdia.

Somos d’Ele e nessa circunstância reside nosso título mais alto.

Por que, então, o pessimismo e o desespero, quando a calúnia ou a

ingratidão nos ataquem de rijo, trazendonos

a possibilidade de mais vasta ascensão?

Se estamos totalmente empenhados ao amor infinito do Mestre, não será razoável

compreendermos pelo menos alguma particularidade de nossa dívida imensa,

dispondonos

a aceitar pequenina parcela de sofrimento, em memória de seu nome,

junto de nossos irmãos da Terra, que são seus tutelados igualmente?

Devemos refletir que quando falamos em paz, em felicidade, em vida

superior, agimos no campo da confiança, prometendo por conta do Cristo, porquanto

só Ele tem para dar em abundância.

Em vista disso, caso sintas que alguém se converteu em devedor de tua

alma, não te entregues a preocupações inúteis, porque o Cristo é também teu credor

e deves colocar os danos do caminho em sua conta divina, passando adiante.

30 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

18

PURIFICAÇÃO ÍNTIMA

“Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo,

purificai os corações.”

(TIAGO, 4: 8)

Cada homem tem a vida exterior, conhecida e analisada pelos que o

rodeiam, e a vida íntima da qual somente ele próprio poderá fornecer o testemunho.

O mundo interior é a fonte de todos os princípios bons ou maus e todas as

expressões exteriores guardam aí os seus fundamentos.

Em regra geral, todos somos portadores de graves deficiências íntimas,

necessitadas de retificação.

Mas o trabalho de purificar não é tão simples quanto parece.

Será muito fácil ao homem confessar a aceitação de verdades religiosas,

operar a adesão verbal a ideologias edificantes... Outra coisa, porém, é realizar a

obra da elevação de si mesmo, valendose

da autodisciplina, da compreensão

fraternal e do espírito de sacrifício.

O apóstolo Tiago entendia perfeitamente a gravidade do assunto e

aconselhava aos discípulos alimpassem as mãos, isto é, retificassem as atividades do

plano exterior, renovassem suas ações ao olhar de todos, apelando para que se

efetuasse, igualmente, a purificação do sentimento, no recinto sagrado da

consciência, apenas conhecido pelo aprendiz, na soledade indevassável de seus

pensamentos. O companheiro valoroso do Cristo, contudo, não se esqueceu de

afirmar que isso é trabalho para os de duplo ânimo, porque semelhante renovação

jamais se fará tãosomente

à custa de palavras brilhantes.

31 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

19

NA PROPAGANDA

“E dirvosão:

Eilo

aqui, ou, eilo

ali; não vades, nem

os sigais.”

Jesus (LUCAS, 17: 23)

As exortações do Mestre aos discípulos são muito precisas para provocarem

qualquer incerteza ou indecisão.

Quando tantas expressões sectárias requisitam o Cristo para os seus

desmandos intelectuais, é justo que os aprendizes novos, na luz do Consolador,

meditem a elevada significação deste versículo de Lucas.

Na propaganda genuinamente cristã não basta dizer onde está o Senhor.

Indispensável é mostrálo

na própria exemplificação.

Muitos percorrem templos e altares, procurando Jesus.

Mudar de crença religiosa pode ser modificação de caminho, mas pode ser

também continuidade de perturbação.

Tornase

necessário encontrar o Cristo no santuário interior.

Cristianizar a vida não é imprimirlhe

novas feições exteriores. É reformála

para o bem no âmbito particular.

Os que afirmam apenas na forma verbal que o Mestre se encontra aqui ou

ali, arcam com profundas responsabilidades. A preocupação de proselitismo é

sempre perigosa para os que se seduzem com as belezas sonoras da palavra sem

exemplos edificantes.

O discípulo sincero sabe que dizer é fácil, mas que é difícil revelar os

propósitos do Senhor na existência própria. É imprescindível fazer o bem, antes de

ensinálo

a outrem, porque Jesus recomendou ninguém seguisse os pregoeiros que

somente dissessem onde se poderia encontrar o Filho de Deus.

32 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

20

O COMPANHEIRO

“Não devias tu igualmente ter compaixão do teu

companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?”

Jesus (MATEUS, 18: 33)

Em qualquer parte, não pode o homem agir, isoladamente, em se tratando

da obra de Deus, que se aperfeiçoa em todos os lugares.

O Pai estabeleceu a cooperação como princípio dos mais nobres, no centro

das leis que regem a vida.

No recanto mais humilde, encontrarás um companheiro de esforço.

Em casa, ele pode chamarse

“pai” ou “filho”; no caminho, pode

denominarse

“amigo” ou “camarada de ideal”.

No fundo, há um só Pai que é Deus e uma grande família que se compõe de

irmãos.

Se o Eterno encaminhou ao teu ambiente um companheiro menos desejável,

tem compaixão e ensina sempre.

Eleva os que te rodeiam.

Santifica os laços que Jesus promoveu a bem de tua alma e de todos os que

te cercam.

Se a tarefa apresenta obstáculos, lembrate

das inúmeras vezes em que o

Cristo já aplicou misericórdia ao teu espírito. Isso atenua as sombras do coração.

Observa em cada companheiro de luta ou do dia uma bênção e uma oportunidade de

atender ao programa divino, acerca de tua existência.

Há dificuldades e percalços, incompreensões e desentendimentos? Usa a

misericórdia que Jesus já usou contigo, dandote

nova ocasião de santificar e de

aprender.

33 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

21

CAMINHOS RETOS

“E ele lhes disse: Lançai a rede para a banda direita do

barco e achareis.”

(JOÃO, 21: 6)

A vida deveria constituir, por parte de todos nós, rigorosa observância dos

sagrados interesses de Deus.

Freqüentemente, porém, a criatura busca sobreporse

aos desígnios divinos.

Estabelecese,

então, o desequilíbrio, porque ninguém enganará a Divina

Lei. E o homem sofre, compulsoriamente, na tarefa de reparação.

Alguns companheiros desesperamse

no bom combate pela perfeição

própria e lançamse

num verdadeiro inferno de sombras interiores. Queixamse

do

destino, acusam a sabedoria criadora, gesticulam nos abismos da maldade,

esquecendo o capricho e a imprevidência que os fizeram cair.

Jesus, no entanto, há quase vinte séculos, exclamou:

“Lançai a rede para a banda direita do barco e achareis.”

Figuradamente, o espírito humano é um “pescador” dos valores evolutivos,

na escola regeneradora da Terra. A posição de cada qual é o “barco”. Em cada novo

dia, o homem se levanta com a sua “rede” de interesses. Estaremos lançando a nossa

“rede” para a “banda direita”?

Fundamse

nossos pensamentos e atos sobre a verdadeira justiça?

Convém consultar a vida interior, em esforço diário, porque o Cristo, nesse

ensinamento, recomendava, de modo geral, aos seus discípulos: “Dedicai vossa

atenção aos caminhos retos e achareis o necessário.”

34 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

22

QUE BUSCAIS?

“E J esus, voltandose

e vendo que eles o seguiam, disselhes:

Que buscais?”

(JOÃO, 1: 38)

A vida em si é conjunto divino de experiências.

Cada existência isolada oferece ao homem o proveito de novos

conhecimentos. A aquisição de valores religiosos, entretanto, é a mais importante de

todas, em virtude de constituir o movimento de iluminação definitiva da alma para

Deus.

Os homens, contudo, estendem a esse departamento divino a sua viciação

de sentimentos, no jogo inferior dos interesses egoísticos.

Os templos de pedra estão cheios de promessas injustificáveis e de votos

absurdos.

Muitos devotos entendem encontrar na Divina Providência uma força

subornável, eivada de privilégios e preferências. Outros se socorrem do plano

espiritual com o propósito de solucionar problemas mesquinhos.

Esquecemse

de que o Cristo ensinou e exemplificou.

A cruz do Calvário é símbolo vivo.

Quem deseja a liberdade precisa obedecer aos desígnios supremos. Sem a

compreensão de Jesus, no campo íntimo, associada aos atos de cada dia, a alma será

sempre a prisioneira de inferiores preocupações.

Ninguém olvide a verdade de que o Cristo se encontra no umbral de todos

os templos religiosos do mundo, perguntando, com interesse, aos que entram: “Que

buscais?”

35 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

23

VIVER PELA FÉ

“Mas o justo viverá pela fé.”

Paulo (ROMANOS, 1: 17)

Na epístola aos romanos, Paulo afirma que o justo viverá pela fé.

Não poucos aprendizes interpretaram erradamente a assertiva. Supuseram

que viver pela fé seria executar rigorosamente as cerimônias exteriores dos cultos

religiosos.

Freqüentar os templos, harmonizarse

com os sacerdotes, respeitar a

simbologia sectária, indicariam a presença do homem justo. Mas nem sempre vemos

o bom ritualista aliado ao bom homem. E, antes de tudo, é necessário ser criatura de

Deus, em todas as circunstâncias da existência.

Paulo de Tarso queria dizer que o justo será sempre fiel, viverá de modo

invariável, na verdadeira fidelidade ao Pai que está nos céus.

Os dias são ridentes e tranqüilos? Tenhamos boa memória e não

desdenhemos a moderação. São escuros e tristes? Confiemos em Deus, sem cuja

permissão a tempestade não desabaria. Veio o abandono do mundo? O Pai jamais

nos abandona. Chegaram as enfermidades, os desenganos, a ingratidão e a morte?

Eles são todos bons amigos, por trazerem até nós a oportunidade de sermos justos,

de vivermos pela fé, segundo as disposições sagradas do Cristianismo.

36 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

24

O TESOURO ENFERRUJADO

“O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram.”

(TIAGO, 5: 3)

Os sentimentos do homem, nas suas próprias idéias apaixonadas, se

dirigidos para o bem, produziriam sempre, em conseqüência, os mais substanciosos

frutos para a obra de Deus. Em quase toda parte, porém, desenvolvemse

ao

contrário, impedindo a concretização dos propósitos divinos, com respeito à

redenção das criaturas.

De modo geral, vemos o amor interpretado tãosomente

à conta de emoção

transitória dos sentidos materiais, a beneficência produzindo perturbação entre

dezenas de pessoas para atender a três ou quatro doentes, a fé organizando guerras

sectárias, o zelo sagrado da existência criando egoísmo fulminante.

Aqui, o perdão fala de dificuldades para expressarse;

ali, a humildade pede

a admiração dos outros.

Todos os sentimentos que nos foram conferidos por Deus são sagrados.

Constituem o ouro e a prata de nossa herança, mas como assevera o apóstolo,

deixamos que as dádivas se enferrujassem, no transcurso do tempo.

Fazse

necessário trabalhemos, afanosamente, por eliminar a “ferrugem”

que nos atacou os tesouros do espírito. Para isso, é indispensável compreendamos no

Evangelho a história da renúncia perfeita e do perdão sem obstáculos, a fim de que

estejamos caminhando, verdadeiramente, ao encontro do Cristo.

37 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

25

TENDE CALMA

“E disse Jesus: Mandai assentar os homens.”

(JOÃO, 6: 10)

Esta passagem do Evangelho de João é das mais significativas. Verificase

quando a multidão de quase cinco mil pessoas tem necessidade de pão, no

isolamento da natureza.

Os discípulos estão preocupados.

Filipe afirma que duzentos dinheiros não bastarão para atender à

dificuldade imprevista.

André conduz ao Mestre um jovem que trazia consigo cinco pães de cevada

e dois peixes.

Todos discutem.

Jesus, entretanto, recebe a migalha sem descrer de sua preciosa significação

e manda que todos se assentem, pede que haja ordem, que se faça harmonia. E

distribuí o recurso com todos, maravilhosamente.

A grandeza da lição é profunda.

Os homens esfomeados de paz reclamam a assistência do Cristo. Falam

n’Ele, suplicamlhe

socorro, aguardamlhe

as manifestações. Não conseguem,

todavia, estabelecer a ordem em si mesmos, para a recepção dos recursos celestes.

Misturam Jesus com as suas imprecações, suas ansiedades loucas e seus desejos

criminosos. Naturalmente se desesperam, cada vez mais desorientados, porquanto

não querem ouvir o convite à calma, não se assentam para que se faça a ordem,

persistindo em manter o próprio desequilíbrio.

38 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

26

PADECER

“Nada temas das coisas que hás de padecer.”

(APOCALIPSE, 2: 10)

Uma das maiores preocupações do Cristo foi alijar os fantasmas do medo

das estradas dos discípulos.

A aquisição da fé não constitui fenômeno comum nas sendas da vida.

Traduz confiança plena.

Afinal, que significará “padecer”?

O sofrimento de muitos homens, na essência, é muito semelhante ao do

menino que perdeu seus brinquedos.

Numerosas criaturas sentemse

eminentemente sofredoras, por não lhes ser

possível a prática do mal; revoltamse

outras porque Deus não lhes atendeu aos

caprichos perniciosos.

A fim de prestar a devida cooperação ao Evangelho, é justo nos

incorporemos à caravana fiel que se pôs a caminho do encontro com Jesus,

compreendendo que o amigo leal é o que não procura contender e está sempre

disposto à execução das boas tarefas.

Participar do espírito de serviço evangélico é partilhar das decisões do

Mestre, cumprindo os desígnios divinos do Pai que está nos Céus.

Não temamos, pois, o que possamos vir a sofrer.

Deus é o Pai magnânimo e justo.

Um pai não distribui padecimentos. Dá corrigendas e toda corrigenda

aperfeiçoa.

39 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

27

NEGÓCIOS

“E ele lhes disse: Por que me procuráveis? Não sabíeis

que me convém tratar dos negócios de meu Pai?”

(LUCAS, 2: 49)

O homem do mundo está sempre preocupado pelos negócios referentes aos

seus interesses efêmeros.

Alguns passam a existência inteira observando a cotação das bolsas.

Absorvemse

outros no estudo dos mercados.

Os países têm negócios internos e externos. Nos serviços que lhes dizem

respeito, utilizamse

maravilhosas atividades da inteligência. Entretanto, apesar de

sua feição respeitável, quando legítimas, todos esses movimentos são precários e

transitórios. As bolsas mais fortes sofrerão crises; o comércio do mundo é versátil e,

por vezes, ingrato.

São muito raros os homens que se consagram aos seus interesses eternos.

Freqüentemente, lembramse

disso, muito tarde, quando o corpo permanece a

morrer. Só então, quebram o esquecimento fatal.

No entanto, a criatura humana deveria entender na iluminação de si mesma

o melhor negócio da Terra, porquanto semelhante operação representa o interesse da

Providência Divina, a nosso respeito.

Deus permitiu as transações no planeta, para que aprendamos a fraternidade

nas expressões da troca, deixou que se processassem os negócios terrenos, de modo

a ensinarnos,

através deles, qual o maior de todos. Eis por que o Mestre nos fala

claramente, nas anotações de Lucas: — “Não sabíeis que me convém tratar dos

negócios de meu Pai?”

40 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

28

ESCRITORES

“Guardaivos

dos escribas que gostam de andar com

vestes compridas.”

Jesus (MARCOS, 12: 38)

As letras do mundo sempre estiveram cheias de “escribas que gostam de

andar com vestes compridas”.

Jesus referiase

não só aos intelectuais ambiciosos, mas também aos

escritores excêntricos que, a pretexto de novidade, envenenam os espíritos com as

suas concepções doentias, oriundas da excessiva preocupação de originalidade.

É preciso fugir aos que matam a vida simples.

O tóxico intelectual costuma arruinar numerosas existências.

Há livros cuja função útil é a de manter aceso o archote da vigilância nas

almas de caráter solidificado nos ideais mais nobres da vida. Ainda agora, quando

atravessamos tempos perturbados e difíceis para o homem, o mercado de idéias

apresentase

repleto de artigos deteriorados, pedindo a intervenção dos postos de

“higiene espiritual”.

Podereis alimentar o corpo com substâncias apodrecidas?

Vossa alma, igualmente, não poderá nutrirse

de ideais inferiores, na base

da irreligião, do desrespeito, da desordem, da indisciplina.

Observai os modelos de decadência intelectual e refleti com sinceridade na

paz que desejais intimamente.

Isso constituirá um auxílio forte, em favor da extinção dos desvios da

inteligência.

41 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

29

CONTENTARSE

“Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi

a contentarme

com o que tenho.”

Paulo (FILIPENSES, 4, 11)

A vertigem da posse avassala a maioria das criaturas na Terra.

A vida simples, condição da felicidade relativa que o planeta pode oferecer,

foi esquecida pela generalidade dos homens. Esmagadora percentagem das súplicas

terrestres não consegue avançar além do seu acanhado âmbito de origem.

Pedemse

a Deus absurdos estranhos. Raras pessoas se contentam com o

material recebido para a solução de suas necessidades, raríssimas pedem apenas o

“pão de cada dia”, como símbolo das aquisições indispensáveis.

O homem incoerente não procura saber se possui o menos para a vida

eterna, porque está sempre ansioso pelo mais nas possibilidades transitórias.

Geralmente, permanece absorvido pelos interesses perecíveis, insaciado, inquieto,

sob o tormento angustioso da desmedida ambição. Na corrida louca para o

imediatismo, esquece a oportunidade que lhe pertence, abandona o material que lhe

foi concedido para a evolução própria e atirase

a aventuras de conseqüências

imprevisíveis, em face do seu futuro infinito.

Se já compreendes tuas responsabilidades com o Cristo, examina a essência

de teus desejos mais íntimos. Lembrate

de que Paulo de Tarso, o apóstolo chamado

por Jesus para a disseminação da verdade divina, entre os homens, foi obrigado a

aprender a contentarse

com o que possuía, penetrando o caminho de disciplinas

acerbas.

Estarás, acaso, esperando que alguém realize semelhante aprendizado por

ti?

42 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

30

O MUNDO E O MAL

“Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do

mal.”

Jesus (JOÃO, 17: 15)

Nos centros religiosos, há sempre grande número de pessoas preocupadas

com a idéia da morte. Muitos companheiros não crêem na paz, nem no amor, senão

em planos diferentes da Terra. A maioria aguarda situações imaginárias e

injustificáveis para quem nunca levou em linha de conta o esforço próprio.

O anseio de morrer para ser feliz é enfermidade do espírito.

Orando ao Pai pelos discípulos, Jesus rogou para que não fossem retirados

do mundo, e, sim, libertos do mal.

O mal, portanto, não é essencialmente do mundo, mas das criaturas que o

habitam.

A Terra, em si, sempre foi boa. De sua lama brotam lírios de delicado

aroma, sua natureza maternal é repositório de maravilhosos milagres que se repetem

todos os dias.

De nada vale partirmos do planeta, quando nossos males não foram

exterminados convenientemente.

Em tais circunstâncias, assemelhamonos

aos portadores humanos das

chamadas moléstias incuráveis.

Podemos trocar de residência; todavia, a mudança é quase nada se as

feridas nos acompanham. Fazse

preciso, pois, embelezar o mundo e aprimorálo,

combatendo o mal que está em nós.

43 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

31

COISAS MÍNIMAS

“Pois se nem ainda podeis fazer as coisas mínimas, por

que estais ansiosos pelas outras?”

Jesus (LUCAS, 12: 26)

Pouca gente conhece a importância da boa execução das coisas mínimas.

Há homens que, com falsa superioridade, zombam das tarefas humildes,

como se não fossem imprescindíveis ao êxito dos trabalhos de maior envergadura.

Um sábio não pode esquecerse

de que, um dia, necessitou aprender com as letras

simples do alfabeto.

Além disso, nenhuma obra é perfeita se as particularidades não foram

devidamente consideradas e compreendidas.

De modo geral, o homem está sempre fascinado pelas situações de grande

evidência, pelos destinos dramáticos e empolgantes.

Destacarse,

entretanto, exige muitos cuidados. Os espinhos também se

destacam, as pedras salientamse

na estrada comum.

Convém, desse modo, atender às coisas mínimas da senda que Deus nos

reservou, para que a nossa ação se fixe com real proveito à vida.

A sinfonia estará perturbada se faltou uma nota, o poema é obscuro quando

se omite um verso.

Estejamos zelosos pelas coisas pequeninas. São parte integrante e

inalienável dos grandes feitos.

Compreendendo a importância disso, o Mestre nos interroga no Evangelho

de Lucas: “Pois se nem podeis ainda fazer as coisas mínimas, por que estais ansiosos

pelas outras?”

44 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

32

NUVENS

“E saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu

amado Filho, a ele ouvi.”

(LUCAS, 9: 35)

O homem, quase sempre, tem a mente absorvida na contemplação das

nuvens que lhe surgem no horizonte.

São nuvens de contrariedades, de projetos frustrados, de esperanças

desfeitas.

Por vezes, desesperase

envenenando as fontes da própria vida. Desejaria,

invariavelmente, um céu azul a distância, um Sol brilhante no dia e luminosas

estrelas que lhe embelezassem a noite. No entanto, aparece a nuvem e a

perplexidade o toma, de súbito.

Contanos

o Evangelho a formosa história de uma nuvem.

Encontravamse

os discípulos deslumbrados com a visão de Jesus

transfigurado, tendo junto de si Moisés e Elias, aureolados de intensa luz.

Eis, porém, que uma grande sombra comparece. Não mais distinguem o

maravilhoso quadro. Todavia, do manto de névoa espessa, clama a voz poderosa da

revelação divina: “Este é o meu amado Filho, a ele ouvi!”

Manifestavase

a palavra do Céu, na sombra temporária.

A existência terrestre, efetivamente, impõe angústias inquietantes e aflições

amargosas. É conveniente, contudo, que as criaturas guardem serenidade e

confiança, nos momentos difíceis.

As penas e os dissabores da luta planetária contêm esclarecimentos

profundos, lições ocultas, apelos grandiosos. A voz sábia e amorosa de Deus fala

sempre através deles.

45 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

33

RECAPITULAÇÕES

“Porque amavam mais a glória dos homens do que a

glória de Deus.”

(JOÃO, 12: 43)

Os séculos parecem reviver com seus resplendores e decadências.

Fornece o mundo a impressão dum campo onde as cenas se repetem

constantemente.

Tudo instável.

A força e o direito caminham com alternativas de domínio. Multidões

esclarecidas regressam a novas alucinações. O espírito humano, a seu turno,

considerado insuladamente, demonstra recapitular as más experiências, após

alcançar o bom conhecimento.

Como esclarecer a anomalia? A situação é estranhável porque, no fundo,

todo homem tem sede de paz e fome de estabilidade. Importa reconhecer, porém,

que, no curso dos milênios, as criaturas humanas, em múltiplas existências, têm

amado mais a glória terrena que a glória de Deus.

Inúmeros homens se presumem redimidos com a meditação criteriosa do

crepúsculo, mas... e o dia que já se foi? Na justiça misericordiosa de suas decisões,

Jesus concede ao trabalhador hesitante uma oportunidade nova, O dia volta.

Refundese

a existência. Todavia, que aproveita ao operário valerse

tãosomente

dos bens eternos, no crepúsculo cheio de sombras?

Alguém lhe perguntará: que fizeste da manhã clara, do Sol ardente, dos

instrumentos que te dei?

Apenas a essa altura reconhece a necessidade de gloriarse

no TodoPoderoso.

E homens e povos continuarão desfazendo a obra falsa para recomeçar o

esforço outra vez.

46 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

34

COMER E BEBER

“Então, começareis a dizer: Temos comido e bebido na

tua presença e tens ensinado nas nossas ruas.”

Jesus (LUCAS, 13: 26)

O versículo de Lucas, aqui anotado, referese

ao pai de família que cerrou a

porta aos filhos ingratos.

O quadro reflete a situação dos religiosos de todos os matizes que apenas

falaram, em demasia, reportandose

ao nome de Jesus. No dia da análise minuciosa,

quando a morte abre, de novo, a porta espiritual, eis que dirão haver “comido e

bebido” na presença do Mestre, cujos ensinamentos conheceram e disseminaram nas

ruas.

Comeram e beberam apenas. Aproveitaramse

dos recursos egoisticamente.

Comeram e acreditaram com a fé intelectual. Beberam e transmitiram o que haviam

aprendido de outrem. Assimilar a lição na existência própria não lhes interessava a

mente inconstante.

Conheceram o Mestre, é verdade, mas não o revelaram em seus corações.

Também Jesus conhecia Deus; no entanto, não se limitou a afirmar a realidade

dessas relações. Viveu o amor ao Pai, junto dos homens.

Ensinando a verdade, entregouse

à redenção humana, sem cogitar de

recompensa. Entendeu as criaturas antes que essas o entendessem, concedeunos

supremo favor com a sua vinda, deuse

em holocausto para que aprendêssemos a

ciência do bem.

Não bastará crer intelectualmente em Jesus. É necessário aplicálo

a nós

próprios.

O homem deve cultivar a meditação no círculo dos problemas que o

preocupam cada dia. Os irracionais também comem e bebem. Contudo, os filhos das

nações nascem na Terra para uma vida mais alta.

47 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

35

SEMEADURA

“Mas, tendo sido semeado, cresce.”

Jesus (MARCOS, 4: 32)

É razoável que todos os homens procurem compreender a substância dos

atos que praticam nas atividades diárias. Ainda que estejam obedecendo a certos

regulamentos do mundo, que os compelem a determinadas atitudes, é imprescindível

examinar a qualidade de sua contribuição pessoal no mecanismo das circunstâncias,

porquanto é da lei de Deus que toda semeadura se desenvolva.

O bem semeia a vida, o mal semeia a morte. O primeiro é o movimento

evolutivo na escala ascensional para a Divindade, o segundo é a estagnação.

Muitos Espíritos, de corpo em corpo, permanecem na Terra com as mesmas

recapitulações durante milênios. A semeadura prejudicial condicionouos

à chamada

“morte no pecado”.

Atravessam os dias, resgatando débitos escabrosos e caindo de novo pela

renovação da sementeira indesejável. A existência deles constitui largo círculo

vicioso, porque o mal os enraíza ao solo ardente e árido das paixões ingratas.

Somente o bem pode conferir o galardão da liberdade suprema,

representando a chave única suscetível de abrir as portas sagradas do Infinito à alma

ansiosa.

Haja, pois, suficiente cuidado em nós, cada dia, porquanto o bem ou o mal,

tendo sido semeados, crescerão junto de nós, de conformidade com as leis que

regem a vida.

48 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

36

HERESIAS

“E até importa que haja entre vós heresias, para que os

que são sinceros se manifestem entre vós.”

Paulo (I CORÍNTIOS, 11: 19)

Recebamos os hereges com simpatia, falem livremente os materialistas,

ninguém se insurja contra os que duvidam, que os descrentes possuam tribunais e

vozes.

Isso é justo.

Paulo de Tarso escreveu este versículo sob profunda inspiração.

Os que condenam os desesperados da sorte não ajuízam sobre o amor

divino, com a necessária compreensão.

Que dizerse

do pai que amaldiçoa o filho por haver regressado a casa

enfermo e sem esperança?

Quem não consegue crer em Deus está doente. Nessa condição, a palavra

dos desesperados é sincera, por partir de almas vazias, em gritos de socorro, por

mais dissimulados que esses gritos pareçam, sob a capa brilhante dos conceitos

filosóficos ou científicos do mundo. Ainda que os infelizes dessa ordem nos

ataquem, seus esforços inúteis redundam a benefício de todos, possibilitando a

seleção dos valores legítimos na obra iniciada.

Quanto à suposta necessidade de ministrarmos fé aos negadores,

esqueçamos a presunção de satisfazêlos,

guardando conosco a certeza de que Deus

tem muito a darlhes.

Recebamolos

como irmãos e estejamos convictos de que o

Pai fará o resto.

49 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

37

HONRAS VÃS

“Em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que

são mandamentos de homens.”

Jesus (MARCOS, 7: 7)

A atualidade do Cristianismo oferecenos

lições profundas, relativamente à

declaração acima mencionada.

Ninguém duvida do sopro cristão que anima a civilização do Ocidente.

Cumpre notar, contudo, que a essência cristã, em seus institutos, não passou de

sopro, sem renovações substanciais, porque, logo após o ministério divino do

Mestre, vieram os homens e lavraram ordenações e decretos na presunção de honrar

o Cristo, semeando, em verdade, separatismo e destruição.

Os últimos séculos estão cheios de figuras notáveis de reis, de religiosos e

políticos que se afirmaram defensores do Cristianismo e apóstolos de suas luzes.

Todos eles escreveram ou ensinaram em nome de Jesus.

Os príncipes expediram mandamentos famosos, os clérigos publicaram

bulas e compêndios, os administradores organizaram leis célebres. No entanto, em

vão procuraram honrar o Salvador, ensinando doutrinas que são caprichos humanos,

porquanto o mundo de agora ainda é campo de batalha das idéias, qual no tempo em

que o Cristo veio pessoalmente a nós, apenas com a diferença de que o Farisaísmo, o

Templo, o Sinédrio, o Pretório e a Corte de César possuem hoje outros nomes,

Importa reconhecer, desse modo, que, sobre o esforço de tantos anos, é necessário

renovar a compreensão geral e servir ao Senhor, não segundo os homens, mas de

acordo com os seus próprios ensinamentos.

50 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

38

PREGAÇÕES

“E ele lhes disse: Vamos às aldeias vizinhas para que eu

ali também pregue; porque para isso vim.”

(MARCOS, 1: 38)

Neste versículo de Marcos, Jesus declara ter vindo ao mundo para a

pregação. Todavia, como a significação do conceito tem sido erroneamente

interpretada, é razoável recordar que, com semelhante assertiva, o Mestre incluía no

ato de pregar todos os gestos sacrificiais de sua vida.

Geralmente, vemos na Terra a missão de ensinar muito desmoralizada.

A ciência oficial dispõe de cátedras, a política possui tribunas, a religião

fala de púlpitos. Contudo, os que ensinam, com exceções louváveis, quase sempre se

caracterizam por dois modos diferentes de agir.

Exibem certas atitudes quando pregam, e adotam outras quando em

atividade diária. Daí resulta a perturbação geral, porque os ouvintes se sentem à

vontade para mudar a “roupa do caráter”.

Toda dissertação moldada no bem é útil. Jesus veio ao mundo para isso,

pregou a verdade em todos os lugares, fez discursos de renovação, comentou a

necessidade do amor para a solução de nossos problemas.

No entanto, misturou palavras e testemunhos vivos, desde a primeira

manifestação de seu apostolado sublime até a cruz. Por pregação, portanto, o Mestre

entendia igualmente os sacrifícios da vida.

Enviandonos

divino ensinamento, nesse sentido, contanos

o Evangelho

que o Mestre vestia uma túnica sem costura na hora suprema do Calvário.

51 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

39

ENTRA E COOPERA

“E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres

que eu faça? Respondeulhe

o Senhor: — Levantate

e entra na

cidade e lá te será dito o que te convém fazer.”

(ATOS, 9: 6)

Esta particularidade dos Atos dos Apóstolos revestese

de grande beleza

para os que desejam compreensão do serviço com o Cristo.

Se o Mestre aparecera ao rabino apaixonado de Jerusalém, no esplendor da

luz divina e imortal, se lhe dirigira palavras diretas e inolvidáveis ao coração, por

que não terminou o esclarecimento, recomendandolhe,

ao invés disso, entrar em

Damasco, a fim de ouvir o que lhe convinha saber? É que a lei da cooperação entre

os homens é o grande e generoso princípio, através do qual Jesus segue, de perto, a

Humanidade inteira, pelos canais da inspiração.

O Mestre ensina os discípulos e consolaos

através deles próprios. Quanto

mais o aprendiz lhe alcança a esfera de influenciação, mais habilitado estará para

constituirse

em seu instrumento fiel e justo.

Paulo de Tarso contemplou o Cristo ressuscitado, em sua grandeza

imperecível, mas foi obrigado a socorrerse

de Ananias para iniciar a tarefa

redentora que lhe cabia junto dos homens.

Essa lição deveria ser bem aproveitada pelos companheiros que esperam

ansiosamente a morte do corpo, suplicando transferência para os mundos superiores,

tãosomente

por haverem ouvido maravilhosas descrições dos mensageiros divinos.

Meditando o ensinamento, perguntem a si próprios o que fariam nas esferas mais

altas, se ainda não se apropriaram dos valores educativos que a Terra lhes pode

oferecer.

Mais razoável, pois, se levantem do passado e penetrem a luta edificante de

cada dia, na Terra, porquanto, no trabalho sincero da cooperação fraternal, receberão

de Jesus o esclarecimento acerca do que lhes convém fazer.

52 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

40

TEMPO DE CONFIANÇA

“E disselhes:

Onde está a vossa fé?”

(LUCAS, 8: 25)

A tempestade estabelecera a perturbação no ânimo dos discípulos mais

fortes. Desorientados, ante a fúria dos elementos, socorremse

de Jesus, em altos

brados.

Atendeos

o Mestre, mas pergunta depois:

— Onde está a vossa fé?

O quadro sugere ponderações de vasto alcance. A interrogação de Jesus

indica claramente a necessidade de manutenção da confiança, quando tudo parece

obscuro e perdido. Em tais circunstâncias, surge a ocasião da fé, no tempo que lhe é

próprio.

Se há ensejo para trabalho e descanso, plantio e colheita, revelarseá

igualmente a confiança na hora adequada.

Ninguém exercitará otimismo, quando todas as situações se conjugam para

o bemestar.

É difícil demonstrarse

amizade nos momentos felizes.

Aguardem os discípulos, naturalmente, oportunidades de luta maior, em

que necessitarão aplicar mais extensa e intensivamente os ensinos do Senhor. Sem

isso, seria impossível aferir valores.

Na atualidade dolorosa, inúmeros companheiros invocam a cooperação

direta do Cristo. E o socorro vem sempre, porque é infinita a misericórdia celestial,

mas, vencida a dificuldade, esperem a indagação:

— Onde está a vossa fé?

E outros obstáculos sobrevirão, até que o discípulo aprenda a dominarse,

a

educarse

e a vencer, serenamente, com as lições recebidas.

53 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

41

A REGRA ÁUREA

“Amarás o teu próximo como a ti mesmo.”

Jesus (MATEUS, 22: 39)

Incontestavelmente, muitos séculos antes da vinda do Cristo já era ensinada

no mundo a Regra Áurea, trazida por embaixadores de sua sabedoria e misericórdia.

Importa esclarecer, todavia, que semelhante princípio era transmitido com maior ou

menor exemplificação de seus expositores.

Diziam os gregos: “Não façais ao próximo o que não desejais receber dele.”

Afirmavam os persas: “Fazei como quereis que se vos faça.” Declaravam os

chineses: “O que não desejais para vós, não façais a outrem.” Recomendavam os

egípcios: “Deixai passar aquele que fez aos outros o que desejava para si.”

Doutrinavam os hebreus: “O que não quiserdes para vós, não desejeis para o

próximo.”

Insistiam os romanos: “A lei gravada nos corações humanos é amar os

membros da sociedade como a si mesmo.”

Na antigüidade, todos os povos receberam a lei de ouro da magnanimidade

do Cristo. Profetas, administradores, juízes e filósofos, porém, procederam como

instrumentos mais ou menos identificados com a inspiração dos planos mais altos da

vida. Suas figuras apagaramse

no recinto dos templos iniciáticos ou confundiramse

na tela do tempo em vista de seus testemunhos fragmentários.

Com o Mestre, todavia, a Regra Áurea é a novidade divina, porque Jesus a

ensinou e exemplificou, não com virtudes parciais, mas em plenitude de trabalho,

abnegação e amor, à claridade das praças públicas, revelandose

aos olhos da

Humanidade inteira.

54 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

42

GLÓRIA AO BEM

“Glória, porém, e honra e paz a qualquer que obra o bem.”

Paulo (ROMANOS, 2: 10)

A malícia costuma conduzir o homem a falsas apreciações do bem, quando

não parta da confissão religiosa a que se dedica, do ambiente de trabalho que lhe é

próprio, da comunidade familiar em que se integra.

O egoísmo fálo

crer que o bem completo só poderia nascer de suas mãos

ou dos seus. Esse é dos característicos mais inferiores da personalidade.

O bem flui incessantemente de Deus e Deus é o Pai de todos os homens. E

é através do homem bom que o Altíssimo trabalha contra o sectarismo que lhe

transformou os filhos terrestres em combatentes contumazes, de ações estéreis e

sanguinolentas.

Por mais que as lições espontâneas do Céu convoquem as criaturas ao

reconhecimento dessa verdade, continuam os homens em atitudes de ofensiva,

ameaça e destruição, uns para com os outros.

O Pai, no entanto, consagrará o bem, onde quer que o bem esteja.

É indispensável não atentarmos para os indivíduos, mas, sim, observar e

compreender o bem que o Supremo Senhor nos envia por intermédio deles.

Que importa o aspecto exterior desse ou daquele homem? Que interessam a

sua nacionalidade, o seu nome, a sua cor? Anotemos a mensagem de que são

portadores. Se permanecem consagrados ao mal, são dignos do bem que lhes

possamos fazer, mas se são bons e sinceros, no setor de serviço em que se

encontram, merecem a paz e a honra de Deus.

55 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

43

CONSULTAS

“E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam

apedrejadas. Tu, pois, que dizes?”

(JOÃO, 8: 5)

Várias vezes o espírito de má fé cercou o Mestre, com interrogações,

aguardando determinadas respostas pelas quais o ridicularizasse. A palavra d’Ele,

porém, era sempre firme, incontestável, cheia de sabor divino.

Referimonos

ao fato para considerar que semelhantes anotações convidam

o discípulo a consultar sempre a sabedoria, o gesto e o exemplo do Mestre.

Os ensinamentos e atos de Jesus constituem lições espontâneas para todas

as questões da vida.

O homem costuma gastar grandes patrimônios financeiros nos inquéritos da

inteligência. O parecer dos profissionais do direito custa, por vezes, o preço de

angustioso sacrifício.

Jesus, porém, fornece opiniões decisivas e profundas, gratuitamente. Basta

que a alma procure a oração, o equilíbrio e a quietude. O Mestre falarlheá

na Boa

Nova da Redenção.

Freqüentemente, surgem casos inesperados, problemas de solução difícil.

Não ignora o homem o que os costumes e as tradições mandam resolver, de certo

modo; no entanto, é indispensável que o aprendiz do Evangelho pergunte, no

santuário do coração:

— Tu, porém, Mestre, que me dizes a isto?

E a resposta não se fará esperar como divina luz no grande silêncio.

56 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

44

O CEGO DE JERICÓ

“Dizendo: Que queres que te faça? E ele respondeu: —

Senhor, que eu veja.”

(LUCAS, 18: 41)

O cego de Jericó é das grandes figuras dos ensinamentos evangélicos.

Informanos

a narrativa de Lucas que o infeliz andava pelo caminho,

mendigando... Sentindo a aproximação do Mestre, põese

a gritar, implorando

misericórdia.

Irritamse

os populares, em face de tão insistentes rogativas. Tentam

impedilo,

recomendandolhe

calar as solicitações. Jesus, contudo, ouvelhe

a

súplica, aproximase

dele e interroga com amor:

— Que queres que te faça?

Á frente do magnânimo dispensador dos bens divinos, recebendo liberdade

tão ampla, o pedinte sincero responde apenas isto:

— Senhor , que eu veja!

O propósito desse cego honesto e humilde deveria ser o nosso em todas as

circunstâncias da vida.

Mergulhados na carne ou fora dela, somos, às vezes, esse mendigo de

Jericó, esmolando às margens da estrada comum. Chamanos

a vida, o trabalho

apela para nós, abençoanos

a luz do conhecimento, mas permanecemos indecisos,

sem coragem de marchar para a realização elevada que nos compete atingir. E,

quando surge a oportunidade de nosso encontro espiritual com o Cristo, além de

sentirmos que o mundo se volta contra nós, induzindonos

à indiferença, é muito

raro sabermos pedir sensatamente.

Por isso mesmo, é muito valiosa a recordação do pobrezinho mencionado

no versículo de Lucas, porquanto não é preciso compareçamos diante do Mestre

com volumosa bagagem de rogativas. Basta lhe peçamos o dom de ver, com a exata

compreensão das particularidades do caminho evolutivo. Que o Senhor, portanto,

nos faça enxergar todos os fenômenos e situações, pessoas e coisas, com amor e

justiça, e possuiremos o necessário à nossa alegria imortal.

57 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

45

CONVERSAR

“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só

a que for boa para promover a edificação, para que dê graças

aos que a ouvem.”

Paulo (EFÉSIOS, 4: 29)

O gosto de conversar retamente e as palestras edificantes caracterizam as

relações de legítimo amor fraternal.

As almas que se compreendem, nesse ou naquele setor da atividade comum,

estimam as conversações afetuosas e sábias, como escrínios vivos de Deus, que

permutam, entre si, os valores mais preciosos.

A palavra precede todos os movimentos nobres da vida. Tece os ideais do

amor, estimula a parte divina, desdobra a civilização, organiza famílias e povos.

Jesus legou o Evangelho ao mundo, conversando. E quantos atingem mais

elevado plano de manifestação, prezam a palestra amorosa e esclarecedora.

Pela perda do gosto de conversar com alguém, pode o homem avaliar se

está caindo ou se o amigo estaciona em desvios inesperados.

Todavia, além dos que se conservam em posição de superioridade, existem

aqueles que desfiguram o dom sagrado do verbo, compelindoo

às maiores torpezas.

São os amantes do ridículo, da zombaria, dos falsos costumes. A palavra, porém, é

dádiva tão santa que, ainda aí, revela aos ouvintes corretos a qualidade do espírito

que a insulta e desfigura, colocandoo,

imediatamente, no baixo lugar que lhe

compete nos quadros da vida.

Conversar é possibilidade sublime. Não relaxes, pois, essa concessão do

Altíssimo, porque pela tua conversação serás conhecido.

58 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

46

QUEM ÉS?

“Há só um Legislador e um J uiz que pode salvar e

destruir. Tu, porém, quem és, que julgas a outrem?”

(TIAGO, 4: 12)

Deveria existir, por parte do homem, grande cautela em emitir opiniões

relativamente à incorreção alheia.

Um parecer inconsciente ou leviano pode gerar desastres muito maiores que

o erro dos outros, convertido em objeto de exame.

Naturalmente existem determinadas responsabilidades que exigem

observações acuradas e pacientes daqueles a quem foram conferidas. Um

administrador necessita analisar os elementos de composição humana que lhe

integram a máquina de serviços. Um magistrado, pago pelas economias do povo, é

obrigado a examinar os problemas da paz ou da saúde sociais, deliberando com

serenidade e justiça na defesa do bem coletivo. Entretanto, importa compreender que

homens, como esses, entendendo a extensão e a delicadeza dos seus encargos

espirituais, muito sofrem, quando compelidos ao serviço de regeneração das peças

vivas, desviadas ou enfermiças, encaminhadas à sua responsabilidade.

Na estrada comum, no entanto, verificase

grande excesso de pessoas

viciadas na precipitação e na leviandade.

Cremos seja útil a cada discípulo, quando assediado pelas considerações

insensatas, lembrar o papel exato que está representando no campo da vida presente,

interrogando a si próprio, antes de responder às indagações tentadoras: “Será este

assunto de meu interesse? Quem sou? Estarei, de fato, em condições de julgar

alguém?”

59 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

47

A GRANDE PERGUNTA

“E por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o

que eu digo?”

Jesus (LUCAS, 6: 46)

Em lamentável indiferença, muitas pessoas esperam pela morte do corpo, a

fim de ouvirem as sublimes palavras do Cristo.

Não se compreende, porém, o motivo de semelhante propósito. O Mestre

permanece vivo em seu Evangelho de Amor e Luz.

É desnecessário aguardar ocasiões solenes para que lhe ouçamos os

ensinamentos sublimes e claros.

Muitos aprendizes aproximamse

do trabalho santo, mas desejam

revelações diretas. Teriam mais fé, asseguram displicentes, se ouvissem o Senhor,

de modo pessoal, em suas manifestações divinas. Acreditamse

merecedores de

dádivas celestes e acabam considerando que o serviço do Evangelho é grande em

demasia para o esforço humano e põemse

à espera de milagres imprevistos, sem

perceberem que a preguiça sutilmente se lhes mistura à vaidade, anulandolhes

as

forças.

Tais companheiros não sabem ouvir o Mestre Divino em seu verbo imortal.

Ignoram que o serviço deles é aquele a que foram chamados, por mais humildes lhes

pareçam as atividades a que se ajustam.

Na qualidade de político ou de varredor, num palácio ou numa choupana, o

homem da Terra pode fazer o que lhe ensinou Jesus.

É por isso que a oportuna pergunta do Senhor deveria gravarse

de maneira

indelével em todos os templos, para que os discípulos, em lhe pronunciando o nome,

nunca se esqueçam de atender, sinceramente, às recomendações do seu verbo

sublime.

60 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

48

GUARDAIVOS

“Estes, porém, dizem mal do que ignoram; e, naquilo

que naturalmente conhecem, como animais irracionais se

corrompem.”

(JUDAS, 1: 10)

Em todos os lugares, encontramos pessoas sempre dispostas ao comentário

desairoso e ingrato relativamente ao que não sabem. Almas levianas e inconstantes,

não dominam os movimentos da vida, permanecendo subjugadas pela própria

inconsciência.

E são essas justamente aquelas que, em suas manifestações instintivas, se

portam, no que sabem, como irracionais. Sua ação particular costuma corromper os

assuntos mais sagrados, insultar as intenções mais generosas e ridiculizar os feitos

mais nobres.

Guardaivos

das atitudes dos murmuradores irresponsáveis.

Concedeunos

o Cristo a luz do Evangelho, para que nossa análise não

esteja fria e obscura.

O conhecimento com Jesus é a claridade transformadora da vida,

conferindonos

o dom de entender a mensagem viva de cada ser e a significação de

cada coisa, no caminho infinito.

Somente os que ajuízam, acerca da ignorância própria, respeitando o

domínio das circunstâncias que desconhecem, são capazes de produzir frutos de

perfeição com as dádivas de Deus que já possuem.

61 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

49

SABER E FAZER

“Se sabeis estas coisas, bemaventurados

sois se as

fizerdes.”

Jesus (JOÃO, 13: 17)

Entre saber e fazer existe singular diferença.

Quase todos sabem, poucos fazem.

Todas as seitas religiosas, de modo geral, somente ensinam o que constitui

o bem. Todas possuem serventuários, crentes e propagandistas, mas os apóstolos de

cada uma escasseiam cada vez mais.

Há sempre vozes habilitadas a indicar os caminhos. É a palavra dos que

sabem.

Raras criaturas penetram valorosamente a vereda, muita vez em silêncio,

abandonadas e incompreendidas.

É o esforço supremo dos que fazem.

Jesus compreendeu a indecisão dos filhos da Terra e, transmitindolhes

a

palavra da verdade e da vida, fez a exemplificação máxima, através de sacrifícios

culminantes.

A existência de uma teoria elevada envolve a necessidade de experiência e

trabalho. Se a ação edificante fosse desnecessária, a mais humilde tese do bem

deixaria de existir por inútil.

João assinalou a lição do Mestre com sabedoria. Demonstra o versículo que

somente os que concretizam os ensinamentos do Senhor podem ser bemaventurados.

Aí reside, no campo do serviço cristão, a diferença entre a cultura e a

prática, entre saber e fazer.

62 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

50

CONTA DE SI

“De maneira que cada um de nós dará conta de si

mesmo a Deus.”

Paulo (ROMANOS, 14: 12)

É razoável que o homem se consagre à solução de todos os problemas

alusivos à esfera que o rodeia no mundo; entretanto, é necessário saiba a espécie de

contas que prestará ao Supremo Senhor, ao termo das obrigações que lhe foram

cometidas.

Inquietase

a maioria das criaturas com o destino dos outros, descuidadas

de si mesmas. Homens existem que se desesperam pela impossibilidade de operar a

melhoria de companheiros ou de determinadas instituições.

Todavia, a quem pertencerão, de fato, os acervos patrimoniais do mundo?

A resposta é clara, porque os senhores mais poderosos desprenderseão

da

economia planetária, entregandoa

a novos operários de Deus para o serviço da

evolução infinita.

O argumento, contudo, suscitará certas perguntas dos cérebros menos

avisados. Se a conta reclamada referese

ao círculo pessoal, que tem o homem a ver

pelas contas de sua família, de sua casa, de sua oficina? Cumprenos,

então,

esclarecer que os companheiros da intimidade doméstica, a posse do lar, as

finalidades do agrupamento em que se trabalha, pertencem ao Supremo Senhor, mas

o homem, na conta que lhe é própria, é obrigado a revelar sua linha de conduta para

com a família, com a casa em que se asila, com a fonte de suas atividades comuns.

Naturalmente, ninguém responderá pelos outros; todavia, cada espírito, em

relacionando o esforço que lhe compete, será compelido a esclarecer a sua qualidade

de ação nos menores departamentos da realização terrestre, onde foi chamado a

viver.

63 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

51

MENINOS ESPIRITUAIS

“Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não

está experimentado na palavra da justiça, pois é menino.”

Paulo. (HEBREUS, 5: 13)

Na apreciação dos companheiros de luta, que nos integram o quadro de

trabalho diário, é útil não haja choques, quando, inesperadamente, surgirem falhas e

fraquezas. Antes da emissão de qualquer juízo, é conveniente conhecer o quilate dos

valores espirituais em exame.

Jamais prescindamos da compreensão ante os que se desviam do caminho

reto. A estrada percorrida pelo homem experiente está cheia de crianças dessa

natureza. Deus cerca os passos do sábio, com as expressões da ignorância, a fim de

que a sombra receba luz e para que essa mesma luz seja glorificada.

Nesse intercâmbio substancialmente divino, o ignorante aprende e o sábio

cresce.

Os discípulos de boavontade

necessitam da sincera atitude de observação e

tolerância. É natural que se regozijem com o alimento rico e substancioso com que

lhes é dado nutrir a alma; no entanto, não desprezem outros irmãos, cujo organismo

espiritual ainda não tolera senão o leite simples dos primeiros conhecimentos.

Toda criança é frágil e ninguém deve condenála

por isso.

Se tua mente pode librar no vôo mais alto, não te esqueças dos que ficaram

no ninho onde nasceste e onde estiveste longo tempo, completando a plumagem.

Diante dos teus olhos deslumbrados, alongase

o infinito. Eles estarão contigo, um

dia, e, porque a união integral esteja tardando, não os abandones ao acaso, nem lhes

recuses o leite que amam e de que ainda necessitam.

64 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

52

DONS

“Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do Alto.”

(TIAGO, 1: 17)

Certificandose

o homem de que coisa alguma possui de bom, sem que

Deus lho conceda, a vida na Terra ganhará novos rumos.

Diz a sabedoria, desde a antigüidade:

— Faze de tua parte e o Senhor te ajudará.

Reconhecendo o elevado teor da exortação, somos compelidos a reconhecer

que, na própria aquisição de títulos profissionais, o homem é o filho que se esforça,

durante alguns anos, para que o Pai lhe confira um certificado de competência,

através dos professores humanos.

Qual ocorre no patrimônio das realizações materiais, acontece no círculo

das edificações do espírito.

Indiscutivelmente, toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm de Deus.

Entretanto, para recebermos o benefício, fazse

preciso “bater” à porta para que ela

se nos abra, segundo a recomendação evangélica.

Queres o dom de curar? Começa amando os doentes, interessandote

pela

solução de suas necessidades.

Queres o dom de ensinar? Fazete

amigo dos que ministram o

conhecimento em nome do Senhor, através das obras e das palavras edificantes.

Esperas o dom da virtude? Disciplinate.

Pretendes falar com acerto? Aprende a calar no momento oportuno.

Desejas acesso aos círculos sagrados do Cristo? Aproximate

d’Ele, não só

pela conversação elevada, mas também por atitudes de sacrifício, como foram as de

sua vida.

As qualidades excelentes são dons que procedem de Deus; entretanto, cada

qual tem a porta respectiva e pede uma chave diferente.

65 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

53

PAZ

“Disselhes,

pois, Jesus, outra vez: Paz seja convosco.”

(JOÃO, 20: 21)

Muita gente inquieta, examinando o intercâmbio entre os novos discípulos

do Evangelho e os desencarnados, interroga, ansiosamente, pelas possibilidades da

colaboração espiritual, junto às atividades humanas.

Por que razão os emissários do invisível não proporcionam descobertas

sensacionais ao mundo?

Por que não revelam os processos de cura das moléstias que desafiam a

Ciência?

Como não evitam o doloroso choque entre as nações?

Tais investigadores, distanciados das noções de justiça, não compreendem

que seria terrível furtar ao homem os elementos de trabalho, resgate e elevação.

Aborrecemse,

comumente, com as reiteradas e afetuosas recomendações de paz das

comunicações do AlémTúmulo,

porque ainda não se harmonizaram com o Cristo.

Vejamos o Mestre com os discípulos, quando voltava a confortálos,

do

plano espiritual. Não lhe observamos na palavra qualquer recado torturante, não

estabelece a menor expressão de sensacionalismo, não se adianta em conceitos de

revelação supernatural.

Jesus demonstralhes

a sobrevivência e desejalhes

paz.

Será isso insuficiente para a alma sincera que procura a integração com a

vida mais alta? Não envolverá, em si, grande responsabilidade o fato de

reconhecerdes a continuação da existência, além da morte, na certeza de que haverá

exame dos compromissos individuais?

Trabalhar e sofrer constituem processos lógicos do aperfeiçoamento e da

ascensão. E que atendamos a esses imperativos da Lei, com bastante paz, é o desejo

amoroso e puro de Jesus Cristo.

Esforcemonos

por entender semelhantes verdades, pois existem numerosos

aprendizes aguardando os grandes sinais, como os preguiçosos que respiram à

sombra, à espera do fogofátuo

do menor esforço.

66 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

54

A VIDEIRA

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador.”

Jesus (JOÃO, 15: 1)

Deus é o Criador Eterno cujos desígnios permanecem insondáveis a nós

outros. Pelo seu amor desvelado criamse

todos os seres, por sua sabedoria movemse

os mundos no Ilimitado.

Pequena e obscura, a Terra não pode perscrutar a grandeza divina, O Pai,

entretanto, envolvenos

a todos nas vibrações de sua bondade gloriosa.

Ele é a alma de tudo, a essência do Universo.

Permanecemos no campo terrestre, de que Ele é dono e supremo

dispensador.

No entanto, para que lhe sintamos a presença em nossa compreensão

limitada, concedeunos

Jesus como sua personificação máxima.

Útil seria que o homem observasse no Planeta a sua imensa escola de

trabalho; e todos nós, perante a grandeza universal, devemos reconhecer a nossa

condição de seres humildes, necessitados de aprimoramento e iluminação.

Dentro de nossa pequenez, sucumbiríamos de fome espiritual, estacionados

na sombra da ignorância, não fosse essa videira da verdade e do amor que o

Supremo Senhor nos concedeu em Jesus Cristo. De sua seiva divina procedem todas

as nossas realizações elevadas, nos serviços da Terra. Alimentados por essa fonte

sublime, competenos

reconhecer que sem o Cristo as organizações do mundo se

perderiam por falta de base. N’Ele encontramos o pão vivo das almas e, desde o

princípio, o seu amor infinito no orbe terrestre é o fundamento divino de todas as

verdades da vida.

67 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

55

AS VARAS DA VIDEIRA

“Eu sou a videira, vós as varas.”

Jesus (JOÃO, 15: 5)

Jesus é o bem e o amor do princípio.

Todas as noções generosas da Humanidade nasceram de sua divina

influenciação. Com justiça, asseverou aos discípulos, nesta passagem do Evangelho

de João, que seu espírito sublime representa a árvore da vida e seus seguidores

sinceros as frondes promissoras, acrescentando que, fora do tronco, os galhos se

secariam, caminhando para o fogo da purificação.

Sem o Cristo, sem a essência de sua grandeza, todas as obras humanas estão

destinadas a perecer.

A ciência será frágil e pobre sem os valores da consciência, as escolas

religiosas estarão condenadas, tão logo se afastem da verdade e do bem.

Infinita é a misericórdia de Jesus nos movimentos da vida planetária. No

centro de toda expressão nobre da existência pulsa seu coração amoroso, repleto da

seiva do perdão e da bondade.

Os homens são varas verdes da árvore gloriosa. Quando traem seus deveres,

secamse

porque se afastam da seiva, rolam ao chão dos desenganos, para que se

purifiquem no fogo dos sofrimentos reparadores, a fim de serem novamente tomados

por Jesus, à conta de sua misericórdia, para a renovação.

É razoável, portanto, positivemos nossa fidelidade ao Divino Mestre,

refletindo no elevado número de vezes em que nos ressecamos, no passado, apesar

do imenso amor que nos sustenta em toda a vida.

68 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

56

LUCROS

“E o que tens ajuntado para quem será?”

Jesus (LUCAS, 12: 20)

Em todos os agrupamentos humanos, palpita a preocupação de ganhar. O

espírito de lucro alcança os setores mais singelos. Meninos, mal saídos da primeira

infância, mostramse

interessados em amontoar egoisticamente alguma coisa. A

atualidade conta com mães numerosas que abandonam seu lar a desconhecidos,

durante muitas horas do dia, a fim de experimentarem a mina lucrativa. Nesse

sentido, a maioria das criaturas converte a marcha evolutiva em corrida inquietante.

Por trás do sepulcro, ponto de chegada de todos os que saíram do berço, a verdade

aguarda o homem e interroga:

— Que tr ouxeste?

O infeliz responderá que reuniu vantagens materiais, que se esforçou por

assegurar a posição tranqüila de si mesmo e dos seus.

Examinada, porém, a bagagem, verificase,

quase sempre, que as vitórias

são derrotas fragorosas.

Não constituem valores da alma, nem trazem o selo dos bens eternos.

Atingida semelhante equação, o viajor olha para trás e sente frio. Prendese,

de maneira inexplicável, aos resultados de tudo o que amontoou na Crosta da Terra.

A consciência inquieta enchese

de nuvens e a voz do Evangelho soalhe

aos

ouvidos: Pobre de ti, porque teus lucros foram perdas desastrosas! “E o que tens

ajuntado para quem será?”

69 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

57

DINHEIRO

“Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de

males; e, nessa cobiça, alguns se desviaram da fé e se

traspassaram a si mesmos com muitas dores.”

Paulo (I TIMÓTEO, 6: 10)

Paulo não nos diz que o dinheiro, em si mesmo, seja flagelo para a

Humanidade.

Várias vezes, vemos o Mestre em contacto com o assunto, contribuindo

para que a nossa compreensão se dilate. Recebendo certos alvitres do povo que lhe

apresenta determinada moeda da época, com a efígie do imperador romano,

recomenda que o homem dê a César o que é de César, exemplificando o respeito às

convenções construtivas. Numa de suas mais lindas parábolas, emprega o símbolo

de uma dracma perdida. Nos movimentos do Templo, aprecia o óbolo pequenino da

viúva.

O dinheiro não significa um mal. Todavia, o apóstolo dos gentios nos

esclarece que o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males. O homem não

pode ser condenado pelas suas expressões financeiras, mas, sim, pelo mau uso de

semelhantes recursos materiais, porquanto é pela obsessão da posse que o orgulho e

a ociosidade, dois fantasmas do infortúnio humano, se instalam nas almas,

compelindoas

a desvios da luz eterna.

O dinheiro que te vem às mãos, pelos caminhos retos, que só a tua

consciência pode analisar à claridade divina, é um amigo que te busca a orientação

sadia e o conselho humanitário. Responderás a Deus pelas diretrizes que lhe deres e

ai de ti se materializares essa força benéfica no sombrio edifício da iniqüidade!

70 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

58

GANHAR

“Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo

e perder a sua alma?”

Jesus (MARCOS, 8: 36)

As criaturas terrestres, de modo geral, ainda não aprenderam a ganhar.

Entretanto, o espírito humano permanece no Planeta em busca de alguma coisa. É

indispensável alcançar valores de aperfeiçoamento para a vida eterna.

Recomendou Jesus aos seus tutelados procurassem, insistissem...

Significa isso que o homem se demora na Terra para ganhar na luta

enobrecedora.

Toda perturbação, nesse sentido, provém da mente viciada das almas em

desvio.

O homem está sempre decidido a conquistar o mundo, mas nunca disposto

a conquistarse

para uma esfera mais elevada. Nesse falso conceito, subverte a

ordem, nas oportunidades de cada dia. Se Deus lhe concede bastante saúde física,

costuma usála

na aquisição da doença destruidora; se consegue amealhar

possibilidades financeiras, tenta açambarcar os interesses alheios.

O Mestre Divino não recomendou que a alma humana deva movimentarse

despida de objetivos e aspirações de ganho; salientou apenas que o homem necessita

conhecer o que procura, que espécie de lucros almeja, a que fins se propõe em suas

atividades terrestres.

Se teus desejos repousam nas aquisições factícias, relativamente a situações

passageiras ou a patrimônios fadados ao apodrecimento, renova, enquanto é tempo,

a visão espiritual, porque de nada vale ganhar o mundo que te não pertence e

perderes a ti mesmo, indefinidamente, para a vida imortal.

71 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

59

OS AMADOS

“Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores.”

Paulo (HEBREUS, 6: 9)

Comentase

com amargura o progresso aparente dos ímpios.

Admirase

o crente da boa posição dos homens que desconhecem o

escrúpulo, muita vez altamente colocados na esfera financeira.

Muitos perguntam: “Onde está o Senhor que lhes não viu os processos

escusos?”

A interrogação, no entanto, evidencia mais ignorância que sensatez. Onde a

finalidade do tesouro amoedado do homem perverso? Ainda que experimentasse na

Terra inalterável saúde de cem anos, seria compelido a abandonar o patrimônio para

recomeçar o aprendizado.

A eternidade confere reduzida importância aos bens exteriores. Aqueles que

exclusivamente acumulam vantagens transitórias, fora de sua alma, plenamente

esquecidos da esfera interior, são dignos de piedade. Deixarão tudo, quase sempre,

ao sabor da irresponsabilidade.

Isso não acontece, porém, com os donos da riqueza espiritual. Constituindo

os amados de Deus, sentemse

identificados com o Pai, em qualquer parte a que

sejam conduzidos. Na dificuldade e na tormenta guardam a alegria da herança divina

que se lhes entesoura no coração.

Do ímpio, é razoável esperarmos a indiferença, a ambição, a avareza, a

preocupação de amontoar irrefletidamente; do ignorante, é natural recebermos

perguntas loucas. Entretanto, o apóstolo da gentilidade exclama com razão: “Mas de

vós, ó amados, esperamos coisas melhores.”

72 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

60

PRÁTICA DO BEM

“Porque assim é a vontade de Deus que, fazendo o bem,

tapeis a boca à ignorância dos homens loucos.”

(I PEDRO, 2: 15)

À medida que o espírito avulta em conhecimento, mais compreende o valor

do tempo e das oportunidades que a vida maior lhe proporciona, reconhecendo, por

fim, a imprudência de gastar recursos preciosos em discussões estéreis e

caprichosas.

O apóstolo Pedro recomenda seja lembrado que é da vontade de Deus se

faça o bem, impondo silêncio à ignorância e à loucura dos homens.

Uma contenda pode perdurar por muitos anos, com graves desastres para as

forças em litígio; todavia, basta uma expressão de renúncia para que a concórdia se

estabeleça num dia.

No serviço divino, é aconselhável não disputar, a não ser quando o

esclarecimento e a energia traduzem caridade. Nesse caminho, a prática do bem é a

bússola do ensino.

Antecedendo qualquer disputa, convém dar algo de nós mesmos. Isso é útil

e convincente.

O bem mais humilde, é semente sagrada.

Convocado a discutir, Jesus imolouse.

Por se haver transformado ele próprio em divina luz, dominounos

a treva

da ignorância humana.

Não parlamentou conosco. Ao invés disso, converteunos.

Não reclamou compreensão. Entendeu a nossa loucura, localizounos

a

cegueira e amparounos

ainda mais.

73 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

61

MINISTÉRIOS

“Cada um administre aos outros o dom como o recebeu,

como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.”

(I PEDRO, 4: 10)

Toda criatura recebe do Supremo Senhor o dom de servir como um

ministério essencialmente divino.

Se o homem levanta tantos problemas de solução difícil, em suas lutas

sociais, é que não se capacitou, ainda, de tão elevado ensinamento.

O quadro da evolução terrestre apresenta divisão entre os que denominais

“magnatas” e “proletários”, porquanto, de modo geral, não se entendeu até agora no

mundo a dignidade do trabalho honesto, por mais humilde que seja.

É imprescindível haja sempre profissionais de limpeza pública,

desbravadores de terras insalubres, chefes de fábricas, trabalhadores de imprensa. Os

homens não compreenderam, ainda, que a oportunidade de cooperar nos trabalhos

da Terra transformaos

em despenseiros da graça de Deus. Chegará, contudo, a

época em que todos se sentirão ricos. A noção de “capitalista” e “operário” estará

renovada. Entenderseão

ambos como eficiente servidores do Altíssimo.

O jardineiro sentirá que o seu ministério é irmão da tarefa confiada ao

gerente da usina.

Cada qual ministrará os bens recebidos do Pai, na sua própria esfera de

ação, sem a idéia egoística de ganhar para enriquecer na Terra, mas de servir com

proveito para enriquecer em Deus.

74 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

62

PARENTELA

“E disselhe:

Sai de tua terra e dentre a tua parentela e

dirigete

à terra que eu te mostrar.”

(ATOS, 7: 3)

Nos círculos da fé, vários candidatos à posição de discípulos de Jesus

queixamse

da sistemática oposição dos parentes, com respeito aos princípios que

esposaram para as aquisições de ordem religiosa.

Nem sempre os laços de sangue reúnem as almas essencialmente afins.

Freqüentemente, pelas imposições da consangüinidade, grandes inimigos são

obrigados ao abraço diuturno, sob o mesmo teto.

É razoável sugerirse

uma divisão entre os conceitos de “família” e

“parentela”. O primeiro constituiria o símbolo dos laços eternos do amor, o segundo

significaria o cadinho de lutas, por vezes acerbas, em que devemos diluir as

imperfeições dos sentimentos, fundindoos

na liga divina do amor para a eternidade.

A família não seria a parentela, mas a parentela converterseia,

mais tarde, nas

santas expressões da família.

Recordamos tais conceitos, a fim de acordar a vigilância dos companheiros

menos avisados.

A caminho de Jesus, será útil abandonar a esfera de maledicências e

incompreensões da parentela e pautar os atos na execução do dever mais sublime,

sem esmorecer na exemplificação, porquanto, assim, o aprendiz fiel estará

exortandoa,

sem palavras, a participar dos direitos da família maior, que é a de

Jesus Cristo.

75 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

63

QUEM SOIS?

“Mas o espírito maligno lhes respondeu: Conheço a

J esus e bem sei quem é Paulo; mas vós, quem sois?”

(ATOS, 19: 15)

Qualquer expressão de comércio tem sua base no poder aquisitivo. Para

obter, é preciso possuir.

No intercâmbio dos dois mundos, terrestre e espiritual, o fenômeno obedece

ao mesmo princípio.

Nas operações comerciais de César, requeremse

moedas ou expressões

fiduciárias com efígies e identificações que lhes digam respeito. Nas operações de

permuta espiritual requisitamse

valores individualíssimos, com os sinais do Cristo.

O dinheiro de Jesus é o amor. Sem ele, não é lícito aventurarse

alguém ao sagrado

comércio das almas.

O versículo aqui nomeado constitui benéfica advertência a quantos, para o

esclarecimento dos outros, invocam o Mestre, sem títulos vivos de sua escola

sacrificial.

Mormente no que se refere às relações com o plano invisível, mantendo

cuidado por evitar afirmativas a esmo.

Não vos aventureis ao movimento, sem o poder aquisitivo do amor de

Jesus.

O Mestre é igualmente conhecido de seus infelizes adversários. Os

discípulos sinceros do Senhor são observados por eles também. Os inimigos da luz

reconhecemlhes

o sublime valor.

Quando vos dispuserdes, portanto, a esse gênero de trabalho, não olvideis

vossa própria identificação, porque, provavelmente, sereis interpelados pelos

representantes do mal, que vos perguntarão quem sois.

76 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

64

O TESOURO MAIOR

“Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também

o vosso coração.”

Jesus (LUCAS, 12: 34)

No mundo, os templos da fé religiosa, desde que consagrados à Divindade

do Pai, são departamentos da casa infinita de Deus, onde Jesus ministra os seus bens

aos corações da Terra, independentemente da escola de crença a que se filiam.

A essas subdivisões do eterno santuário comparecem os tutelados do Cristo,

em seus diferentes graus de compreensão. Cada qual, instintivamente, revela ao

Senhor onde coloca seu tesouro.

Muitas vezes, por isso mesmo, nos recintos diversos de sua casa, Jesus

recebe, sem resposta, as súplicas de inúmeros crentes de mentalidade infantil,

contraditórias ou contraproducentes.

O egoísta fala de seu tesouro, exaltando as posses precárias; o avarento

referese

a mesquinhas preocupações; o gozador demonstra apetites insaciáveis; o

fanático repete pedidos loucos.

Cada qual apresenta seu capricho ferido como sendo a dor maior.

Cristo ouvelhes

as solicitações e espera a oportunidade de darlhes

a

conhecer o tesouro imperecível.

Ouve em silêncio, porque a erva tenra pede tempo destinado ao processo

evolutivo, e espera, confiante, porquanto não prescinde da colaboração dos

discípulos resolutos e sinceros para a extensão do divino apostolado. No momento

adequado, surgem esses, ao seu influxo sublime, e a paisagem dos templos se

modifica. Não são apenas crentes que comparecem para a rogativa, são

trabalhadores decididos que chegam para o trabalho. Cheios de coragem, dispostos a

morrer para que outros alcancem a vida, exemplificam a renúncia e o desinteresse,

revelam a Vontade do Pai em si próprios e, com isso, ampliam no mundo a

compreensão do tesouro maior, sintetizado na conquista da luz eterna e do amor

universal, que já lhes enriquece o espírito engrandecido.

77 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

65

PEDIR

“J esus, porém, respondendo, disse: Não sabeis o que

pedis.”

(MATEUS, 20: 22)

A maioria dos crentes dirigese

às casas de oração, no propósito de pedir

alguma coisa.

Raros os que aí comparecem, na verdadeira atitude dos filhos de Deus,

interessados nos sublimes desejos do Senhor, quanto à melhoria de conhecimentos, à

renovação de valores íntimos, ao aproveitamento espiritual das oportunidades

recebidas de Mais Alto.

A rigor, os homens deviam reconhecer nos templos o lugar sagrado do

Altíssimo, onde deveriam aprender a fraternidade, o amor, a cooperação no seu

programa divino. Quase todos, porém, preferem o ato de insistir, de teimar, de se

imporem ao paternal carinho de Deus, no sentido de lhe subornarem o Poder

Infinito. Pedinchões inveterados, abandonam, na maior parte das vezes, o traçado

reto de suas vidas, em virtude da rebeldia suprema nas relações com o Pai. Tanto

reclamam, que lhes é concedida a experiência desejada.

Sobrevêm desastres. Surgem as dores. Em seguida, aparece o tédio, que é

sempre filho da incompreensão dos nossos deveres.

Provocamos certas dádivas no caminho, adiantamonos

na solicitação da

herança que nos cabe, exigindo prematuras concessões do Pai, à maneira do filho

pródigo, mas o desencanto constituise

em veneno da imprevidência e da

irresponsabilidade.

O tédio representará sempre o fruto amargo da precipitação de quantos se

atiram a patrimônios que lhes não competem.

Tenhamos, pois, cuidado em pedir, porque, acima de tudo, devemos

solicitar a compreensão da vontade de Jesus a nosso respeito.

78 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

66

COMO PEDES?

“Até agora, nada pedistes em meu nome; pedi, e

recebereis, para que o vosso gozo se cumpra.”

Jesus (JOÃO, 16: 24)

Em muitos recantos, encontramos criaturas desencantadas da oração.

Não prometeu Jesus a resposta do Céu aos que pedissem no seu nome?

Muitos corações permanecem desalentados porque a morte lhes roubou um ente

amigo, porque desastres imprevistos lhes surgiram na estrada comum.

Entretanto, repitamos, o Mestre Divino ensinou que o homem deveria

solicitar em seu nome.

Por isso mesmo, a alma crente, convicta da própria fragilidade, deveria

interrogar a consciência sobre o conteúdo de suas rogativas ao Supremo Senhor, no

mecanismo das manifestações espirituais.

Estará suplicando em nome do Cristo ou das vaidades do mundo?

Reclamar, em virtude dos caprichos que obscurecem os caminhos do coração, é

atirar ao Divino Sol a poeira das inquietações terrenas; mas pedir, em nome de

Jesus, é aceitarlhe

a vontade sábia e amorosa, é entregarselhe

de coração para que

nos seja concedido o necessário.

Somente nesse ato de compreensão perfeita do seu amor sublime

encontraremos o gozo completo, a infinita alegria.

Observa a substância de tuas preces. Como pedes? Em nome do mundo ou

em nome do Cristo? Os que se revelam desanimados com a oração confessam a

infantilidade de suas rogativas.

79 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

67

OS VIVOS DO ALÉM

“E eis que estavam falando com ele dois varões, que

eram Moisés e Elias.”

(LUCAS, 9: 30)

Várias escolas religiosas, defendendo talvez determinados interesses do

sacerdócio, asseguram que o Evangelho não apresenta bases ao movimento de

intercâmbio entre os homens e os espíritos desencarnados que os precederam na

jornada do Mais Além...

Entretanto, nesta passagem de Lucas, vemos o Mestre dos Mestres

confabulando com duas entidades egressas da esfera invisível de que o sepulcro é a

porta de acesso.

Aliás, em diversas circunstâncias encontramos o Cristo em contacto com

almas perturbadas ou perversas, aliviando os padecimentos de infortunados

perseguidos. Todavia, a mentalidade dogmática encontrou aí a manifestação de

Satanás, inimigo eterno e insaciável.

Aqui, porém, tratase

de sublime acontecimento no labor. Não vemos

qualquer demonstração diabólica e, sim, dois espíritos gloriosos em conversação

íntima com o Salvador. E não podemos situar o fenômeno em associação de

generalidades, porquanto os “amigos do outro mundo”, que falaram com Jesus sobre

o monte, foram devidamente identificados. Não se registrou o fato, declarandose,

por exemplo, que se tratava da visita de um anjo, mas de Moisés e do companheiro,

dandose

a entender claramente que os “mortos” voltam de sua nova vida.

80 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

68

ALÉMTÚMULO

“E, se não há ressurreição de mortos, também o Cristo

não ressuscitou.”

Paulo. (I CORÍNTIOS, 15: 13)

Teólogos eminentes, tentando harmonizar interesses temporais e espirituais,

obscureceram o problema da morte, impondo sombrias perspectivas à simples

solução que lhe é própria.

Muitos deles situaram as almas em determinadas zonas de punição ou de

expurgo, como se fossem absolutos senhores dos elementos indispensáveis à análise

definitiva. Declararam outros que, no instante da grande transição, submergese

o

homem num sono indefinível até o dia derradeiro consagrado ao Juízo Final.

Hoje, no entanto, reconhece a inteligência humana que a lógica evolveu

com todas as possibilidades de observação e raciocínio.

Ressurreição é vida infinita. Vida é trabalho, júbilo e criação na eternidade.

Como qualificar a pretensão daqueles que designam vizinhos e conhecidos para o

inferno ilimitado no tempo? Como acreditar permaneçam adormecidos milhões de

criaturas, aguardando o minuto decisivo de julgamento, quando o próprio Jesus se

afirma em atividade incessante?

Os argumentos teológicos são respeitáveis; no entanto, não deveremos

desprezar a simplicidade da lógica humana.

Comentando o assunto, portas a dentro do esforço cristão, somos

compelidos a reconhecer que os negadores do processo evolutivo do homem

espiritual, depois do sepulcro, definemse

contra o próprio Evangelho. O Mestre dos

Mestres ressuscitou em trabalho edificante. Quem, desse modo, atravessará o portal

da morte para cair em ociosidade incompreensível? Somos almas, em função de

aperfeiçoamento, e, além do túmulo, encontramos a continuação do esforço e da

vida.

81 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

69

COMUNICAÇÕES

“Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os

espíritos são de Deus.”

(I JOÃO, 4: 1)

Os novos discípulos do Evangelho, em seus agrupamentos de intercâmbio

com o mundo espiritual, quase sempre manifestam ansiedade em estabelecer claras e

perfeitas comunicações com o Além.

Se muitas vezes aparecem fracassos, nesse particular, se as

experimentações são falhas de êxito, é que, na maioria dos casos, o indagador

obedece muito mais ao egoísmo próprio que ao imperativo edificante.

O propósito de exclusividade, nesse sentido, abre larga porta ao engano.

Através dela, malfeitores com instrumentos nocivos podem penetrar o templo, de

vez que o aprendiz cerrou os olhos ao horizonte das verdades eternas.

Bela e humana a dilatação dos laços de amor que unem o homem encarnado

aos familiares que o precederam na jornada de AlémTúmulo,

mas é inaceitável que

o estudante obrigue quem lhe serviu de pai ou de irmão a interferir nas situações

particulares que lhe dizem respeito.

Haverá sempre quem dispense luz nas assembléias de homens sinceros, O

programa de semelhante assistência, contudo, não pode ser substancialmente

organizado pelas criaturas, muita vez inscientes das necessidades próprias. Em

virtude disso, recomendou o apóstolo que o discípulo atente, não para quem fale,

mas para a essência das palavras, a fim de certificarse

se o visitante vem de Deus.

82 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

70

PODERES OCULTOS

“E onde quer que ele entrava, fosse nas cidades, nas

aldeias ou nos campos, depunham os enfermos nas praças e lhe

rogavam que os deixasse tocar ao menos na orla de seu vestido; e

todos os que nele tocavam, saravam.”

(MARCOS, 6: 56)

Não raro, surgem nas fileiras espiritualistas estudiosos afoitos a

procurarem, de qualquer modo, a aquisição de poderes ocultos que lhes confira

posição de evidência. Comumente, em tais circunstâncias, enchemse

das

afirmativas de grande alcance.

O anseio de melhorarse,

o desejo de equilíbrio, a intenção de manter a paz,

constituem belos propósitos; no entanto, é recomendável que o aprendiz não se

entregue a preocupações de notoriedade, devendo palmilhar o terreno dessas

cogitações com a cautela possível.

Ainda aqui, o Mestre Divino oferece a melhor exemplificação.

Ninguém reuniu sobre a Terra tão elevadas expressões de recursos

desconhecidos quanto Jesus. Aos doentes, bastava tocarlhe

as vestiduras para que

se curassem de enfermidades dolorosas; suas mãos devolviam o movimento aos

paralíticos, a visão aos cegos. Entretanto, no dia do Calvário, vemos o Mestre ferido

e ultrajado, sem recorrer aos poderes que lhe constituíam apanágio divino, em

benefício da própria situação. Havendo cumprido a lei sublime do amor, no serviço

do Pai, entregouse

à sua vontade, em se tratando dos interesses de si mesmo. A

lição do Senhor é bastante significativa.

É compreensível que o discípulo estude e se enriqueça de energias

espirituais, recordandose,

porém, de que, antes do nosso, permanece o bem dos

outros e que esse bem, distribuído no caminho da vida, é a voz que falará por nós a

Deus e aos homens, hoje ou amanhã.

83 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

71

PARA TESTEMUNHAR

“E vos acontecerá isto para testemunho.”

Jesus (LUCAS, 21: 13)

Naturalmente que o Mestre não folgará de ver seus discípulos mergulhados

no sofrimento. Considerando, porém, as necessidades extensas dos homens da Terra,

compreende o caráter indispensável das provações e dos obstáculos.

A pedagogia moderna está repleta de esforços seletivos, de concursos de

capacidade, de testes da inteligência.

O Evangelho oferece situações semelhantes.

O amigo do Cristo não deve ser uma criatura sombria, à espera de

padecimentos; entretanto, conhecendo a sua posição de trabalho, num plano como a

Terra, deve contar com dificuldades de toda sorte.

Para os gozos falsificados do mundo, o Planeta está cheio de condutores

enganados.

Como invocar o Salvador para a continuidade de fantasias? Quando

chamados para o Cristo, é para que aprendamos a executar o trabalho em favor da

esfera maior, sem olvidarmos que o serviço começa em nós mesmos.

Existem muitos homens de valor cultural que se constituíram em mentores

dos que desejam mentirosos regalos no plano físico.

No Evangelho, porém, não acontece assim. Quando o Mestre convida

alguém ao seu trabalho, não é para que chore em desalento ou repouse em satisfação

ociosa.

Se o Senhor te chamou, não te esqueças de que já te considera digno de

testemunhar.

84 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

72

TRANSITORIEDADE

“Eles perecerão, mas tu permanecerás; e todos eles,

como roupa, envelhecerão.”

Paulo (HEBREUS, 1: 11)

Falanos

o Eclesiastes das vaidades e da aflição dos homens, no torvelinho

das ambições desvairadas da Terra.

Desde os primeiros tempos da família humana, existem criaturas

confundidas nos falsos valores do mundo. Entretanto, bastaria meditar alguns

minutos na transitoriedade de tudo o que palpita no campo das formas para

compreenderse

a soberania do espírito.

Consultai a pompa dos museus e a ruína das civilizações mortas. Com que

fim se levantaram tantos monumentos e arcos de triunfo? Tudo funcionou como

roupagem do pensamento. A idéia evoluiu, enriqueceuse

o espírito e os envoltórios

antigos permanecem a distância.

As mãos calejadas na edificação das colunas brilhantes aprenderam com o

trabalho os luminosos segredos da vida. Todavia, quantas amarguras

experimentaram os loucos que disputaram, até a morte para possuílas?

Valeivos

de todas as ocasiões de serviço, como sagradas oportunidades na

marcha divina para Deus.

Valiosa é a escassez, porque traz a disciplina. Preciosa é a abundância,

porque multiplica as formas do bem. Uma e outra, contudo, perecerão algum dia. Na

esfera carnal, a glória e a miséria constituem molduras de temporária apresentação.

Ambas passam. Somente Jesus e a Lei Divina perseveram para nós outros, como

portas de vida e redenção.

85 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

73

OPORTUNIDADE

“Disselhes,

pois, J esus: Ainda não é chegado o meu

tempo, mas o vosso tempo está pronto.”

(JOÃO, 7: 6)

O mau trabalhador está sempre queixoso. Quando não atribui sua falta aos

instrumentos em mão, lamenta a chuva, não tolera o calor, amaldiçoa a geada e o

vento.

Esse é um cego de aproveitamento difícil, porquanto somente enxerga o

lado arestoso das situações.

O bom trabalhador, no entanto, compreende, antes de tudo, o sentido

profundo da oportunidade que recebeu. Valoriza todos os elementos colocados em

seus caminhos, como respeita as possibilidades alheias. Não depende das estações.

Planta com o mesmo entusiasmo as frutas do frio e do calor. É amigo da Natureza,

aproveitalhe

as lições, tem bom ânimo, encontra na aspereza da semeadura e no

júbilo da colheita igual contentamento.

Nesse sentido, a lição do Mestre revestese

de maravilhosa significação. No

torvelinho das incompreensões do mundo, não devemos aguardar o reino do Cristo

como realização imediata, mas a oportunidade dos homens é permanente para a

colaboração perfeita no Evangelho, a fim de edificálo.

Os cegos de espírito continuarão queixosos; no entanto, os que acordaram

para Jesus sabem que sua época de trabalho redentor está pronta, não passou, nem

está por vir. É o dia de hoje, é o ensejo bendito de servir, em nome do Senhor, aqui e

agora...

86 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

74

MÃOS LIMPAS

“E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas

extraordinárias.”

(ATOS, 19: 11)

O Evangelho não nos diz que Paulo de Tarso fazia maravilhas, mas que

Deus operava maravilhas extraordinárias por intermédio das mãos dele.

O Pai fará sempre o mesmo, utilizando todos os filhos que lhe apresentarem

mãos limpas.

Muitos espíritos, mais convencionalistas que propriamente religiosos,

encontraram nessa notícia dos Atos uma informação sobre determinados privilégios

que teriam sido concedidos ao Apóstolo.

Antes de tudo, porém, é preciso saber que semelhante concessão não é

exclusiva. A maioria dos crentes prefere fixar o Paulo santificado sem apreciar o

trabalhador militante.

Quanto custou ao Apóstolo a limpeza das mãos?

Raros indagam relativamente a isso.

Recordemos que o amigo da gentilidade fora rabino famoso em Jerusalém,

movimentarase

entre elevados encargos públicos, detivera dominadoras situações;

no entanto, para que o TodoPoderoso

lhe utilizasse as mãos, sofreu todas as

humilhações e dispôsse

a todos os sacrifícios pelo bem dos semelhantes.

Ensinou o Evangelho sob zombarias e açoites, aflições e pedradas. Apesar

de escrever luminosas epístolas, jamais abandonou o tear humilde até à,velhice do

corpo.

Considera as particularidades do assunto e observa que Deus é sempre o

mesmo Pai, que a misericórdia divina não se modificou, mas pede mãos limpas para

os serviços edificantes, junto à Humanidade.

Tal exigência é lógica e necessária, pois o trabalho do Altíssimo deve

resplandecer sobre os caminhos humanos.

87 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

75

NA CASA DE CÉSAR

“Todos os santos vos saúdam, mas principalmente os

que são da casa de César.”

Paulo (FILIPENSES, 4: 22)

Muito comum ouvirmos observações descabidas de determinados irmãos na

crença, relativamente aos companheiros chamados a tarefas mais difíceis, entre as

possibilidades do dinheiro ou do poder.

A piedade falsa está sempre disposta a criticar o amigo que, aceitando

laborioso encargo público, vai encontrar nele muito mais aborrecimentos que notas

de harmonia. A análise desvirtuada tudo repara maliciosamente. Se o irmão é

compelido a participar de grandes representações sociais, costumase

estigmatizálo

como traidor do Cristo.

É necessário despender muita vigilância nesses julgamentos.

Nos tempos apostólicos, os cristãos de vida pura eram chamados “santos”.

Paulo de Tarso, humilhado e perseguido em Roma, teve ocasião de conhecer

numerosas almas nessas condições, e o que é mais de admirar — conviveu com

diversos discípulos de semelhante posição, relacionados com a habitação palaciana

de César. Deles recebeu atenções e favores, assistência e carinho.

Escrevendo aos filipenses, faz menção especial desses amigos do Cristo.

Não julgues, pois, a teu irmão pela sua fortuna aparente ou pelos seus

privilégios políticos. Antes de tudo, lembrate

de que havia santos na casa de Nero e

nunca olvides tão grandiosa lição.

88 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

76

EDIFICAÇÕES

“Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma

cidade edificada sobre um monte.”

Jesus (MATEUS, 5: 14)

O Evangelho está repleto de amorosos convites para que os homens se

edifiquem no exemplo do Senhor.

Nem sempre os seguidores do Cristo compreendem esse grande imperativo

da iluminação própria, em favor da harmonia na obra a realizar. Esmagadora

percentagem de aprendizes, antes de tudo, permanece atenta à edificação dos outros,

menosprezando o ensejo de alcançar os bens supremos para si.

Naturalmente, é muito difícil encontrar a oportunidade entre gratificações

da existência humana, porquanto o recurso bendito de iluminação se esconde, muitas

vezes, nos obstáculos, perplexidades e sombras do caminho.

O Mestre foi muito claro em sua exposição. Para que os discípulos sejam a

luz do mundo, simbolizarão cidades edificadas sobre a montanha, onde nunca se

ocultem. A fim de que o operário de Jesus funcione como expressão de claridade na

vida, é indispensável que se eleve ao monte da exemplificação, apesar das

dificuldades da subida angustiosa, apresentandose

a todos na categoria de

construção cristã. Tal cometimento é imperecível.

O vaivém das paixões não derruba a edificação dessa natureza, as pedradas

deixamna

intacta e, se alguém a dilacera, seus fragmentos constituem a

continuidade da luz, em sublime rastilho, por toda parte, porque foi assim que os

primeiros mártires do Cristianismo semearam a fé.

89 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

77

CONVÉM REFLETIR

“Mas todo homem seja pronto para ouvir, tardio para

falar, tardio para se irar.”

(TIAGO, 1: 19)

Analisar, refletir, ponderar são modalidades do ato de ouvir. É

indispensável que a criatura esteja sempre disposta a identificar o sentido das vozes,

sugestões e situações que a rodeiam.

Sem observação, é impossível executar a mais simples tarefa no ministério

do bem. Somente após ouvir, com atenção, pode o homem falar de modo edificante

na estrada evolutiva.

Quem ouve, aprende. Quem fala, doutrina.

Um guarda, outro espalha.

Só aquele que guarda, na boa experiência, espalha com êxito.

O conselho do apóstolo é, portanto, de imorredoura oportunidade.

E forçoso é convir que, se o homem deve ser pronto nas observações e

comedido nas palavras, deve ser tardio em irarse.

Certo, o caminho humano oferece, diariamente, variados motivos à ação

enérgica; entretanto, sempre que possível, é útil adiar a expressão colérica para o dia

seguinte, porquanto, por vezes, surge a ocasião de exame mais sensato e a razão da

ira desaparece.

Tenhamos em mente que todo homem nasce para exercer uma função

definida. Ouvindo sempre, pode estar certo de que atingirá serenamente os fins a que

se destina, mas, falando, é possível que abandone o esforço ao meio, e, irandose,

provavelmente não realizará coisa alguma.

90 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

78

VERDADES E FANTASIAS

“Mas, porque vos digo a verdade, não me credes.”

Jesus (JOÃO, 8: 45)

O mundo sempre distingue ruidosamente os expositores de fantasias.

É comum observarse,

quase em toda parte, a vitória dos homens

palavrosos, que prometem milagres e maravilhas. Esses merecem das criaturas

grande crédito. Basta encobrirem a enfermidade, a fraqueza, a ignorância ou o

defeito dos homens, para receberem acatamento. Não acontece o mesmo aos

cultivadores da verdade, por mais simples que esta seja. Através de todos os tempos,

para esses últimos, a sociedade reservou a fogueira, o veneno, a cruz, a punição

implacável.

Tentando fugir à angustiosa situação espiritual que lhe é própria, inventou o

homem a “buenadicha”,

impondo, contudo, aos adivinhadores o disfarce dourado

das realidades negras e duras. O charlatão mais hábil na fabricação de mentiras

brilhantes será o senhor da clientela mais numerosa e luzida.

No intercâmbio com a esfera invisível, urge que os novos discípulos se

precatem contra os perigos desse jaez.

A técnica do elogio, a disposição de parecer melhor, o prurido de caminhar

à frente dos outros, a presunção de converter consciências alheias, são grandes

fantasias. É necessário não crer nisso. Mais razoável é compreender que o serviço de

iluminação é difícil, a principiar do esforço de regeneração de nós mesmos. Nem

sempre os amigos da verdade são aceitos. Geralmente são considerados fanáticos ou

mistificadores, mas... apesar de tudo, para a nossa felicidade, fazse

preciso atender

à verdade enquanto é tempo.

91 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

79

A CADA UM

“Levantate

direito sobre os teus pés.”

Paulo (ATOS, 14: 10)

De modo geral, quando encarnados no mundo físico, apenas enxergamos os

aleijados do corpo, os que perderam o equilíbrio corporal, os que se arrastam

penosamente no solo, suportando escabrosos defeitos. Não possuímos suficiente

visão para identificar os doentes do espírito, os coxos do pensamento, os aniquilados

de coração.

Onde existissem somente cegos, acabaria a criatura perdendo o interesse e a

lembrança do aparelho visual; pela mesma razão, na Crosta da Terra, onde

esmagadora maioria de pessoas se constituem de almas paralíticas, no que se refere à

virtude, raros homens conhecem a desarmonia de saúde espiritual que lhes diz

respeito, conscientes de suas necessidades incontestes.

Inferese,

pois, que a missão do Evangelho é muito mais bela e mais

extensa que possamos imaginar.

Jesus continua derramando bênçãos todos os dias. E os prodígios ocultos,

operados no silêncio de seu amor infinito, são maiores que os verificados em

Jerusalém e na Galiléia, porquanto os cegos e leprosos curados, segundo as

narrativas apostólicas, voltaram mais tarde a enfermar e morrer. A cura de nossos

espíritos doentes e paralíticos é mais importante, porquanto se efetua com vistas à

eternidade.

É indispensável que não nos percamos em conclusões ilusórias. Agucemos

os ouvidos, guardando a palavra do apóstolo aos gentios. Imprescindível é que nos

levantemos, individualmente, sobre os próprios pés, pois há muita gente esperando

as asas de anjo que lhe não pertencem.

92 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

80

OPINIÕES

“Ai de vós, quando todos os homens de vós disserem

bem, porque assim faziam seus pais aos falsos profetas.”

Jesus (LUCAS, 6: 26)

Indubitavelmente, muitas pessoas existem de parecer estimável, às quais

podemos recorrer nos momentos oportunos, mas que ninguém despreze a opinião da

própria consciência, porquanto a voz de Deus, comumente, nos esclarecerá nesse

santuário divino.

Rematada loucura é o propósito de contar com a aprovação geral ao nosso

esforço.

Quando Jesus pronunciou a sublime exortação desta passagem de Lucas,

agiu com absoluto conhecimento das criaturas. Sabia o Mestre que, num plano de

contrastes chocantes como a Terra, não será possível agradar a todos

simultaneamente.

O homem da verdade será compreendido apenas, em tempo adequado,

pelos espíritos que se fizerem verdadeiros. O prudente não receberá aplauso dos

imprudentes.

O Mestre, em sua época, não reuniu as simpatias comuns. Se foi amado por

criaturas sinceras e simples, sofreu impiedoso ataque dos convencionalistas. Para

Maria de Magdala era Ele o Salvador; para Caifás, todavia, era o revolucionário

perigoso.

O tempo foi a única força de esclarecimento geral.

Se te encontras em serviço edificante, se tua consciência te aprova, que te

importam as opiniões levianas ou insinceras?

Cumpre o teu dever e caminha.

Examina o material dos ignorantes e caluniadores como proveitosa

advertência e recordate

de que não é possível conciliar o dever com a leviandade,

nem a verdade com a mentira.

93 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

81

ORDENAÇÕES HUMANAS

“Sujeitaivos,

pois, a toda ordenação humana, por amor

do Senhor.”

(I PEDRO, 2: 13)

Certos temperamentos impulsivos, aproximandose

das lições do Cristo,

presumem no Evangelho um tratado de princípios destruidores da ordem existente

no mundo. Há quem figure no Mestre um anarquista vigoroso, inflamado de cóleras

sublimes.

Jesus, porém, nunca será patrono da desordem.

A novidade que transborda do Evangelho não aconselha ao espírito mais

humilhado da Terra a adoção de armas contra irmãos, mas, sim, que se humilhe

ainda mais, tomando a cruz, a exemplo do Salvador.

Claro está que a Boa Nova não ensina a genuflexão ante a tirania insolente;

entretanto, pede respeito às ordenações humanas, por amor ao Mestre Divino.

Se o detentor da autoridade exige mais do que lhe compete, transformase

num déspota que o Senhor corrigirá, através das circunstâncias que lhe expressam os

desígnios, no momento oportuno. Essa certeza é mais um fator de tranqüilidade para

o servo cristão que, em hipótese alguma, deve quebrar o ritmo da harmonia.

Não te faças, pois, indiferente às ordenações da máquina de trabalho em

que te encontras. É possível que, muita vez, não te correspondam aos desejos, mas

lembrate

de que Jesus é o Supremo Ordenador na Terra e não te situaria o esforço

pessoal onde o teu concurso fosse desnecessário.

Tens algo de sagrado a fazer onde respiras no dia de hoje. Com expressões

de revolta, tua atividade será negativa. Recordate

de semelhante verdade e submetete

às ordenações humanas por amor ao Senhor Divino.

94 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

82

MADEIROS SECOS

“Porque, se ao madeiro verde fazem isto, que se fará ao

seco?”

Jesus (LUCAS, 23: 31)

Jesus é a videira eterna, cheia de seiva divina, espalhando ramos fartos,

perfumes consoladores e frutos substanciosos entre os homens, e o mundo não lhe

ofereceu senão a cruz da flagelação e da morte infamante.

Desde milênios remotos é o Salvador, o puro por excelência.

Que não devemos esperar, por nossa vez, criaturas endividadas que somos,

representando galhos ainda secos na árvore da vida?

Em cada experiência, necessitamos de processos novos no serviço de

reparação e corrigenda.

Somos madeiros sem vida própria, que as paixões humanas inutilizaram,

em sua fúria destruidora.

Os homens do campo metem a vara punitiva nos pessegueiros, quando suas

frondes raquíticas não produzem. O efeito é benéfico e compensador.

O martírio do Cristo ultrapassou os limites de nossa imaginação. Como

tronco sublime da vida, sofreu por desejar transmitirnos

sua seiva fecundante.

Como lenhos ressequidos, ao calor do mal, sofremos por necessidade, em

favor de nós mesmos.

O mundo organizou a tragédia da cruz para o Mestre, por espírito de

maldade e ingratidão; mas, nós outros, se temos cruzes na senda redentora, não é

porque Deus seja rigoroso na execução de suas leis, mas por ser Amoroso Pai de

nossas almas, cheio de sabedoria e compaixão nos processos educativos.

95 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

83

AFLIÇÕES

“Mas alegraivos

no fato de serdes participantes das

aflições do Cristo.”

(I PEDRO, 4: 13)

É inegável que em vosso aprendizado terrestre atravessareis dias de inverno

ríspido, em que será indispensável recorrer às provisões armazenadas no íntimo, nas

colheitas dos dias de equilíbrio e abundância.

Contemplareis o mundo, na desilusão de amigos muito amados, como

templo em ruínas, sob os embates de tormenta cruel.

As esperanças feneceram distantes, os sonhos permanecem pisados pelos

ingratos. Os afeiçoados desapareceram, uns pela indiferença, outros porque

preferiram a integração no quadro dos interesses fugitivos do plano material.

Quando surgir um dia assim em vossos horizontes, compelindovos

à

inquietação e à amargura, certo não vos será proibido chorar. Entretanto, é

necessário não esquecerdes a divina companhia do Senhor Jesus.

Supondes, acaso, que o Mestre dos Mestres habita uma esfera inacessível

ao pensamento dos homens? julgais, porventura, não receba o Salvador ingratidões e

apodos, por parte das criaturas humanas, diariamente? Antes de conhecermos o

alheio mal que nos aflige, Ele conhecia o nosso e sofria pelos nossos erros.

Não olvidemos, portanto, que, nas aflições, é imprescindível tomarlhe

a

sublime companhia e prosseguir avante com a sua serenidade e seu bom ânimo.

96 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

84

LEVANTEMONOS

“Levantaivos,

vamonos

daqui.”

Jesus (JOÃO, 14: 31)

Antes de retirarse

para as orações supremas no Horto, falou Jesus aos

discípulos longamente, esclarecendo o sentido profundo de sua exemplifícação.

Relacionando seus pensamentos sublimes, fez o formoso convite inserto no

Evangelho de João:

— “Levantaivos,

vamonos

daqui.”

O apelo é altamente significativo.

Ao toque de erguerse,

o homem do mundo costuma procurar o movimento

das vitórias fáceis, atirandose

à luta sequioso de supremacia ou trocando de

domicilio, na expectativa de melhoria efêmera.

Com Jesus, entretanto, ocorreu o contrário.

Levantouse

para ser dilacerado, logo após, pelo gesto de Judas.

Distanciouse

do local em que se achava a fim de alcançar, pouco depois, a

flagelação e a morte.

Naturalmente partiu para o glorioso destino de reencontro com o Pai, mas

precisamos destacar as escalas da viagem...

Ergueuse

e saiu, em busca da glória suprema. As estações de marcha são

eminentemente educativas:

— Getsêmani, o Cárcere, o Pretório, a Via Dolorosa, o Calvário, a Cruz

constituem pontos de observação muito interessantes, mormente na atualidade, que

apresenta inúmeros cristãos aguardando a possibilidade da viagem sobre as

almofadas de luxo do menor esforço.

97 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

85

TESTEMUNHO

“Respondeulhe

Jesus: — Dizes isso de ti mesmo ou

foram outros que to disseram de mim?”

(JOÃO, 18: 34)

A pergunta do Cristo a Pilatos tem significação mais extensiva.

Compreendemola,

aplicada às nossas experiências religiosas.

Quando encaramos no Mestre a personalidade do Salvador, por que o

afirmamos? Estaremos agindo como discos fonográficos, na repetição pura e

simples de palavras ouvidas?

É necessário conhecer o motivo pelo qual atribuímos títulos amoráveis e

respeitosos ao Senhor. Não basta redizer encantadoras lições dos outros, mas viver

substancialmente a experiência íntima na fidelidade ao programa divino.

Quando alguém se refere nominalmente a um homem, esse homem pode

indagar quanto às origens da referência.

Jesus não é símbolo legendário; é um Mestre Vivo.

As preocupações superficiais do mundo chegam, educam o espírito e

passam, mas a experiência religiosa permanece.

Nesse capítulo, portanto, é ilógico recorrermos, sistematicamente, aos

patrimônios alheios.

É útil a todo aprendiz testificar de si mesmo, iluminar o coração com os

ensinos do Cristo, observarlhe

a influência excelsa nos dias tranqüilos e nos

tormentosos.

Reconheçamos, pois, atitude louvável no esforço do homem que se inspira

na exemplificação dos discípulos fiéis; contudo, não nos esqueçamos de que é

contraproducente repousarmos em edificações que não nos pertencem, olvidando o

serviço que nos é próprio.

98 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

86

JESUS E OS AMIGOS

“Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a

vida pelos seus amigos.”

Jesus (JOÃO, 15: 13)

Na localização histórica do Cristo, impressionanos

a realidade de sua

imensa afeição pela Humanidade.

Pelos homens, fez tudo o que era possível em renúncia e dedicação.

Seus atos foram celebrados em assembléias de confraternização e de amor.

A primeira manifestação de seu apostolado verificouse

na festa jubilosa de um lar.

Fez companhia aos publicanos, sentiu sede da perfeita compreensão de seus

discípulos. Era amigo fiel dos necessitados que se socorriam de suas virtudes

imortais. Através das lições evangélicas, notaselhe

o esforço para ser entendido em

sua infinita capacidade de amar. A última ceia representa uma paisagem completa de

afetividade integral. Lava os pés aos discípulos, ora pela felicidade de cada um...

Entretanto, ao primeiro embate com as forças destruidoras, experimenta o

Mestre o supremo abandono.

Em vão, seus olhos procuram a multidão dos afeiçoados, beneficiados e

seguidores.

Os leprosos e cegos, curados por suas mãos, haviam desaparecido.

Judas entregouo

com um beijo.

Simão, que lhe gozara a convivência doméstica, negouo

três vezes.

João e Tiago dormiram no Horto.

Os demais preferiram estacionar em acordos apressados com as acusações

injustas. Mesmo depois da Ressurreição, Tomé exigiulhe

sinais.

Quando estiveres na “porta estreita”, dilatando as conquistas da vida eterna,

irás também só. Não aguardes teus amigos. Não te compreenderiam; no entanto, não

deixes de amálos.

São crianças. E toda criança teme e exige muito.

99 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

87

POR QUE DORMIS?

“E disselhes:

Por que estais dormindo? Levantaivos

e

orai, para que não entreis em tentação.”

(LUCAS, 22: 46)

Nos ensinos fundamentais de Jesus, é imperioso evitar as situações

acomodatícias, em detrimento das atividades do bem.

O Evangelho de Lucas, nesta passagem, conta que os discípulos “dormiam

de tristeza”, enquanto o Mestre orava fervorosamente no Horto. Vêse,

pois, que o

Senhor não justificou nem mesmo a inatividade oriunda do choque ante as grandes

dores.

O aprendiz figurará o mundo como sendo o campo de trabalho do Reino,

onde se esforçará, operoso e vigilante, compreendendo que o Cristo prossegue em

serviço redentor para o resgate total das criaturas.

Recordando a prece em Getsêmani, somos obrigados a lembrar que

inúmeras comunidades de alicerces cristãos permanecem dormindo nas convivências

pessoais, nos mesquinhos interesses, nas vaidades efêmeras. Falam do Cristo,

referemse

à sua imperecível exemplificação, como se fossem sonâmbulos,

inconscientes do que dizem e do que fazem, para despertarem tãosó

no instante da

morte corporal, em soluços tardios.

Ouçamos a interrogação do Salvador e busquemos a edificação e o

trabalho, onde não existem lugares vagos para o que seja inútil e ruinoso à

consciência.

Quanto a ti, que ainda te encontras na carne, não durmas em espírito,

desatendendo aos interesses do Redentor. Levantate

e esforçate,

porque é no sono

da alma que se encontram as mais perigosas tentações, através de pesadelos ou

fantasias.

100 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

88

VELAR COM JESUS

“E voltando para os seus discípulos, achouos

adormecidos e disse a Pedro: Então, nem uma hora pudeste velar

comigo?”

(MATEUS, 26: 40)

Jesus veio à Terra acordar os homens para a vida maior.

É interessante lembrar, todavia, que, em sentindo a necessidade de alguém

para acompanhálo

no supremo testemunho, não convidou seguidores tímidos ou

beneficiados da véspera e, sim, os discípulos conscientes das próprias obrigações.

Entretanto, esses mesmos dormiram, intensificando a solidão do Divino Enviado.

É indispensável rememoremos o texto evangélico para considerar que o

Mestre continua em esforço incessante e prossegue convocando cooperadores

devotados à colaboração necessária. Claro que não confia tarefas de importância

fundamental a Espíritos inexperientes ou ignorantes; mas, é imperioso reconhecer o

reduzido número daqueles que não adormecem no mundo, enquanto Jesus aguarda

resultados da incumbência que lhes foi cometida.

Olvidando o mandato de que são portadores, inquietamse

pela execução

dos próprios desejos, a observarem em grande conta os dias rápidos que o corpo

físico lhes oferece. Esquecemse

de que a vida é a eternidade e que a existência

terrestre não passa simbolicamente de “uma hora”. Em vista disso, ao despertarem

na realidade espiritual, os obreiros distraídos choram sob o látego da consciência e

anseiam pelo reencontro da paz do Salvador, mas ecoamlhes

ao ouvido as palavras

endereçadas a Pedro: Então, nem por uma hor a pudeste velar comigo?

E, em verdade, se ainda não podemos permanecer com o Cristo, ao menos

uma hora, como pretendermos a divina união para a eternidade?

101 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

89

O FRACASSO DE PEDRO

“E Pedro o seguiu, de longe, até ao pátio do sumosacerdote

e, entrando, assentouse

entre os criados para ver o

fim.”

(MATEUS, 26: 58)

O fracasso, como qualquer êxito, tem suas causas positivas.

A negação de Pedro sempre constitui assunto de palpitante interesse nas

comunidades do Cristianismo.

Enquadrarseia

a queda moral do generoso amigo do Mestre num plano de

fatalidade? Por que se negaria Simão a cooperar com o Senhor em minutos tão

difíceis?

Útil, nesse particular, é o exame de sua invigilância.

O fracasso do amoroso pescador reside aí dentro, na desatenção para com

as advertências recebidas.

Grande número de discípulos modernos participam das mesmas negações,

em razão de continuarem desatendendo.

Informa o Evangelho que, naquela hora de trabalhos supremos, Simão

Pedro seguia o Mestre “de longe”, ficou no “pátio do sumosacerdote”,

e “assentouse

entre os criados” deste, para “ver o fim”.

Leitura cuidadosa do texto esclarecenos

o entendimento e reconhecemos

que, ainda hoje, muitos amigos do Evangelho prosseguem caindo em suas

aspirações e esperanças, por acompanharem o Cristo a distância, receosos de

perderem gratificações imediatistas; quando chamados a testemunho importante,

demoramse

nas vizinhanças da arena de lutas redentoras, entre os servos das

convenções utilitaristas, assestando binóculos de exame, a fim de observarem como

será o fim dos serviços alheios.

Todos os aprendizes, nessas condições, naturalmente fracassarão e chorarão

amargamente.

102 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

90

ENSEJO AO BEM

“J esus, porém, lhe disse: Amigo, a que vieste? — Então,

aproximandose,

lançaram mão de J esus e o prenderam.”

(MATEUS, 26: 50)

É significativo observar o otimismo do Mestre, prodigalizando

oportunidades ao bem, até ao fim de sua gloriosa missão de verdade e amor, junto

dos homens.

Cientificarase

o Cristo, com respeito ao desvio de Judas, comentara

amorosamente o assunto, na derradeira reunião mais íntima com os discípulos, não

guardava qualquer dúvida relativamente aos suplícios que o esperavam; no entanto,

em se aproximando, o cooperador transviado beijao

na face, identificandoo

perante

os verdugos, e o Mestre, com sublime serenidade, recebelhe

a saudação

carinhosamente e indaga: Amigo, a que vieste?

Seu coração misericordioso proporcionava ao discípulo inquieto o ensejo ao

bem, até ao derradeiro instante.

Embora notasse Judas em companhia dos guardas que lhe efetuariam a

prisão, dálhe

o título de amigo. Não lhe retira a confiança do minuto primeiro, não

o maldiz, não se entrega a queixas inúteis, não o recomenda à posteridade com

acusações ou conceitos menos dignos.

Nesse gesto de inolvidável beleza espiritual, ensinounos

Jesus que é

preciso oferecer portas ao bem, até à última hora das experiências terrestres, ainda

que, ao término da derradeira oportunidade, nada mais reste além do caminho para o

martírio ou para a cruz dos supremos testemunhos.

103 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

91

CAMPO DE SANGUE

“por isso foi chamado aquele campo, até ao dia de hoje,

Campo de Sangue.”

(MATEUS, 27: 8)

Desorientado, em vista das terríveis conseqüências de sua irreflexão, Judas

procurou os sacerdotes e restituiulhes

as trinta moedas, atirandoas,

a esmo, no

recinto do Templo.

Os mentores do Judaísmo concluíram, então, que o dinheiro constituía

preço de sangue e, buscando desfazerse

rapidamente de sua posse, adquiriram um

campo destinado ao sepulcro dos estrangeiros, denominado, desde então, Campo de

Sangue.

Profunda a expressão simbólica dessa recordação e, com a sua luz, cabenos

reconhecer que a maioria dos homens continua a irrefletida ação de Judas,

permutando o Mestre, inconscientemente, por esperanças injustas, por vantagens

materiais, por privilégios passageiros. Quando podem examinar a extensão dos

enganos a que se acolheram, procuram, desesperados, os comparsas de suas ilusões,

tentando devolverlhes

quanto lhes coube nos criminosos movimentos em que se

comprometeram na luta humana; todavia, com esses frutos amargos apenas

conseguem adquirir o campo de sangue das expiações dolorosas e ásperas, para

sepulcro dos cadáveres de seus pesadelos delituosos, estranhos ao ideal divino da

perfeição em Jesus Cristo.

Irmão em humanidade, que ainda não pudeste sair do campo milenário das

reencarnações, em luta por enterrar os pretéritos crimes que não se coadunam com a

Lei Eterna, não troques o Cristo Imperecível por um punhado de cinzas misérrimas,

porque, do contrário, continuarás circunscrito à região escura da carne sangrenta.

104 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

92

MADALENA

“Disselhe

Jesus: Maria! — Ela, voltandose,

disselhe:

Mestre!”

(JOÃO, 20: 16)

Dos fatos mais significativos do Evangelho, a primeira visita de Jesus, na

ressurreição, é daqueles que convidam à meditação substanciosa e acurada.

Por que razões profundas deixaria o Divino Mestre tantas figuras mais

próximas de sua vida para surgir aos olhos de Madalena, em primeiro lugar?

Somos naturalmente compelidos a indagar por que não teria aparecido,

antes, ao coração abnegado e amoroso que lhe servira de Mãe ou aos discípulos

amados...

Entretanto, o gesto de Jesus é profundamente simbólico em sua essência

divina.

Dentre os vultos da Boa Nova, ninguém fez tanta violência a si mesmo,

para seguir o Salvador, como a inesquecível obsidiada de Magdala. Nem mesmo

“morta” nas sensações que operam a paralisia da alma; entretanto, bastou o encontro

com o Cristo para abandonar tudo e seguirlhe

os passos, fiel até ao fim, nos atos de

negação de si própria e na firme resolução de tomar a cruz que lhe competia no

calvário redentor de sua existência angustiosa.

É compreensível que muitos estudantes investiguem a razão pela qual não

apareceu o Mestre, primeiramente, a Pedro ou a João, à sua Mãe ou aos amigos.

Todavia, é igualmente razoável reconhecermos que, com o seu gesto inesquecível,

Jesus ratificou a lição de que a sua doutrina será, para todos os aprendizes e

seguidores, o código de ouro das vidas transformadas para a glória do bem. E

ninguém, como Maria de Magdala, houvera transformado a sua, à luz do Evangelho

redentor.

105 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

93

ALEGRIA CRISTÃ

“Mas a vossa tristeza se converterá em alegria.”

Jesus (JOÃO, 16: 20)

Nas horas que precederam a agonia da cruz, os discípulos não conseguiam

disfarçar a dor, o desapontamento.

Estavam tristes. Como pessoas humanas, não entendiam outras vitórias que

não fossem as da Terra. Mas Jesus, com vigorosa serenidade, exortavaos:

“Na

ver dade, na ver dade, vos digo que vós chor ar eis e vos lamentar eis; o mundo se

alegr ará e vós estareis tr istes, mas a vossa tr isteza se conver ter á em alegria.”

Através de séculos, viuse

no Evangelho um conjunto de notícias dolorosas

— um Salvador abnegado e puro conduzido ao madeiro destinado aos infames,

discípulos debandados, perseguições sem conta, martírios e lágrimas para todos os

seguidores...

No entanto, essa pesada bagagem de sofrimentos constitui os alicerces de

uma vida superior, repleta de paz e alegria. Essas dores representam auxílio de Deus

à terra estéril dos corações humanos. Chegam como adubo divino aos sentimentos

das criaturas terrestres, para que de pântanos desprezados nasçam lírios de

esperança.

Os inquietos salvadores da política e da ciência, na Crosta Planetária,

receitam repouso e prazer a fim de que o espírito chore depois, por tempo

indeterminado, atirado aos desvãos sombrios da consciência ferida pelas atitudes

criminosas. Cristo, porém, evidenciando suprema sabedoria, ensinou a ordem

natural para a aquisição das alegrias eternas, demonstrando que fornecer caprichos

satisfeitos, sem advertência e medida, às criaturas do mundo, no presente estado

evolutivo, é depor substâncias perigosas em mãos infantis. Por esse motivo, reservou

trabalhos e sacrifícios aos companheiros amados, para que se não perdessem na

ilusão e chegassem à vida real com valioso patrimônio de estáveis edificações.

Eis por que a alegria cristã não consta de prazeres da inconsciência, mas da

sublime certeza de que todas as dores são caminhos para júbilos imortais.

106 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

94

AO SALVARNOS

“Salvate

a ti mesmo e desce da cruz.”

(MARCOS, 15: 30)

Esse grito de ironia dos homens maliciosos continua vibrando através dos

séculos.

A criatura humana não podia compreender o sacrifício do Salvador. A

Terra apenas conhecia vencedores que chegavam brandindo armas, cobertos de

glórias sanguinolentas, heróis da destruição e da morte, a caminho de altares e

monumentos de pedra.

Aquele Messias, porém, distanciarase

do padrão habitual. Para conquistar,

dava de si mesmo; a fim de possuir, nada pretendia dos homens para si próprio; no

propósito de enriquecer a vida, entregavase

à morte.

Em vista disso, não faltaram os escarnecedores no momento extremo,

interpelando o Divino Triunfador, com mordaz expressão.

Nesse testemunho, ensinounos

o Mestre que, ao nos salvarmos, no campo

da maldade e da ignorância ouviremos o grito da malícia geral, nas mesmas

circunstâncias.

Se nos demoramos colados à ilusão do destaque, se somos trabalhadores

exclusivamente interessados em nosso engrandecimento temporário na esfera carnal,

com esquecimento das necessidades alheias, há sempre muita gente que nos

considera privilegiados e vitoriosos; se ponderamos, no entanto, as nossas

responsabilidades graves no mundo, chamanos

loucos e, quando nos surpreende em

experiências culminantes, revestidas da dor sagrada que nos arrebata a esferas

sublimes, passa junto de nós exibindo gestos irônicos e, recordando os altos

princípios esposados por nossa vida, exclama, desdenhosa: — “Salvate

a ti mesmo

e desce da cruz.”

107 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

95

O AMIGO OCULTO

“Mas os olhos deles estavam como que fechados, para

que o não conhecessem.”

(LUCAS, 24: 16)

Os discípulos, a caminho de Emaús, comentavam, amargurados, os

acontecimentos terríveis do Calvário.

Permaneciam sob a tormenta da angústia. A dúvida penetravalhes

a alma,

levandoos

ao abatimento, à negação.

Um homem desconhecido, porém, alcançouos

na estrada. Oferecia o

aspecto de mísero peregrino.

Sem identificarse,

esclareceu as verdades da Escritura, exaltou a cruz e o

sofrimento.

Ambos os companheiros, que se haviam emaranhado no cipoal de

contradições ingratas, experimentaram agradável bemestar,

ouvindo a

argumentação confortadora.

Somente ao termo da viagem, em se sentindo fortalecidos no tépido

ambiente da hospedaria, perceberam que o desconhecido era o Mestre.

Ainda existem aprendizes na “estrada simbólica de Emaús”, todos os dias.

Atingem o Evangelho e espantamse

em face dos sacrifícios necessários à eterna

iluminação espiritual. Não entendem o ambiente divino da cruz e procuram

“paisagens mentais” distantes... Entretanto, chega sempre um desconhecido que

caminha ao lado dos que vacilam e fogem. Tem a forma de um viandante

incompreendido, de um companheiro inesperado, de um velho generoso, de uma

criança tímida. Sua voz é diferente das outras, seus esclarecimentos mais firmes,

seus apelos mais doces.

Quem partilha, por um momento, do banquete da cruz, jamais poderá

olvidála.

Muitas vezes, partirá mundo a fora, demorandose

nos trilhos escuros; no

entanto, minuto virá em que Jesus, de maneira imprevista, busca esses viajores

transviados e não os desampara enquanto não os contempla, seguros e livres, na

hospedaria da confiança.

108 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

96

A COROA

“E vestiramno

de púrpura, e tecendo uma coroa de

espinhos, lha puseram na cabeça.”

(MARCOS, 15: 17)

Quase incrível o grau de invigilância da maioria dos discípulos do

Evangelho, na atualidade, ansiosos pela coroa dos triunfos mundanos. Desde longo

tempo, as Igrejas do Cristianismo deturpado se comprazem nos grandes espetáculos,

através de enormes demonstrações de força política. E forçoso é reconhecer que

grande número das agremiações espiritistas cristãs, ainda tão recentes no mundo,

tendem às mesmas inclinações.

Individualmente, os prosélitos pretendem o bemestar,

o caminho sem

obstáculos, as considerações honrosas do mundo, o respeito de todos, o fiel

reconhecimento dos elevados princípios que esposaram na vida, por parte dos

estranhos. Quando essa bagagem de facilidades não os bafeja no serviço edificante,

sentemse

perseguidos, contrariados, desditosos.

Mas... e o Cristo? Não bastaria o quadro da coroa de espinhos para atenuarnos

a inquietação?

Naturalmente que o Mestre trazia consigo a Coroa da Vida; entretanto, não

quis perder a oportunidade de revelar que a coroa da Terra ainda é de espinhos, de

sofrimento e trabalho incessante para os que desejem escalar a montanha da

Ressurreição Divina. Ao tempo em que o Senhor inaugurou a Boa Nova entre os

homens, os romanos coroavamse

de rosas; mas, legandonos

a sublime lição, Jesus

davanos

a entender que seus discípulos fiéis deveriam contar com distintivos de

outra natureza.

109 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

97

AMAS O BASTANTE?

“Perguntoulhe

terceira vez: Simão, filho de J onas,

amasme?”

(JOÃO, 21: 17)

Aos aprendizes menos avisados é estranhável que Jesus houvesse indagado

do apóstolo, por três vezes, quanto à segurança de seu amor. O próprio Simão Pedro,

ouvindo a interrogação repetida, entristecerase,

supondo que o Mestre suspeitasse

de seus sentimentos mais íntimos.

Contudo, o ensinamento é mais profundo.

Naquele instante, confiavalhe

Jesus o ministério da cooperação nos

serviços redentores. O pescador de Cafarnaum ia contribuir na elevação de seus

tutelados do mundo, ia apostolizar, alcançando valores novos para a vida eterna.

Muito significativa, portanto, a pergunta do Senhor nesse particular. Jesus

não pede informação ao discípulo, com respeito aos raciocínios que lhe eram

peculiares, não deseja inteirarse

dos conhecimentos do colaborador, relativamente a

Ele, não reclama compromisso formal. Pretende saber apenas se Pedro o ama,

deixando perceber que, com o amor, as demais dificuldades se resolvem. Se o

discípulo possui suficiente provisão dessa essência divina, a tarefa mais dura

convertese

em apostolado de bênçãos promissoras.

É imperioso, desse modo, reconhecer que as tuas conquistas intelectuais

valem muito, que tuas indagações são louváveis, mas em verdade somente serás

efetivo e eficiente cooperador do Cristo se tiveres amor.

110 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

98

CAPAS

“E ele, lançando de si a sua capa, levantouse

e foi ter

com Jesus.”

(MARCOS, 10: 50)

O Evangelho de Marcos apresenta interessante notícia sobre a cura de

Bartimeu, o cego de Jericó.

Para receber a bênção da divina aproximação, lança fora de si a capa,

correndo ao encontro do Mestre, alcançando novamente a visão para os olhos

apagados e tristes.

Não residirá nesse ato precioso símbolo?

As pessoas humanas exibem no mundo as capas mais diversas. Existem

mantos de reis e de mendigos. Há muitos amigos do crime que dão preferência a

“capas de santos”. Raros os que não colam ao rosto a máscara da própria

conveniência. Alegase

que a luta humana permanece repleta de requisições

variadas, que é imprescindível atender à movimentação do século; entretanto, se

alguém deseja sinceramente a aproximação de Jesus, para a recepção de benefícios

duradouros, lance fora de si a capa do mundo transitório e apresentese

ao Senhor,

tal qual é, sem a ruinosa preocupação de manter a pretensa intangibilidade dos

títulos efêmeros, sejam os da fortuna material ou os da exagerada noção de

sofrimento. A manutenção de falsas aparências, diante do Cristo ou de seus

mensageiros, complica a situação de quem necessita. Nada peças ao Senhor com

exigências ou alegações descabidas. Despe a tua capa mundana e apresentate

a Ele,

sem mais nem menos.

111 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

99

PROMETER

“Prometendolhes

liberdade, sendo eles mesmos servos

da corrupção.”

(I PEDRO, 2: 19)

É indispensável desconfiar de todas as promessas de facilidades sobre o

mundo.

Jesus, que podia abrir os mais vastos horizontes aos olhos assombrados da

criatura, prometeulhe

a cruz sem a qual não poderia afastarse

da Terra para

colocarse

ao seu encontro.

Em toda parte, existem discípulos descuidados que aceitam o logro de

aventureiros inconscientes. É que ainda não aprenderam a lição viva do trabalho

próprio a que foram chamados para desenvolver atividade particular.

Os fazedores de revoluções e os donos de projetos absurdos prometem

maravilhas. Mas, se são vítimas da ambição, servos de propósitos inferiores,

escravos de terríveis enganos, como poderão realizar para os outros a liberdade ou a

elevação de que se conservam distantes?

Não creias em salvadores que não demonstrem ações que confirmem a

salvação de si mesmos.

Deves saber que foste criado para gloriosa ascensão, mas que só é fácil

descer. Subir exige trabalho, paciência, perseverança, condições essenciais para o

encontro do amor e da sabedoria.

Se alguém te fala em valor das facilidades, não acredites; é possível que o

aventureiro esteja descendo.

Mas quando te façam ver perspectivas consoladoras, através do suor e do

esforço pessoal, aceita os alvitres com alegria. Aquele que compreende o tesouro

oculto nos obstáculos, e dele se vale para enriquecer a vida, está subindo e é digno

de ser seguido.

112 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

100

AUXÍLIOS DO INVISÍVEL

“E, depois de passarem a primeira e segunda guarda,

chegaram à porta de ferro, que dá para a cidade, a qual se lhes

abriu por si mesma; e, tendo saído, percorreram uma rua e logo

o anjo se apartou dele.”

(ATOS, 12: 10)

Os homens esperam sempre ansiosamente o auxílio do plano espiritual. Não

importa o nome pelo qual se designe esse amparo. Na essência é invariavelmente o

mesmo, embora seja conhecido entre os espiritistas por “proteção dos guias” e nos

círculos protestantes por “manifestações do Espírito Santo”.

As denominações apresentam interesse secundário. Essencial é

considerarmos que semelhante colaboração constitui elemento vital nas atividades

do crente sincero.

No entanto, a contribuição recebida por Pedro, no cárcere, representa lição

para todos.

Sob cadeias pesadíssimas, o pescador de Cafarnaum vê aproximarse

o anjo

do Senhor, que o liberta, atravessa em sua companhia os primeiros perigos na prisão,

caminha ao lado do mensageiro, ao longo de uma rua; contudo, o emissário afastase,

deixandoo

novamente entregue à própria liberdade, de maneira a não

desvalorizarlhe

as iniciativas.

Essa exemplificação é típica.

Os auxílios do invisível são incontestáveis e jamais falham em suas

multiformes expressões, no momento oportuno; mas é imprescindível não se vicie o

crente com essa espécie de cooperação, aprendendo a caminhar sozinho, usando a

independência e a vontade no que é justo e útil, convicto de que se encontra no

mundo para aprender, não lhe sendo permitido reclamar dos instrutores a solução de

problemas necessários à sua condição de aluno.

113 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

101

TUDO EM DEUS

“Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma.”

Jesus (JOÃO, 5: 30)

Constitui ótimo exercício contra a vaidade pessoal a meditação nos fatores

transcendentes que regem os mínimos fenômenos da vida.

O homem nada pode sem Deus.

Todos temos visto personalidades que surgem dominadoras no palco

terrestre, afirmandose

poderosas sem o amparo do Altíssimo; entretanto, a única

realização que conseguem efetivamente é a dilatação ilusória pelo sopro do mundo,

esvaziandose

aos primeiros contactos com as verdades divinas.

Quando aparecem, temíveis, esses gigantes de vento espalham ruínas

materiais e aflições de espírito; todavia, o mesmo mundo que lhes confere pedestal

projetaos

no abismo do desprezo comum; a mesma multidão que os assopra

incumbese

de repôlos

no lugar que lhes compete.

Os discípulos sinceros não ignoram que todas as suas possibilidades

procedem do Pai amigo e sábio, que as oportunidades de edificação na Terra, com a

excelência das paisagens, recursos de cada dia e bênçãos dos seres amados, vieram

de Deus que os convida, pelo espírito de serviço, a ministérios mais santos; agirão,

desse modo, amando sempre, aproveitando para o bem e esclarecendo para a

verdade, retificando caminhos e acendendo novas luzes, porque seus corações

reconhecem que nada poderão fazer de si próprios e honrarão o Pai, entrando em

santa cooperação nas suas obras.

114 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

102

O CRISTÃO E O MUNDO

“Primeiro a erva, depois a espiga e, por último, o grão

cheio na espiga.”

Jesus (MARCOS, 4: 28)

Ninguém julgue fácil a aquisição de um título referente à elevação

espiritual. O Mestre recorreu sabiamente aos símbolos vivos da Natureza,

favorecendonos

a compreensão.

A erva está longe da espiga, como a espiga permanece distanciada dos

grãos maduros.

Nesse capítulo, o mais forte adversário da alma que deseja seguir o

Salvador, é o próprio mundo.

Quando o homem comum descansa nas vulgaridades e inutilidades da

existência terrestre, ninguém lhe examina os passos. Suas atitudes não interessam a

quem quer que seja. Todavia, em lhe surgindo no coração a erva tenra da fé

retificadora, sua vida passa a constituir objeto de curiosidade para a multidão.

Milhares de olhos, que o não viram quando desviado na ignorância e na

indiferença, seguemlhe,

agora, os gestos mínimos com acentuada vigilância. O

pobre aspirante ao título de discípulo do Senhor ainda não passa de folhagem

promissora e já lhe reclamam espigas das obras celestes; conservase

ainda longe da

primeira penugem das asas espirituais e já se lhe exigem vôos supremos sobre as

misérias humanas.

Muitos aprendizes desanimam e voltam para o lodo, onde os companheiros

não os vejam.

Esquecese

o mundo de que essas almas ansiosas ainda se acham nas

primeiras esperanças e, por isso mesmo, em disputas mais ásperas por rebentar o

casulo das paixões inferiores na aspiração de subir; dentro da velha ignorância, que

lhe é característica, a multidão só entende o homem na animalidade em que se

compraz ou, então, se o companheiro pretende elevarse,

lhe exige, de pronto,

credenciais positivas do céu, olvidando que ninguém pode trair o tempo ou enganar

o espírito de seqüência da Natureza.

Resta ao cristão cultivar seus propósitos sublimes e ouvir o Mestre:

Primeiro a erva, depois a espiga e, por último, o grão cheio na espiga.

115 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

103

ESTIMA DO MUNDO

“Se chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais

aos seus domésticos?”

Jesus (MATEUS, 10: 25)

Muitos discípulos do Evangelho existem, ciosos de suas predileções e

pontos de vista, no campo individual.

Falsas concepções ensombramlhes

o olhar.

Quase sempre se inquietam pelo reconhecimento público das virtudes que

lhes exornam o caráter, guardam o secreto propósito de obter a admiração de todos e

sentemse

prejudicados se as autoridades transitórias do mundo não lhes conferem

apreço.

Agem esquecidos de que o Reino de Deus não vem com aparência exterior;

não percebem que, por enquanto, somente os vultos destacados, nas vanguardas

financeiras ou políticas, arvoramse

em detentores de prerrogativas terrestres,

senhores quase absolutos das homenagens pessoais e dos necrológios brilhantes.

Os filhos do Reino Divino sobressaem raramente e, de modo geral, enchem

o mundo de benefícios sem que o homem os veja, à feição do que ocorre com o

próprio Pai.

Se Jesus foi chamado feiticeiro, crucificado como malfeitor e arrebatado de

sua amorosa missão para o madeiro afrontoso, que não devem esperar seus

aprendizes sinceros, quando verdadeiramente devotados à sua causa?

O discípulo não pode ignorar que a permanência na Terra decorre da

necessidade de trabalho proveitoso e não do uso de vantagens efêmeras que, em

muitos casos, lhe anulariam a capacidade de servir.

Se a força humana torturou o Cristo, não deixará de torturálo

também. É

ilógico disputar a estima de um mundo que, mais tarde, será compelido a regenerarse

para obter a redenção.

116 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

104

A ESPADA SIMBÓLICA

“Não cuideis que vim trazer a paz à Terra; não vim

trazer a paz, mas a espada.”

Jesus (MATEUS, 10: 34)

Inúmeros leitores do Evangelho perturbamse

ante essas afirmativas do

Mestre Divino, porquanto o conceito de paz, entre os homens, desde muitos séculos

foi visceralmente viciado. Na expressão comum, ter paz significa haver atingido

garantias exteriores, dentro das quais possa o corpo vegetar sem cuidados, rodeandose

o homem de servidores, apodrecendo na ociosidade e ausentandose

dos

movimentos da vida.

Jesus não poderia endossar tranqüilidade desse jaez, e, em contraposição ao

falso princípio estabelecido no mundo, trouxe consigo a luta regeneradora, a espada

simbólica do conhecimento interior pela revelação divina, a fim de que o homem

inicie a batalha do aperfeiçoamento em si mesmo. O Mestre veio instalar o combate

da redenção sobre a Terra. Desde o seu ensinamento primeiro, foi formada a frente

da batalha sem sangue, destinada à iluminação do caminho humano. E Ele mesmo

foi o primeiro a inaugurar o testemunho pelos sacrifícios supremos.

Há quase vinte séculos vive a Terra sob esses impulsos renovadores, e ai

daqueles que dormem, estranhos ao processo santificante!

Buscar a mentirosa paz da ociosidade é desviarse

da luz, fugindo à vida e

precipitando a morte.

No entanto, Jesus é também chamado o Príncipe da Paz.

Sim, na verdade o Cristo trouxe ao mundo a espada renovadora da guerra

contra o mal, constituindo em si mesmo a divina fonte de repouso aos corações que

se unem ao seu amor; esses, nas mais perigosas situações da Terra, encontram,

n’Ele, a serenidade inalterável. É que Jesus começou o combate de salvação para a

Humanidade, representando, ao mesmo tempo, o sustentáculo da paz sublime para

todos os homens bons e sinceros.

117 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

105

NEM TODOS

“E aconteceu que, quase oito dias depois destas

palavras, tomou consigo a Pedro, a J oão e a Tiago, e subiu ao

monte a orar.”

(LUCAS, 9: 28)

Digna de notarse

a atitude do Mestre, convidando apenas Simão e os filhos

de Zebedeu para presenciarem a sublime manifestação do monte, quando Moisés e

outro emissário divino estariam em contacto direto com Jesus, aos olhos dos

discípulos.

Por que não convocou os demais companheiros?

Acaso Filipe ou André não teriam prazer na sublime revelação? Não era

Tomé um companheiro indagador, ansioso por equações espirituais? No entanto, o

Mestre sabia a causa de suas decisões e somente Ele poderia dosar,

convenientemente, as dádivas do conhecimento superior.

O fato deve ser lembrado por quantos desejem forçar a porta do plano

espiritual.

Certo, o intercâmbio com esse ou aquele núcleo de entidades do Além é

possível, mas nem todos estão preparados, a um só tempo, para a recepção de

responsabilidades ou benefícios.

Não se confia, imprudentemente, um aparelho de produção preciosa, cujo

manejo dependa de competência prévia, ao primeiro homem que surja, tomado de

bons desejos. Não se atraiçoa impunemente a ordem natural. Nem todos os

aprendizes e estudiosos receberão do Além, num pronto, as grandes revelações.

Cada núcleo de atividade espiritualizante deve ser presidido pelo melhor

senso de harmonia, esforço e afinidade. Nesse mister, além das boas intenções é

indispensável a apresentação da ficha de bons trabalhos pessoais. E, no mundo, toda

gente permanece disposta a querer isso ou aquilo, mas raríssimas criaturas se

prontificam a servir e a educarse.

118 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

106

DAR

“E dá a qualquer que te pedir; e, ao que tomar o que é

teu, não lho tornes a pedir.”

Jesus (LUCAS, 6: 30)

O ato de dar é dos mais sublimes nas operações da vida; entretanto, muitos

homens são displicentes e incompreensíveis na execução dele.

Alguns distribuem esmolas levianamente, outros se esquecem da vigilância,

entregando seu trabalho a malfeitores.

Jesus é nosso Mestre nas ocorrências mínimas. E se ouvimolo

recomendando estejamos prontos a dar “a qualquer” que pedir, vemolo

atendendo a

todas as criaturas do seu caminho, não de acordo com os caprichos, mas segundo as

necessidades.

Concedeu bemaventuranças

aos aflitos e advertências aos vendilhões.

Certo, os mercadores de máfé,

no íntimo, rogavamlhe

a manutenção do “

 

 

statu

quo

 

 

”, mas sua resposta foi eloqüente. Deu alegrias nas bodas de Caná e repreensões

em assembléias dos discípulos. Proporcionou a cada situação e a cada personalidade

o que necessitavam e, quando os ingratos lhe tomaram o direito da própria vida, aos

olhos da Humanidade, não voltou o Cristo a pedirlhes

que o deixassem na obra

começada.

Deu tudo o que se coadunava com o bem. E deu com abundância,

salientandose

que, sob o peso da cruz, conferiu sublime compreensão à ignorância

geral, sem reclamação de qualquer natureza, porque sabia que o ato de dar vem de

Deus e nada mais sagrado que colaborar com o Pai que está nos céus.

119 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

107

VINDA DO REINO

“O reino de Deus não vem com aparência exterior.”

Jesus (LUCAS, 17: 20)

Os agrupamentos religiosos no mundo permanecem, quase sempre,

preocupados pelas conversões alheias. Os crentes mais entusiastas anseiam por

transformar as concepções dos amigos. Em vista disso, em toda parte somos

defrontados por irmãos aflitos pela dilatação do proselitismo em seus círculos de

estudo.

Semelhante atividade nem sempre é útil, porquanto, em muitas ocasiões,

pode perturbar elevados projetos em realização.

Afirma Jesus que o Reino de Deus não vem com aparência exterior. É

sempre ruinosa a preocupação por demonstrar pompas e números vaidosamente, nos

grupos da fé. Expressões transitórias de poder humano não atestam o Reino de Deus.

A realização divina começará do íntimo das criaturas, constituindo gloriosa luz do

templo interno. Não surge à comum apreciação, porque a maioria dos homens

transitam semicegos,

através do túnel da carne, sepultando os erros do passado

culposo.

A carne é digna e venerável, pois é vaso de purificação, recebendonos

para

o resgate preciso; entretanto, para os espíritos redimidos significa “morte” ou

“transformação permanente”. O homem carnal, em vista das circunstâncias que lhe

governam o esforço, pode ver somente o que está “morto” ou aquilo que “vai

morrer”. O Reino de Deus, porém, divino e imortal, escapa naturalmente à visão dos

humanos.

120 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

108

REENCARNAÇÃO

“Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar,

cortao

e atirao

para longe de ti; melhor te é entrar na vida,

coxo ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres

lançado no fogo eterno.”

Jesus (MATEUS, 18: 8)

Unicamente a reencarnação esclarece as questões do ser, do sofrimento e do

destino. Em muitas ocasiões, falounos

Jesus de seus belos e sábios princípios.

Esta passagem de Mateus é sumamente expressiva.

É indispensável considerar que o Mestre se dirigia a uma sociedade

estagnada, quase morta.

No concerto das lições divinas que recebe, o cristão, a rigor, apenas

conhece, de fato, um gênero de morte, a que sobrevém à consciência culpada pelo

desvio da Lei; e os contemporâneos do Cristo, na maioria, eram criaturas sem

atividade espiritual edificante, de alma endurecida e coração paralítico. A expressão

“melhor te é entrar na vida” representa solução fundamental. Acaso, não eram os

ouvintes pessoas humanas? Referiase,

porém, o Senhor à existência contínua, à vida

de sempre, dentro da qual todo espírito despertará para a sua gloriosa destinação de

eternidade.

Na elevada simbologia de suas palavras, apresentanos

Jesus o motivo

determinante dos renascimentos dolorosos, em que observamos aleijados, cegos e

paralíticos de berço, que pedem semelhantes provas como períodos de refazimento e

regeneração indispensáveis à felicidade porvindoura.

Quanto à imagem do “fogo eterno”, inserta nas letras evangélicas, é recurso

muito adequado à lição, porque, enquanto não se dispuser a criatura a viver com o

Cristo, será impelida a fazêlo,

através de mil meios diferentes; se a rebeldia

perdurar por infinidade de séculos, os processos purificadores permanecerão

igualmente como o fogo material, que existirá na Terra enquanto seu concurso

perdurar no tempo, como utilidade indispensável à vida física.

121 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

109

ACHAREMOS SEMPRE

“Porque qualquer que pede, recebe; e quem busca, acha.”

Jesus (LUCAS, 11: 10)

Ao experimentar o crente a necessidade de alguma coisa, recorda

maquinalmente a promessa do Mestre, quando assegurou resposta adequada a

qualquer que pedir.

Importa, contudo, saber o que procuramos. Naturalmente, receberemos

sempre, mas é imprescindível conhecer o objeto de nossa solicitação.

Asseverou Jesus: “Quem busca, acha.”

Quem procura o mal encontrase

com o mal igualmente.

Existe perfeita correspondência entre nossa alma e a alma das coisas. Não

expendemos uma hipótese, examinamos uma lei.

Para os que procuram ladrões, escutando os falsos apelos do mundo interior

que lhes é próprio, todos os homens serão desonestos. Assim ocorre aos que

possuem aspirações de crença, acercandose,

desconfiados, dos agrupamentos

religiosos. Nunca surpreendem a fé, porque tudo analisam pela máfé

a que se

acolhem. Tanto experimentam e insistem, manejando os propósitos inferiores de que

se nutrem, que nada encontram, efetivamente, além das desilusões que esperavam.

A fim de encontrarmos o bem, é preciso buscálo

todos os dias.

Inegavelmente, num campo de lutas chocantes como a esfera terrestre, a

caçada ao mal é imediatamente coroada de êxito, pela preponderância do mal entre

as criaturas. A pesca do bem não é tão fácil; no entanto, o bem será encontrado

como valor divino e eterno.

É indispensável, pois, muita vigilância na decisão de buscarmos alguma

coisa, porquanto o Mestre afirmou: “Quem busca, acha”; e acharemos sempre o que

procuramos.

122 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

110

VIDAS SUCESSIVAS

“Não te maravilhes de te haver dito: Necessário vos é

nascer de novo.”

Jesus. (JOÃO, 3: 7)

A palavra de Jesus a Nicodemos foi suficientemente clara.

Desviála

para interpretações descabidas pode ser compreensível no

sacerdócio organizado, atento às injunções da luta humana, mas nunca nos espíritos

amantes da verdade legítima.

A reencarnação é lei universal.

Sem ela, a existência terrena representaria turbilhão de desordem e

injustiça; à luz de seus esclarecimentos, entendemos todos os fenômenos dolorosos

do caminho.

O homem ainda não percebeu toda a extensão da misericórdia divina, nos

processos de resgate e reajustamento.

Entre os homens, o criminoso é enviado a penas cruéis, seja pela

condenação à morte ou aos sofrimentos prolongados.

A Providência, todavia, corrige, amando... Não encaminha os réus a prisões

infectas e úmidas. Determina somente que os comparsas de dramas nefastos troquem

a vestimenta carnal e voltem ao palco da atividade humana, de modo a se redimirem,

uns à frente dos outros.

Para a Sabedoria Magnânima nem sempre o que errou é um celerado, como

nem sempre a vítima é pura e sincera. Deus não vê apenas a maldade que surge à

superfície do escândalo; conhece o mecanismo sombrio de todas as circunstâncias

que provocaram um crime.

O algoz integral como a vítima integral são desconhecidos do homem; o

Pai, contudo, identifica as necessidades de seus filhos e reúneos,

periodicamente,

pelos laços de sangue ou na rede dos compromissos edificantes, a fim de que

aprendam a lei do amor, entre as dificuldades e as dores do destino, com a bênção de

temporário esquecimento.

123 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

111

ORIENTADORES DO MUNDO

“Respondeulhe

Jesus: És mestre em Israel e não sabes Isto?”

(JOÃO, 3: 10)

É muito comum nos círculos religiosos, notadamente nos arraiais

espiritistas, o aparecimento de orientadores do mundo, reclamando provas da

existência da alma.

Tempo virá em que semelhantes inquirições serão consideradas pueris,

porque, afinal, esses mentores da política, da educação, da ciência, estão

perguntando, no fundo, se eles próprios existem.

A resposta de Jesus a Nicodemos, embora se refira ao problema da

reencarnação, enquadrase

perfeitamente ao assunto, de vez que os condutores da

atualidade prosseguem indagando sobre realidades essenciais da vida.

Peçamos a Deus auxilie o homem para que não continue tentando penetrar

a casa do progresso pelo telhado.

O médico leviano, até que verifique a verdade espiritual, será defrontado

por experiências dolorosas no campo das realizações que lhe dizem respeito. O

professor, apenas teórico, precipitarseá

muitas vezes nas ilusões. O administrador

improvisado permanecerá exposto a erros tremendos, até que se ajuste A

responsabilidade que lhe é própria.

Por esse motivo, a resposta de Jesus aplicase,

com acerto, às interrogações

dos instrutores modernos.

Transformados em investigadores, dirigemse

a nós outros, muita vez com

ironia, reclamando a certeza sobre a existência do espírito; entretanto, eles orientam

os outros e se introduzem na vida dos nossos Irmãos em humanidade. Considerando

essa circunstância e em se tratando de problema tão essencial para si próprios, é

razoável que não perguntem, porque devem saber.

124 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

112

COMO LÁZARO

“E o defunto saiu, tendo as mãos e os pés ligados com

faixas e o seu rosto envolto num lenço. Disselhes

J esus:

Desligaio

e deixaio

ir.”

(JOÃO, 11: 44)

O regresso de Lázaro à vida ativa representa grandioso símbolo para todos

os trabalhadores da Terra.

Os criminosos arrependidos, os pecadores que se voltam para o bem, os que

“trincaram” o cristal da consciência, entendem a maravilhosa característica do verbo

recomeçar.

Lázaro não podia ser feliz tãosó

por revestirse

novamente da carne

perecível, mas, sim, pela possibilidade de reiniciar a experiência humana com

valores novos. E, na faina evolutiva, cada vez que o espírito alcança do Mestre

Divino a oportunidade de regressar à Terra, eilo

desenfaixado dos laços vigorosos...

exonerado da angústia, do remorso, do medo... A sensação do túmulo de impressões

em que se encontrava, era venda forte a cobrirlhe

o rosto...

Jesus, compadecido, exclamou para o mundo:

— Desligaio,

deixaio

ir .

Essa passagem evangélica é assinalada de profunda beleza.

Preciosa é a existência de um homem, porque o Cristo lhe permitiu o

desligamento dos laços criminosos com o pretérito, deixandoo

encaminharse,

de

novo, às fontes da vida humana, de maneira a reconstituir e santificar os elos de seu

destino espiritual, na dádiva suprema de começar outra vez.

125 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

113

NÃO TE ESQUEÇAS

“Porque muitos dos judeus, por causa dele, iam

e criam em Jesus.”

(JOÃO, 12: 11)

Narra o Evangelho de João que muita gente, encaminhandose

para

Betânia, buscava acercarse

do Mestre, não somente para vêlo,

mas para contemplar

também a figura de Lázaro, retirado do sepulcro.

Nessa movimentação, muitos iam e voltavam transformados, irritando os

círculos farisaicos.

Essa lembrança do Apóstolo é preciosa.

A situação, todavia, é idêntica nos dias atuais.

A alma voltada para o Cristo quase sempre foi ressuscitada por seu amor,

escapando à sombra dos pesadelos intelectuais que operam a morte do sentimento...

Muitos homens estão mortos, soterrados nos sepulcros da indiferença, do

egoísmo, da negação.

Quando um companheiro, como Lázaro, tem a felicidade de ser tocado pelo

Cristo, eis que se estabelece a curiosidade geral em torno de suas atitudes. Todos

desejam conhecerlhe

as modificações.

Se és, portanto, um beneficiado de Jesus; se o Senhor já te levantou do pó

terrestre para o conhecimento da vida infinita, recordate

de que teus amigos, na

maioria, têm noticias do Mestre; todavia, ainda não estão preparados a compreendêlo

integralmente. Serás, como Lázaro, o ponto de observação direta para todos eles.

Somente começarão a receber a claridade da crença sincera por ti, reconhecendo o

poder de Jesus pela transformação que estejas demonstrando. Se já foste, pois,

chamado pelo Senhor da Vida, está em tuas mãos continuares nos recintos da morte

ou levantares para a edificação dos que te rodeiam.

126 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

114

AS CARTAS DO CRISTO

“Porque já é manifesto que sois a carta do Cristo,

ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito

de Deus Vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne

do coração.”

Paulo (I CORÍNTIOS, 3: 3)

É singular que o Mestre não haja legado ao mundo um compêndio de

princípios escritos pelas próprias mãos.

As figuras notáveis da Terra sempre assinalam sua passagem no planeta,

endereçando à posteridade a sua mensagem de sabedoria e amor, seja em tábuas de

pedra, seja em documentos envelhecidos.

Com Jesus, porém, o processo não foi o mesmo.

O Mestre como que fez questão de escrever sua doutrina aos homens,

gravandoa

no coração dos companheiros sinceros. Seu testamento espiritual

constituise

de ensinos aos discípulos e não foram grafados por ele mesmo.

Recursos humanos seriam insuficientes para revelar a riqueza eterna de sua

Mensagem. As letras e raciocínios, propriamente humanos, na maioria das vezes

costumam dar margem a controvérsias. Em vista disso, Jesus gravou seus

ensinamentos nos corações que o rodeavam e até hoje os aprendizes que se lhe

conservam fiéis são as suas cartas divinas dirigidas à Humanidade.

Esses documentos vivos do santificante amor do Cristo palpitam em todas

as religiões e em todos os climas. São os vanguardeiros que conhecem a vida

superior, experimentam o sublime contacto do Mestre e transformamse

em sua

mensagem para os homens.

Podem surgir muitas contendas em torno das páginas mais célebres e

formosas; todavia, perante a alma que se converteu em carta viva do Senhor, quando

não haja vibrações superiores da compreensão, haverá sempre o divino silêncio.

127 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

115

EMBAIXADORES DO CRISTO

“De sorte que somos embaixadores da parte do Cristo.”

Paulo (I CORÍNTIOS, 5: 20)

Na catalogação dos valores sociais, todo homem de trabalho honesto é

portador de determinada delegação.

Se os políticos e administradores guardam responsabilidades do Estado, os

operários recebem encargos naturais das oficinas a que emprestam seus esforços.

Cada homem de bem é mensageiro do centro de realizações onde atende ao

movimento da vida, em atividade enobrecedora.

As ruas estão cheias de emissários das repartições, das fábricas, dos

institutos, dos órgãos de fiscalização, produção, amparo e ensino, cujos interesses

conjugados operam a composição da harmonia social.

É necessário, contudo, não esquecermos que os valores da vida eterna não

permaneceriam no mundo sem representantes.

Cristo possui embaixadores permanentes em seus discípulos sinceros.

Importa considerar que na presente afirmativa de Paulo de Tarso não vemos

alusão ao sacerdócio presunçoso.

Todos os colaboradores leais de Jesus, em qualquer situação da vida e no

lugar mais longínquo da Terra, são conhecidos na sede espiritual dos serviços

divinos. É com eles, cooperadores devotados e muita vez desconhecidos dos

beneficiários do mundo, que se movimenta o Mestre, cada dia, estendendo o

Evangelho aplicado entre as criaturas terrestres, até a vitória final.

Entendendo esta verdade, consulta as próprias tendências, atos e

pensamentos. Repara a quem serves, porque, se já recebeste a Boa Nova da

Redenção, é tempo de te tornares embaixador de sua luz.

128 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

116

AGIR DE ACORDO

“Confessam que conhecem a Deus, mas negamno

com

as obras, sendo abomináveis e desobedientes, e reprovados para

toda boa obra.”

Paulo. (TITO, 1: 16)

O Espiritismo, em sua feição de Cristianismo redivivo, tem papel muito

mais alto que o de simples campo para novas observações técnicas da ciência

instável do mundo.

A Terra, até agora, no que se refere às organizações religiosas, tem vivido

repleta dos que confessam a existência de Deus, negandoO,

porém, através das

obras individuais.

O intercâmbio dos dois mundos, visível e invisível, de maneira direta

objetiva esse reajustamento sentimental, para que a luz divina se manifeste nas

relações comuns dos homens.

Como conciliar o conhecimento de Deus com o menosprezo aos

semelhantes?

As antigas escolas religiosas, à força de se arregimentarem como

agrupamentos políticos do mundo, sob o controle do sacerdócio, acabaram por

estagnar os impulsos da fé, em exterioridades que aviltam as forças vivas do

espírito.

A doutrina consoladora da sobrevivência e da comunicação entre os

habitantes da Terra e do Infinito, com bases profundas e amplas no Evangelho,

floresce entre as criaturas com características de nova revelação, para que o homem

seja, nas atividades vulgares, real afirmação do bem que nasce da fé viva.

129 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

117

TERRA PROVEITOSA

“Porque a terra que embebe a chuva, que cai muitas

vezes sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem

é lavrada, recebe a bênção de Deus.”

Paulo (HEBREUS, 6: 7)

Os discípulos do Cristo encontrarão sempre grandes lições, em contacto

com o livro da Natureza.

O convertido de Damasco referese

aqui à terra proveitosa que produz

abundantemente, embebendose

da chuva que cai, incessante, na sua superfície,

representando o vaso predileto de recepção das bênçãos de Deus.

Transportemos o símbolo ao país dos corações. Somente aqueles espíritos,

atentos aos benefícios espirituais, que chovem diariamente do céu, são suscetíveis de

produzir as utilidades do serviço divino, guardando as bênçãos do Senhor.

Não que o Pai estabeleça prerrogativas injustificáveis. Sua proteção

misericordiosa estendese

a todos, indistintamente, mas nem todos a recebem, isto é,

inúmeras criaturas se fecham no egoísmo e na vaidade, envolvendo o coração em

sombras densas.

Deus dá em todo tempo, mas nem sempre os filhos recebem, de pronto, as

dádivas paternais. Apenas os corações que se abrem à luz espiritual, que se deixam

embeber pelo orvalho divino, correspondem ao ideal do Lavrador Celeste.

O Altíssimo é o Senhor do Universo, sumo dispensador de bênçãos a todas

as criaturas. No planeta terreno, Jesus é o Sublime Cultivador. O coração humano é

a terra.

Cumprenos,

portanto, compreender que não se lavra o solo sem retificálo

ou sem ferilo

e que somente a terra tratada produzirá erva proveitosa, alimentando e

beneficiando na Casa de Deus, atendendo, destarte, a esperança do horticultor.

130 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

118

O PARALÍTICO

“E não podendo aproximarse

dele, por causa da

multidão, destelharam a casa onde Jesus estava e, feita uma

abertura, baixaram o leito em que jazia o paralitico.”

(MARCOS, 2: 4)

Muitas pessoas confessam sua necessidade do Cristo, mas freqüentemente

alegam obstáculos que lhes impedem a sublime aproximação.

Uns não conseguem tempo para a meditação, outros experimentam certas

inquietudes que lhes parecem intermináveis.

Todavia, para que nos sintamos na vizinhança do Mestre, como legítimos

interessados em seus benefícios imortais, fazse

imprescindível estender a

capacidade, dilatar os recursos próprios e marchar ao encontro d’Ele, sob a luz da fé

viva.

Relatanos

o Evangelho de Marcos a curiosa decisão do paralítico que,

localizando a casa em que se achava o Senhor, plenamente sitiada pela multidão,

longe de perder a oportunidade, amparouse

no auxílio dos amigos, deixandose

resvalar por um buraco, levado a efeito no telhado, de maneira a beneficiarse

no

contacto do Salvador, aproveitando fervorosamente o ensejo divino.

Recorda o paralítico de Cafarnaum e, na hipótese de encontrares grandes

dificuldades para gozar a presença do Cristo, pelos teus impedimentos de ordem

material, dirigete

para o Alto, com o amparo de teus amigos espirituais, e deixate

cair aos seus pés divinos, recebendo forças novas que te restabeleçam a paz e o bom

ânimo.

131 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

119

GLÓRIA CRISTÃ

“Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa

consciência.”

Paulo (I CORÍNTIOS, 1: 12)

Desde as tribos selvagens, que precederam a organização das famílias

humanas, tem sido a Terra grande palco utilizado na exibição das glórias

passageiras.

A concorrência intensificou a procura de títulos honoríficos transitórios.

O mundo desde muito conhece glórias sangrentas da luta homicida, glórias

da avareza nos cofres da fortuna morta, do orgulho nos pergaminhos brasanados e

inúteis, da vaidade nos prazeres mentirosos que precedem o sepulcro; a ciência

cristaliza as que lhe dizem respeito nas academias isoladas; as religiões sectaristas

nas pompas externas e nas expressões do proselitismo.

Num plano onde campeiam tantas glórias fáceis, a do cristão é mais

profunda, mais difícil. A vitória do seguidor de Jesus é quase sempre no lado inverso

dos triunfos mundanos. É o lado oculto. Raros conseguem vêlo

com olhos mortais.

Entretanto, essa glória é tão grande que o mundo não a proporciona, nem

pode subtraíla.

É o testemunho da consciência própria, transformada em

tabernáculo do Cristo vivo.

No instante divino dessa glorificação, deslumbrase

a alma ante as

perspectivas do Infinito. É que algo de estranho aconteceu aí dentro, na cripta

misteriosa do coração: o filho achou seu Pai em plena eternidade.

132 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

120

ZELO PRÓPRIO

“Olhai por vós mesmos, para que não percais o vosso

trabalho, mas antes recebais o inteiro galardão.”

(II JOÃO, 1: 8)

A natureza física, não obstante a deficiência de suas expressões em face da

grandeza espiritual da vida, fornece vasto repositório de lições, alusivas ao zelo

próprio.

A fim de que o Espírito receba o sagrado ensejo de aprender na Terra,

receberá um corpo equivalente a verdadeiro santuário, Os órgãos e os sentidos são as

suas potências; mas, semelhante tabernáculo não se ergueria sem as dedicações

maternas e, quando a criatura toma conta de si, gastará grande percentagem de

tempo na limpeza, conservação e defesa do templo de carne em que se manifesta.

Precisará cuidar da epiderme, da boca, dos olhos, das mãos, dos ouvidos.

Que acontecerá se algum departamento do corpo for esquecido?

Excrescências e sujidades trarão veneno à vida.

Se o quadro fisiológico, passageiro e mortal, exige tudo isso, que não

requer de nossa dedicação o Espírito com os seus valores eternos?

Se já recebeste alguma luz, desvelate

em não perdêla.

Intensificaa

em ti.

Lava os teus pensamentos em esforço diário, nas fontes do Cristo; corrige

os teus sentimentos, renova as aspirações colocandoas

na direção de Mais Alto.

Não te cristalizes.

Movimentate

no trabalho do zelo próprio, pois há “micróbios intangíveis”

que podem atacar a alma e paralisála

durante séculos.

133 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

121

ESPINHEIROS

“Nem se vindimam uvas dos abrolhos.”

Jesus (LUCAS, 6: 44)

O cristão é um combatente ativo.

Despertando no campo do Senhor, aturdeselhe

a visão com a amplitude e

complexidade do trabalho.

Dificuldades, tropeços, cipoais, ervas daninhas...

E o Evangelho, com propriedade de conceituação, elucida que não se pode

vindimar nos espinheiros.

Entretanto, teria Jesus assumido a paternidade de semelhante afirmativa

para que cruzemos os braços em falsa beatitude?

Se o terreno permanece absorvido pelos abrolhos, o discípulo recebeu

inúmeras ferramentas do Mestre dos mestres.

Indispensável, pois, enfrentar o serviço.

O Cristo encarou, face a face, o sacrifício pela Humanidade inteira.

Será a existência de alguns espinheiros a causa de nossos obstáculos

insuperáveis?

Não. Se hoje é impossível a vindima, ataquemos o chão duro. Lavremos o

solo árido. Adubemos com suor e lágrimas.

Haverá sempre chuvas fecundantes do Céu ou generosos mananciais da

Terra, abençoandonos

o esforço.

A Divina Providência reside em toda parte. Não olvidemos o imperativo do

trabalho e, depois, em lugar dos abrolhos, colheremos o fruto suave e doce da

videira.

134 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

122

FRUTOS

“Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.”

Jesus (MATEUS. 7: 20)

O mundo atual, em suas elevadas características de inteligência, reclama

frutos para examinar as sementes dos princípios.

O cristão, em razão disso, necessita aprender com a boa árvore que recebe

os elementos da Providência Divina, através da seiva, e converteos

em utilidades

para as criaturas.

Convém o esforço de autoanálise,

a fim de identificarmos a qualidade das

próprias ações.

Muitas palavras sonoras proporcionam simplesmente a impressão daquela

figueira condenada.

É indispensável conhecermos os frutos de nossa vida, de modo a saber se

beneficiam os nossos irmãos.

A vida terrestre representa oportunidade vastíssima, cheia de portas e

horizontes para a eterna luz.

Em seus círculos, pode o homem receber diariamente a seiva do Alto,

transformandoa

em frutos de natureza divina.

Indiscutivelmente, a atualidade reclama ensinos edificantes, mas nada

compreenderá sem demonstrações práticas, mesmo porque, desde a antigüidade,

considera a sabedoria que a realização mais difícil do homem, na esfera carnal, é

viver e morrer fiel ao supremo bem.

135 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

123

ESPERAR EM CRISTO

“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais

miseráveis de todos os homens.”

(I CORÍNTIOS, 15: 19)

O exame do versículo fornece ao estudioso explicações muito claras.

É natural confiar em Cristo e aguardar n’Ele, mas que dizer da angústia da

alma atormentada no círculo de cuidados terrestres, esperando egoisticamente que

Jesus lhe venha satisfazer os caprichos imediatos?

Seria razoável contar com o Senhor tãosó

nas expressões passageiras da

vida fragmentária?

É indispensável descobrir a grandeza do conceito de “vida”, sem confundilo

com “uma vida”.

Existir não é viajar da zona de infância, com escalas pela juventude,

madureza e velhice, até ao porto da morte; é participar da Criação pelo sentimento e

pelo raciocínio, é ser alguém e alguma coisa no concerto do Universo.

Na condição de encarnados, raros assuntos confundem tanto como os da

morte, interpretada erroneamente como sendo o fim daquilo que não pode

desaparecer.

É imprescindível, portanto, esperar em Cristo com a noção real da

eternidade. A filosofia do imediatísmo, na Terra, transforma os homens em crianças.

Não vos prendais à idade do corpo físico, às circunstâncias e condições

transitórias. Indagai da própria consciência se permaneceis com Jesus. E aguardai o

futuro, amando e realizando com o bem, convicto de que a esperança legítima não é

repouso e, sim, confiança no trabalho incessante

136 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

124

FIRMEZA DE FÉ

“E os que estão sobre a pedra, estes são os que, ouvindo

a palavra, recebemna

com alegria; mas, como não têm raiz,

apenas crêem por algum tempo, e, na época da tentação, se

desviam.”

Jesus (LUCAS, 8: 13)

A palavra “pedra”, entre nós, costuma simbolizar rigidez e impedimento;

no entanto, convém não esquecer que Jesus, de vez em quando, a ela recorria para

significar a firmeza. Pedro foi chamado pelo Mestre, certa vez, a “rocha viva da fé”.

O Evangelho de Lucas falanos

daqueles que estão sobre pedra, os quais

receberão a palavra com alegria, mas que, por ausência de raiz, caem, fatalmente, na

época das tentações.

Não são poucos os que estranham essa promessa de tentações, que, aliás,

devem ser consideradas como experiências imprescindíveis.

Na organização doméstica, os pais cuidarão excessivamente dos filhos, em

pequeninos, mas a demasia de ternura é imprópria no tempo em que necessitam

demonstrar o esforço de si mesmos.

O chefe de serviço ensinará os auxiliares novos com paciência e, depois,

exigirá, com justiça, expressões de trabalho próprio.

Reconhecemos, assim, pelo apontamento de Lucas, que nas experiências

religiosas não é aconselhável repousar alguém sobre a firmeza espiritual dos outros;

enquanto o imprevidente descansa em bases estranhas, provavelmente estará

tranqüilo, mas, se não possui raízes de segurança em si mesmo, desviarseá

nas

épocas difíceis, com a finalidade de procurar alicerces alheios.

Tudo convida o homem ao trabalho de seu aperfeiçoamento e iluminação.

Respeitemos a firmeza de fé, onde ela existir, mas não olvidemos a

edificação da nossa, para a vitória estável.

137 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

125

FILHOS E SERVOS

“Ora, o servo não fica para sempre na casa; o filho fica

para sempre.”

Jesus (JOÃO, 8: 35)

Na sua exemplificação, ensinounos

Jesus como alcançar o título de filiação

a Deus.

O trabalho ativo e incessante, o desprendimento dos interesses inferiores do

mundo, a perfeita submissão aos desígnios divinos, constituíram traços

fundamentais de suas lições na Terra.

Muitos homens, notáveis pela bondade, pelo caráter adamantino, sacerdotes

dignos e crentes sinceros, poderão ser dedicados servos do Altíssimo. Mas o Cristo

induziunos

a ser mais alguma coisa. Convidounos

a ser filhos, esclarecendo que

esses ficam “para sempre na casa”.

E os servos? Esses, muita vez, experimentam modificações. Nem sempre

permanecerão, ao lado do Pai.

Mas, não é a Terra igualmente uma dependência, ainda que humilde, da

casa de Deus? Aí palpita a essência da lição.

O Mestre aludiu aos servos como pessoas suscetíveis de vários interesses

próprios. Os filhos, todavia, possuem interesses em comum com o Pai. Os primeiros,

servindo a Deus e a si mesmos, porque como servidores aguardam remuneração,

podem sofrer ansiedades, aflições, delírios e dores ásperas. Os filhos, porém, estão

sempre “na casa”, isto é, permanecerão em paz, superiores às circunstâncias mais

duras, porquanto reconhecem, acima de tudo, que pertencem a Deus.

138 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

126

ÍDOLOS

“Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos Ídolos.”

(ATOS, 15: 29)

Os ambientes religiosos não perceberam ainda toda a extensão do conceito

de idolatria.

Quando nos referimos a ídolos, tudo parece indicar exclusivamente as

imagens materializadas nos altares de pedra. Essa é, porém, a face mais singela do

problema.

Necessitam os homens exterminar, antes de tudo, outros ídolos mais

perigosos, que lhes perturbam a visão e o sentimento.

Demorase

a alma, muitas vezes, em adoração mentirosa.

Referese

o versículo às “coisas sacrificadas aos ídolos”, e o homem está

rodeado de coisas da vida.

Movimentandoas,

a criatura enriquece o patrimônio evolutivo. Ë

necessário, no entanto, diferenciar as que se encontram consagradas a Deus das

sacrificadas aos ídolos.

A ambição de alcançar os valores espirituais, de acordo com Jesus, chamase

virtude; o propósito de atingir vantagens transitórias no campo carnal, no plano da

inquietação injusta, chamase

insensatez.

Os “primeiros lugares”, que o Mestre nos recomendou evitemos,

representam Ídolos igualmente. Não consagrar, portanto, as coisas da vida e da alma

ao culto do imediatismo terrestre, é escapar de grosseira posição adorativa.

Quando te encontres, pois, preocupado com os insucessos e desgostos, no

círculo individual, não olvides que o Cristo, aceitando a cruz, ensinounos

o recurso

de eliminar a idolatria mantida em nosso caminho por nós mesmos.

139 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

127

ENQUANTO É DIA

“Convém que eu faça as obras d’Aquele que me enviou,

enquanto é dia.”

Jesus (JOÃO, 9: 4)

Sabemos que o labor divino do Mestre é incessante e efetuase

num dia

perene e resplandecente de oportunidades; no entanto, para gravarnos

no

entendimento o valor real da passagem na Terra, falanos

Jesus de sua conveniência

em aproveitar o ensejo do contacto direto com as criaturas.

Se semelhante atitude constitui motivo de preocupação para o Mestre, que

não dizer de nós mesmos, nos círculos carnais ou nas esferas que lhes são imediatas,

dentro das obrigações que nos competem na sagrada realização do bem eterno?

Cristo não se refere à necessidade de falar das obras de Deus, mas, sim, de

construílas

a seu tempo.

Não ignoramos que, sendo Ele o Enviado do Altíssimo no mundo, os

discípulos da Boa Nova são, a seu turno, os mensageiros do seu amor, nos mais

recônditos lugares do orbe terrestre. Os que vibram de coração voltado para o

Evangelho são, efetivamente, emissários da Divina Lição entre os companheiros da

vida material, onde quer que estejam, e bemaventurados

serão todos aqueles que

aproveitarem o dia generoso, realizando em si próprios e em derredor de seus passos

as obras santificadas d’Aquele que os enviou.

Jamais desdenhes, desse modo, a posição em que te encontrares. Busca

valorizála,

através de todos os meios ao teu alcance, a fim de que teu esforço seja

uma fonte de bênçãos para os outros e para teu próprio círculo. Nunca te esqueças de

aproveitar o tempo na aquisição de luz, enquanto é dia.

140 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

128

DÁDIVAS ESPIRITUAIS

“E, descendo eles do monte, J esus lhes ordenou,

dizendo: A ninguém conteis a visão, até que o Filho do homem

ressuscite dentre os mortos.”

(MATEUS, 17: 9)

Se o homem necessita de grande prudência nos atos da vida comum, maior

vigilância se exige da criatura, no trato com a esfera espiritual.

É o próprio Mestre Divino quem nolo

exemplifica.

Tendo conduzido Tiago, Pedro e João às maravilhosas revelações do Tabor,

onde se transfigurou ao olhar dos companheiros, junto de gloriosos emissários do

plano superior, recomenda solícito: “A ninguém conteis a visão, até que o Filho do

homem seja ressuscitado dos mortos.”

O Mestre não determinou a mentira, entretanto, aconselhou se guardasse a

verdade para ocasião oportuna.

Cada situação reclama certa cota de conhecimento.

Sabia Jesus que a narrativa prematura da sublime visão poderia despertar

incompreensões e sarcasmos nas conversações vulgares e ociosas.

Não esqueçamos que todos nós estamos marchando para Deus, salientandose,

porém, que os caminhos não são os mesmos para todos.

Se guardas contigo preciosa experiência espiritual, indubitavelmente

poderás usála,

todos os dias, utilizandoa

em doses apropriadas, a fim de auxiliares

a cada um dos que te cercam, na posição particularizada em que se encontram; mas

não barateies o que a esfera mais alta te concedeu, entregando a dádiva às

incompreensões criminosas, porque tudo o que se conquista do Céu é realização

intransferível.

141 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

129

ORIGEM DAS TENTAÇÕES

“Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado

pela sua própria concupiscência.”

(TIAGO, 1: 14)

Geralmente, ao surgirem grandes males, os participantes da queda imputam

a Deus a causa que lhes determinou o desastre. Lembramse,

tardiamente de que o

Pai é TodoPoderoso

e alegam que a tentação somente poderia ter vindo do Divino

Desígnio.

Sim, Deus é o Absoluto Amor e tanto é assim que os decaídos se

conservam de pé, contando com os eternos valores do tempo, amparados por suas

mãos compassivas As tentações, todavia, não procedem da Paternidade Celestial.

Seria, porventura, o estadista humano responsável pelos atos desrespeitosos

de quantos inquinam a lei por ele criada?

As referências do Apóstolo estão profundamente tocadas pela luz do céu.

“Cada um é tentado, quando atraído pela própria concupiscência.”

Examinemos particularmente ambos os substantivos “tentação” e

“concupiscência”. O primeiro exterioriza o segundo, que constitui o fundo viciado e

perverso da natureza humana primitivista. Ser tentado é ouvir a malícia própria, é

abrigar os inferiores alvitres de si mesmo, porquanto, ainda que o mal venha do

exterior, somente se concretiza e persevera se com ele afinamos, na intimidade do

coração.

Finalmente, destaquemos o verbo “atrair”. Verificaremos a extensão de

nossa inferioridade pela natureza das coisas e situações que nos atraem.

A observação de Tiago é roteiro certo para analisarmos a origem das

tentações.

Recordate

de que cada dia tem situações magnéticas específicas. Considera

a essência de tudo o que te atraiu no curso das horas e eliminarás os males próprios,

atendendo ao bem que Jesus deseja.

142 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

130

TRISTEZA

“Porque a tristeza, segundo Deus, opera arrependimento

para a salvação, o qual não traz pesar; mas a tristeza do mundo

gera a morte.”

Paulo (II CORÍNTIOS, 7: 10)

Conforme observamos na advertência de Paulo, há “uma tristeza segundo

Deus” e outra “segundo a Terra”. A primeira soluciona problemas atinentes à vida

verdadeira, a segunda é caminho para a morte, como símbolo de estagnação, no

desvio dos sentimentos.

Muita gente considera virtudes a lamentação incessante e o tédio

continuado. Encontramos os tristes pela ausência de dinheiro adequado aos

excessos; vemos os torturados que se lastimam pela impossibilidade de praticar o

mal; ouvimos os viciados na queixa doentia, incapazes do prazer de servir sem

aguilhões. Essa é a tristeza do mundo que prende o Espírito à teia de reencarnações

corretivas e perigosas.

Raros homens se tocam da “tristeza segundo Deus”. Muito poucos

contemplam a si próprios, considerando a extensão das falhas que lhes dizem

respeito, em marcha para a restauração da vida, no presente e no porvir. Quem

avança por esse caminho redentor, se chora jamais atinge o plano do soluço

enfermiço e da inutilidade, porque sabe reajustarse,

valendose

do tempo, a golpes

benditos de esforço para as novas edificações do destino.

143 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

131

HOMENS E ANJOS

“Enquanto os anjos, sendo maiores em força e poder,

não pronunciam contra eles juízo blasfemo diante do Senhor.”

(II PEDRO, 2: 11)

É lastimável observar o grande número de pessoas que estão sempre

dispostas a proferir sentenças blasfematórias, umas para com as outras. A leviandade

dominalhes

as conversações, a mesquinhez corrompelhes

as atividades nos mais

diversos setores da vida.

Exceção feita aos sinceros cultivadores da luz religiosa, quase todos os

homens se conservam à porta de situações ásperas em que o esforço difamatório lhes

envenena a vida. Alimentam antipatias injustas para com os irmãos de atividade

profissional, pelo próximo que lhes não aceita as idéias, pelos companheiros que se

não afinam com os seus princípios. E como a lei é de compensação e troca,

receberão dos colegas e dos vizinhos as mesmas vibrações destruidoras.

Guerras silenciosas, nesse sentido, têm, por vezes, secular duração.

Entretanto, o homem jactancioso está sempre rodeado pela ação benéfica de

Espíritos iluminados e generosos, que, quanto mais revestidos de poder divino, mais

se compadecem das fragilidades humanas, estendendolhes

mãos acolhedoras para o

caminho e jamais pronunciando juízos condenatórios diante do Senhor.

Toda vez que fores compelido a analisar os esforços alheios, recorda a

palavra de Pedro. Não te esqueças de que as entidades angélicas, mananciais vivos e

sublimes de força e poder, nunca enunciam sentenças acusatórias contra ti, diante de

Deus.

144 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

132

SEMPRE ADIANTE

“Porque de quem alguém é vencido, do tal fazse

também escravo.”

(II PEDRO, 2: 19)

O Espírito encarnado, a fim de alcançar os altos objetivos da vida, precisa

reconhecer sua condição de aprendiz, extraindo o proveito de cada experiência, sem

escravizarse.

O dinheiro ou a necessidade material, a doença e a saúde do corpo são

condições educativas de imenso valor para os que saibam aproveitar o ensejo de

elevação em sua essência legitima.

Infelizmente, porém, de maneira geral, a criatura apenas reconhece

semelhantes verdades quando se abeira da transformação pela morte do corpo

terrestre.

Raras pessoas transitam de uma situação para outra com a dignidade

devida. Comumente, se um rico é transferido a lugar de escassez, dáse

a tão

extremas lamentações que acaba vencido, como servo miserável da mendicância; se

o pobre é conduzido a elevada posição financeira, não raro se transforma em

ordenador insensato, escravizandose

à extravagância e à tirania.

É imprescindível muito cuidado para que as posições transitórias não

paralisem os vôos da alma.

Guarda a retidão de consciência e atirate

ao trabalho edificante; então, a

teus olhos, toda situação representará oportunidade de atingir o “mais alto” e o

“mais além”.

145 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

133

HEGEMONIA DE JESUS

“Disselhes

Jesus: Em verdade, em verdade vos digo

que, antes que Abraão existisse, eu sou.”

(JOÃO, 8: 58)

É impossível localizar o Cristo na História, à maneira de qualquer

personalidade humana.

A divina revelação de que foi Emissário Excelso e o harmonioso conjunto

de seus exemplos e ensinos falam mais alto que a mensagem instável dos mais

elevados filósofos que visitaram o mundo.

Antes de Abraão, ou precedendo os grandes vultos da sabedoria e do amor

na História mundial, o Cristo já era o luminoso centro das realizações humanas. De

sua misericórdia partiram os missionários da luz que, lançados ao movimento da

evolução terrestre, cumpriram, mais ou menos bem, a tarefa redentora que lhes

competia entre as criaturas, antecedendo as eternas edificações do Evangelho.

A localização histórica de Jesus recorda a presença pessoal do Senhor da

Vinha. O Enviado de Deus, o Tutor Amoroso e Sábio, veio abrir caminhos novos e

estabelecer a luta Salvadora para que os homens reconheçam a condição de

eternidade que lhes é própria.

Os filósofos e amigos ilustres da Humanidade falaram às criaturas,

revelando em si uma luz refratada, como a do satélite que ilumina as noites terrenas;

os apelos desses embaixadores dignos e esclarecidos são formosos e edificantes;

todavia, nunca se furtam à mescla de sombras.

A vinda do Cristo, porém, é diversa. Em sua Presença Divina temos a fonte

da verdade positiva, o sol que resplandece.

146 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

134

BASTA POUCO

“Disselhe

J udas: Senhor, donde vem que te hás de

manifestar a nós e não ao mundo?”

(JOÃO, 14: 22)

Um dos fatos mais surpreendentes do Cristianismo é a posição escolhida

pelo Salvador, a fim de anunciar as verdades eternas.

Não aparece Jesus em decretos sensacionais, em troféus revolucionários ou

em situações de domínio.

Chega em paz à manjedoura simples, exemplifica o trabalho, conversa com

alguns homens obscuros de uma aldeola singela e, só com isso, prepara a

transformação da Humanidade inteira.

Para o mundo inferior, todavia, a pergunta de Tadeu ainda é de plena

atualidade.

As criaturas vulgares só entendem os que se impõem aos demais, ainda que,

para isso, sejam compelidas a ouvir sentenças tirânicas, proferidas em tribunas

sanguinolentas; apenas compreendem espetáculos que ferem a visão e gestos teatrais

dos que dominam por um dia para sofrerem amanhã o mesmo processo

transformador imposto ao mundo transitório ao qual se dirigem.

Jesus, todavia, falou à alma imortal. Por esse motivo, suas revelações nunca

morrem. Além disso provou não ser necessária a evidência social ou econômica para

o serviço de utilidade a Deus, demonstrando, ainda, não ser para isso indispensável a

cidade com as arregimentações e recursos faustosos. Bastarão os princípios

edificantes e simples, uma aldeota sem nome e alguns poucos amigos.

O portador da boavontade

sabe que foi esse o material com que o Cristo

iniciou a remodelação da vida terrestre.

147 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

135

O OURO INTRANSFERÍVEL

“Aconselhote

que de mim compres ouro provado no

fogo, para que te enriqueças.”

(APOCALIPSE, 8: 18)

Sempre vulgares as aquisições de custo fácil.

Nada difícil ao homem comum perseguir as possibilidades financeiras

aliciar interesses mesquinhos, inventar mil recursos para atingir os fins inferiores;

entretanto, os que adotam semelhante norma desconhecem o caráter sagrado do mais

humilde patrimônio que lhes vai às mãos, abusando da posse para sentiremse,

depois, mais empobrecidos que nunca.

A recomendação divina é suficientemente clara.

Para que um homem se enriqueça, deve adquirir o Ouro provado no fogo,

fortuna essa que procede das mãos generosas do Altíssimo.

Somente essa riqueza espiritual, adquirida nas situações de trabalho árduo,

de profunda compreensão, de vitória sobre si mesmo, de esforço incessante,

conferirá ao Espírito a posição de ascendência legítima, de bemestar

permanente,

além das transformações impostas pelo sepulcro, e apenas levará a efeito tão elevada

conquista após entregarse

totalmente ao Pai para a grandeza do Divino Serviço.

O homem mobilizado pelo homem poderá, sem dúvida, receber volumosos

salários.

Convenhamos, porém, que esses bens se transformam sempre ou algum dia

serão transferidos a outrem pelo detentor provisório. No entanto, quando o

trabalhador gasta suas possibilidades nos trabalhos do bem, com esquecimento do

egoísmo, desinteressado de si próprio, colocando acima dos caprichos da

personalidade os objetivos da Obra de Deus, lutando, amando, sofrendo e

entregandose

a Ele, adquire, indiscutivelmente, o ouro eterno e intransferível.

148 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

136

COISAS TERRESTRES E CELESTIAIS

“Se vos tenho falado de coisas terrestres, e não me

credes, como crereis se vos falar das celestiais?

Jesus (JOÃO, 3: 12)

No intercâmbio com o mundo espiritual, é freqüente a reclamação de certos

estudiosos, relativamente à ausência de informações das entidades comunicantes, no

que se refere às particularidades alusivas às atividades em que se movimentam.

Por que não se fazem mais explícitos os desencarnados quanto ao novo

gênero de vida a que foram chamados? Como serão suas cidades, suas casas, seus

processos de relações comuns? Através de que meios se organizam

hierarquicamente? Terão governos nos moldes terrestres?

Indagam outros, relativamente às razões pelas quais os cientistas libertos do

plano físico não voltam aos antigos centros de pesquisas e realizações, vulgarizando

métodos de cura para as chamadas moléstias incuráveis ou revelando invenções

novas que acelerem o progresso mundial.

São esses os argumentos apressados da preguiça humana.

Se os Espíritos comunicantes têm tratado quase que somente do material

existente em torno das próprias criaturas terrenas, num curso metódico de introdução

a tarefas mais altas e ainda não puderam ser integralmente ouvidos, que viria a

acontecer se olvidassem compromissos graves, dandose

ao gosto de comentários

prematuros?

É necessário compreenda o homem que Deus concede os auxílios;

entretanto, cada Espírito é obrigado a talhar a própria glória.

A grande tarefa do mundo espiritual, em seu mecanismo de relações com os

homens encarnados, não é a de trazer conhecimentos sensacionais e extemporâneos,

mas a de ensinar os homens a ler os sinais divinos que a vida terrestre contém em si

mesma, iluminandolhes

a marcha para a espiritualidade superior.

149 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

137

O BANQUETE DOS PUBLICANOS

“E os fariseus, vendo isto, disseram aos seus discípulos:

Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?”

(MATEUS, 9: 11)

De maneira geral, a comunidade cristã, em seus diversos setores, ainda não

percebeu toda a significação do banquete do Mestre, entre publicanos e pecadores.

Não só a última ceia com os discípulos mais íntimos se revestiu de singular

importância. Nessa reunião de Jerusalém, ocorrida na Páscoa, revelanos

Jesus o

caráter sublime de suas relações com os amigos de apostolado. Tratase

de ágape

íntimo e familiar, solenizando despedida afetuosa e divina lição ao mesmo tempo.

No entanto, é necessário recordar que o Mestre atendia a esse círculo em

derradeiro lugar, porquanto já se havia banqueteado carinhosamente com os

publicanos e pecadores. Partilhava a ceia com os discípulos, num dia de alta

vibração religiosa, mas comungara o júbilo daqueles que viviam a distância da fé,

reunindoos,

generoso, e conferindolhes

os mesmos bens nascidos de seu amor.

O banquete dos publicanos tem especial significado na história do

Cristianismo. Demonstra que o Senhor abraça a todos os que desejem a excelência

de sua alimentação espiritual nos trabalhos de sua vinha, e que não só nas ocasiões

de fé permanece presente entre os que o amam; em qualquer tempo e situação, está

pronto a atender as almas que o buscam.

O banquete dos pecadores foi oferecido antes da ceia aos discípulos. E não

nos esqueçamos de que a mesa divina prossegue em sublime serviço. Resta aos

comensais o aproveitamento da concessão.

150 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

138

PRETENSÕES

“Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o

crescimento.”

Paulo (I CORÍNTIOS, 3: 6)

A igreja de Corinto estava cheia de alegações dos discípulos inquietos.

Certos componentes da instituição imprimiam maior valor aos esforços de

Paulo, enquanto outros conferiam privilégios de edificação a Apolo.

O advogado dos gentios foi divinamente inspirado, comentando o assunto

em sua carta.

Por que pretensões individuais numa obra da qual somos todos

beneficiários do mesmo Senhor?

Na atualidade, é louvável o exame da recomendação de Paulo aos

Coríntios, porquanto já não são os usufrutuários da organização cristã que se

rejubilam pela recepção das bênçãos do Evangelho através desse ou daquele dos

trabalhadores do Cristo, mas os operários da causa que, por vezes, chegam ao campo

de serviço exibindose

por vultos destacados dessa ou daquela obra do bem.

A certeza de que “toda boa dádiva vem de Deus” constitui excelente

exercício para os trabalhos comuns.

É interessante observar como está sempre disposto o homem a se apropriar

de circunstâncias que o elevem no alheio conceito com facilidade. Sempre inclinado

a destacarse

nos círculos do bem que ainda lhe não pertence de modo substancial,

raramente assume a paternidade dos erros que comete. Essa é uma das singulares

contradições da criatura.

Não te esqueças. O serviço é de todos. Uns plantam, outros adubam. Vive

contente no setor de trabalho confiado às tuas mãos ou à tua inteligência e serve sem

pretensões, porque o homem prepara a terra e organiza a semeadura, por

misericórdia da Providência, mas é Deus quem põe as flores nas frondes e concede

os frutos, segundo o merecimento.

151 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

139

POR AMOR

“Cegoulhes

os olhos e endureceulhes

o coração, a fim

de que não vejam com os olhos e compreendam no coração e se

convertam e eu os cure.”

(JOÃO, 12: 40)

Os planos mais humildes da Natureza revelam a Providência Divina, em

soberana expressão de desvelo e amor.

Os lírios não tecem, as aves não guardam provisões e misteriosa força

fornecelhes

o necessário.

A observação sobre a vida dos animais demonstra os extremos de ternura

com que o Pai vela pela Criação desde o princípio: aqui, uma asa; acolá, um dente a

mais; ali, desconhecido poder de defesa.

Afirmase

a grande revelação de amor em tudo.

No entanto, quando o Pai convoca os filhos à cooperação nas suas obras, eis

que muita vez se salientam os ingratos, que convertem os favores recebidos, não em

deveres nobres e construtivos, mas em novas exigências; então, fazse

preciso que o

coração se lhes endureça cada vez mais, porque, fora do equilíbrio, encontrarão o

sofrimento na restauração indispensável das leis externas desse mesmo amor divino.

Quando nada enxergam além dos aspectos materiais da paisagem transitória,

sobrevém, inopinadamente, a luta depuradora.

É quando Jesus chega e opera a cura.

Só então torna o ingrato à compreensão da Magnanimidade Divina.

O amor equilibra, a dor restaura. É por isso que ouvimos muitas vezes:

“Nunca teria acreditado em Deus se não houvesse sofrido.”

152 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

140

PARA OS MONTES

“Então, os que estiverem na J udéia, fujam para os

montes.”

Jesus (MATEUS, 24: 16)

Referindose

aos instantes dolorosos que assinalariam a renovação

planetária, aconselhou o Mestre aos que estivessem na Judéia procurar os montes. A

advertência é profunda, porque, pelo termo “Judéia”, devemos tomar a “região

espiritual” de quantos, pelas aspirações íntimas, se aproximem do Mestre para a

suprema iluminação.

E a atualidade da Terra é dos mais fortes quadros nesse gênero. Em todos

os recantos, estabelecemse

lutas e ruínas. Venenos mortíferos são inoculados pela

política inconsciente nas massas populares. A baixada está repleta de nevoeiros

tremendos. Os lugares santos permanecem cheios de trevas abomináveis. Alguns

homens caminham ao sinistro clarão de incêndios. Adubase

o chão com sangue e

lágrimas, para a semeadura do porvir.

É chegado o instante de se retirarem os que permanecem na Judéia para os

“montes” das idéias superiores. É indispensável manterse

o discípulo do bem nas

alturas espirituais, sem abandonar a cooperação elevada que o Senhor exemplificou

na Terra; que aí consolide a sua posição de colaborador fiel, invencível na paz e na

esperança, convicto de que, após a passagem dos homens da perturbação, portadores

de destroços e lágrimas, são os filhos do trabalho que semeiam a alegria, de novo, e

reconstroem o edifício da vida.

153 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

141

PIOR PARA ELES

“Então começou a dizerlhes:

Hoje se cumpriu esta

Escritura em vossos ouvidos.”

(LUCAS, 4: 21)

Tomando lugar junto dos habitantes de Nazaré, exclamou Jesus, após ler

algumas promessas de Isaias: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos.”

Os agrupamentos religiosos são procurados, quase sempre, por

investigadores curiosos que, à primeira vista, parecem vagabundos itinerantes;

todavia, é forçoso reconhecer que há sempre ascendentes espirituais compelindolhes

o espírito ao exame e à consulta; eles próprios não saberiam definir essa

convocação sutil e silenciosa que os obriga a ouvir, por vezes, grandes preleções,

longas palestras, exposições e elucidações que, aparentemente, não os interessam.

Em várias circunstâncias, afirmam tolerar o assunto, em vista do código de

gentileza e do respeito mútuo; entretanto, não é assim. Existe algo mais forte, além

das boas maneiras que os compelem a ouvir.

É que soou o momento da revelação espiritual para eles.

Muitos continuam indiferentes, irônicos, recalcitrantes, mas a

responsabilidade do conhecimento já lhes pesa nos ombros e, se pudessem sentir a

verdade com mais clareza, albergariam a carinhosa admoestação do Mestre no

íntimo da alma: “Hoje se cumpre esta Escritura em vossos ouvidos.”

A misericórdia foi dispensada. Deu Jesus alguma coisa de sua bondade

infinita. Cumpriuse

a divina palavra. Se os interessados não se beneficiarem com

ela, pior para eles.

154 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

142

UM SÓ SENHOR

“Nenhum servo pode servir a dois senhores.”

Jesus (LUCAS, 16: 13)

Se os cristãos de todos os tempos encontraram dolorosas situações de

perplexidade nas estradas do mundo, é que, depois dos apóstolos e dos mártires, a

maioria tem cooperado na divulgação de falsos sentimentos, com respeito ao Senhor

a que devem servir.

Como o Reino do Cristo ainda não é da Terra, não se pode satisfazer a

Jesus e ao mundo, a um só tempo. O vício e o dever não se aliam na marcha diária.

Que dizer de um homem que pretenda dirigir dois centros de atividade antagônica,

em simultâneo esforço?

Cristo é a linha central de nossas cogitações.

Ele é o Senhor único, depois de Deus, para os filhos da Terra, com direitos

inalienáveis, porquanto é a nossa luz do primeiro dia evolutivo e adquiriunos

para a

redenção com os sacrifícios de seu amor.

Somos servos d’Ele. Precisamos atenderlhe

aos interesses sublimes, com

humildade. E, para isso, é necessário não fugir do mundo, nem das

responsabilidades que nos cercam, mas, sim, transformar a parte de serviço confiada

ao nosso esforço, nos círculos de luta, em célula de trabalho do Cristo.

A tarefa primordial do discípulo é, portanto, compreender o caráter

transitório da existência carnal, consagrarse

ao Mestre como centro da vida e

oferecer aos semelhantes os seus divinos benefícios.

155 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

143

LEGIÃO DO MAL

“E perguntoulhe:

Qual é o teu nome? — Ao que ele

respondeu: Legião é o meu nome, porque somos muitos.”

(MARCOS, 5: 9)

O Mestre legou inolvidável lição aos discípulos nesta passagem dos

Evangelhos.

Dispensador do bem e da paz, aproximase

Jesus do Espírito perverso que o

recebe em desesperação.

O Cristo não se impacienta e indaga carinhosamente de seu nome,

respondendolhe

o interpelado: “Chamome

Legião, porque somos muitos.”

Os aprendizes que o seguiam não souberam interpretar a cena, em toda a

sua expressão simbólica.

E até hoje perguntase

pelo conteúdo da ocorrência com justificável

estranheza.

É que o Senhor desejava transmitir imortal ensinamento aos companheiros

de tarefa redentora.

A frente do Espírito delinqüente e perturbado, Ele era apenas um; o

interlocutor, entretanto, denominavase

“Legião”, representava maioria esmagadora,

personificava a massa vastíssima das intenções inferiores e criminosas. Revelava o

Mestre que, por indeterminado tempo, o bem estaria em proporção diminuta

comparado ao mal em aludes arrasadores.

Se te encontras, pois, a serviço do Cristo na Terra, não te esqueças de

perseverar no bem, dentro de todas as horas da vida, convicto de que o mal se faz

sentir em derredor, à maneira de legião ameaçadora, exigindo funda serenidade e

grande confiança no Cristo, com trabalho e vigilância, até à vitória final.

156 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

144

QUE TEMOS COM O CRISTO?

“Ah! Que temos contigo, J esus Nazareno? Vieste

destruirnos?

Bem sei quem és: o Santo de Deus.”

(MARCOS, 1: 24)

Grande erro supor que o Divino Mestre houvesse terminado o serviço ativo,

no Calvário.

Jesus continua caminhando em todas as direções do mundo; seu Evangelho

redentor vai triunfando, palmo a palmo, no terreno dos corações.

Semelhante circunstância deve ser lembrada porque também os Espíritos

maléficos tentam repelir o Senhor diariamente.

Referese

o evangelista a entidades perversas que se assenhoreavam do

corpo da criatura.

Entretanto, essas inteligências infernais prosseguem dominando vastos

organismos do mundo.

Na edificação da política, erguida para manter os princípios da ordem

divina, surgem sob os nomes de discórdia e tirania; no comércio, formado para

estabelecer a fraternidade, aparecem com os apelidos de ambição e egoísmo; nas

religiões e nas ciências, organizações sagradas do progresso universal, acodem pelas

denominações de orgulho, vaidade, dogmatismo e intolerância sectária.

Não somente o corpo da criatura humana padece a obsessão de Espíritos

perversos. Os agrupamentos e instituições dos homens sofrem muito mais.

E quando Jesus se aproxima, através do Evangelho, pessoas e organizações

indagam com pressa: “Que temos com o Cristo? Que temos a ver com a vida

espiritual?”

É preciso permanecer vigilante à frente de tais sutilezas, porquanto o

adversário vai penetrando também os círculos do Espiritismo evangélico, vestido

nas túnicas brilhantes da falsa ciência.

157 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

145

DOUTRINAÇÕES

“Mas não vos alegreis porque se vos sujeitem os

espíritos; alegraivos,

antes, por estarem os vossos nomes escritos

nos céus.”

Jesus (LUCAS, 10: 20)

Freqüentemente encontramos novos discípulos do Evangelho exultando de

contentamento, porque os Espíritos perturbados se lhes sujeitam.

Narram, com alegria, os resultados de sessões empolgantes, nas quais

doutrinaram, com êxito, entidades muita vez ignorantes e perversas.

Perdemse

muitos no emaranhado desses deslumbramentos e tocam a

multiplicar os chamados “trabalhos práticos”, sequiosos por orientar, em contactos

mais diretos, os amigos inconscientes ou infelizes dos planos imediatos à esfera

carnal.

Recomendou Jesus o remédio adequado a situações semelhantes, em que os

aprendizes, quase sempre interessados em ensinar os outros, esquecem, pouco a

pouco, de aprender em proveito próprio.

Que os doutrinadores sinceros se rejubilem, não por submeterem criaturas

desencarnadas, em desespero, convictos de que em tais circunstâncias o bem é

ministrado, não propriamente por eles, em sua feição humana, mas por emissários de

Jesus, caridosos e solícitos, que os utilizam à maneira de canais para a Misericórdia

Divina; que esse regozijo nasça da oportunidade de servir ao bem, de consciência

sintonizada com o Mestre Divino, entre as certezas doces da fé, solidamente

guardada no coração.

A palavra do Mestre aos companheiros é muito expressiva e pode

beneficiar amplamente os discípulos inquietos de hoje.

158 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

146

NO TRATO COM O INVISÍVEL

“E, chamandoos

a si, disselhes

por parábolas: Como

pode Satanás expulsar Satanás?”

(MARCOS, 3: 23)

Esta passagem do Evangelho é sumamente esclarecedora para os

companheiros da atualidade que, nas tarefas do Espiritismo cristão, se esforçam por

auxiliar desencarnados infelizes a se equilibrarem no caminho redentor.

Ninguém aguarde êxito imediato, ao procurar amparar os que se perderam

na desorientação.

É impossível dispensar a colaboração do tempo para que se esclareçam as

personagens das tragédias humanas e, segundo sabemos, nem mesmo os apóstolos

conseguiram, de pronto, convencer as entidades perturbadas, quanto ao realismo de

sua perigosa situação. Todavia, sem atitudes esterilizantes, muito pode fazer o

discípulo no setor dessas atividades iluminativas. Na atualidade, companheiros

devotados ao serviço ainda sofrem a perseguição dos adversários da luz, que lhes

atribuem sombrio pacto com poderes perversos. O sectarismo religioso cognominaos

sequazes de Satanás, impondolhes

torturas e humilhações.

No entanto, as mesmas objurgatórias e recriminações descabidas foram

atiradas ao Mestre Divino pelo sacerdócio organizado de seu tempo. Atendendo aos

enfermos e obsidiados, entregues a destrutivas forças da sombra, recebeu Jesus o

título de feiticeiro, filho de Belzebu. Isso constitui significativa recordação que,

naturalmente, infundirá muito conforto aos discípulos novos.

159 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

147

UM DESAFIO

“E agora por que te deténs?”

(ATOS, 22: 16)

Relatando à multidão sua inesquecível experiência às portas de Damasco, o

Apóstolo dos gentios conta que, em face da perplexidade que o defrontara,

perguntoulhe

Ananias, em advertência fraterna:

“E agora por que te deténs?”

A interrogação merece meditada por todos os que já receberam convites,

apelos, dádivas ou socorros do plano espiritual.

Inumeráveis beneficiários do Evangelho prendemse

a obstáculos de toda

sorte na província nebulosa da queixa.

Se felicitados pela luz da fé, lastimam não haver conhecido a verdade na

juventude ou nos dias de abastança; contudo, na idade madura ou na dificuldade

material, sustentam as mesmas tendências inferiores Nas palavras, exteriorizam

sempre grande boavontade;

entretanto, quando chamados ao serviço ativo,

queixamse

imediatamente da falta de dinheiro, de saúde, de tempo, de forças.

São operários contraditórios que, ao tempo do equilíbrio orgânico, exigem

repouso e, na época de enfermidade corporal, alegam saudades do serviço.

É indispensável combater essas expressões destrutivas da personalidade.

Em qualquer posição e em qualquer tempo, estamos cercados pelas

possibilidades de serviço com o Salvador. E, para todos nós, que recebemos as

dádivas divinas, de mil modos diversos, foi pronunciado o sublime desafio: “E agora

por que te deténs?”

160 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

148

CUIDADO DE SI

“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina: persevera

nestas coisas; porque, fazendo Isto, te salvarás, tanto a ti mesmo

como aos que te ouvem.”

Paulo (I TIMÓTEO, 4: 16)

Em toda parte há pelotões do exército dos pessimistas, de braços cruzados,

em desalento.

Não compreendem o trabalho e a confiança, a serenidade e a fé viva, e

costumam adotar frases de grande efeito, condenando situações e criaturas.

Às vezes, esses soldados negativos são pessoas que assumiram a

responsabilidade de orientar.

Todavia, embora a importância de suas atribuições, permanecem

enganados.

As dificuldades terrestres efetivamente são enormes e os seus obstáculos

reclamam grande esforço das almas nobres em trânsito no planeta, mas é

imprescindível não perder cada discípulo o cuidado consigo próprio. É indispensável

vigiar o campo interno, valorizar as disciplinas e aceitálas,

bem como examinar as

necessidades do coração. Esse procedimento conduz o espírito a horizontes mais

vastos, efetuando imensa amplitude de compreensão, dentro da qual abrigamos, no

íntimo, santo respeito por todos os círculos evolutivos, dilatando, assim, o

patrimônio da esperança construtiva e do otimismo renovador.

Ter cuidado consigo mesmo é trabalhar na salvação própria e na redenção

alheia. Esse o caminho lógico para a aquisição de valores eternos.

Circunscreverse

o aprendiz aos excessos teóricos, furtandose

às

edificações do serviço, é descansar nas margens do trabalho, situandose,

pouco a

pouco, no terreno ingrato da critica satânica sobre o que não foi objeto de sua

atenção e de sua experiência.

161 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

149

PROPRIEDADE

“E o mancebo, ouvindo esta palavra, retirouse

triste,

porque possuía muitas propriedades

 

 

.”

(MATEUS, 19: 22)

O instinto de propriedade tem provocado grandes revoluções,

ensangüentando os povos. Nas mais diversas regiões do planeta respiram homens

inquietos pela posse material, ciosos de suas expressões temporárias e dispostos a

morrer em sua defesa.

Isso demonstra que o homem ainda não aprendeu a possuir.

Com esta argumentação, não desejamos induzir a criatura a esquecer a

formiga previdente, adotando por modelo a cigarra descuidosa. Apenas convidamos,

a quem nos lê, a examinar a precariedade das posses efêmeras.

Cada conquista terrestre deveria ser aproveitada pela alma, como força de

elevação.

O homem ganhará impulso santificante, compreendendo que só possui

verdadeiramente aquilo que se encontra dentro dele, no conteúdo espiritual de sua

vida. Tudo o que se relaciona com o exterior — como sejam: criaturas, paisagens e

bens transitórios — pertence a Deus, que lhos concederá de acordo com os seus

méritos.

Essa realidade sentida e vivida constitui brilhante luz no caminho,

ensinando ao discípulo a sublime lei do uso, para que a propriedade não represente

fonte de inquietações e tristeza, como aconteceu ao jovem dos ensinamentos de

Jesus.

162 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

150

AGUILHÕES

“Duro é para ti recalcitrar contra o aguilhão.”

Jesus (ATOS, 9: 5)

O caminho evolutivo está sempre repleto de aguilhões.

De outro modo, não enxergaríamos a porta redentora.

Entregase

Deus aos filhos da Criação inteira, reparte com todos os tesouros

de seu amor infinito, estimulaos

a se elevarem, através de mil modos diferentes;

entretanto, existem círculos numerosos como a Terra, em que as criaturas não se

apercebem dessas realidades gloriosas e paralisam a marcha, dormindo no leito da

ilusão.

Perante tal inércia, os mensageiros da Providência, aos quais se confiou a

tarefa de iluminação dos que estacionam na sombra, promovem recursos para que se

verifique o despertar.

Cientes de que Deus dá tudo — a vida, os caminhos, os bens infinitos, os

gênios inspiradores e só pede às criaturas se lhe dirijam aos braços paternais —

esses divinos emissários organizam os aguilhões, por amor aos seus tutelados.

Nesse programa, criou Jesus os mais nobres incitamentos, para a esfera

terrestre. A riqueza e a pobreza, a fealdade e a formosura, o sofrimento e a luta são

aguilhões ou oportunidades instituídos pelo Cristo, a benefício dos homens.

Cada existência e cada pessoa tem a sua dificuldade particular,

simbolizando ensejo bendito.

Analisa a tua vida, situa teus aguilhões e não te voltes contra eles.

Se um espírito da grandeza de Paulo de Tarso não podia recalcitrar, imagina

o que se pedirá do nosso esforço.

163 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

151

MOCIDADE

“Foge também dos desejos da mocidade; e segue a

justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro,

invocam o Senhor.”

Paulo (II TIMÓTEO, 2: 22)

Quase sempre os que se dirigem à mocidade lhe atribuem tamanhos poderes

que os jovens terminam em franca desorientação, enganados e distraídos. Costumase

esperar deles a salvaguarda de tudo.

Concordamos com as suas vastas possibilidades, mas não podemos

esquecer que essa fase da existência terrestre é a que apresenta maior número de

necessidades no capítulo da direção.

O moço poderá e fará muito se o espírito envelhecido na experiência não o

desamparar no trabalho.

Nada de novo conseguirá erigir, caso não se valha dos esforços que lhe

precederam as atividades. Em tudo, dependerá de seus antecessores.

A juventude pode ser comparada a esperançosa saída de um barco para

viagem importante. A infância foi a preparação, a velhice será a chegada ao porto.

Todas as fases requisitam as lições dos marinheiros experientes, aprendendose

a

organizar e a terminar a viagem com o êxito desejável.

É indispensável amparar convenientemente a mentalidade juvenil e que

ninguém lhe ofereça perspectivas de domínio ilusório.

Nem sempre os desejos dos mais moços constituem o índice da segurança

no futuro.

A mocidade poderá fazer muito, mas que siga, em tudo, “a justiça, a fé, o

amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor”.

164 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

152

CIÊNCIA E AMOR

“A ciência incha, mas o amor edifica.”

Paulo. (I CORÍNTIOS, 8: 1)

A ciência pode estar cheia de poder, mas só o amor beneficia. A ciência, em

todas as épocas, conseguiu inúmeras expressões evolutivas. Vemola

no mundo,

exibindo realizações que pareciam quase inatingíveis. Máquinas enormes cruzam os

ares e o fundo dos oceanos. A palavra é transmitida, sem fios, a longas distâncias. A

imprensa difunde raciocínios mundiais. Mas, para essa mesma ciência pouco

importa que o homem lhe use os frutos para o bem ou para o mal. Não compreende

o desinteresse, nem as finalidades santas.

O amor, porém, aproximase

de seus labores e retificaos,

conferindolhe

a

consciência do bem. Ensina que cada máquina deve servir como utilidade divina, no

caminho dos homens para Deus, que somente se deveria transmitir a palavra

edificante como dádiva do Altíssimo, que apenas seria justa a publicação dos

raciocínios elevados para o esforço redentor das criaturas.

Se a ciência descobre explosivos, esclarece o amor quanto à utilização deles

na abertura de estradas que liguem os povos; se a primeira confecciona um livro,

ensina o segundo como gravar a verdade consoladora. A ciência pode concretizar

muitas obras úteis, mas só o amor institui as obras mais altas. Não duvidamos de que

a primeira, bem interpretada, possa dotar o homem de um coração corajoso;

entretanto, somente o segundo pode dar um coração iluminado.

O mundo permanece em obscuridade e sofrimento, porque a ciência foi

assalariada pelo ódio, que aniquila e perverte, e só alcançará o porto de segurança

quando se render plenamente ao amor de Jesus Cristo.

165 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

153

PASSES

“E rogavalhe

muito, dizendo: Minha filha está

moribunda; rogote

que venhas e lhe imponhas as mãos para

que sare, e viva.”

(MARCOS, 5: 23)

Jesus impunha as mãos nos enfermos e transmitialhes

os bens da saúde.

Seu amoroso poder conhecia os menores desequilíbrios da Natureza e os recursos

para restaurar a harmonia indispensável.

Nenhum ato do Divino Mestre é destituído de significação. Reconhecendo

essa verdade, os apóstolos passaram a impor as mãos fraternas em nome do Senhor e

tornavamse

instrumentos da Divina Misericórdia.

Atualmente, no Cristianismo redivivo, temos, de novo, o movimento

socorrista do plano invisível, através da imposição das mãos. Os passes, como

transfusões de forças psíquicas, em que preciosas energias espirituais fluem dos

mensageiros do Cristo para os doadores e beneficiários, representam a continuidade

do esforço do Mestre para atenuar os sofrimentos do mundo.

Seria audácia por parte dos discípulos novos a expectativa de resultados tão

sublimes quanto os obtidos por Jesus junto aos paralíticos, perturbados e

agonizantes.

O Mestre sabe, enquanto nós outros estamos aprendendo a conhecer. É

necessário, contudo, não desprezarlhe

a lição, continuando, por nossa vez, a obra de

amor, através das mãos fraternas.

Onde exista sincera atitude mental do bem, pode estenderse

o serviço

providencial de Jesus.

Não importa a fórmula exterior. Cumprenos

reconhecer que o bem pode e

deve ser ministrado em seu nome.

166 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

154

RENUNCIAR

“E todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs,

pai, mãe, mulher, filhos ou terras, por amor do meu nome,

receberá cem vezes tanto e herdará a vida eterna.”

Jesus (MATEUS, 19: 29)

Neste versículo do Evangelho de Mateus, o Mestre Divino nos induz ao

dever de renunciar aos bens do mundo para alcançar a vida eterna. Há necessidade,

proclama o Messias, de abandonar pai e mãe, mulher e irmãos do mundo. No

entanto, é necessário esclarecer como renunciar.

Jesus explica que o êxito pertencerá aos que assim procederem por amor de

seu nome.

A primeira vista, o alvitre divino parece contrasenso.

Como olvidar os sagrados deveres da existência, se o Cristo veio até nós

para santificálos?

Os discípulos precipitados não souberam atingir o sentido do texto, nos

tempos mais antigos.

Numerosos irmãos de ideal recolheramse

à sombra do claustro,

esquecendo obrigações superiores e inadiáveis.

Fácil, porém, reconhecer como o Cristo renunciou.

Aos companheiros que o abandonaram aparece, glorioso, na ressurreição.

Não obstante as hesitações dos amigos, divide com eles, no cenáculo, os júbilos

eternos. Aos homens ingratos que o crucificaram oferece sublime roteiro de salvação

com o Evangelho e nunca se descuidou um minuto das criaturas.

Observemos, portanto, o que representa renunciar por amor ao Cristo. É

perder as esperanças da Terra, conquistando as do Céu.

Se os pais são incompreensíveis, se a companheira é ingrata, se os irmãos

parecem cruéis, é preciso renunciar à alegria de têlos

melhores ou perfeitos, unindonos,

ainda mais, a eles todos, a fim de trabalhar no aperfeiçoamento com Jesus.

Acaso, não encontras compreensão no lar? Os amigos e irmãos são

indiferentes e rudes?

Permanece ao lado deles, mesmo assim, esperando para mais tarde o júbilo

de encontrar os que se afinam perfeitamente contigo. Somente desse modo

renunciarás aos teus, fazendolhes

todo o bem por dedicação ao Mestre, e, somente

com semelhante renúncia, alcançarás a vida eterna.

167 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

155

ENTRE OS CRISTÃOS

“Mas entre vós não será assim.”

Jesus (MARCOS, 10: 43)

Desde as eras mais remotas, trabalham os agrupamentos religiosos pela

obtenção dos favores celestes.

Nos tempos mais antigos, recordavase

da Providência tãosó

nas ocasiões

dolorosas e graves. Os crentes ofereciam sacrifícios pela felicidade doméstica,

quando a enfermidade lhes invadia a casa; as multidões edificavam templos, em

surgindo calamidades públicas.

Deus era compreendido apenas através dos dias felizes.

A tempestade purificadora pertencia aos gênios perversos.

Cristo, porém, inaugurou uma nova época. A humildade foi o seu caminho,

o amor e o trabalho o seu exemplo, o martírio a sua palma de vitória. Deixou a

compreensão de que, entre os seus discípulos, o princípio de fé jamais será o da

conquista fácil de favores do céu, mas o de esforço ativo pela iluminação própria e

pela execução dos desígnios de Deus, através das horas calmas ou tempestuosas da

vida.

A maior lição do Mestre dos Mestres é a de que ao invés de formularmos

votos e sacrifícios convencionais, promessas e ações mecânicas, como a escapar dos

deveres que nos competem, constituinos

obrigação primária entregarmonos,

humildes, aos sábios imperativos da Providência, submetendonos

à vontade justa e

misericordiosa de Deus, para que sejamos aprimorados em suas mãos.

168 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

156

INTUIÇÃO

“Porque a profecia jamais foi produzida por vontade de

homem algum, mas os homens santos de Deus falaram

inspirados pelo Espírito Santo.”

(II PEDRO, 1: 21)

Todos os homens participam dos poderes da intuição, no divino tabernáculo

da consciência, e todos podem desenvolver suas possibilidades nesse sentido, no

domínio da elevação espiritual.

Não são fundamentalmente necessárias as grandes manifestações

fenomênicas da mediunidade para que se estabeleçam movimentos de intercâmbio

entre os planos visível e invisível.

Todas as noções que dignificam a vida humana vieram da esfera superior. E

essas idéias nobilitantes não se produziram por vontade de homem algum, porque os

raciocínios propriamente terrestres sempre se inclinam para a materialidade em seu

arraigado egoísmo.

A revelação divina, significando o que a Humanidade possui de melhor, é

cooperação da espiritualidade sublime, trazida às criaturas pelos colaboradores de

Jesus, através da exemplificação, dos atos e das palavras dos homens retos que, a

golpes de esforço próprio, quebram o círculo de vulgaridades que os rodeia,

tornandose

instrumentos de renovação necessária.

A faculdade intuitiva é instituição universal. Através de seus recursos,

recebe o homem terrestre as vibrações da vida mais alta, em contribuições religiosas,

filosóficas, artísticas e científicas, ampliando conquistas sentimentais e culturais,

colaboração essa que se verifica sempre, não pela vontade da criatura, mas pela

concessão de Deus.

169 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

157

FAZE ISSO E VIVERÁS

“E disselhe:

Respondeste bem; faze isso, e viverás.”

(LUCAS, 10: 28)

O caso daquele doutor da Lei que interpelou o Mestre a respeito do que lhe

competia fazer para herdar a vida eterna, revestese

de grande interesse para quantos

procuram a bênção do Cristo.

A palavra de Lucas é altamente elucidativa.

Não se surpreende Jesus com a pergunta, e, conhecendo a elevada condição

intelectual do consulente, indaga acerca da sua concepção da Lei e fálo

sentir que a

resposta à interrogação já se achava nele mesmo, insculpida na tábua mental de seus

conhecimentos.

Respondeste bem, diz o Mestre. E acrescenta: Faze isso, e viverás.

Semelhante afirmação destacase

singularmente, porque o Cristo se dirigia

a um homem em plena força de ação vital, declarando entretanto: Faze isso, e

viverás.

É que o viver não se circunscreve ao movimento do corpo, nem à exibição

de certos títulos convencionais.

Estendese

a vida a esferas mais altas, a Outros campos de realização

superior com a espiritualidade sublime.

A mesma cena evangélica diariamente se repete em muitos setores. Grande

número de aprendizes, plenamente integrados no conhecimento do dever que lhes

compete, tocam a pedir orientação dos Mensageiros Divinos, quanto à melhor

maneira de agir na Terra... a resposta, porém, está neles mesmos, em seus corações

que temem a responsabilidade, a decisão e o serviço áspero...

Se já foste banhado pela claridade da fé viva, se foste beneficiado pelos

princípios da salvação, executa o que aprendeste do nosso Divino Mestre: Faze isso,

e viverás.

170 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

158

BATISMO

“E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus.”

ATOS, 19: 5)

Nos vários departamentos da atividade cristã, em todos os tempos, surgem

controvérsias relativamente aos problemas do batismo na fé.

O sacerdócio criou, para isso, cerimoniais e sacramentos. Há batismos de

recémnatos,

na Igreja Romana; em outros centros evangélicos, há batismo de

pessoas adultas. No entanto, o crente poderia analisar devidamente o assunto,

extraindo melhores ilações com a ascendência da lógica. A renovação espiritual não

se verificará tãosó

com o fato de se aplicar mais água ou menos água ou com a

circunstância de processarse

a solenidade exterior nessa ou naquela idade física do

candidato.

Determinadas cerimônias materiais, nesse sentido, eram compreensíveis nas

épocas recuadas em que foram empregadas.

Sabemos que o curso primário, na instrução infantil, necessita de

colaboração de figuras para que a memória da criança atravesse os umbrais do

conhecimento.

O Evangelho, porém, nas suas luzes ocultas, faz imensa claridade sobre a

questão do batismo.

“E os que ouviram foram batizados em nome de Jesus.”

Aí reside a sublime verdade. A bendita renovação da alma pertence àqueles

que ouviram os ensinamentos do Mestre Divino, exercitandolhes

a prática. Muitos

recebem notícias do Evangelho, todos os dias, mas somente os que ouvem estarão

transformados.

171 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

159

A QUEM SEGUES?

“Mas vós não aprendestes assim a Cristo.”

Paulo (EFÉSIOS, 4: 20)

O homem, como é natural, encontrará diversas sugestões no caminho. Não

somente do plano material receberá certos alvitres tendentes a desviálo

das

realizações mais nobres. A esfera invisível, imediata ao circulo de suas cogitações,

igualmente pode oferecerlhe

determinadas perspectivas que se não coadunam com

os deveres elevados que a existência implica em si mesma.

Na consideração desse problema, os discípulos sinceros compreendem a

necessidade de sua centralização em Jesus Cristo.

Quando esse imperativo é esquecido, as maiores perturbações podem

ocorrer.

O aprendiz menos centralizado nos ensinos do Mestre acredita que pode

servir a dois senhores e, por vezes, chega a admitir que é possível atender a todos os

desvairamentos dos sentidos, sem prejudicar a paz de sua alma. Justificamse,

para

isso, em doutrinas novas, filhas das novidades científicas do século; valemse

de

certos filósofos improvisados que conferem demasiado valor aos instintos; mas,

chegados a esse ponto, preparemse

para os grandes fracassos porque a necessidade

de edificação espiritual permanece viva e cada vez mais imperiosa. Poderão recorrer

aos conceitos dos pretensos sábios do mundo, entretanto, Jesus não ensinou assim.

172 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

160

O VARÃO DA MACEDÔNIA

“E Paulo teve de noite uma visão em que se apresentou,

em pé, um varão da Macedônia e lhe rogou: Passa à Macedônia

e ajudanos!”

(ATOS, 16: 9)

Além das atividades diárias na vida de relação, participam os homens de

vasto movimento espiritual, cujas fases de intercâmbio nem sempre podem ser

registradas pela memória vulgar.

Não só os que demandam o sepulcro se comunicam pelo processo das

vibrações psíquicas.

Os espíritos encarnados fazem o mesmo, em identidade de circunstâncias,

desde que se achem aptos a semelhantes realizações.

Mais tarde, a generalidade das criaturas terrestres ampliará essas

possibilidades, percebendolhes

o admirável valor.

Isso, aliás, não constitui novidade, pois, segundo vemos, Paulo de Tarso,

em Tróade, recebe a visita espiritual de um varão da Macedônia, que lhe pede

auxílio.

A narração apostólica é muito clara. O amigo dos gentios tem uma visão

em que lhe não surge uma figura angélica ou um mensageiro divino. Tratase

de um

homem da Macedônia que o exdoutor

de Tarso identifica pelo vestuário e pelas

palavras.

É útil recordar semelhante ocorrência para que se consolide nos discípulos

sinceros a certeza de que o Evangelho é portador de todos os ensinamentos

essenciais e necessários, sem nos impor a necessidade de recorrer a nomenclaturas

difíceis, distantes da simplicidade com que o Mestre nos legou a carta de redenção,

na qual nos pede atenção amorosa e não teorias complicadas.

173 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

161

APROVEITEMOS

“E destas coisas sois vós testemunhas.”

(LUCAS, 24: 48)

Jesus sempre aproveitou o mínimo para produzir o máximo.

Com três anos de apostolado acendeu luzes para milênios.

Congregando pequena assembléia de doze companheiros, renovou o

mundo.

Com uma pregação na montanha inspirou milhões de almas para a vida

eterna.

Converte a esmola de uma viúva em lição imperecível de solidariedade.

Corrigindo alguns espíritos perturbados, transforma o sistema judiciário da

Terra, erigindo o “amaivos

uns aos outros” para a felicidade humana.

De cinco pães e dois peixes, retira o alimento para milhares de famintos.

Da ação de um Zaqueu bemintencionado,

traça programa edificante para

os mordomos da fortuna material.

Da atitude de um fariseu orgulhoso, extrai a verdade que confunde os

crentes menos sinceros.

Curando alguns doentes, institui a medicina espiritual para todos os centros

da Terra.

Faz dum grão de mostarda maravilhoso símbolo do Reino de Deus.

De uma dracma perdida, forma ensinamento inesquecível sobre o amor

espiritual.

De uma cruz grosseira, grava a maior lição de Divindade na História.

De tudo isso somos testemunhas em nossa condição de beneficiários. Em

razão de nosso conhecimento, convém ouvirmos a própria consciência. Que fazemos

das bagatelas de nosso caminho? Estaremos aproveitando nossas oportunidades para

fazer algo de bom?

174 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

162

ESPEREMOS

“Não esmagará a cana quebrada e não apagará o

morrão que fumega, até que faça triunfar o juízo.”

(MATEUS, 12: 20)

Evita as sentenças definitivas, em face dos quadros formados pelo mal.

Da lama do pântano, o Supremo Senhor aproveita a fertilidade.

Da pedra áspera, valese

da solidez.

Da areia seca, retira utilidades valiosas. Da substância amarga, extrai

remédio salutar. O criminoso de hoje pode ser prestimoso companheiro amanhã.

O malfeitor, em certas circunstâncias, apresenta qualidades nobres, até

então ignoradas, de que a vida se aproveita para gravar poemas de amor e luz.

Deus não é autor de esmagamento.

É Pai de misericórdia.

Não destrói a cana quebrada, nem apaga o morrão que fumega.

Suas mãos reparam estragos, seu hálito divino recompõe e renova sempre.

Não desprezes, pois, as luzes vacilantes e as virtudes imprecisas. Não

abandones a terra pantanosa, nem desampares o arvoredo sufocado pela erva

daninha.

Trabalha pelo bem e ajuda incessantemente.

Se Deus, Senhor Absoluto da Eternidade, espera com paciência, por que

motivo, nós outros, servos imperfeitos do trabalho relativo, não poderemos esperar?

175 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

163

NÃO CRER

“Mas quem não crer será condenado.”

Jesus (MARCOS, 16: 16)

Os que não crêem são os que ficam. Para eles, todas as expressões da vida

se reduzem a sensações finitas, destinadas à escura voragem da morte.

Os que alçam o coração para a vida mais alta estão salvos. Seus dias de

trabalho são degraus de infinita escada de luz. A custa de valoroso esforço e pesada

luta, distanciamse

dos semelhantes e, apesar de reconhecerem a própria

imperfeição, classificam a paisagem em torno e identificam os caminhos evolutivos.

Tomados de bom ânimo, sentemse

na tarefa laboriosa de ascensão à montanha do

amor e da sabedoria.

No entanto, os que não crêem, limitam os próprios horizontes e nada

enxergam senão com os olhos destinados ao sepulcro, adormecidos quanto à

reflexão e ao discernimento.

Afirmou Jesus que eles se encontram condenados.

A primeira vista, semelhante declaração parece em desacordo com a

magnanimidade do Mestre.

Condenados a que e por quem?

A justiça de Deus conjugase

à misericórdia e o inferno semfim

é imagem

dogmática.

Todavia, é imperioso reconhecer que quantos não crêem, na grandeza do

próprio destino, sentenciam a si mesmos às mais baixas esferas da vida. Pelo hábito

de apenas admitirem o visível, permanecerão beijando o pó, em razão da voluntária

incapacidade de acesso aos planos superiores, enquanto os outros caminham para a

certeza da vida imortal.

A crença é lâmpada amiga, cujo clarão é mantido pelo infinito sol da fé. O

vento da negação e da dúvida jamais consegue apagála.

A descrença, contudo, só conhece a vida pelas sombras que os seus

movimentos projetam e nada entende além da noite e do pântano a que se condena

por deliberação própria.

176 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

164

NÃO PERTURBEIS

“Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.”

Jesus (MATEUS, 19: 6)

A palavra divina não se refere apenas aos casos do coração. Os laços

afetivos caracterizamse

por alicerces sagrados e os compromissos conjugais ou

domésticos sempre atendem a superiores desígnios. O homem não ludibriará os

impositivos da lei, abusando de facilidades materiais para lisonjear os sentidos.

Quebrando a ordem que lhe rege os caminhos, desorganizará a própria

existência. Os princípios equilibrantes da vida surgirão sempre, corrigindo e

restaurando...

A advertência de Jesus, porém, apresenta para nós significação mais vasta.

“Não separeis o que Deus ajuntou” corresponde também ao “não perturbeis

o que Deus harmonizou”.

Ninguém alegue desconhecimento do propósito divino, O dever, por mais

duro, constitui sempre a Vontade do Senhor. E a consciência, sentinela vigilante do

Eterno, a menos que esteja o homem dormindo no nível do bruto, permanece apta a

discernir o que constitui “obrigação” e o que representa “fuga”.

O Pai criou seres e reuniuos.

Criou igualmente situações e coisas,

ajustandoas

para o bem comum.

Quem desarmoniza as obras divinas, preparese

para a recomposição. Quem

lesa o Pai, algema o próprio “eu” aos resultados de sua ação infeliz e, por vezes,

gasta séculos, desatando grilhões...

Na atualidade terrestre, esmagadora percentagem dos homens constituise

de milhões em serviço reparador, depois de haverem separado o que Deus ajuntou,

perturbando, com o mal, o que a Providência estabelecera para o bem.

Prestigiemos as organizações do Justo Juiz que a noção do dever identifica

para nós em todos os quadros do mundo. Ás vezes, é possível perturbarlhe

as obras

com sorrisos, mas seremos invariavelmente forçados a reparálas

com suor e

lágrimas.

177 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

165

BENS EXTERNOS

“A vida de um homem não consiste na abundância das

coisas que possui.”

Jesus (LUCAS, 12: 15)

“A vida de um homem não consiste na abundância das coisas que possui.”

A palavra do Mestre está cheia de oportunidade para quaisquer círculos de

atividade humana, em todos os tempos.

Um homem poderá reter vasta porção de dinheiro. Porém, que fará dele?

Poderá exercer extensa autoridade. Entretanto, como se comportará dentro dela?

Poderá dispor de muitas propriedades. Todavia, de que modo utiliza os

patrimônios provisórios?

Terá muitos projetos elevados. Quantos edificou?

Poderá guardar inúmeros ideais de perfeição. Mas estará atendendo aos

nobres princípios de que é portador?

Terá escrito milhares de páginas. Qual a substância de sua obra?

Contará muitos anos de existência no corpo. No entanto, que fez do tempo?

Poderá contar com numerosos amigos. Como se conduz perante as afeições que o

cercam?

Nossa vida não consiste da riqueza numérica de coisas e graças, aquisições

nominais e títulos exteriores.

Nossa paz e felicidade dependem do uso que fizermos, onde nos

encontramos hoje, aqui e agora, das oportunidades e dons, situações e favores,

recebidos do Altíssimo.

Não procures amontoar levianamente o que deténs por empréstimo.

Mobiliza, com critério, os recursos depositados em tuas mãos.

O Senhor não te identificará pelos tesouros que ajuntaste, pelas bênçãos que

retiveste, pelos anos que viveste no corpo físico. Reconhecerteá

pelo emprego dos

teus dons, pelo valor de tuas realizações e pelas obras que deixaste, em torno dos

próprios pés.

178 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

166

POSSES DEFINITIVAS

“Eu vim para que tenham vida, e a tenham em

abundância.”

Jesus (JOÃO, 10: 10)

Se a paz da criatura não consiste na abundância do que possui na Terra,

depende da abundância de valores definitivos de que a alma é possuída.

Em razão disso, o Divino Mestre veio até nós para que sejamos portadores

de vida transbordante, repleta de luz, amor e eternidade.

Em favor de nós mesmos, jamais deveríamos esquecer os dons substanciais

a serem amealhados em nosso próprio espírito.

No jogo de forças exteriores jamais encontraremos a iluminação necessária.

Maravilhosa é a primavera terrena, mas o inverno virá depois dela.

A mocidade do corpo é fase de embriagantes prazeres; no entanto, a velhice

não tardará.

O vaso físico mais íntegro e harmonioso experimentará, um dia, a

enfermidade ou a morte.

Toda a manifestação de existência na Terra é processo de transformação

permanente.

É imprescindível construir o castelo interior, de onde possamos erguer

sentimentos aos campos mais altos da vida.

Encheunos

Jesus de sua presença sublime, não para que possuamos

facilidades efêmeras, mas para sermos possuídos pelas riquezas imperecíveis; não

para que nos cerquemos de favores externos e, sim, para concentrarmos em nós as

aquisições definitivas.

Sejamos portadores da vida imortal.

Não nos visitou o Cristo, como doador de benefícios vulgares. Veio ligarnos

a lâmpada do coração à usina do Amor de Deus, convertendonos

em luzes

inextinguíveis.

179 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

167

NA ORAÇÃO

“Senhor, ensinanos

a orar...”

(LUCAS, 11: 1)

A prece, nos círculos do Cristianismo, caracterizase

por gradação infinita

em suas manifestações, porque existem crentes de todos os matizes nos vários

cursos da fé.

Os seguidores inquietos reclamam a realização de propósitos inconstantes.

Os egoístas exigem a solução de caprichos inferiores.

Os ignorantes do bem chegam a rogar o mal para o próximo.

Os tristes pedem a solidão com ociosidade.

Os desesperados suplicam a morte.

Inúmeros beneficiários do Evangelho imploram isso ou aquilo, com alusão

à boa marcha dos negócios que lhes interessam a vida física. Em suma, buscam a

fuga. Anelam somente a distância da dificuldade, do trabalho, da luta digna.

Jesus suporta, paciente, todas as fileiras de candidatos do seu serviço, de

sua iluminação, estendendolhes

mãos benignas, tolerandolhes

as queixas

descabidas e as lágrimas inaceitáveis.

Todavia, quando aceita alguém no discipulado definitivo, algo acontece no

íntimo da alma contemplada pelo Senhor.

Cessam as rogativas ruidosas. Acalmamse

os desejos tumultuários.

Convertese

a oração em trabalho edificante. O discípulo nada reclama. E o Mestre,

respondendolhe

às orações, modificalhe

a vontade, todos os dias, alijandolhe

do

pensamento os objetivos inferiores.

O coração unido a Jesus é um servo alegre e silencioso.

Disselhe

o Mestre: Levantate

e segueme.

E ele ergueuse

e seguiu.

180 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

168

NA MEDITAÇÃO

“E foram sós num barco para um lugar deserto.”

(MARCOS, 6: 32)

Tuas mãos permanecem extenuadas por fazer e desfazer.

Teus olhos, naturalmente, estão cheios da angústia recolhida nas

perturbações ambientes.

Doemte

os pés nas recapitulações dolorosas.

Teus sentimentos vão e vêm, através de impulsos tumultuáríos,

influenciados por mil pessoas diversas.

Tens o coração atormentado.

É natural. Nossa mente sofre sede de paz, como a terra seca tem

necessidade de água fria.

Vem a um lugar à parte, no país de ti mesmo, a fim de repousar um pouco.

Esquece as fronteiras sociais, os controles domésticos, as incompreensões dos

parentes, os assuntos difíceis, os problemas inquietantes, as idéias inferiores.

Retirate

dos lugares comuns a que ainda te prendes.

Concentrate,

por alguns minutos, em companhia do Cristo, no barco de

teus pensamentos mais puros, sobre o mar das preocupações cotidianas...

Ele te lavará a mente eivada de aflições.

Balsamizará tuas úlceras.

Darteá

salutares alvitres.

Basta que te cales e sua voz falará no sublime silêncio.

Oferecelhe

um coração valoroso na fé e na realização, e seus braços

divinos farão o resto.

Regressarás, então, aos círculos de luta, revigorado, forte e feliz.

Teu coração com Ele, a fim de agires, com êxito, no vale do serviço.

Ele contigo, para escalares, sem cansaço, a montanha da luz.

181 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

169

NO QUADRO REAL

“Deilhes

a tua palavra, e o mundo os aborreceu,

porque não são do mundo, assim como eu do mundo não sou.”

Jesus (JOÃO, 17: 14)

Aprendizes do Evangelho, à espera de facilidades humanas, constituirão

sempre assembléias do engano voluntário.

O Senhor não prometeu aos companheiros senão continuado esforço contra

as sombras até a vitória final do bem.

O cristão não é flor de ornamento para igrejas isoladas. É “sal da Terra”,

força de preservação dos princípios divinos no santuário do mundo inteiro.

A palavra de Jesus, nesse particular, não padece qualquer dúvida: “Se

alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e sigame.

Amai

vossos inimigos. Orai pelos que vos perseguem e caluniam. Bendizei os que vos

maldizem. Emprestai sem nada esperardes. Não julgueis para não serdes julgados.

Entre vós, o maior seja servo de todos. Buscai a porta estreita. Eis que vos envio

como ovelhas ao meio dos lobos. No mundo, tereis tribulações.”

Mediante afirmativas tão claras, é impossível aguardar em Cristo um

doador de vida fácil. Ninguém se aproxime d’Ele sem o desejo sincero de aprender a

melhorarse.

Se Cristianismo é esperança sublime, amor celeste e fé restauradora, é

também trabalho, sacrifício, aperfeiçoamento incessante. Comprovando suas lições

divinas, o Mestre Supremo viveu servindo e morreu na cruz.

182 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

170

DOMÍNIO ESPIRITUAL

“Não estou só, porque o Pai está comigo.”

Jesus (JOÃO, 16: 32)

Nos transes aflitivos a criatura demonstra sempre onde se localizam as

forças exteriores que lhe subjugam a alma.

Nas grandes horas de testemunho, no sofrimento ou na morte, os avarentos

clamam pelas posses efêmeras, os arbitrários exigem a obediência de que se julgam

credores, os supersentimentalistas reclamam o objeto de suas afeições.

Jesus, todavia, no campo supremo das últimas horas terrestres, mostrase

absoluto senhor de si mesmo, ensinandonos

a sublime identificação com os

propósitos do Pai, como o mais avançado recurso de domínio próprio.

Ligado naturalmente às mais diversas forças, no dia do Calvário não se

prendeu a nenhuma delas.

Atendia ao governo humano lealmente, mas Pilatos não o atemoriza.

Respeitava a lei de Moisés; entretanto, Caifás não o impressiona.

Amava enternecidamente os discípulos; contudo, as razões afetivas não lhe

dominam o coração.

Cultivava com admirável devotamento o seu trabalho de instruir e socorrer,

curar e consolar; no entanto, a possibilidade de permanecer não lhe seduz o espírito.

O ato de Judas não lhe arranca maldições.

A ingratidão dos beneficiados não lhe provoca desespero.

O pranto das mulheres de Jerusalém não lhe entibia o ânimo firme.

O sarcasmo da multidão não lhe quebra o silêncio.

A cruz não lhe altera a serenidade.

Suspenso no madeiro, roga desculpas para a ignorância do povo.

Sua lição de domínio espiritual é profunda e imperecível. Revela a

necessidade de sermos “nós mesmos”, nos transes mais escabrosos da vida, de

consciência tranqüila elevada à Divina Justiça e de coração fiel dirigido pela Divina

Vontade.

183 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

171

PALAVRAS DE MÃE

“Sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser.”

(JOÃO, 2: 5)

O Evangelho é roteiro iluminado do qual Jesus é o centro divino. Nessa

Carta da Redenção, rodeandolhe

a figura celeste, existem palavras, lembranças,

dádivas e indicações muito amadas dos que lhe foram legítimos colaboradores no

mundo.

Recebemos aí recordações amigas de Paulo, de João, de Pedro, de

companheiros outros do Senhor, e que não poderemos esquecer.

Temos igualmente, no Documento Sagrado, reminiscências de Maria.

Examinemos suas preciosas palavras em Caná, cheias de sabedoria e amor materno.

Geralmente, quando os filhos procuram a carinhosa intervenção de mãe é

que se sentem órfãos de ânimo ou necessitados de alegria. Por isso mesmo, em todos

os lugares do mundo, é comum observarmos filhos discutindo com os pais e

chorando ante corações maternos.

Interpretada com justiça por anjo tutelar do Cristianismo, às vezes é com

imensas aflições que recorremos a Maria.

Em verdade, o versículo do apóstolo João não se refere a paisagens

dolorosas. O episódio ocorre numa festa de bodas, mas podemos aproveitarlhe

a

sublime expressão simbólica.

Também nós estamos na festa de noivado do Evangelho com a Terra.

Apesar dos quase vinte séculos decorridos, o júbilo ainda é de noivado, porquanto

não se verificou até agora a perfeita união... Nesse grande concerto da idéia

renovadora, somos serventes humildes. Em muitas ocasiões, esgotase

o vinho da

esperança. Sentimonos

extenuados, desiludidos... Imploramos ternura maternal e

eis que Maria nos responde: Fazei tudo quanto ele vos disser.

O conselho é sábio e profundo e foi colocado no princípio dos trabalhos de

salvação.

Escutando semelhante advertência de Mãe, meditemos se realmente

estaremos fazendo tudo quanto o Mestre nos disse.

184 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

172

LÁGRIMAS

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos,

e eu vos aliviarei.”

Jesus (MATEUS, 11: 28)

Ninguém como Cristo espalhou na Terra tanta alegria e fortaleza de ânimo.

Reconhecendo isso, muitos discípulos amontoam argumentos contra a lágrima e

abominam as expressões de sofrimento.

O Paraíso já estaria na Terra se ninguém tivesse razões para chorar.

Considerando assim, Jesus, que era o Mestre da confiança e do otimismo, chamava

ao seu coração todos os que estivessem cansados e oprimidos sob o peso de

desenganos terrestres.

Não amaldiçoou os tristes: convocouos

à consolação.

Muita gente acredita na lágrima sintoma de fraqueza espiritual. No entanto,

Maria soluçou no Calvário; Pedro lastimouse,

depois da negação; Paulo mergulhouse

em pranto às portas de Damasco; os primeiros cristãos choraram nos circos de

martírio... mas, nenhum deles derramou lágrimas sem esperança. Prantearam e

seguiram o caminho do Senhor, sofreram e anunciaram a Boa Nova da Redenção,

padeceram e morreram leais na confiança suprema.

O cansaço experimentado por amor ao Cristo convertese

em fortaleza, as

cadeias levadas ao seu olhar magnânimo transformamse

em laços divinos de

salvação.

Caracterizamse

as lágrimas através de origens específicas. Quando nascem

da dor sincera e construtiva, são filtros de redenção e vida; no entanto, se procedem

do desespero, são venenos mortais.

185 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

173

ZELO DO BEM

“E qual é aquele que vos fará mal, se fordes zelosos do bem?”

(I PEDRO, 3: 13)

Temer os que praticam o mal é demonstrar que o bem ainda não se nos

radicou na alma convenientemente.

A interrogação de Pedro revestese

de enorme sentido.

Se existe sólido propósito do bem nos teus caminhos, se és cuidadoso em

sua prática, quem mobilizará tamanho poder para anular as edificações de Deus?

O problema reside, entretanto, na necessidade de entendimento. Somos

ainda incapazes de examinar todos os aspectos de uma questão, todos os contornos

de uma paisagem. O que hoje nos parece a felicidade real pode ser amanhã cruel

desengano. Nossos desejos humanos modificamse

aos jorros purificadores da fonte

evolutiva. Urge, pois, afeiçoarmonos

à Lei Divina, refletirlhe

os princípios

sagrados e submeternos

aos Superiores Desígnios, trabalhando incessantemente

para o bem, onde estivermos.

Os melindres pessoais, as falsas necessidades, os preconceitos cristalizados,

operam muita vez a cegueira do espírito. Procedem daí imensos desastres para todos

os que guardam a intenção de bem fazer, dando ouvidos, porém, ao personalismo

inferior.

Quem cultiva a obediência ao Pai, no coração, sabe encontrar as

oportunidades de construir com o seu amor.

Os que alcançam, portanto, a compreensão legítima não podem temer o

mal. Nunca se perdem na secura da exigência nem nos desvios do sentimentalismo.

Para essas almas, que encontraram no íntimo de si próprias o prazer de servir sem

indagar, os insucessos, as provas, as enfermidades e os obstáculos são simplesmente

novas decisões das Forças Divinas, relativamente à tarefa que lhes dizem respeito,

destinadas a conduzilas

para a vida maior.

186 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

174

PÃO DE CADA DIA

“Dános

cada dia o nosso pão.”

Jesus (LUCAS, 11: 3)

Já pensaste no pão de cada dia?

A força de possuílo,

em abundância, o homem costuma desvalorizálo,

à

maneira da criatura irrefletida que somente medita na saúde, ao sobrevir a

enfermidade.

Se a maioria dos filhos da Terra estivessem à altura de atender à gratidão

nos seus aspectos reais, bastaria o pão cotidiano para que não faltassem às

coletividades terrestres perfeitas noções da existência de Deus. Tão magnânima é a

bondade celestial que, promovendo recursos para a manutenção dos homens, escapa

à admiração das criaturas, a fim de que compreendam melhor a vida, integrandose

nas responsabilidades que lhes dizem respeito, nas Organizações de trabalho a que

foram chamadas, com a finalidade de realizarem o aprimoramento próprio.

O Altíssimo deixa aos homens a crença de que o pão terrestre é conquista

deles, para que se aperfeiçoem convenientemente no dom de servir. Em verdade, no

entanto, o pão de cada dia, para todas as refeições do mundo, procede da

Providência Divina.

O homem cavará o solo, espalhará as sementes, defenderá o serviço e

cooperará com a Natureza, mas a germinação, o crescimento, a florescência e a

frutificação pertencem ao TodoMisericordioso.

No alimento de cada dia prevalece sublime ensinamento de colaboração

entre o Criador e a criatura, que raras pessoas se dispõem a observar. Esforçase

o

homem e o Senhor lhe concede as utilidades.

O servo trabalha e o Altíssimo lhe abençoa o suor.

É nesse processo de íntima cooperação e natural entendimento que o Pai

espera colher, um dia, os doces frutos da perfeição no espírito dos filhos.

187 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

175

COOPERAÇÃO

“E ele respondeu: Como poderei entender se alguém me

não ensinar?”

(ATOS, 8: 31)

Desde a vinda de Jesus, o movimento de educação renovadora para o bem é

dos mais impressionantes no seio da Humanidade.

Em toda parte, ergueramse

templos, divulgaramse

livros portadores de

princípios sagrados.

Percebese

em toda essa atividade a atuação sutil e magnânima do Mestre

que não perde ocasião de atrair as criaturas de Deus para o Infinito Amor. Desse

quadro bendito de trabalho destacase,

porém, a cooperação fraternal que o Cristo

nos deixou, como norma imprescindível ao desdobramento da iluminação eterna do

mundo.

Ninguém guarde a presunção de elevarse

sem o auxílio dos outros, embora

não deva buscar a condição parasitária para a ascensão. Referimonos

à

solidariedade, ao amparo proveitoso, ao concurso edificante. Os que aprendem

alguma coisa sempre se valem dos homens que já passaram, e não seguem além se

lhes falta o interesse dos contemporâneos, ainda que esse interesse seja mínimo.

Os apóstolos necessitaram do Cristo que, por sua vez, fez questão de

prender os ensinamentos, de que era o divino emissário, às antigas leis.

Paulo de Tarso precisou de Ananias para entender a própria situação.

Observemos o versículo acima, extraído dos Atos dos Apóstolos. Filipe

achavase

despreocupado, quando um anjo do Senhor o mandou para o caminho que

descia de Jerusalém para Gaza. O discípulo atende e aí encontra um homem que lia a

Lei sem compreendêla.

E entram ambos em santificado esforço de cooperação.

Ninguém permanece abandonado. Os mensageiros do Cristo socorrem

sempre nas estradas mais desertas. É necessário, porém, que a alma aceite a sua

condição de necessidade e não despreze o ato de aprender com humildade, pois não

devemos esquecer, através do texto evangélico, que o mendigo de entendimento era

o mordomomor

da rainha dos etíopes, superintendente de todos os seus tesouros.

Além disso, ele ia de carro e Filipe, a pé.

188 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

176

LIÇÃO VIVA

“Duro é este discurso; quem o pode ouvir?”

(JOÃO, 6: 60)

O Cristianismo é a suprema religião da verdade e do amor, convocando

corações para a vida mais alta.

Em vista de religião traduzir religamento, é primordial voltarmonos

para

Deus, tornarmos ao campo da Divindade.

Jesus apresentou a sua plataforma de princípios imortais. Rasgou os

caminhos. Não enganou a ninguém, relativamente às dificuldades e obstáculos.

É necessário, esclareceu o Senhor, negarmos a vaidade própria,

arrependermonos

de nossos erros e convertermonos

ao bem.

O evangelista assinalou a observação de muitos dos discípulos: “Duro é

este discurso; quem o pode ouvir?”

Sim, efetivamente é indispensável romper com as alianças da queda e

assinar o pacto da redenção.

É imprescindível seguir nos caminhos d’Aquele que é a luz de nossa vida.

Para isso, as palavras brilhantes e os artifícios intelectuais não bastam. O

problema é de “quem pode ouvir” a Divina Mensagem, compreendendoa

com o

Cristo e seguindolhe

os passos.

189 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

177

OPINIÕES CONVENCIONAIS

“A multidão respondeu: Tens demônio; quem procura

matarte?”

(JOÃO, 7: 20)

Não te prendas excessivamente aos juízos da multidão. O

convencionalismo e o hábito possuem sobre ela forças vigorosas.

Se toleras ofensas com amor, chamate

covarde.

Se perdoas com desinteresse, considerate

tolo.

Se sofres com paciência, negate

valor.

Se espalhas o bem com abnegação, acusate

de louco.

Se adquires característicos do amor sublime e santificante, julgate

doente.

Se desestimas os gozos vulgares, classificate

de anormal.

Se te mostras piedoso, assevera que te envelheceste e cansaste antes do

tempo.

Se adotas a simplicidade por norma, ironizate

às ocultas.

Se respeitas a ordem e a hierarquia, qualificate

de bajulador.

Se reverencias a Lei, apontate

como medroso.

Se és prudente e digno, chamate

fanático e perturbado.

No entanto, essa mesma multidão, pela voz de seus maiorais, ensina o amor

aos semelhantes, o culto da legalidade e a religião do dever. Em seus círculos,

porém, o excesso de palavras não permite, por enquanto, o reinado da compreensão.

É indispensável suportarlhe

a inconsciência para atendermos com proveito

às nossas obrigações perante Deus.

Não te irrites, nem desanimes.

O próprio Jesus foi alvo, sem razão de ser, dos sarcasmos da opinião

pública.

190 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

178

A PORTA DIVINA

“Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvarseá.”

Jesus (JOÃO, 10: 9)

Nos caminhos da vida, cada companheiro portador de expressão intelectual

um pouco mais alta convertese

naturalmente em voz imperiosa para os nossos

ouvidos. E cada pessoa que segue à frente de nós abre portas ao nosso espírito.

Os inconformados abrem estradas à rebelião e à indisciplina.

Os velhacos oferecem passagem para o cativeiro em que exerçam

dominação.

Os escritores de futilidades fornecem passaporte para a província do tempo

perdido.

Os maledicentes encaminham quem os ouve a fontes envenenadas.

Os viciosos quebram as barreiras benéficas do respeito fraternal,

desvendando despenhadeiros onde o perigo é incessante.

Os preguiçosos conduzem à guerra contra o trabalho construtivo.

Os perversos escancaram os precipícios do crime.

Ainda que não percebas, várias pessoas te abrem portas, cada dia, através

da palavra falada ou escrita, da ação ou do exemplo.

Examina onde entras com o sagrado depósito da confiança. Muita vez,

perderás longo tempo para retomar o caminho que te é próprio.

Não nos esqueçamos de que Jesus é a única porta de verdadeira libertação.

Através de muitas estações no campo da Humanidade, é provável

recebamos proveitosas experiências, amealhandoas

à custa de desenganos terríveis,

mas só em Cristo, no clima sagrado de aplicação dos seus princípios, é possível

encontrar a passagem abençoada de definitiva salvação.

191 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

179

O NOVO MANDAMENTO

“Um novo mandamento vos dou: que vos ameia uns aos

outros, como eu vos amei.”

Jesus (JOÃO, 13: 34)

A leitura despercebida do texto induziria o leitor a sentir nessas palavras do

Mestre absoluta identidade com o seu ensinamento relativo à regra áurea Entretanto,

é preciso salientar a diferença.

O “ama a teu próximo como a ti mesmo” é diverso do “que vos ameis uns

aos outros como eu vos amei”.

O primeiro institui um dever, em cuja execução não é razoável que o

homem cogite da compreensão alheia. O aprendiz amará o próximo como a si

mesmo.

Jesus, porém, engrandeceu a fórmula, criando o novo mandamento na

comunidade cristã. O Mestre referese

a isso na derradeira reunião com os amigos

queridos, na intimidade dos corações.

A recomendação “que vos ameis uns aos outros como eu vos amei”

assegura o regime da verdadeira solidariedade entre os discípulos, garante a

confiança fraternal e a certeza do entendimento recíproco.

Em todas as relações comuns, o cristão amará o próximo como a si mesmo,

reconhecendo, contudo, que no lar de sua fé conta com irmãos que se amparam

efetivamente uns aos outros.

Esse é o novo mandamento que estabeleceu a intimidade legítima entre os

que se entregaram ao Cristo, significando que, em seus ambientes de trabalho, há

quem se sacrifique e quem compreenda o sacrifício, quem ame e se sinta amado,

quem faz o bem e quem saiba agradecer.

Em qualquer círculo do Evangelho, onde essa característica não assinala as

manifestações dos companheiros entre si, os argumentos da Boa Nova podem haver

atingido os cérebros indagadores, mas ainda não penetraram o santuário dos

corações.

192 –

 

 

Fr ancisco Cândido Xavier

180

FAÇAMOS NOSSA LUZ

“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens.”

Jesus (MATEUS, 5: 16)

Ante a glória dos mundos evolvidos, das esferas sublimes que povoam o

Universo, o estreito campo em que nos agitamos, na Crosta Planetária, é limitado

círculo de ação. Se o problema, no entanto, fosse apenas o de espaço, nada teríamos

a lamentar.

A casa pequena e humilde, iluminada de Sol e alegria, é paraíso de

felicidade. A angústia de nosso plano procede da sombra.

A escuridão invade os caminhos em todas as direções. Trevas que nascem

da ignorância, da maldade, da insensatez, envolvendo povos, instituições e pessoas.

Nevoeiros que assaltam consciências, raciocínios e sentimentos.

Em meio da grande noite, é necessário acendamos nossa luz. Sem isso é

impossível encontrar o caminho da libertação. Sem a irradiação brilhante de nosso

próprio ser, não poderemos ser vistos com facilidade pelos Mensageiros Divinos,

que ajudam em nome do Altíssimo, e nem auxiliaremos efetivamente a quem quer

que seja.

É indispensável organizar o santuário interior e iluminálo,

a fim de que as

trevas não nos dominem.

É possível marchar, valendonos

de luzes alheias. Todavia, sem claridade

que nos seja própria, padeceremos constante ameaça de queda. Os proprietários das

lâmpadas acesas podem afastarse

de nós, convocados pelos montes de elevação que

ainda não merecemos.

Valete,

pois, dos luzeiros do caminho, aplica o pavio da boavontade

ao

óleo do serviço e da humildade e acende o teu archote para a jornada. Agradece ao

que te ilumina por uma hora, por alguns dias ou por muitos anos, mas não olvides

tua candeia, se não desejas resvalar nos precipícios da estrada longa!...

O problema fundamental da redenção, meu amigo, não se resume a palavras

faladas ou escritas. É muito fácil pronunciar belos discursos e prestar excelentes

informações, guardando, embora, a cegueira nos próprios olhos.

Nossa necessidade básica é de luz própria, de esclarecimento íntimo, de

autoeducação,

de conversão substancial do “eu” ao Reino de Deus.

Podes falar maravilhosamente acerca da vida, argumentar com brilho sobre

a fé, ensinar os valores da crença, comer o pão da consolação, exaltar a paz, recolher

as flores do bem, aproveitar os frutos da generosidade alheia, conquistar a coroa

efêmera do louvor fácil, amontoar títulos diversos que te exornem a personalidade

em trânsito pelos vales do mundo...

Tudo isso, em verdade, pode fazer o espírito que se demora,

indefinidamente, em certos ângulos da estrada.

Todavia, avançar sem luz é impossível.

193 –

 

 

CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)

 

 

  •  

  •